Método positivo: análise dos pressupostos teórico-metodológicos El método positivo: análisis de los presupuestos teórico-metodológicos |
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Licenciado em Educação Física pela Faculdade Social, BA (Brasil) |
Wagner Santos Santana |
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Resumo O estudo se enquadra na área da educação, mas, é especifico da educação física, por ser este componente obrigatório do ensino básico. Teve como objeto de pesquisa, a análise da base epistemológica do modelo de ensino direcionado para a educação física do grupo positivo. Tal método indica e estabelece meios de intervenções pedagógicas em sua proposta, pautado em diversas correntes metodológicas. Problematizou-se então: quais os pressupostos teórico-metodológicos que orientam a organização pedagógica da educação física no método de ensino do grupo positivo? A pesquisa é de cunho bibliográfico, e utilizou-se como análise dos dados o método de análise de conteúdo, que segundo Bardin apud Trivinõs (2008,) assinala três etapas básicas: pré-análise, descrição analítica e interpretação inferencial. Com o estudo identificou-se que a proposta do grupo positivo para a organização didático-pedagógica do ensino dos conteúdos da educação física (dança, jogo, lutas, esporte, ginástica, capoeira, entre outros) se pauta no ecletismo teórico-filosófico, a-histórico e a-críticos dos conteúdos apresentados para o desenvolvimento do ensino da educação física. Unitermos: Abordagens pedagógicas. Educação Física. Método Positivo.
Recorte da Monografia apresentada ao curso de Licenciatura em Educação Física da Faculdade Social da Bahia, como requisito para obtenção do grau de licenciado em Educação Física. Orientador: Prof° Dr. Welington Araújo Silva.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 172, Septiembre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Passeando pela história da Educação Física brasileira
A educação física brasileira teve vinculada a sua gênese a influência das raízes européias, as revoluções, industrial e política, no sentido de propiciar a consolidação do “novo Estado”. Sua crescente se incorporou as propostas educacionais liberais, hoje, tidas como neoliberais, de tal modo como a própria escola enquanto instituição educacional. Dessa forma, tentou edificar à nova ordem a partir de novas bases políticas, sociais e econômicas, que necessitava de um novo tipo de homem, assim como, de uma nova instituição que formasse esse homem com vista a atender as necessidades produtivas oriunda da nova organização social. (SOARES, 2007).
Sendo assim, ela alocou como papel central, naquela época, o fator biologizante – o corpo – enquanto força de trabalho no sentido de, através da escola, produzir um novo homem (SANTOS JÚNIOR, 2011). “(...) Um homem que possa suportar uma nova ordem política econômica e social, um novo modo de reproduzir a vida sob novas bases.” (SOARES, 2007, p.5).
E há esse novo homem, delegou-se uma nova configuração:
(...) encarna e expressa os gestos automatizados, e se fazer protagonista de um corpo saudável; torna-se receita e remédio para curar os homens de sua letargia, indolência, preguiça, imoralidade, e desse modo, passa a integrar o discurso médico, pedagógico e (...) familiar. (...) A educação física se ocupará de um corpo a-histórico, indeterminado, um corpo anatomofisiológico meticulosamente explicado e cientificamente explicado. Ela negará o funabulismo, os acrobatas, a especulação, e buscará as explicações para a sua atuação na visão de ciência hegemônica na sociedade burguesa: a visão positivista de ciência (SOARES, 2007, p.6).
Nessa perspectiva, mesmo sendo o homem um ser orgânico, ela, o considera imutável.
