Análise sociológica das
abordagens de docentes de Educação Física em Análisis sociológico de los
abordajes de los docentes de Educación Física en |
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*Discente da graduação em Educação Física da Universidade Castelo Branco (UCB, RJ) Integrante do Grupo de Cultura Corporal da UCB, RJ. Monitora das disciplinas Bases Antropofilosóficas e Cultura Corporal da UCB, RJ **Discente da graduação em Educação Física da Universidade Castelo Branco (UCB, RJ) ***Orientadora. Docente da Universidade Castelo Branco (UCB, RJ) (Brasil) |
Monique Camargo* Eder Magnus** Lianna Oliveira** Alcimar Villar*** |
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Resumo O presente ensaio versa sobre a história de Karl Mannheim, a teoria por este desenvolvida e suas implicações para a Educação. Para a construção textual, nos debruçamos, sobretudo, nas obras desse autor. A fim de mensurar a temática nas práticas de cunho educacional, investigamos dois grupos de professores de Educação Física, atuantes predominantemente em instituições da rede pública ou privada de ensino. Comparando suas ações, apresentaram, de uma maneira geral, óticas similares. Concluímos que cabe ao educador a análise cuidadosa dos valores que representam as relações básicas da sociedade neoliberal, para que possa atingir corretamente seu público, objetivando a inserção de jovens participativos nos cenários social, cultural, econômico e político. Unitermos: Karl Mannheim. Educação. Educação Física. Sociedade.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 172, Septiembre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Karl Mannheim (1893-1947) foi um pensador húngaro, nascido em Budapeste, de cultura alemã, influenciado pelo marxista Georg Lukács. Foi professor na Universidade de Hildelberg, Alemanha, até 1933. Expulso da universidade pela ascensão do nazismo tornou-se docente na London School of Economics, na Inglaterra, lecionando nesta instituição até seu falecimento. Desde 1940, lecionou também no Instituto de Educação. Em 1946, foi nomeadopara uma Cadeira no Instituto de Educação.
Mannheim introduziu a sociologia do conhecimento como disciplina científica e representante do historicismo, uma das correntes mais relevantes na teoria do conhecimento social.
O pensador objetivou solucionar a contradição apontada por Weber sobre a racionalidade moderna. Nesse cenário, surge a educação como instrumento de intervenção social por excelência.
Não se tratava mais de analisar e preconizar a massificação de uma educação laica gerida pelo Estado, como fizera Durkheim, mas principalmente de analisar a efetivação da educação de massa no contexto europeu e norte-americano, onde isto se deu. Trata-se agora de propor correções, reavaliações e projetos na educação dos países “liberais” e, talvez principalmente, de avaliar criticamente o uso da educação pelos Estados totalitários (notadamente, os nazi-fascistas, mas também os comunistas). (GROPPO, 2003, p. 10)
Mannheim sugere a solução da “Terceira Via”, uma grande reforma social que utilizaria as “técnicas sociais” (e, portanto, a “razão instrumental”) para a democratização das sociedades.
O presente ensaio busca analisar as ideias fomentadas por Karl Mannheim junto à Sociologia e suas contribuições na área da Educação. Debruçamos-nos, bibliograficamente, nas obras de Mannheim, a fim de construir respostas a tais exames.
Por fim, com o intuito de avaliar tais tomadas na prática, isto é, junto às redes de ensino, questionamos dez docentes de Educação Física. Desses, cinco lecionam somente no âmbito público e os demais (cinco), dedicam-se ao circuito privado.
A pesquisa possui relevância junto ao cenário sócio-pedagógico, haja vista a necessidade de interpretar a sociedade neoliberal através de seus desdobramentos e oferecer possíveis trilhas de sucesso, norteadoras a todos os indivíduos envolvidos neste processo - no nosso caso, sobretudo, aos educadores, latentes propagadores dessas análises.
