Gestação e exercício físico: adaptações fisiológicas El embarazo y el ejercicio físico: adaptaciones fisiológicas |
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*Licenciada em Educação Física/Universidade Estadual de Goiás **Professora Mestre da Universidade Estadual de Goiás (Brasil) |
Carina Kurotsuchi Leoncio* Thaís Inacio Rolim Póvoa** |
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Resumo A gestação é um processo natural fisiológico e desencadeia mudanças em vários sistemas do organismo, sendo que a prática de exercícios físicos nesta fase gera adaptações fisiológicas que contribuem no controle do peso corporal, no aumento da força e elasticidade muscular, além de contribuir na prevenção ou redução da dor lombar, muito freqüente nas gestantes. Unitermos: Exercício físico. Gestação.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 172, Septiembre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Mudanças fisiológicas no período gestacional
No sistema reprodutor, Valim (2005) refere que durante a gestação, a mulher passa por numerosas mudanças e Souza (2009) cita que essas alterações são tanto gerais como locais, e geram adaptações relacionadas aos hormônios da gravidez e à pressão mecânica devido ao aumento do tamanho do útero e de vários outros tecidos do corpo. De acordo com Souza (2009), as principais mudanças ocorrem no aparelho genital, útero e mamas, pois há liberação de altos níveis de hormônios como o estrogênio e a progesterona, o que provoca o aumento e o desenvolvimento uterino no primeiro trimestre.
Segundo Nettina (2003), os seios aumentam de tamanho tornando-se mais dolorosos. Ou seja, as veias dos seios se tornam cada vez mais aparentes, os mamilos tornam-se maiores e ficam com uma pigmentação mais aparente, podendo acontecer formigamentos nos mamilos, presença de colostro, um líquido leitoso ralo. O volume de sangue aumenta na vagina e vulva, fazendo com que ocorra uma hiperemia e o amolecimento do tecido conjuntivo na pele e músculos do períneo e vulva. O aumento de gordura faz com que os grandes lábios se fechem e cubram a abertura vaginal.
De acordo Souza (2009), a vulva e vagina incham, sofrendo um amolecimento, e consequentemente alterações na sua coloração. A vulva pigmenta-se e a extremidade inferior da vagina perde a característica roseada, obtendo um tom avermelhada. Ocorre uma alteração na integração uterina, apresentando um maior afrouxamento, principalmente no local de implantação do óvulo. Os ovários e as trompas sofrem um aumento devido à intensificação da vascularização.
No sistema cardiovascular, segundo Souza (2009), ocorre o aumento do volume sanguíneo e do trabalho cardíaco. Podem ocorrer taquicardia e palpitações, mesmo em situação de repouso, sendo o fator emocional uma das prováveis causas. Souza (2009) refere que uma das alterações mais comuns é o aumento da frequência cardíaca, o qual se inicia a partir da 4ª semana de gestação e pode chegar a 20% acima dos valores pré-gravídicos. A partir da 6ª semana de gestação, começa o ocorrer um aumento no volume sanguíneo, que pode atingir um pico de 45-50% acima dos valores anteriores à gestação.
No sistema renal, acredita-se que 80% das gestantes sofrem uma dilatação significativa de ambos os ureteres e pelves renais, iniciando-se na 10a semana, fato associado ao enfraquecimento dos estímulos hormonais. Rudge et al. (2005) acrescentam que esses sintomas são encontrados de forma mais intensa no sistema excretor do rim direito, decorrentes da grande rotação que o útero sofre.
Souza (2009) refere que durante a gestação, os ureteres se tornam mais dilatados e alongados devido à pressão mecânica a qual são submetidos. Quando o útero sai da cavidade uterina, ele se conforta sobre os ureteres comprimindo-os na borda da pelve, assim a dilatação para o lado direito se torna maior, revestindo o lado esquerdo no cólon sigmóide.
No sistema respiratório, de acordo com Barros (2009) ocorre um aumento significativo na requisição de oxigênio no organismo materno, isso acontece por haver uma aceleração do metabolismo e uma hipertrofia dos tecidos uterinos e mamários, pois o feto absorve oxigênio e elimina gás carbônico por intermédio de sua mãe. Em estudos radiológicos feitos foi possível observar que ocorre uma elevação do diafragma em 4 cm, o que gera um aumento no seu tamanho transverso em 2 cm (REZENDE, 2005). “A gestante respira mais profundamente, e sua freqüência respiratória aumenta em duas respirações por minuto, causando um aumento de 40% no volume respiratório/ minuto” (BARROS, 2009, p.40).
Segundo Rudge et al. (2005) essas alterações podem trazer algumas implicações ao sistema respiratório, uma delas é o aumento da ventilação, por haver uma respiração mais intensa e frequente. Há um aumento de 50% na ventilação alveolar, mesmo o espaço morto estando maior pela dilatação dos bronquíolos. “O volume minuto respiratório aumenta em virtude da elevação do volume corrente. Este aumento é de 40%, com incremento de 16% no consumo de oxigênio” (RUGDE et al., 2005, p. 43). Os mesmos autores citam que a respiração da gestante é praticamente mais diafragmática do que costal e isso pode estar diretamente ligada à maior hipotonia dos músculos abdominais.