A educação física, por muitas vezes teve um pano de fundo utilitarista em sua cooptação, através de determinações macrossociais. Exemplo clássico foi a sua chegada ao território brasileiro pelo nome de ginástica, um dos seus elementos atuais, que evidenciava na época sua identidade. “Recebeu, em diferentes contextos históricos, diferentes contornos mediados pelas necessidades de nossa sociedade” (SANTOS JÚNIOR, 2011, p.44), e foi inicialmente,
(...) apoiada em projetos higienistas e militaristas, na consolidação do capitalismo no país, e tendo como conteúdo dominante a ginástica, modificou-se na década de 70, já em um contexto de recomposição do capital, para adotar um projeto esportivista, ligado a um contexto sócio-político ditatorial, em que o esporte foi utilizado na escola como o próprio conteúdo da educação física, na perspectiva da pirâmide esportiva. De outra forma pode-se dizer que a educação física obedeceu, historicamente, seja sob o conteúdo da ginástica, ou do esporte sobrepondo sua identidade, à composição paradigma da aptidão física, sendo utilizada, via escola para compor o projeto dominante do capital (NOZAKI, 2004, p.142 apud SANTOS JÚNIOR 2011 p.51).
As marcas deixadas pelo militarismo, higienismo e esportivismo foram e são bastante questionadas, e em meados dos anos 80, com a contribuição de autores da educação física que se especializaram em outras áreas do conhecimento (sociologia, antropologia, filosofia, dentre outras) surgiram vários debates e discussões em volta da contextualização e sistematização da mesma, mediada por uma crise estrutural do próprio sistema capitalista que aprofundou sua crise de identidade, “conseqüência da sua própria fragmentação epistemológica, cuja hegemonia, até aquele momento, era o de perspectivas teóricas de ordem biologicistas e, portanto, positivistas” (SANTOS JÚNIOR, 2011, p.53), a última, matriz que perpassa por quase todas as propostas de organização do ensino da educação física até então.
Nesse período, anos 80, instaurou-se um intenso e rico debate acadêmico na busca de uma identidade epistemológica da educação física, apoiadas em conhecimentos de origem positivista, fenomenológico, e da tradição do pensamento marxista (dialética) e outras tendências empírico-analíticas, num contraponto até o momento hegemônico, não todas.
Sendo assim, estudiosos da área já apontava melhoria no debate epistemológico da mesma no intuito de elevar o nível de consciência de seus profissionais. Com esse contexto surgiram diversos grupos que procuraram reconfigurar o papel da educação física na sociedade brasileira, e por aí, proporcionou o desenvolvimento de proposições de abordagens pedagógicas.
O marco de sua história
O grande marco da educação física brasileira foi na década de noventa, quando se buscou desenvolver, dentro da escola, de maneira sistematizada, uma ação pedagógica coesa que fomenta o seu ensino, e norteia os professores e professoras desta disciplina quanto à organização dos conteúdos. Sendo assim, surge a real intenção de entendê-la; nascem metodologias marcadas de mudanças e reflexões na busca de sua “identidade”.
Castellani Filho (2002) construiu um quadro que sintetiza as principais abordagens da educação física brasileira – “sua identidade” – agrupando-as em não propositiva e propositiva, dentro destas se localiza as não sistematizadas e as sistematizadas.
O autor diz que entre as não propositivas encontram-se as abordagens Fenomenológica (representada pelos professores Silvino Santin e Wagner Wey Moreira), Sociológica (representada pelo professores Mauro Betti) e Cultural (representada pelo professor Jocimar Daólio). Em comum, abordam a educação física escolar sem estabelecerem metodologias para seu ensino. Já no campo das propositivas não sistematizadas, aparecem as concepções Desenvolvimentista (representada pelo professor GO Tani), Construtivista-Interacionista (representada pelo professor João Batista Freire), Crítico-Emancipatória (representada pelo professor Elenor Kunz) e outra, recém batizada de Plural, oriunda da abordagem Cultural e seu mesmo representante. “Todas essas apontam para uma configuração de educação física escolar, sem, todavia sistematizarem-na metodologicamente” (CASTELLANI FILHO, 2002, p.65). Nas propositivas sistematizadas tem-se a concepção da Aptidão Física (Guedes & Guedes) e a Crítico-Superadora (Coletivo de Autores).
Devido às inúmeras tentativas de sistematizações de propostas para educação física escolar, serão abordadas nesse estudo as que mais foram citadas e referenciadas na área: a Desenvolvimentista, a Construtivista, a Crítico-Superadora, a Crítico-Emancipatória, sendo que, todas estas vão dizer que busca transcender o modelo vigente, mesmo com suas limitações e bases filosóficas de manutenção, o que cabe questionar: é realmente a intenção de todas supera o modelo?
