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Implicações do padrão de beleza corporal inseridos

no currículo de Educação Física do Estado de São Paulo

Las implicancias del modelo de belleza corporal incluido en el currículo de Educación Física del Estado de Sao Paulo

 

*Mestra em Pedagogia do Movimento Humano – USP (2000)

**Licenciada/o em Educação Física – UNIFEV (2011)

***Especializando em Docência do Ensino Superior – UNIFEV

****Mestre em Ciências da Motricidade - UNESP (2003)

(Brasil)


Denise Ferraz Lima Veronezi*

Gilmar Benedito Martins** | Glauciele de Sales Soares**

Higor Thiago Feltrin Rozales Gomes***

Lucas Portilho Nicoletti****

Milena Patrícia Miqueletti**

higor.thiago@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo discute a influência que o padrão de Beleza Corporal atua sobre a vida dos alunos do Ensino Médio, contextualizando com o atual Currículo de Educação Física do Estado de São Paulo. Para a realização dessa pesquisa foram entrevistados dois autores do referido Currículo e realizado um estudo de campo na cidade de Votuporanga/ SP para analisar a utilização dos conteúdos, se estão sendo bem aceitos pelos alunos e relatar quais são as dificuldades que a professora pode encontrar com a temática do atual currículo. Nessa pesquisa os resultados mostram que a professora de Educação Física está abordando o tema sobre os padrões de beleza corporal e que o Currículo do Estado de São Paulo está auxiliando o trabalho em sala de aula, mas em entrevista relata que está tendo dificuldades para trabalhar a prática dos conteúdos.

          Unitermos: Padrão de beleza. Educação Física. Currículo do Estado de São Paulo.

 

Abstract

          This study discusses the influence that the standard of Beauty Body acts on the lives of high school students, contextualizing with the current curriculum of Physical Education of the State of São Paulo. To carry out this research were interviewed two authors of the Curriculum and conducted a field study in the city of Votuporanga / SP to analyze the use of content, whether they are being well accepted by the students and report what are the difficulties that the teacher can meet with the theme of the current curriculum. In this study, the results show that the Physical Education teacher is addressing the issue of standards of physical beauty and the Curriculum of the State of São Paulo is supporting the work in the classroom, but in an interview reports that are having difficulties to work circulation of the contents.

          Keywords: Standard of beauty. Physical Education. Curriculum of the State of São Paulo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 172, Septiembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O corpo sempre será “biocultural” com seus níveis de expressão oral e gestual, ao longo de sua história está sempre em destaque, pois há vários anos se debate o padrão de beleza corporal de homens e mulheres, ficando evidente naquelas pinturas e esculturas de corpos nus, feitas por renomados artistas plásticos como a escultura de “Vênus” mostrando o corpo idolatrado da época. Segundo Soares (2001, p.3) “[...] o corpo talvez seja o mais belo traço da memória da vida”. Pois ele está sempre em desenvolvimento.

    Para Betti e Zuliani (2002), as aulas de Educação Física do Ensino Médio devem dar destaque à aquisição de conhecimentos sobre a cultura corporal de movimento, e facilitar a vivência de práticas corporais levando em conta os interesses dos alunos. Assim, os conteúdos desenvolvidos nas aulas de Educação Física possam acrescentar ao aluno aspectos cognitivos, portanto torná-lo uma pessoa com capacidade de analisar e criticar determinados conceitos.

    Nesta pesquisa buscou-se compreender a influência que o padrão de beleza corporal atua sobre a vida dos alunos do Ensino Médio, o que eles poderão herdar depois do término da educação básica e analisar como estão vivenciando o tema dentro da escola através do atual Currículo de Educação Física do Estado de São Paulo.

    Pois o corpo tornou-se uma espécie de mercado, o descartável dá lugar ao que é desejado, vale-se “o mais”, o mais bonito, o mais belo o mais forte. Mais nem sempre esse modelo é considerado saudável (CARVALHO, 2004).

O currículo do Estado de São Paulo

    O Currículo do Estado de São Paulo surgiu no início de 2008 para apoiar o trabalho realizado nas escolas, contribuindo para a qualidade do ensino-aprendizagem. O currículo da Educação Física foi elaborado pelos seguintes professores: Adalberto dos Santos Souza, Jocimar Daolio, Luciano Venâncio, Luiz Sanches Neto, Mauro Betti, Sergio Roberto Silveiro (SÃO PAULO, 2008).