Prescrição de exercícios físicos para gestantes
Bean (1999) se refere ao treinamento de força como um método importante para melhorar a simetria, a força e o bem estar. O treinamento proporciona melhora na estabilidade das articulações, aumenta a força dos tendões e dos ligamentos.
Miranda e Abrantes (1986) ressaltam que as salas de ginástica para gestantes devem ter no máximo 15 alunas. Recomenda-se que essas aulas sejam agradáveis, ritmadas e bem dimensionadas para que proporcionem bem estar e tranquilidade.
A atividade física na gestação é recomendada na total ausência de qualquer anormalidade, mediante avaliação médica especializada. As contraindicações absolutas são o sangramento uterino de qualquer causa, a placentação baixa, o trabalho de parto pré-termo, o retardo de crescimento intrauterino, os sinais de insuficiência placentária, a rotura prematura de membranas e a incompetência istmocervical. Durante uma gestação normal, quem já praticava exercícios pode continuar a fazê-lo, adequando a prescrição à gestação (LEITÃO et al., 2000 p.218).
Miranda e Abrantes (1986) referem também que o período de gestação gera aumento na elasticidade muscular e tendinosa devido ao aumento do hormônio relaxina, o que remete à necessidade de ênfase no trabalho da tonificação dos músculos, juntamente com alongamentos, principalmente dos músculos abdominais, pois com a hiperflexibilidade destes ocorre o encurtamento e um enfraquecimento dos músculos intercostais. Assim, com o fortalecimento do abdômen a gestante terá um maior equilíbrio e estabilização dos músculos intercostais.
De acordo com Artal et al (1999), a frequência cardíaca materna máxima durante os exercícios não deve ultrapassar 140 bpm e os períodos com alta intensidade não devem exceder 15 a 20 minutos, os quais devem ser intercalados com exercícios de baixa intensidade e com períodos de repouso. Já Chistófalo et al. (2003) citam que gestantes podem praticar exercícios físicos com duração de 30 minutos de atividade vigorosa, com a frequência cardíaca variando entre 50% e 70% de sua capacidade máxima.
Na gestação, devem-se preferir os exercícios de menor impacto devido às alterações articulares próprias desta fase. A intensidade adequada deve ser igual ou inferior a 50% do VO2 máx ou da FC de reserva. A duração em atividades aeróbicas deve ser de 30 minutos ou mais e a freqüência mínima de três vezes por semana, levando-se em consideração o grau de aptidão prévio (LEITÃO et al., 2000 p. 219).
Um exercício satisfatório que pode ser feito durante toda a gestação é o balanço pélvico (encaixe do quadril), pois reforça a musculatura abdominal e reduz a lordose lombar (ARTAL et al.,1999). Bastos (2007) reforça que exercícios para o assoalho pélvico podem aumentar a elasticidade e a tonicidade do períneo e evitar rupturas durante o parto, e os exercícios abdominais podem aumentar a força abdominal, ajudando no nascimento do feto.
O exercício físico no geral pode proporcionar benefícios às gestantes, no tocante à melhora do tônus muscular; força e resistência muscular; proteção contra a dor lombar; menor ganho de peso; diminuição do risco de diabetes mellitus; no controle da pressão arterial; na diminuição da lombalgia; e na facilitação da recuperação pós-parto; além de melhora na postura (SKINNER, 1991).
Exercícios de flexibilidade são particularmente úteis na gestação para equilibrar a musculatura dorso lombar, abdominal e de assoalho pélvico, que estão em geral contraídos pela postura gravídica. Exercícios respiratórios também são importantes por favorecerem a conscientização corporal e promoverem as trocas gasosas. Estes são úteis ainda para o relaxamento e para o auxílio no trabalho de parto (LEITÃO et al., 2000, p. 219).
Segundo Foss (2000), a gestante deve evitar exercícios com cargas elevadas, não ultrapassando sua zona alvo, mantendo-se entre 50% e 70% de sua frequência cardíaca máxima. Exercícios que exigem carga máxima e o pico mais elevado de VO2máx, e intensidade muito alta podem oferecer riscos como probabilidade de aborto; de parto prematuro; sangramento uterino, retardo no crescimento do feto e intra-uterino.
Barros (2009) cita também que a prática de exercícios aeróbicos tem como sua característica principal o movimento contínuo, dinâmico e prolongado, estimulando as funções dos sistemas cardiorrespiratório e vascular; aumentam a resistência cardíaca e pulmonar, suprindo energia a partir do consumo de oxigênio.