A abordagem Desenvolvimentista, desenvolvida por Go Tani e outros colaboradores, tem como seu principal objetivo “buscar nos processos de crescimento, de desenvolvimento e de aprendizagem motora do ser humano” (GO TANI, 1988, p.1) uma fundamentação teórica que dê direcionamento para a prática da educação física. Ressaltando que a mesma abordagem é dirigida a uma determinada faixa-etária, dos quatro aos quatorze anos, e se caracteriza por predominar o movimento humano (GO TANI, 1988).
Os seus autores defendem a idéia de que o movimento é o principal meio e fim da educação física, e dentro dessa abordagem o conceito mais importante é a habilidade motora, por que é através dela que os indivíduos se adaptam aos problemas do cotidiano, resolvendo os problemas motores. Dessa forma, constituiu-se uma importante área do conhecimento da educação física (para tal abordagem sim, para outras não), a área do Desenvolvimento Motor. Desse mesmo modo, estruturou-se outro conhecimento, a Aprendizagem Motora. Sendo estes conhecimentos fundamentados no exemplo de taxionomia do desenvolvimento motor, proposto por Gallahue em 1982, cujos conteúdos parte dos mais simples para os mais complexos (DARIDO, 1999).
Dentro dessa perspectiva, vieram os questionamentos: onde está a bagagem cultural que é absorvida desde o nascimento? Será que esta não tem implicações no desenvolvimento motor, ainda antes dos 12 anos? (DAÓLIO, 1998) É mesmo necessária uma taxionomia do desenvolvimento motor?
Freire (1994) quando crítica essa abordagem, discorda da existência de padrões motores, “... teria que acreditar também na padronização do mundo” (FREIRE, 1994, p.22). Segundo o autor, a criança não pode ser visto unilateralmente sem considerar a interação com o meio em que vive. Desta forma, a educação física estaria sendo reduzida ao ato motor exclusivamente, desvinculando-se de um entendimento mais amplo, junto ao projeto educacional como um todo (FREIRE, 1994).
As críticas são fundamentadas, porém, o desenvolvimentismo também é importante para os alunos usufruírem das habilidades motoras (correr, saltar, pegar, lançar e outras), terem noção de espaço e tempo, mas não num sentido desvinculado de um contexto e, nem, tampouco, tendo como principal objetivo a melhora dos padrões de movimentos; por que se for nesse sentido, à área continuará reduzida a um caráter excepcionalmente neuro-comportamental.
Na crítica tecida por Freire, percebe-se a abordagem por ele proposta, a Construtivista-Interacionista da educação física, que segundo ele se constitui em variante a anterior – Desenvolvimentista – pelo fato da mesma focalizar seu trabalho no desenvolvimento cognitivo, no qual seu autor baseado na teoria piagetiana fundamenta seu trabalho para a prática da educação física nas etapas cognitivas: Sensório motor (0 a 2 anos); Pré-operacional (2 a 6 anos); Operatório concreto (7 a 11 anos); e operatório formal (12 em diante).
O mesmo autor ressalta que além do desenvolvimento cognitivo é necessário ponderar as diferenças sociais, étnicas e culturais dos alunos, para que o professor possa estar realizando suas intervenções pedagógicas (FREIRE, 1989). “No construtivismo, a intenção é construção do conhecimento a partir da interação do sujeito com o mundo, numa relação que extrapola o simples exercício de ensinar e aprender” (DARIDO, 1999, pp.17-18), de assimilação e acomodação, esse processo se organiza na constante reorganização (DARIDO, 1999).
Diante da abordagem sugerida por João Batista Freire, a qual enfatiza um dos três princípios da psicogenética, o lógico-matemático, pode-se observa que os estágios de desenvolvimento das estruturas cognitivas são baseados em uma priorização do processo maturacional-biológico, e o mesmo caracteriza seu trabalho na ação física e mental, ao indicar que esse é o melhor caminho para uma educação de corpo inteiro, fora dos padrões motores, isto é:
Organizações de movimentos construídos pelos sujeitos, em cada situação, construções essas que dependem, tanto dos recursos biológicos e psicológicos de cada pessoa, quanto das condições do meio ambiente em que ela vive (FREIRE, 1989, p.22).