    A Proposta Curricular do Estado de São Paulo vem com o intuito não de apenas realizar uma simples orientação para os professores da rede pública estadual, mas propor que as ações realizadas em aula devem ter um foco definido, proporcionando assim um melhor entendimento dos alunos.

    Na elaboração do Currículo do Estado de São Paulo a Secretaria realizou duas iniciativas complementares, sendo a primeira um levantamento amplo do acervo documental e técnico pedagógico existente, e a segunda foi a de iniciar um processo de consulta as escolas e professores, para identificar, sistematizar e divulgar boas práticas existentes nas escolas de São Paulo. Sendo que “a Secretaria procura também cumprir seu dever de garantir a todos uma base comum de conhecimentos e competências, para que nossas escolas funcionem de fato como uma rede.” (SÃO PAULO, 2008, p. 8).

    “A Proposta Curricular se completará com um conjunto de documentos dirigidos especialmente aos professores. São Cadernos do Professor, organizados por bimestres e por disciplinas.” (SÃO PAULO, 2008, p.9).

    A Proposta para o componente da Educação Física é transmitir para o aluno o conhecimento baseado no saber fazer, em uma ação fundamentada no conceito de “Se Movimentar” como uma expressão individual/grupal no âmbito de uma Cultura de Movimento (SÃO PAULO, 2008).

    O currículo que dá conteúdo e sentido à escola precisa levar em conta esses elementos. Por isso, esta Proposta Curricular tem como princípios centrais: a escola que aprende, o currículo como espaço de cultura, as competências como eixo de aprendizagem, a prioridade das competências para aprender e a contextualização no mundo do trabalho. (SÃO PAULO, 2008, p. 11).

    As competências promovidas pelo currículo e o compromisso de que os alunos ao longo dos anos possam aprender a articulação dos componentes e as atividades escolares, para que essas crianças e jovens possam transformar-se em adultos preparados para exercer seu papel na sociedade.

    Dentro do contexto proposto pelo currículo, os professores devem buscar um olhar crítico levando os alunos a ampliar, aprofundar e qualificar os conteúdos vivenciados nas aulas durante a vida escolar.

    “Esperamos que a Educação Física possa assumir na escola um importante papel em relação à dimensão do Se Movimentar humano, relacionando-se ativamente com os outros componentes curriculares influindo decisivamente na vida dos alunos.” (SÃO PAULO, 2008, p. 47).

    O objetivo a ser trabalhado no componente curricular da Educação Física do Ensino Médio é utilizar o conhecimento que os alunos já possuem sobre várias manifestações corporais, buscando a compreensão dos conteúdos já vividos por eles na fase anterior (Ensino Fundamental), em sintonia com os temas da atualidade para que possam tornar-se pessoas críticas e esclarecidas sobre determinados assuntos (SÃO PAULO, 2008).

    Em uma rede de inter-relações composta pelos grandes eixos de conteúdos que se cruzam com eixos temáticos. Dentro do tema 'corpolatria' são trabalhados nas aulas de Educação Física os temas: Corpo, Saúde e Beleza “colocam os jovens na ‘linha de frente’ dos cuidados com o corpo e a saúde”; Contemporaneidade “o mundo e a época em que vivemos caracterizam-se por grandes transformações, das quais o aumento do fluxo de informações é uma das mais impactantes” e Mídias “televisão, rádio, jornais, revistas e sites da internet influenciam o modo como os alunos percebem, valorizam e constroem suas experiências de Se Movimentar” (SÃO PAULO, 2008, p. 46).

    A rede de inter-relações assim gerada possibilita a pluralidade e a simultaneidade no desenvolvimento dos conteúdos [...] com enfoques diferentes propiciados pelos eixos temáticos e com níveis de complexidade diversos. [...] os temas relacionam entre si, por exemplo, o papel das mídias é fundamental na definição dos padrões de beleza corporal. (SÃO PAULO, 2008, p. 47).

    Dentro da Proposta existe uma rede de inter-relações entre grandes eixos de conteúdos que são os jogos, os esportes, as ginásticas, as lutas e atividades rítmicas com os eixos temáticos dentro da atualidade. Sendo esses eixos divididos por bimestres passando para os alunos conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais.