Dor lombar e exercício físico na gestação
Mann et al. (2008) referem que cerca de 50% das gestantes sofrem com dor lombar, sendo que o sedentarismo no período pré-gravídico e a má postura estão diretamente ligados às dores lombares durante a gestação. Caso a mulher tenha esses sintomas antes de engravidar, as dores podem aumentar durante a gestação, podendo perdurar após o parto, prejudicando suas atividades diárias (AVD`s ), e podendo causar prejuízos na qualidade de vida e na saúde em geral. As atividades que podem ser eficazes na prevenção e/ou redução das dores são: a ginástica aquática, natação, yoga, alongamentos, dentre outros. “Aproximadamente 80% das gestantes estudadas relataram dores na coluna vertebral e pelve, sendo que 51% com 34 e 37 semanas apresentaram dor que interferia significativamente em suas habilidades físicas e qualidade de vida” (NOVAES, SHIMO, LOPES, 2006, p. 622).
Há muitos conflitos sobre o efeito dos exercícios para diminuir a dor lombar e pélvica, mas a maioria dos autores recomenda tratamentos pós-parto com exercícios estabilizadores realizados de forma individualizada e supervisionada focando grupos específicos com adição gradual de exercícios. Mulheres que receberam um tratamento individual com foco em exercícios específicos para estabilização tiveram experiências significantes na diminuição na intensidade da dor, na diminuição das limitações e aumento da qualidade de vida quando comparadas com mulheres que receberam tratamento físico individualizado sem exercícios estabilizadores específicos. Estes resultados foram encontrados depois de 20 semanas, e os efeitos foram mantidos 1 e 2 anos após o parto (MANN et al, 2008, p. 103).
Mann et al. (2008) afirmam que gestantes que já estiveram grávidas e que apresentaram dores lombares na gestação anterior apresentam uma maior incidência de dores nas gestações posteriores, fato verificado em 85% dos relatos. Os mesmos autores referem que há alguns fatores essenciais para o desenvolvimento da dor lombar: fraqueza muscular, principalmente na região abdominal, baixa flexibilidade articular no dorso e nos membros inferiores, idade, escolaridade, classe econômica, peso materno, estatura da mãe, número de gestações anteriores, idade gestacional, contraceptivos orais, peso fetal e fumo. A quantidade de sono e os distúrbios do sono são motivos que podem atrapalhar a qualidade de vida da gestante, estando também associados à dor lombar.
Referências
ARTAL, R. et al. Orientações de exercício para a gravidez. IN: ARTAL et al. O exercício na gravidez.. São Paulo-SP, 1999, p. 299-312.
BARROS, M, C. Efeitos do exercício resistido no controle glicogênico de mulheres portadoras de diabetes gestacional. . São Paulo: Faculdade de Medicina, 2009. Tese: Mestre em Ciências, área de concentração: Obstetrícia e Ginecologia.
BASTOS, Rosana K. Os benefícios do exercício físico durante a gestação. Goiânia: UEG, 2007. (Monografia. Graduação em Educação Física).
BEAN, Anita; O guia completo de treinamento de força. Manole, São Paulo. 1ª ed, 1999. (p. 5)
CHISTÓFALO, C, et al. A prática de exercício físico durante o período de gestação. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, v. 9. Nº 59, 2003. http://www.efdeportes.com/efd59/gestac.htm
FOSS, M, L; KETEYIAN, S, J. Fisiologia do exercício e do esporte. 6ºed. Rio de Janeiro-RJ: Guanabara Koogan, 2000
LEITÃO, M, B, et al; Posicionamento Oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte: Atividade Física e Saúde na Mulher. Revista Brasileira Medicina do Esporte. v.6, n 6 – Nov/Dez, 2000.
MANN, Luana et al. Dor lombar pélvica e exercício durante a gestação. Fisioterapia e Movimento, v. 21, n. 2, p. 99-105, 2008.
MIRANDA, S, A; ABRANTES, F. Ginástica para gestante. 2ºed. Rio de Janeiro: Sprint, 1986.
NETTINA, S, M. Prática de enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara e koogan, 2003. 7ªed.
NOVAES, F, S; SHIMO, A, K; LOPES, M, H, B, M. Lombalgia na gestação. Revista Latino americana de Enfermagem, v. 14, n 4, p. 620-624, 2006.
REZENDE, J. Obstetrícia. Rio de Janeiro: Guanabara e koogan, 2005. 10ªed.
RUDGE, M,V,C et al. Hiperglicemia materna diária diagnosticada pelo perfil glicêmico: um problema de saúde pública materno e perinatal. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia,v. 27, n.11, p. 691-697, 2005.
SKINNER, J, S. Prova de esforço e prescrição de exercício: para casos específicos. Rio de Janeiro-RJ: Revinter, 1991.
SOUZA, I, C. As alterações corporais e psíquicas durante a gestação. Local, 2009. Disponível em: Web artigo. Acesso em: 17 fev. 2011, 10h20min
VALLIM, A, L, B, A. Exercícios físicos aquáticos, qualidade de vida e experiência de pré-natal em gestantes atendidas em serviço público de saúde. São Paulo: Unicamp, 2005. Tese: Mestre em Tocoginecologia, área de ciências biomédicas.
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