Mannheim e a Educação como mobilização
Segundo Hunger, referindo-se à Mannheim:
a proposta de seu estudo era elaborar um método sociológico para compreender o problema de como os homens pensam, no seu funcionamento efetivo na vida pública e na política, como resultado da ação coletiva. Tinha como objetivo apresentar um método adequado à descrição e análise desse tipo de pensamento e de suas mudanças para formular os problemas correlatos e abrir caminho à compreensão crítica do fenômeno. (HUNGER, 1999, p. 23)
Sua primeira fase – alemã – está bem representada na obra Ideologia e Utopia, a qual aborda, sobretudo, a sociologia do conhecimento. Este método se caracteriza por:
1. Procurar compreender o pensamento dentro de uma situação histórico-social concreta;
o fato mesmo de que cada acontecimento, cada elemento de significado na história se associa a uma posição temporal, espacial e situacional, e, pois, de que acontece uma vez não pode acontecer sempre, o fato de os acontecimentos e significados da história não serem reversíveis – em suma, a circunstância de jamais encontrarmos na história situações absolutas – indicam que a história só é muda e insignificante para aqueles que nada esperam aprender dela e que no seu caso mais que no de qualquer outra disciplina, a atitude que considera a história “simples história” como a dos místicos, está fadada a esterilidade. (MANNHEIM, 1950, p. 86)
2. Evitar separar os modos de pensamento concretamente existentes do contexto da ação coletiva;
3. Observar a estrutura social no seu todo.
Na publicação supracitada, Mannheim mostra a relação entre oprocesso da criação de ideologias e a situação histórico-social dosgrupos sociais e intelectuais de onde estas ideologias se originaram. Nesse compasso, a superioridade do intelectual estaria explicada devido a não-participação direta no processo de produção.
Enquanto os que participam diretamente do processo deprodução – o operário e o empresário – estandovinculados a uma classe e a um ponto de vista e atividadesdiretamente e exclusivamente determinados por suassituações sociais específicas, os intelectuais, além deportarem indubitavelmente a marca de sua afinidadeespecífica de classe, são também determinados, em seuspontos de vista, por este meio intelectual que contémtodos os pontos de vista contraditórios. Esta situaçãosocial sempre forneceu a energia potencial que habilitavaos intelectuais mais eminentes a desenvolverem asensibilidade social indispensável para que se tornassemsintonizados com as forças dinamicamente em conflito. (MANNHEIM, 1968, p. 182)
Para o que se expõe, os intelectuais foram capacitados a sintetizar os vários pontos de vista ideológicos acerca das questões sociais.
A retirada de Mannheim para a Inglaterra, em 1933, levou-lhe a crítico nazi-fascista e da crise das “democracias liberais” ocidentais. A atribuição de superioridade dos intelectuais se desconfigura. O discurso passa às técnicas sociais- “conjunto dos métodos que visam a influenciar o comportamento humano e que, quando nas mãos do Governo, agem como meios especialmente poderosos de controle social” (MANNHEIM, 1961, p. 14) -, e aos problemas surgidos quando essas figuram aneladas ao totalitarismo. Assim, Medina (2009, p. 99), através de uma perspectiva corporal, corrobora:
Se é verdade que a infra-estrutura econômica da sociedade define as linhas do poder e, através dele, estabelece as relações de dominação, produzindo os nossos corpos; não menos verdade é o fato das pessoas, na medida de suas circunstâncias históricas e de classe, poderem lutar pela satisfação de seus próprios desejos. É a partir daí que, lembrando Foucault, o corpo investe contra o poder. O poder penetra no corpo, e, ao penetrá-lo, fica exposto no próprio corpo. De repente “as pessoas podem passar a reivindicar o seu próprio corpo contra o poder”24. E nesta dialética, o corpo passa a ser, ao mesmo tempo, objeto e sujeito da transformação.
As abordagens de cunho político-social de Mannheim originam Diagnóstico de nosso tempo e Liberdade, poder e planificação social.