Quadro 1. Indicações dos conteúdos referentes aos eixos temáticos para a 1ª série do Ensino Médio

 

Quadro 2. Indicações dos conteúdos referentes aos eixos temáticos para a 2ª série do Ensino Médio

 

Tabela 3. Indicações dos conteúdos referentes aos eixos temáticos para a 3ª série do Ensino Médio

    No caderno do Professor há varias Situações de Aprendizagem propostas para que as aulas de Educação Física tenham conteúdos variados. Dentro do tema “Corpolatria” o Professor tem como auxílio textos e imagens que propõem desenvolver a inter-relação dos Conteúdos através de Eixos Temáticos como, por exemplo: “Corpo, Saúde e Beleza” que contém “A construção histórica e cultural dos padrões de beleza e a minha beleza”. O tema proposto tem como conteúdo o padrão de beleza em diferentes períodos históricos, e a história da própria beleza, onde os alunos coletarão imagens de atletas em vários períodos históricos para estabelecer comparações com obras de artes e fotografias de atores e atrizes. Sendo que o Professor tem como “competência e habilidades identificar padrões e estereótipos de beleza nos diferentes contextos históricos e culturais, perceber as representações da beleza em seu grupo sociocultural.” (SÃO PAULO, CADERNO DO PROFESSOR, 2008, p. 29).

    Situação de Aprendizagem no Caderno do Aluno da 1ª série volume 1, trás textos e imagens que relata o padrão de beleza corporal que está sendo veiculado nas mídias, e as varias maneiras de alcançar esses estereótipos. Com a leitura do texto os alunos têm perguntas individuais a serem respondidas, cujo objetivo é identificar a situação do próprio aluno referente ao tema. Dando continuidade, em grupo os alunos realizam uma pesquisa identificando os padrões de beleza, e com as imagens obtidas por eles respondem questões dentro do Caderno do Aluno. (SÃO PAULO, CADERNO DO ALUNO, 2008).

Metodologia

Amostra

    Para coletar os dados desta pesquisa foi aplicado um questionário para 98 alunos da 1ª, 2ª e 3ª série do Ensino Médio, sendo realizada em uma escola da rede estadual da cidade de Votuporanga/SP.

    Foi aplicado também, um outro questionário aberto e específico para a professora de Educação Física, na qual esta professora atua como efetiva nas referidas salas citadas acima.

Procedimentos

    Realizamos uma pesquisa de campo quantitativa e qualitativa, pela qual coletamos dados através de um questionário fechado contendo quatro (04) questões para os alunos e nove (09) questões abertas para a professora.

    Os questionários foram aplicados pelos pesquisadores no mês de setembro, em visita a escola e em contato direto com a professora e os alunos, todas essas questões foram aplicadas em horários de aula.

    As questões foram elaboradas focando a Proposta Curricular de Educação Física do Estado de São Paulo, com a finalidade de verificar como o tema “Padrão de Beleza Corporal” está sendo abordado na escola, e o conceito que alunos possuem a respeito dessa temática através das vivências que tiveram em sala de aula.

Resultados e discussões

Figura 1. Como está sendo a sua aprendizagem com o atual Currículo de Educação Física?

    Nesta questão os alunos avaliaram se os conteúdos ensinados nas aulas de Educação Física estão auxiliando o aprendizado ao longo do ano. Para a 1ª série, 47% dos alunos relataram que o conteúdo abordado nas aulas melhorou a compreensão deles sobre Educação Física, 31% disseram que esclareceu as dúvidas freqüentes e 22% relataram que os conteúdos não esclareceram os temas abordados. Na 2ª série 56% apontaram que melhorou a compreensão sobre Educação Física, 19% relataram que os conteúdos esclareceram as duvidas e 25% que não esclareceu. Na 3ª série 38% dos alunos relataram que melhorou a compreensão sobre Educação Física, 33% relataram que tirou as dúvidas e 29% disseram que os conteúdos não esclareceram os temas abordados.

    Para o Currículo do Estado de São Paulo (2008), os conteúdos desenvolvidos ao longo do ano letivo nas aulas de Educação Física, devem conter dimensões do mundo contemporâneo com a realidade dos alunos, a fim de auxiliá-los a compreender o mundo de forma mais crítica, possibilitando uma intervenção nesse mundo e nas suas próprias vidas.