Freire apud Oliveira (1992) argumenta que, para que se tenha uma verdadeira educação, esta deve se voltar a uma aprendizagem significativa, ou seja, que “esteja vinculada ao contexto concreto da vida das crianças, de sua cultura e de sua sociedade” (p.147).
Por se tratar de uma proposta dessa envergadura, pensada a educar os alunos de corpo inteiro (físico e mente), críticas e reflexões se emergiram, as discussões epistemológicas se intensificaram, algumas delas no sentido de romper o modelo mecanicista. Em 1990, outra proposta surgiu dando um novo sentido a educação física escolar: a Crítico-Superadora.
Castellani Filho (2002) a caracteriza no campo acadêmico da educação física como uma propositiva sistematizada. Ela apresenta o seu direcionamento, dando uma visão de totalidade ao indivíduo e fazendo com que o mesmo possa constatar, interpretar, compreender e explicar a realidade social complexa e contraditória. Tendo como reflexão dos dados da realidade, o projeto político-pedagógico (PPP), e o currículo como instrumento que visualiza tal reflexão a partir da prática pedagógica.
Nesse sentido, é diagnóstico, fazendo a leitura da realidade; judicativo, por que explicita valores a partir de uma ética voltada para os interesses de uma classe social; e teleológico, por que aponta uma direção clara de transformação da realidade.
Tal abordagem fundamenta seu trabalho numa base material de escolarização do homem, que é: o trato com o conhecimento, a organização escolar, e a normatização escolar (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Esta pedagogia levanta questões de poder, interesse, esforço e contestação. Acredita que qualquer consideração sobre a pedagogia mais apropriada deve versar não somente sobre questões de como ensinar, mas também sobre como adquirimos esses conhecimentos, valorizando a questão da contextualização dos fatos e do resgate histórico. Esta percepção é fundamental na medida em que possibilitaria a compreensão, por parte do aluno, de que a produção da humanidade expressa uma determinada fase e que houve mudanças ao longo do tempo (DARIDO 1999, p. 8).
A reflexão é elucidada pelo seu direcionamento, ou seja, pelo seu PPP, compreendendo que é político no sentido de encaminhar sua proposta de intervenção em uma determinada direção, e pedagógico no sentido de uma reflexão sobre a ação dos homens na realidade, explicitando suas determinações (DARIDO 1999).
Críticas e colaborações vêm sendo feitas sobre a abordagem Crítico-Superadora, nas críticas, há relatos que na perspectiva dialética ou histórico-crítica ainda não houve “contribuições relevantes no sentido da elaboração didático-pedagógica, de modo a subsidiar a prática educativa” (RESENDE apud DARIDO, 1999, p. 9).
Mas, é importante ressaltar que atualmente a abordagem Crítico-Superadora mostra resultados significativos, sendo esta, no atual momento, a única que pode evidenciar a transformação da prática social, através da educação física. Ressalva-se que a transformação da prática social não se dará apenas através da educação, muito embora, deve-se reconhecer a sua importância nesse processo.
Daólio (1998) ressalta que o grande mérito da abordagem está em considerar a cultura corporal como objeto de estudo da educação física, colocando-a como forma de representação do mundo. Segundo o autor, essas manifestações expressivas passam a ser vistas como fenômenos culturais, reconhecendo que o homem produziu e vem moldando esta cultura corporal através dos tempos, distanciando assim de uma natureza apenas biológica.
Logo, a caracterização desta proposição assegura o debate sobre o projeto histórico e ontológico da humanidade, visando à apreensão e interferência crítica e autônoma do sujeito na realidade.
