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    Os esportes e atividades físicas em geral são baseados em movimentos das mais variadas formas e amplitudes. Estes movimentos, na transição da infância para a fase adulta, tornam-se mais aprimorados e adquirem maior precisão. Pode-se observar que as primeiras formas de movimentos aparecem ainda na vida fetal e são considerados como movimentos reflexivos.

    Movimentos reflexivos ou reflexos primitivos são controlados pelos centros cerebrais inferiores e consistem de reações involuntárias do corpo a diversas formas de estímulos externos. Estas reações são resultados de alterações na pressão, visão, sons e estímulos táteis. Os reflexos primitivos surgem, aproximadamente, no quarto mês da vida fetal e estende-se até o quarto mês da primeira infância (GALLAHUE & OZMUN, 2001).

    Os estímulos e reações, nessa faixa etária, são fundamentais para a formação do estágio de codificação. Neste estágio, os reflexos, de acordo com GALLAHUE & OZMUN (2001), apresentam-se como mecanismos importantes no agrupamento de informações que são armazenadas no córtex em desenvolvimento. A partir do momento em que os centros cerebrais superiores passam a exercer maior controle sobre as grandezas sensório-motoras, o processamento de informações por parte do bebê ocorre de forma mais eficiente. Este estágio é chamado de estágio da decodificação.

    Os reflexos primitivos parecem estar relacionados com os movimentos voluntários posteriores, no entanto, existem duas correntes distintas que discutem este fenômeno. GALLAHUE & OZMUN (2001), apresentam o posicionamento de alguns autores que discutem a relação entre os reflexos primitivos e os movimentos voluntários.

    Para BOWER (1976), McGRAW (1954), THELEN (1980) e ZELAZO (1976), na medida em que o córtex amadurece gradualmente, ele assume controle sobre os reflexos posturais (uma subdivisão dos reflexos primitivos) de caminhar, engatinhar, nadar e outros reflexos similares. Já KESSEN et al. (1970), PONTIUS (1973), PRECHTT & BEINTEMA (1964) e WYKE (1975) discordam dos autores acima citados e argumentam que existe um intervalo de tempo de até vários meses entre a inibição de um reflexo postural e o aparecimento de movimento voluntário. Este intervalo indica, na opinião dos autores, que não há ligação entre os reflexos posturais e o movimento voluntário posterior.

    GALLAHUE & OZMUN (2001), ainda apresentam a “teoria neuromaturacional” de desenvolvimento motor abordada por HEBB (1949) e ECKERT (1947). Esta teoria assemelha-se com o posicionamento de BOWER (1976), McGRAW (1954), THELEN (1980) e ZELAZO (1976) e sustenta que, com o desenvolvimento do córtex ocorre a inibição de algumas das funções das camadas subcorticais levando o mesmo a assumir um controle neuromuscular sempre crescente. Este fenômeno pode ser observado, segundo a teoria neuromaturacional, a partir do momento em que o bebê abandona o comportamento reflexo primitivo e adota o movimento voluntário.

    Os reflexos primitivos podem ser subdivididos em dois grupos: (1) reflexos de sobrevivência, (2) reflexos posturais. Os reflexos de sobrevivência consistem de habilitar o neonato a obter alimento pela busca e pela sucção involuntária. Já os reflexos posturais são aqueles que se parecem e podem servir como precursores dos movimentos voluntários posteriores (PAYNE & ISAACS, 1999; GALLAHUE & OZMUN, 2001).

    Para PAYNE & ISAACS (1999) e GALLAHUE & OZMUN (2001) existe um consenso quanto à classificação dos reflexos. Estes autores afirmam que os reflexos de sobrevivência aparecem inicialmente na vida fetal e persistem por todo o primeiro ano de vida. Entre os reflexos primitivos de sobrevivência, segundo PAYNE & ISAACS (1999) e GALLAHUE & OZMUN (2001) estão:

1. Reflexo de Moro, que pode ser observado mediante uma batida leve no abdômen estando o bebê na posição supina ou quando se produz um sentimento de insegurança quanto ao apoio do bebê. Neste reflexo ocorre uma repentina distensão e dobramento dos braços e expansão dos dedos. As pernas e dedos dos pés realizam as mesmas ações com menos intensidade. Este reflexo se estende até o sexto mês de vida do bebê.