Figura 2. Os conteúdos do Caderno do Aluno são bem esclarecidos?

    Podemos observar que nessa questão a 1ª série relatou com 78% que sim, e somente 22% disseram que não são bem esclarecidos. Na 2ª série 81% dos alunos relataram que sim, e 19% disseram que os conteúdos não são bem esclarecidos. Já na 3ª série 71% relataram que os conteúdos do caderno são bem esclarecidos e 29% acusaram que não são.

    Podemos verificar nesta questão que os alunos da 3ª série em relação aos demais entrevistados, demonstraram maior dificuldade de entendimento sobre os conceitos abordados no Caderno do Aluno.

    A Proposta Curricular (2008) relata que os conteúdos apresentados nas aulas são para que os alunos obtenham um aprofundamento daqueles conteúdos que já possuem. A fim de criar formas solitárias de convivência e respeitar os valores culturais que cada aluno possui.

Figura 3. As questões presentes no caderno do aluno são...

    De acordo com os resultados analisados na 1ª série 44% relataram que as questões são fáceis e 56% acusaram que são razoáveis. Já na 2ª série 22% dos alunos responderam que as questões são fáceis e 78% razoáveis. Na 3ª série 35% relataram que são fáceis; 65% dos alunos responderam que são razoáveis. Como podemos verificar, nenhum aluno do ensino médio considera difíceis as questões que contém no Currículo de Educação Física.

    A Proposta Curricular (2008) sugere aos alunos que participem das aulas, observem as explicações do professor, façam anotações e em caso de dúvidas, perguntem e relatem sua opinião.

Figura 4. A metodologia que a professora abordou o tema Corpolatria

    Nesta questão podemos analisar que na 1ª série, 94% dos alunos relataram que a metodologia que a professora abordou o tema corpolatria, ajudou a esclarecer e somente 6% tiveram dúvidas sobre o tema, já na 2ª série 72% disseram que ajudou a esclarecer e 28% relataram que houve dúvidas a respeito do tema corpolatria, na 3ª série 70% responderam que a metodologia ajudou a esclarecer e somente 30% dos alunos tiveram dúvidas sobre o tema abordado em sala de aula.

    Para Codo e Senne (2004) o destaque que estão dando ao corpo é de uma forma exagerada, antigamente a forma do corpo não era muito comentada, ficando nas sobras das roupas. Atualmente os corpos ficam expostos quase à nudez, ficam em evidência os padrões que são adquiridos em academias, despertando a atenção e o interesse de muitos, surgindo assim a corpolatria que se define como o culto da própria imagem do corpo.

Relato da professora da Rede Estadual de São Paulo

    A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo em seu projeto curricular, cujo intuito é “apoiar o trabalho nas escolas estaduais e contribuir para a melhoria da qualidade das aprendizagens de seus alunos.” (SÃO PAULO, 2008, p.8). Partimos desse embasamento e perguntamos à professora em relação aos conteúdos que são propostos para o Ensino Médio, em seu relato ela argumenta que: “O currículo é bom, um avanço para as aulas de Educação Física, o maior desafio é colocá-lo em prática, vencer as barreiras”. Esse discurso demonstra que o Currículo está auxiliando em suas aulas, mas fica notável que para desenvolver a prática dos conteúdos existem dificuldades da professora para trabalhar com os alunos.

    Em relação ao conceito do tema corpolatria, a professora relata que: “São os cuidados extremos do corpo, não tendo como preocupação a saúde, e sim a aparência”.

    Segundo Codo e Senne (2004, p. 01) “vivemos todos conscientes como nunca estivemos da destruição que vem sendo imposta ao nosso corpo. Cada um de nós age como que prisioneiro de uma vida que esmaga o corpo”.

    Quando questionada a metodologia utilizada para trabalhar o tema corpolatria nas aulas de Educação Física, percebe-se que há uma abrangência: “Em minhas aulas eu trabalho através de textos, diálogos e pesquisas abordando o tema: Corpo, Saúde e Beleza, sendo anorexia, obesidade, alimentação, mercado do corpo e mídia. Ou seja, informações para que os alunos compreendam e assumam uma posição mais crítica em relação à corpolatria”.

    Segundo Ferreira (2005) a cultura é determinante nos aspectos do nosso corpo, levando em conta como a construção das identidades depende da construção do corpo.