Outra abordagem surge na busca de repensar a epistemologia da educação física, esta denominada de Crítico-Emancipatória, e apresenta como concepção do ensino; anuncia e estimula mudanças reais e concretas, tendo como objetivo principal a formação de sujeitos críticos e autônomos para transformação da realidade em que estão inseridos, por meio de uma educação de caráter crítico e reflexivo.
A mesma está fundamentada no desenvolvimento de três competências: 1) A competência objetiva, que visa técnica; 2) A competência social, referente aos conhecimentos e esclarecimentos que os alunos devem adquirir para entender o próprio contexto sócio-cultural; e 3) A competência comunicativa que assume um processo reflexivo responsável por desencadear o pensamento crítico, que ocorre através das linguagens, que podem ser de caráter verbal, escrito e/ou corporal. Todas essas competências centradas nos ensino dos esportes. (KUNZ, 1998)
A linguagem tem papel importante no agir comunicativo e funciona como uma forma de expressão de entendimentos do mundo social, para que todos possam participar em todas as instâncias de decisão, na formulação de interesses e preferências e agir de acordo com as situações e condições do grupo em que se está inserido e do trabalho no esforço de conhecer, desenvolver e apropriar-se de cultura (DARIDO, 1999, p.15).
Nota-se que existe algumas tentativas de transcender o modelo mecanicista, e percebe-se que mudar é preciso, superar é necessário, mesmo diante dos interesses de uma determinada classe social.
A superação ocorre quando o trato com o conhecimento reflete a sua direção epistemológica e informa os requisitos para selecionar, organizar e sistematizar os conteúdos de ensino que emergem dos conteúdos culturais universais, que são indissociáveis e significados humana e socialmente. Assim, os alunos podem compreender a realidade dentro de uma visão de totalidade, como algo dinâmico e carente de transformações, se opondo, enfim, à perspectiva tradicional de educação física (BUSSO, VANDITTI JÙNIOR, 2005, p.1).
Outras abordagens não detalhadas no estudo também tiveram significativos avanços na área da educação física, entre elas, a Cultural, Sistêmica e Fenomenológica. Pode-se observar que várias são as abordagens que se constituíram como parâmetro teórico-metodológico da organização do ensino no campo da educação física, entendendo que em algumas encontram-se implícitos ou explícitos elementos e concepções.
Diante da lógica de sistematizar os conteúdos a serem trabalhados nas aulas de educação física, vem surgindo métodos que pré-estabelecem meios de como os professores (as) podem estar realizando suas intervenções pedagógicas no âmbito escolar, muito embora, esses métodos podem estar alienando os trabalhadores. O método positivo, do grupo positivo é um desses, no qual propõe formas de como os professores (as) podem ministrar suas aulas. Nesse sentido, com premissas, segue uma tentativa de dissecar o método.
Passeando pelo método positivo
Com a estrutura proposta pelo método de ensino educacional, do grupo positivo, procurou-se desenvolver uma análise do desencadeamento epistemológico do mesmo.
O desenvolvimento da educação física ao longo da história colocou desafios no tocante a diversos aspectos do seu desenvolvimento, entre eles, a questão da estruturação das aulas sempre foi o mais impactante, já que no interior da escola, a mesma sofreu influências de diversas instituições não escolares que viam nela um forte componente de transmissão do pensamento dominante, seja de cunho higienista, militarista ou esportivista.
Pensamento dominante esse que tinha/tem como seu elemento fundante a ideologia positivista. Que segundo Lowy (2003) é um “sistema conceitual e axiológico que tende à defesa da ordem estabelecida” (p.22), com a qual as instituições não escolares da época, já citada no estudo, perspectivou uma nova ordem, uma ordem “industrial”, visando o progresso.
É nessa acepção, que a filosofia positivista se engendra, na busca de afastar qualquer tipo de ameaça que represente as “ideias negativas e as críticas”, sendo assim, o mesmo sistema serviria para manter as ideologias tradicionalistas.
Dessa forma, “a semente do positivismo, [...] sua pesquisa metodológica [...] tornou-se de maneira direta ou indireta, aberta ou encoberta, substancial ou diluída, total ou parcial, reconhecida ou não um dos pilares da ciência universitária, [...] até hoje (LOWY, 2003, p 26).