2. Reflexos de busca e sucção, que permite ao bebê obter alimento de sua mãe e é mais forte nas três primeiras semanas após o nascimento. O reflexo de busca é mais facilmente observado quando o bebê está com fome, dormindo ou em posição de ser alimentado e pode persistir até o final do primeiro ano de vida. A estimulação dos lábios, gengivas, língua ou palato duro provoca o reflexo de sucção que se estende até o final do terceiro mês após o nascimento.

3. Reflexos buco-manuais, que consistem de dois reflexos. O reflexo palmar-mental provocado pelo ato de coçar a palma da mão e o reflexo palmar-mandibular causado pela aplicação de pressão nas palmas de ambas as mãos. Este reflexo provoca a abertura da boca, fechamento dos olhos e a flexão da cabeça para frente, começando a diminuir no primeiro mês e deixando de ser visível ao final do terceiro mês.

4. Reflexo de pressão plantar e de Babinski. Este último pode ser provocado por um choque na sola do pé, causando a distensão dos dedos devido à pressão exercida. O reflexo de Babinski está presente no nascimento e se estende até o quarto mês de vida. Após este período é substituído pelo reflexo plantar, que consiste na contração dos dedos dos pés quando existe a estimulação e persiste até cerca do décimo segundo mês.

5. Reflexos tônicos assimétricos e simétricos do pescoço. O primeiro considerado como a posição do esgrimista, ou seja, o braço estende-se do lado do corpo na direção em que a cabeça está voltada pode ser estimulada mediante um estímulo em que o bebê se encontra na posição supina com a cabeça de frente para um dos lados. O segundo pode ser obtido em uma posição sentada ou apoiada. A distensão da cabeça e do pescoço produzirá a distensão dos braços e a flexão das pernas. Se a cabeça e o pescoço estiverem flexionados, os braços realizam flexão e as pernas extensão. Estes reflexos se estendem até o sexto mês.

    Os reflexos posturais são aqueles que fazem lembrar movimentos voluntários. Para os reflexos posturais, PAYNE & ISAACS (1999) e GALLAHUE & OZMUN (2001) mostram a seguinte classificação:

1. Reflexos corretivos labirínticos e visuais, são observados quando o bebê é segurado em posição ereta, inclinando-o para frente, para trás ou para o lado. Este reflexo faz com o bebê mantenha a cabeça ereta movendo-a em sentido oposto ao do deslocamento de seu tronco. A diferença entre estes dois reflexos é que no reflexo corretivo visual, os olhos acompanham o direcionamento da cabeça. O reflexo corretivo labiríntico se estende do segundo ao sexto mês, já o corretivo visual se estende do sexto até o décimo segundo mês.

2. Reflexo de levantamento, consiste na tentativa involuntária do bebê em manter-se na posição ereta mediante um estímulo que desloca-o para frente ou para trás fazendo com que o mesmo levante seus braços para permanecer ereta. O reflexo de levantamento pode ser percebido entre o terceiro e quarto mês e se estende durante o primeiro ano de vida.

3. Reflexo de amortecimento e de apoio, consistem de movimentos protetores dos membros na direção em que a força se desloca. Estes reflexos ocorrem mediante a uma súbita força de deslocamento ou quando o equilíbrio não pode mais ser mantido. O reflexo de amortecimento é observado quando o bebê é posicionado verticalmente no ar e então inclinado em direção ao solo. A reação do bebê é estender os braços para baixo como se estivesse “amortecendo” a queda. O reflexo de apoio pode ser observado desequilibrando o bebê da posição sentada, ocorrendo então, a reação de apoio lateral. O reflexo de amortecimento ocorre por volta do quarto mês, já o reflexo de apoio lateral é observada a partir do sexto mês e a reação para trás entre o décimo e o décimo segundo mês. Essas reações tendem a persistir após o primeiro ano e são importantes para o bebê aprender a andar.