    Outra questão levantada nesse estudo, foi sobre o conceito que a professora tem a respeito dos temas relacionados ao corpo. De acordo com as aulas observadas pode-se verificar que esta professora é a favor da inserção desses temas no componente da Educação Física, e em seu relato ela diz: “O tema é amplo e sempre esteve presente nas aulas de Educação Física, hoje mais divulgado e assumido. Chegou a hora de aprofundar, pois gosto da maneira como está acontecendo”.

    Segundo Both (2002), nas aulas de Educação Física verifica-se que o principal conteúdo aplicado pelo professor é o esporte em relação ao corpo, não considerando muitas vezes outras atividades como a dança, a ginástica, entre outras. O que se encontra na maioria das vezes é a prática esportiva, buscando o alto rendimento.

    Observando o comportamento dos alunos, nota-se que ao receberem as informações passadas pela professora em suas aulas, eles demonstram que não gostam de realizar atividades teóricas, preferem as práticas. Interrogando a professora a esse respeito ela argumenta que: “Os alunos não querem saber de teoria nas aulas, reclamam e boicotam, vou negociando e falando com eles, discutindo e aos poucos percebo que querem falar e aprender”.

    Ao ser questionada sobre a opinião que os seus alunos têm em relação aos aspectos da corpolatria, ela relata que “é um universo, pois são muitas opiniões, mas a maioria entende que existe um exagero”. Em relação à avaliação que a professora faz no final de suas aulas sobre o tema desenvolvido, ela diz que: “compreendem de maneira superficial, e alguns assumem o quanto estão envolvidos nos aspectos relacionados à preocupação exagerada com a beleza”.

    Quando foi questionada sobre a opinião em relação às pessoas que tem obsessão pela estética corporal, a professora diz: “algumas precisam dessa obsessão para ser bons profissionais e se destacarem. Tiram proveito dessa patologia da modernidade. Outros querem seguir esse padrão de beleza atual por motivos diversos”.

    Segundo Codo e Senne (2004), a preocupação com o corpo é uma luta pela reapropriação de si mesmo, sendo um protesto contra o caráter alienante do trabalho, um passo a mais em direção à liberdade.

    Ao destacar como são os trabalhos desenvolvidos nas aulas de Educação Física, a Professora relata que são realizadas pesquisas sobre moda nas últimas décadas, as diferenças genéticas, alimentação balanceada, atividade física e gasto calórico.

    “Eis a corpolatria: uma tempestade de manifestações concomitantes, ressaltando ou guindando o corpo ao centro do Universo. Sempre o meu corpo, e sempre antagonizado, contraposto à economia, à política e à civilização.” (CODO E SENNE, 2004. p. 25).

Relato de autores da proposta curricular

    Buscou-se também nesse trabalho coletar os relatos de alguns autores dessa Proposta Curricular de Educação Física, um dos elaboradores desta proposta pedagógica para a Educação Física, o Professor Jocimar Daolio concedeu seus relatos (através de e-mail) em 22 de setembro de 2011: “Participar da elaboração do currículo do Estado de São Paulo foi uma experiência muito importante, não só pela grandeza e relevância da rede estadual paulista como pelo fato de poder contribuir com a melhoria da qualidade das aulas de Educação Física. Claro que o tempo para isso foi curto e o processo acelerado devido ao fato de termos de redigir 28 cadernos do professor em poucos meses. Acho importante também pelo fato de darmos uma conotação sociocultural no currículo, o que me parece um avanço para a área. E penso também que oferecermos uma forma de organização curricular também é importante, porque a crítica recebida pela área sociocultural é que ela fazia somente reflexões teóricas”.

    A Proposta Curricular do Estado de São Paulo foi elaborada com o intuito de auxiliar o professor em suas aulas, cujo objetivo para o Ensino Médio é desenvolver nos alunos a ação da Cultura do Movimento e o Se - Movimentar, como nos fala o próprio Professor Luiz Sanches Neto, em entrevista concedida em 21 de setembro de 2011 que relata: “A Proposta Curricular do Estado de São Paulo na área de Educação Física, foi elaborada com a fundamentação teórica em dois conceitos: Se - Movimentar (enfatizando a intencionalidade/subjetividade/expressividade do sujeito do movimento, ao invés da "tradicional" visão que trata prioritariamente do movimento do sujeito) e Cultura de Movimento (tratando das dinâmicas presentes nos códigos de vários elementos da cultura - como o jogo, o esporte, a ginástica, a luta, a dança [atividade rítmica] e a ginástica, cujo tratamento pedagógico perpassa a função social da EF no processo de escolarização) menciono ainda que os objetivos da PPC-EF (Proposta Pedagógica Curricular – Educação Física) no ensino fundamental e médio diferem e direcionam-se para a formação de alunos que sejam (auto) críticos em suas condutas (autônomos e críticos)”.

