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Introdução

    Estudo vem documentando que um dispêndio energético reduzido traz conseqüências negativas à saúde, mesmo os jovens da atualidade se apresentam menos ativos fisicamente em registros temporais, demonstrando assim, o pouco direcionamento para as evidências atuais que unam sedentarismo com problemas de saúde em crianças e adolescentes ¹.

    Os benefícios relacionados com a prática regular de atividade física na infância ainda não estão diretamente associados a melhorias no estado de saúde da criança, porém, os adolescentes mais ativos geralmente exibem melhores condições cardiovasculares, são mais magros e tem melhor desenvolvimento de massa óssea que seus pares menos ativos. Desta forma, tem-se sugerido que a atividade física infantil pode ser um precursor salutar dos problemas adversos ocorridos ¹.

    É através do controle da transferência do nível de atividade física observada em adolescentes ativos e saudáveis que se apresentam menores incidências de patias como: hipertensão, obesidade, diabetes são relacionados com a inatividade física na adolescência ⁴.

    Nessa relevância e na maioria dos estudos populacionais, conciliam-se também a avaliação da composição corporal como referência de alterações do estado nutricional, capacidade funcional em relação ao desempenho físico e medidas antropométricas como dado descritivo ^{2, 5, 6}.

    Estudos demonstram que relações de aptidão aeróbia, obesidade e gordura consumida não alcançaram nenhuma significância para coronariopatia, sendo essas, relacionadas com maior dependência ao nível de atividade física de adolescentes, sugerindo também que, em geral, a atividade física é o mais significante preditor do estilo de vida saudável ^7,8.

    Em paralelo, estudo de revisão com adolescentes sedentários ressaltou a importância do volume de exercícios acumulados em qualquer intensidade, é mais importante na obtenção de benefícios ligados à saúde do que realizar exercícios com um controle rigoroso e com uma intensidade mínima de 50% da freqüência cardíaca de reserva ³.

    Nesta perspectiva, e respaldando-se na comprovada relação de dose-resposta da prática de atividade física com a saúde de crianças e adolescentes, este estudo objetivou comparar e ampliar antropometria e composição corporal em adolescentes de ambos os sexos com diferentes níveis de atividade física habitual.

Materiais e métodos

População e amostra

    A amostra intencional foi constituída por 112 adolescentes, sendo 55 meninos e 57 meninas, matriculados na Rede Municipal de Ensino da cidade de Curitiba-Pr. Antes do início das avaliações, todos os indivíduos e seus respectivos responsáveis preencheram um termo de consentimento autorizando o uso dos seus dados, onde neste termo constava que não haveria identificação dos mesmos e que eles poderiam abandonar os testes a qualquer momento se desejassem. Este estudo obteve aprovação do comitê de ética em pesquisa com seres humanos/UFPR.

Instrumentos e procedimentos

    As avaliações foram realizadas durante quatro dias consecutivos na própria escola dos avaliados. Os dados de composição corporal foram obtidos nos dois primeiros contatos em ambiente fechado a disposição dos pesquisadores nos horários das aulas de Educação Física. Na seqüência dos dias foram mensurados os níveis de atividade física habitual através de questionário, obedecendo à mesma ordem de avaliação dos dias anteriores.

Variáveis antropométricas

    Na determinação da estatura (medida correspondente à distância entre a região plantar e o vértex) foi utilizado estadiômetro portátil da marca WCS com escala de 0,1 cm. Para a massa corporal foi utilizada uma balança digital marca FILIZOLA com resolução de 100g. O IMC foi calculado pela divisão da massa corporal pelo quadrado da estatura ⁹.

IMC = Massa Corporal (kg) / Estatura (m)²

    Os perímetros da cintura (ponto médio entre o último arco costal e a crista ilíaca) e do quadril (região de maior protuberância do glúteo) foram mensurados utilizando-se uma fita antropométrica metálica flexível marca SANNY, com escala de 0,1 cm. A RCQ foi determinada através da divisão do perímetro da cintura pelo perímetro do quadril 10.

RCQ = Perímetro da Cintura (cm) / Perímetro do Quadril (cm).