4. Reflexo corretivo do pescoço e do corpo. O reflexo corretivo do pescoço ocorre quando o bebê é colocado na posição supina com a cabeça voltada para um lado provocando a reação, no restante do corpo, de mover-se reflexivamente na mesma direção da cabeça. Este reflexo persiste até o sexto mês. O reflexo corretivo do corpo ocorre o oposto. Este reflexo aparece por volta do sexto mês e persiste até, aproximadamente o décimo oitavo mês e forma a base para o rolamento voluntário que ocorre ao final do quinto mês.

5. Reflexo de engatinhar, consiste de posicionar o bebê de forma inclinada e aplicar uma pressão na sola de seus pés. A reação ocorre instantaneamente e o bebê engatinha usando tanto os membros inferiores quanto os superiores. Este reflexo está presente no nascimento e se estende até o terceiro ou quarto mês.

6. Reflexo da natação, consiste de posicionar o bebê de forma inclinada imerso na água ou em um nível um pouco acima. A reação mostra movimentos rítmicos de extensão e flexão de natação nas pernas e braços. Este reflexo normalmente desaparece por volta do quarto mês.

    Outros movimentos que são percebidos nos recém nascidos são os estereótipos rítmicos. Estes consistem de movimentos realizados pelo bebê de forma repetitiva que apresentam padrões desenvolvimentistas bem como constância de forma e distribuição.

    Para PAYNE & ISAACS (1999) e GALLAHUE & OZMUN (2001), os estereótipos rítmicos infantis apresentam subsídios de que o desenvolvimento motor humano é um sistema auto-organizado que busca o aumento do controle motor. Estes autores destacam os estudos de THELEN (1979) que observou e descreveu estereótipos rítmicos de bebês de quatro semanas a um ano de idade. THELEN (1979), encontrou quarenta e sete comportamentos estereotípicos e dividiu-os em quatro grupos: (1) pernas e pés, (2) tronco, (3) braços, mãos e dedos, (4) cabeça e rosto.

    Na observação dos movimentos de pernas e pés, foi constatado que estes estereótipos ocorriam principalmente quando os bebês estavam na posição supina ou inclinada com ocorrência máxima entre vinte e quatro e trinta e duas semanas de idade. Já para os estereótipos rítmicos de tronco ocorriam mais comumente na posição inclinada, em que o bebê levantava as costas e erguia os braços e as pernas a partir da superfície de apoio e, de forma rítmica, balançava-se para frente e para trás (posição de “avião”).

    Os estereótipos rítmicos de braços, mãos e dedos foram constatados em todos os bebês observados. Os movimentos mais realizados pelos bebês foram o ato de acenar (sem objeto) e o ato de bater (com objeto nas mãos) com ocorrência máxima entre trinta e quatro e quarenta e duas semanas de vida. E os estereótipos rítmicos de cabeça e rosto foram considerados como os menos frequentes. Nestes, foram observados os movimentos de balanço rítmico da cabeça para os lados (“não”) e para cima e para baixo (“sim”), bem como o movimento da língua para fora e para dentro da boca. Ao final do estudo a autora constatou que os estereótipos rítmicos mais comumente encontrados foram os do grupo (1) pernas e pés e do grupo (3) braços, mãos e dedos, sendo que os do grupo (1) apareceram antes e os do grupo (3) atingiram a ocorrência máxima mais tarde.

    Após o estudo destes autores foi possível compreender melhor as questões relacionadas com desenvolvimento motor no que diz respeito aos reflexos e estereótipos rítmicos. Através destes conhecimentos torna-se possível e, na minha opinião, também, acessível diagnosticar as desordens do sistema nervoso central.

    Em particular, a leitura destes textos permitiu-me a reflexão sobre a relação existente entre o comportamento reflexivo precoce e o movimento voluntário posterior. Acredito que um posicionamento de minha parte a respeito deste assunto seria uma precipitação devido ao meu ainda precário conhecimento. No entanto, a partir de uma primeira análise, percebo certa simpatia de minha parte com relação à teoria neuromaturacional, pois também acredito que na medida em que se estimule os reflexos primitivos, estes possam se tornar movimentos voluntários.

Referências

• GALLAHUE, D. L. & OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte editora, 2001, 641p.

• PAYNE, V. G. & ISAACS, L. D. Human motor development: A lifespan approach. Mountain View, CA: Mayfield, 4º ed., 1999.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 172 | Buenos Aires, Septiembre de 2012 © 1997-2012 Derechos reservados