Atualmente, a um dialogo no âmbito escolar e acadêmico da educação física de como os professores vão realizar suas intervenções pedagógicas, e qual a direção deve ser tomada.
Nesse sentido, surgiram organizações didático-pedagógicas com intuito de fornecer aos professores de educação física subsídios para sua prática, com a proposta de direcionar o seu trabalho. Uma dessas organizações didático-pedagógicas, o método positivo, é a natureza que caracteriza o estudo, tendo como objetivo analisar os pressupostos teóricos-metodológicos presentes no método do grupo de educação positivo relativo à disciplina em questão, já que o mesmo relata abarcar as diversas correntes metodológicas.
O método aponta que a abordagem mais complexa e profunda dos conteúdos da cultura corporal – termo utilizado pela Crítico-Superadora – se baseei no desenvolvimento do pensamento lógico e dedutivo, nas explorações dos movimentos a partir da percepção analítica que combinam movimentos fundamentais e formas técnicas de execução. Formas técnicas que não devem ser treinadas por excelência, ou seja, ela não é o objetivo central das aulas, mas podem ampliar o acervo motor e a eficiência dos movimentos.
Muito embora ocorra um alerta para a extrapolação do movimento para além do aspecto técnico de sua execução, algumas terminologias denotam um reforço a uma concepção desenvolvimentista de cunho positivista, ao enfatizar o “acervo motor” do aluno atrelado a uma ideia de “eficiência” do movimento.
Esse movimento aparece em uma perspectiva que deve ser desenvolvida do simples para o complexo, deixando para trás a perspectiva de totalidade do movimento, categoria relevante da base filosófica que sustenta a abordagem pedagógica Crítico-Superadora/cultura corporal, no qual o método positivo diz se basear. Diante disso o método positivo utiliza a nomenclatura que diz respeito aos elementos que constituíram o conhecimento da educação física na abordagem Crítico-Superadora, mas, o seu direcionamento não está nela.
Os elaboradores do método relatam as questões das produções humanas, da cultura, se expressa por intermédio dos símbolos, os quais assumem significados em determinado contexto. Nesse sentido, há um grau de hierarquização e separação entre o biológico e o psicológico como elementos fundantes “das produções humanas”, produções essas que se desenvolvem na relação do indivíduo com o meio e suas experiências anteriores. A realidade sócio-histórica é colocada entre parêntese e, quando aparece, é no sentido de “auxiliar na formação do significado” dos símbolos que fazem parte do cotidiano do aluno.
Outra coisa que marca o estudo é a ênfase que os colaborados ateiam que os professores da disciplina educação física necessitam ter os conhecimentos das diferentes concepções da mesma, “suas formas de utilização prática, o planejamento das aulas, e deve ser entendido em sua totalidade, partindo de pressupostos teóricos que permeiem a disciplina e respeitem as especificidades da área” (ZUNINO; TONIETTO; 2009 p.11).
Certo! Em mínimas partes, concorda-se com eles. Os professores devem conhecer sim as variadas concepções da educação física, entendendo que cada uma tem a sua visão de mundo, sua concepção filosófica, seu projeto histórico, sejam explícitos ou implícitos, no entanto, em particular, os mesmos precisam verificar a qual aponta para a superação.
Sendo assim, os elaboradores ao comentarem a forma de uma estruturação para a aprendizagem da educação física, salientam que existem diversas metodologias que auxiliam no desenvolvimento dos conteúdos da educação física jogos, danças, ginásticas, lutas, esportes e outros.
A base construtivista-interacionista aparece de maneira explícita quando o método ressalta a importância do respeito ao desenvolvimento cognitivo e físico do aluno em uma visão dicotômica de aprendizagem, evidenciada pelos aspectos “afetivo”, “cognitivo” e “motores”.
A soma desses elementos caracterizaria o que método chama de totalidade o quanto a estruturação de uma aula.