    Para estimativa do percentual de gordura corporal utilizou-se a equação de Slaughter (1988) ¹⁰, sendo as dobras cutâneas mensuradas com um plicômetro científico marca CESCORF com escala de 0,1 mm. Os pontos de reparo conforme sugerido pelo ACSM (2003)9 foram: Triciptal - dobra cutânea vertical, na linha média posterior do braço, na metade da distância entre a borda súpero-lateral do acrômio e o olecrânio. Panturrilha medial - dobra cutânea vertical, ao nível da circunferência máxima da panturrilha na linha média de sua borda medial.

Nível de atividade física habitual (NAFH)

    Para o nível de atividade física habitual foi estabelecido o recordatório descrito por Bouchard (1988)11. Este recordatório consiste em três dias semanais (dois dias da semana e um dia do final de semana), sendo estes divididos em períodos de 15 minutos a cada hora/dia, devendo ser preenchidos pela atividade realizada predominantemente neste período de acordo com a escala de atividades sugerida pelo autor que varia de 1 a 9, sendo possível estimar o gasto energético diário total por peso corporal (kcal/kg/dia) bem como o nível de atividade física habitual pela média dos três dias do recordativo. Este recordativo foi respondido pelo sujeito e preenchido pelo avaliador, em forma de entrevista.

    O questionário apresenta reprodutibilidade em crianças a partir de 10 anos de idade (r = 0,91)¹¹. Guedes et alli (2001)¹² em estudo com amostra de adolescentes brasileiros apontaram para uma correlação de r = 0,74 e r = 0,79 para meninos e meninas respectivamente, confirmando as evidências no sentido de que instrumentos de auto-recordação podem produzir informações quanto ao nível habitual de atividade física em adolescentes com reprodutibilidade aceitável.

    Após determinação do NAFH dos indivíduos, estes foram divididos em quartis, sendo qualificados como sedentários e ativos de acordo com os pontos de corte pré-estabelecidos, onde os indivíduos que se encontravam com valores acima do percentil 75 foram classificados como ativos e os que se encontravam abaixo do percentil 25 foram classificados como sedentários (tabela 1). Após classificação dos grupos, apenas 28 meninos e 28 meninas posicionaram-se dentro dos perfis de ativos e sedentários, sendo o restante da amostra excluída das analises.

Tabela 01. Pontos de corte utilizados para distribuição em quartis amostra.

Tratamento estatístico

    Para análise dos dados, utilizou-se primeiramente a estatística descritiva (média e desvio padrão) para caracterização da amostra. O teste de Shapiro-Wilks foi aplicado para observação de normalidade dos dados. Para divisão dos grupos de acordo com o nível de atividade física foi utilizada a distribuição percentílica em quartis (< 25 e > 75). O teste t de Student foi utilizado objetivando verificar diferenças entre os ativos e sedentários seguindo o pressuposto de Levene’s, com nível de significância para as análises foi estipulado em p < 0,05. Utilizou-se programa estatístico SPSS para análise de dados.

Resultados

    Em relação ao nível de atividade física habitual os grupos diferiram-se significativamente entre si nos meninos (sedentários = 36,71 ± 1,41 e ativos = 47,16 ± 2,75 kcal/kg/dia; t = - 12,85 e p = 0,0001), o mesmo ocorrendo para as meninas, (sedentárias = 35,71 ± 1,07 e ativas = 44,14 ± 2,01 kcal/kg/dia; t = - 10,66 e p = 0,0001).

    Analisando os resultados da tabela 2, observa-se que os adolescentes do sexo masculino apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os grupos de sedentários e ativos para a massa corporal, IMC e percentual de gordura, enquanto que no sexo feminino houve diferença significativa entre os grupos somente do IMC.

Tabela 2. Média e desvio-padrão da idade, massa corporal, estatura, índice de massa corporal, relação cintura quadril e percentual de gordura de adolescentes ativos e sedentários

Discussão

    Os resultados da massa corporal dos adolescentes sedentários de ambos os sexos se aproximam do percentil 75 estabelecido pelo NCHS (2002)¹³, enquanto que para os ativos, estes apresentam valores de massa corporal concentrando-se próximos ao percentil 50, confirmando assim, as evidências de que indivíduos mais ativos apresentam menor massa corporal que seus pares menos ativos13. Provavelmente estes resultados ocorram em virtude do maior gasto energético diário possa estar relacionado com alterações nas respostas hormonais, Hagobian e Braun (2010) ¹⁴ sugerem que uma menor concentração de grelina em homens pós-exercício seja uma agente favorável na perda de peso corporal, o mesmo não ocorrendo em mulheres.