Da justificativa por incumbir as responsabilidade sociais a uma classe intelectual à alegação de inquietação junto ao domínio do capitalismo, ainda em desenvolvimento e gerido por uma anarquia, de maneira sob o julgo da liberdade e da democracia. Isto é, a passagem de uma sociedade laissez-faire (liberal) para uma sociedade planificada (“Terceira Solução” ou planificação democrática). Podemos entender planificação ou planejamento como “a reconstrução de uma sociedade historicamente criada numa unidade regulamentada cada vez com maior perfeição pela humanidade, partindo de certas posições centrais”. (MANNHEIM, 1972, p. 53)
“Preocupa-sesobremaneira com questões de “equilíbrio”: planejamento eliberdade, coesão social e individualidade, consenso sobre valoresbásicos e consciência crítica, fatores irracionais e racionais dasociedade industrial de massas etc.” (GROPPO, 2003, p. 236).
Para o que se apresenta, diante do caos epocal experimentado, nosso pesquisado sugere que as análises científicas da vida social sejam desenvolvidas por sociólogos (FORACCHI, 1982).
O campo de abrangência das técnicas sociais é vasto, todavia, destacaremos como objeto de nossa pesquisa a educação.
Segundo a ótica de Karl Mannheim, a educação se caracteriza por um mecanismo dinamizador das sociedades, constituída por alterações propostas pelos indivíduos que as constituem. Trata-se do “processo de socialização dos indivíduos para uma sociedade harmoniosa, democrática, porém controlada, planejada, mantida pelos próprios indivíduos que a compõe” (MANNHEIM, 1971, p. 34). Nesse viés, a prática democrática insurge em um plano horizontal, admitindo a estruturação de uma sociedade igualitária.
Assim, a educação só pode ser compreendida a partir a partir dos acontecimentos sociais da época em que se desenvolve, a fim de que se adeque aos padrões vigentes organizacionais e interativos.
Imergido nessa perspectiva, o processo educacional promove possibilidades de percepção da realidade, gerando uma consciência, no sentido de promoção de alterações nesse cenário. Para o que se apresenta, entendendo que educadores são formadores de sujeitos-portadores e atuantes à luz de um sistema em desenvolvimento, a escola cumpre a função de preparar os alunos para tal e orientá-los às suas regras, para amanhã, em cargos decisivos, levá-los à frente (CHALOUB, 2000). Para tanto, Mannheim sugere a exposição dos objetivos de diversas classes sociais e as trocas de experiências dessas culturas. Desse modo, a educação deverá sintetizar a defesa de valores básicos da civilização ocidental (amor, fraternidade, justiça social, decência, liberdade etc.) e a tolerância.
Nessa concepção, a educação representa a possibilidade de anelar um planejamento libertário, todavia que não deixa de interferir quando comportamentos individuais ou sociais possam gerar conflitos ou o caos.
Metodologia
Elaboramos essa pesquisa baseada em um modelo descritivo, a qual levantou, transversalmente, características dos indivíduos envolvidos sem a intervenção dos pesquisadores.
De acordo com Gil (2008), as pesquisas descritivas possuem como objetivo a traçar as características de uma população, experiência ou fenômeno.
Espraiamo-nos em uma análise comparativa dos resultados, método que, segundo Gil (1999, p.34) consiste em proceder “a investigação de indivíduos, classes, fenômenos ou fatos, com vistas a ressaltar as diferenças e similaridades entre eles”.
Amostra e procedimento
Para a realização desse ensaio contou-se com uma amostra de dez professores de Educação Física. Desses, cinco exercem a função na rede privada e cinco na rede pública de ensino.
Comparamos a ótica dos profissionais atuantes em cada cenário.
Instrumentos e procedimentos
Conforme Anexo A, foi utilizado um questionário com cinco perguntas fechadas, apresentando três opções de respostas (a; b; c), nas quais a alternativa a aproximava-se das sugestões abordadas na teoria de Karl Mannheim, a opção b oscilava em relação as suas ideias, enquanto a opção c afastava-se.