    Para o Ensino Médio além dos conteúdos já trabalhados no ciclo anterior, sendo o Ensino Fundamental I e II, a proposta é ampliar os conhecimentos dos alunos e desenvolver uma reflexão mais ampla em relação ao seu cotidiano, dentro desses conteúdos estão os eixos temáticos e para debater o tema “corpolatria” trabalha-se Corpo, Saúde e Beleza, Contemporaneidade e Mídia. Pautando-se nesses temas o Professor Jocimar Daolio relata: “No Ensino Médio não haveria sentido em repetir os mesmos conteúdos desenvolvidos no Ensino Fundamental. Aliás, essa é uma crítica feita ao EM, que também contribui para o esvaziamento das aulas e o desinteresse por parte de alunos e professores. A intenção com os eixos temáticos é revisitar os conteúdos a partir de temas contemporâneos que possam gerar novos temas de estudo e vivência. Por exemplo, o esporte pode ter sido tratado, mas aqui seria revisitado a partir das mídias, que gera a espetacularização do mesmo”.

    Pautando-se no contexto acima o Professor Luiz Sanches Neto relata que: “Os temas foram propostos a partir das necessidades percebidas dos jovens no mundo contemporâneo; a idéia é que os temas ‘atravessem’ os conteúdos com diversas ‘inter-relações’, por exemplo: mídias e esporte; corpo, saúde e beleza, e ginástica; contemporaneidade e luta, etc.”.

    Atualmente os jovens estão sendo bombardeados por diversas informações em relação ao corpo. Contudo a Educação Física Escolar tem como objetivo debater determinados temas que levem os alunos a uma reflexão crítica e autocrítica como relatam os elaboradores da Proposta Curricular do Estado de São Paulo:

    O professor Jocimar Daolio diz: “Acredito que o jovem está atualmente muito ligado aos padrões de beleza corporal, motivado principalmente pelas mídias, que veiculam determinados modelos de corpo e beleza. A Educação Física não pode se negar a tratar desse tema, sob risco de deixar os jovens reféns acríticos desses padrões. Por outro lado, o tema é extremamente motivamente e atual para os jovens, o que pode ser útil para o desenvolvimento das aulas. Resta saber como tratar metodologicamente disso. Foi isso o que tentamos fazer nos cadernos do professor”.

    A respeito disso o professor Luiz Sanches Neto relata: “A idéia central é que os mitos, tabus e preconceitos sobre o corpo sejam discutidos (e até refutados) mediante as competências e habilidades apontadas nas várias situações de aprendizagem que tratam desse tema; o propósito é que os alunos sejam críticos em relação a tais demandas de ‘padronização’ e que também sejam (auto) críticos em relação ao seu próprio envolvimento no processo ideológico de ‘padronização’ de valores e condutas”.

Conclusão

    Com este trabalho pode-se concluir que o Currículo de Educação Física do Estado de São Paulo tem propiciado através dos Cadernos do Professor uma discussão histórica - social sobre os padrões de beleza corporal ao longo da história. No entanto cabe ao professor propiciar o debate e a reflexão sobre os temas que são propostos: Corpo – Saúde – Beleza e suas relações com as mídias. Fica evidente nesse trabalho, que ao passar dos anos no Ensino Médio (1º ao 3º ano) há uma ampliação do conhecimento sobre os padrões de beleza corporal e suas implicações relativas ás mídias. Considerando a relevância do tema, pode-se afirmar que o atual currículo de Educação Física está exercendo um papel fundamental, tornando o aluno crítico em relação aos padrões de beleza corporal para que a partir desses conhecimentos consiga identificar quais são os benefícios que a Educação Física pode proporcionar dentro e fora da escola, e parafraseando o autor Daolio “a educação Física não pode se negar a tratar desse tema sob risco de deixar o jovem refém e acrítico desses padrões”.

Referências

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