    Quanto ao IMC, observam-se diferenças significativas entre os grupos tanto no sexo masculino quanto para o sexo feminino com valores menores nos indivíduos ativos. Contudo, os valores médios de ambos os grupos apresenta-se abaixo dos pontos de corte para sobrepeso e obesidade de acordo com o NCHS (2002)¹³. No entanto, meninos sedentários demonstraram valores mais próximos ao percentil 85, indicador para sobrepeso, desta forma apresentam um maior risco para o desenvolvimento da obesidade com o passar do tempo. Os resultados do IMC nas meninas sedentárias aproximando-se do percentil 75 das curvas percentílicas do NCHS (2002)¹³.

    Levando-se em consideração o percentual de gordura, os valores dos adolescentes ativos do sexo masculino diferiram significantemente dos sedentários, demonstrando que mais atividade física possa promover uma redução e ou, na manutenção dos níveis de gordura corporal nos indivíduos, auxiliando no equilíbrio energético entre ingestão e gasto calórico.

    Nas meninas não foram encontrados diferenças significativas para o percentual de gordura corporal o que colabora com os achados diferençados de resposta hormonal entre os sexos, aonde mulheres apresentam maior concentração de grelina e menor concentração insulínica pós-exercício, ambas atuam favoravelmente no balanço energético elevando ingestão calórica de acordo com o gasto energético, o mesmo não ocorrendo nos homens.

    Os resultados obtidos estão de acordo com outros estudos, aonde se identificou relação significativa dos níveis de atividade física e seus subseqüentes efeitos no gasto energético, na redução da massa corporal, percentual de gordura total e abdominal^15,16,17.

    Desta forma, sabendo que as doenças cardiovasculares têm origem multifatorial e participam da gênese dos chamados fatores de risco, a prática da atividade física tem se apresentada benéfica na prevenção de doenças crônico-degenerativas do organismo^18,19.

    Apesar de não terem sido obtidos dados estatisticamente significativos para relação cintura quadril em ambos os sexos, pesquisa realizada com 1.196 crianças e adolescentes entre 5 e 18 anos demonstraram que a medida de cintura pode ser uma boa escolha para a prática clínica de caracterização de populações, pois apenas a circunferência da cintura é viável aos parâmetros de sobrepeso e obesidade 20. Estudo populacional com 3.064 mulheres indicou relação da atividade física com a diminuição da circunferência de quadril ²¹.

    Ainda assim, Malina et al (1999)²² avaliaram 885 crianças e adolescentes de 3 a 11 anos e observaram que a relação cintura quadril esta associada a outras variáveis de composição corporal como percentual de gordura e índice de massa corporal²¹.

    Apesar do presente estudo não encontrar diferenças significativas nas variáveis de composição corporal (exceto IMC) com o nível de atividade feminino, seus benefícios respaldam-se em estudo de revisão aonde se analisou prescrições de exercícios entre 8 e 60 semanas com resultados similares com adolescentes para ambos os sexos que foram submetidos a programa de exercícios¹⁶.

    Os resultados encontrados podem ter variado em virtude do processo maturacional pubertário que não foi mensurada no presente estudo, principalmente nas meninas. Assim, futuras pesquisas com acompanhamento longitudinal e controle o processo maturacional devem ser conduzidas com o intuito de esclarecer os benefícios que a pratica de atividade física regular pode proporcionar a saúde da população infantil e adolescente.

Conclusão

    Em síntese, com base nos resultados deste estudo pode-se concluir que o nível de atividade física habitual nos meninos apresenta-se como um fator influente nas variáveis de massa corporal, índice de massa corporal e percentagem de gordura. Já para as meninas o nível de atividade física habitual aparentou influenciar somente o índice de massa corporal.

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