Para obtermos este resultado somamos cada alternativa (a; b; c.) e foi empregada a regra de três para mensurar a porcentagem de cada alternativa.
Resultados e discussão
A análise dos dados da pesquisa obteve resultados expressos em gráfico.
Gráfico 1. Gráfico comparativo: docentes escolas privadas e docentes escolas públicas
Observa-se que dentre os grupos pesquisados, no que tange às respostas expressas próximas à filosofia de Mannheim (opção a), houve uma maior incidência dos docentes que laboram em instituições privadas de ensino (56%), ao passo que uma quantidade inferior à metade (44%) dos professores de escolas públicas afirma abordar conteúdos nesse sentido.
Confrontando a teoria nos públicos, quando tratada esporadicamente (opção b), nota-se que os profissionais atuantes nas instituições públicas figuram como maior parcela (44%). Tal grupo, de igual maneira, se mostra superior (12%) em não tratar tais reflexões (opção c).
Observa-se, portanto, que, quando da abordagem direta dos conteúdos da teoria, os docentes de escolas privadas os enfocam com maior freqüência. Salienta-se que os estudantes desse público pertencem a uma classe social com poder econômico maior. Os professores da rede pública mostraram-se, prioritariamente, tratando “às vezes” o assunto, não obstante a deficiência participativa social ativa da classe social predominante desses discentes.
Generalizando (opção a somada à opção b), temos uma amostra de 92% de professores de escolas privadas versando sobre as idéias de Karl Mannheim, contra 88% de docentes de escolas públicas, o que sugere uma postura similar quanto ao levantamento da temática.
Conclusão
As contribuições trazidas por Karl Mannheim, sociólogo que - desde os anos 1930 - influenciaram profundamente os estudos sobre sociedade, esperança / liberdade e educação, são ainda hoje importantes para a definição de democracia.
Interpretar os valores que traduzem a sociedade contemporânea é de fundamental importância para a vida social e, particularmente, dos condutores do processo educacional. Imergido nessa perspectiva, o processo educacional promove possibilidades de análise e criação, perpassando a translação de experiências e a reprodução, isto é, o educandodeve ser desenvolvido inserido em um contexto analítico acerca de sua realidade, o que o influenciará a atuar como um agente social, articulador de mudanças nesse sentido.
Cabe, ao educador, portanto, a visão cuidadosa dos valores que representam as relações básicas da sociedade neoliberal, a fim de que possa atingir corretamente seu público, objetivando a inserção de jovens participativos nos cenários social, cultural, econômico e político.
Referências
CHALOUB, S. Educação Evangelizadora em um Mundo Globalizado. In: A Igreja na atual transformação da América-Latina à luz do Concílio. Convergência, ano 35, n. 334, p. 363-372, jul./ago. 2000.
FORACCHI, Marialice Mencarini. Introdução. In: MANNHEIM, K. Libertad, Poder y planificación democrática. (Org.).Mannheim Sociologia. São Paulo: Ática, 1982. (Col. Grandes Cientistas Sociais, 25).
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 2008.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5ª ed. São Paulo: Atlas, 1999.
GROPPO, L. A. Educação e juventude como técnicas sociais na obra de Karl Mannheim. In Revista de Ciências da Educação, Lorena. v. 9. nº 5. p. 233-255. 2º semestre, 2003.
HANGER, D. Educação Física, esporte e lazer à luz dasociologia do conhecimento de Mannheim. In Conexões: Revistada Faculdade de Educação Física da UNICAMP, v. 1, n. 2, p. 21-32, dez. 1999.
MANNHEIM, K. Ideologia e utopia: introdução à sociologia do conhecimento. Porto Alegre: Ed. Globo, 1950.
MEDINA, J.P.S. O brasileiro e seu corpo: Educação e política do corpo. Campinas, SP: Papirus, 2009.
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