Quando na verdade diversos outros autores que se embasam na dialética caracterizam a totalidade de outra forma, outros sentidos fomentam que esta totalidade propicia aos indivíduos uma visão ampliada dos acontecimentos, na qual se busca a explicação desses, no processo ontológico do mesmo.
Os escopos destinados a educação física no ensino fundamental II, seguindo a proposta do método, não são diferentes das características de algumas abordagens pedagógicas já existentes no ensino da mesma, tal como: a desenvolvimentista e a construtivista-interacionista. Apesar dele não se aprofunda em nenhuma delas, e nem caracterizar o seu trabalho em uma dessas como um todo.
Suas premissas
O presente estudo, tal qual vislumbrou-se em responder algumas inquietações iniciais sobre o método de ensino do grupo positivo, no entanto surgiram outros questionamentos, abrindo caminhos para novas pesquisas.
O objetivo do trabalho foi analisar os pressupostos teóricos-metodológicos do método positivo. Os resultados obtidos não são diferentes da característica geral do método, baseia-se no ecletismo teórico-filosófico, a-histórica dos conteúdos apresentados para o desenvolvimento do ensino da educação física.
Ou seja, parece uma tentativa de reunir as diferentes linhas teóricas da educação física. Dessa forma, surgem algumas questões: será que isso é possível? Cada linha teórica tem sua concepção, seu projeto educacional, sua direção. Como se pode trabalhar todas de uma só vez? Essas questões leva a pensar que a proposta do método positivo não possa ser concretizada, devido ao seu ecletismo, propiciando aos alunos visões que são distintas.
Com todas as questões levantadas no estudo, faz-se necessário que os professores de educação física, direcione seu trabalho pautado em uma corrente teórico-filosófica que fomente os seus alunos a pensarem de forma crítica, autônoma e conhecedores de sua cultura.
REFERÊNCIAS
CASTELLANI FILHO, Lino. Políticas Educacional e Educação Física 2 ed. Campinas, SP: Autores associados, 1998 (Coleção polêmicas do nosso tempo)
_____________________. Educação Física no Brasil: a história que não se conta. 11ª Ed. Campinas, SP: Papirus, 2005. (Coleção corpo & motricidade)
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.
DAÓLIO, Jocimar. Educação Física e o Conceito de Cultura. 2 ed. Campinas, SP: Autores associados, 2007 (Coleção polêmicas do nosso tempo)
_______________. Educação Física brasileira: autores e atores da década de 80. Campinas: Papirus, 1998.
SANTOS JÚNIOR, Paulo Antônio. O trato com o conhecimento da cultura corporal nas aulas de educação física na escola de ensino fundamental Tertuliano de Souza Pereira em Nordestina, Bahia. 112 f. 2011. Monografia (Pós-graduação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2011.
EDUCAÇÃO FÍSICA. Ensino Fundamental, 6° ao 9° ano: Viver e Aprender; Ana Paula Zunino, Marcos Rafael. II. Chaves Junior, Sérgio Roberto. III. Souza, Angela Giseli. IV. Título. – Curitiba: Posigraf S/A, 2009
FREIRE, João Batista. Educação de Corpo Inteiro: Teoria e Prática da Educação Física – São Paulo: Scipione, 1989
_____________________. Educação como Prática Corporal: Pensamento e ação no magistério – São Paulo: Scipione, 2003
GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. – 3. Ed. – São Paulo: Atlas s.a, 1996.
KUNZ, Elenor. Educação Física: Ensino e Mudanças Ijuí, Editora Unijuí, 1991
LOWY, Michael. As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Munchhausen: marxismo e positivismo na sociologia do conhecimento. 8° Ed. São Paulo, Cortez,2003
SOARES, Carmem Lúcia. Educação Física: Raízes européias e Brasil. 4ª Ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2007. (Coleção educação contemporânea)
TANI, Go; Manuel, Edison de Jesus; Kokubun, Eduardo & Proença, José Elias. Educação Física escolar: Fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo, EPU/ Edusp, 1988
TRIVINÕS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução á Pesquisa em Ciências Sociais: A pesquisa qualitativa em educação. 1. Ed. 16 reimp. São Paulo: Atlas, 2008.
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