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Avaliação do consumo alimentar de crianças
freqüentadoras de uma academia no município de São Paulo

Evaluación del consumo de alimentos de niños que asisten a un gimnasio em el municipio de Sao Paulo

 

*Alunas do curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo

**Nutricionista, mestre em Nutrição Humana Aplicada (USP). Doutora

em Saúde Pública (USP), Professora do Centro Universitário São Camilo

e da Universidade Presbiteriana Mackenzie

(Brasil)

Aline Miyuki Ishihara*

Fernanda Parente Nodario*

Paula Bresciani Leite*

Márcia Nacif**

miyuki_ishihara@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A prática de atividades esportivas e uma alimentação saudável são importantes para o crescimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes, além de prevenir doenças crônicas não transmissíveis. Este estudo objetivou avaliar qualitativamente o consumo alimentar de crianças praticantes de atividades físicas de uma academia no município de São Paulo, mediante aplicação de um questionário de freqüência alimentar. Identificou-se alto consumo diário de frutas, folhosos, legumes, leite e derivados, carnes, feijão, arroz, pão e suco natural. Em contrapartida observou-se que os alimentos com baixo consumo foram os embutidos, biscoito recheado, frituras, salgados, chips, sanduíches, refrigerantes e café. Apesar da maior parte da população apresentar um consumo alimentar adequado, sugere-se atividades de orientação nutricional com o intuito de reforçar tais hábitos saudáveis.

          Unitermos: Alimentação saudável. Atividade física. Crianças.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 172, Septiembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    A participação de crianças e adolescentes em atividades esportivas é importante para o processo de crescimento e desenvolvimento (ALVES; BERBIGIER; PETKOWICZ, 2010). Esta prática também previne diversas enfermidades como diabetes mellitus (DM), hipertensão arterial (HAS) e obesidade, que têm sido constatadas em idades cada vez mais precoces (RAYA et al, 2007).

    A nutrição constitui o alicerce para o desempenho físico, sendo muito importante para a saúde geral do praticante de exercício físico, em qualquer faixa-etária. No caso de crianças, é necessária atenção especial em relação à adequação do consumo de alimentos e nutrientes (BERGAMASCO et al, 2008).

    A qualidade da alimentação parece ter sido prejudicada nas últimas décadas, pois em períodos passados as refeições revelavam maior diversificação, com a inclusão de todos os alimentos dos grupos da pirâmide alimentar. Atualmente, os grupos das hortaliças e frutas, não se fazem presentes nas refeições da maioria dos indivíduos. Além disso, nos intervalos entre as refeições tem se intensificado o consumo de alimentos conhecidos como snacks, salgadinhos, biscoitos, iogurtes, chocolates, sorvetes e refrigerantes (CAVALCANTI; JARABIZA; GARCIA, 2011).

    Cabe ainda destacar que um consumo alimentar inadequado, por períodos prolongados, resulta em esgotamento das reservas orgânicas de micronutrientes, trazendo como conseqüência para as crianças e adolescentes retardo no desenvolvimento, redução na atividade física, diminuição da capacidade de aprendizagem, baixa resistência às infecções e maior suscetibilidade às doenças (CAVALCANTI; JARABIZA; GARCIA, 2011).

    Os hábitos alimentares adquiridos na infância tendem a se solidificar na vida adulta, tornando-se importante promover modos de vida saudáveis neste estágio de vida. Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo avaliar qualitativamente o consumo alimentar de crianças freqüentadoras de uma academia no município de São Paulo.

2.     Materiais e métodos

    Trata-se de um estudo transversal, com coleta de dados primários, realizado em uma academia no município de São Paulo, com crianças fisicamente ativas, de 3 a 12 anos de idade.

    Para a avaliação qualitativa do consumo alimentar, foi aplicado um Questionário de Freqüência Alimentar (QFA) adaptado de Carvalho et al. (2010), contendo 23 itens de alimentos de diferentes grupos alimentares, que contemplava como opções de respostas o consumo diário, semanal, mensal e raro/nunca; também questionou-se dados sobre hidratação e freqüência da prática de atividade física. O mesmo foi entregue aos pais ou responsáveis pelos alunos no mês de maio de 2012.

    Os dados obtidos foram tabulados em uma planilha do Microsoft Office Excel 2007 e analisados posteriormente.

    O estudo seguiu as diretrizes éticas preconizadas pela resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde de 10 de outubro de 1996, sendo aprovado pelo Comitê de Ética do Centro Universitário São Camilo sob o número COEP 047/05.

3.     Resultados e discussão

    Participaram da avaliação do consumo alimentar 100 crianças, sendo 50% do sexo feminino e 50% do sexo masculino, com idades de 3 a 12 anos. A amostra contemplou alunos praticantes de natação e karatê.

    Observou-se que, a freqüência da prática de atividade física predominante na academia, é de 1 a 2 vezes por semana (47% e 33% respectivamente) (Gráfico 1).

Gráfico 1. Freqüência (%) da prática de atividade física

dos alunos de uma academia. São Paulo – SP, 2012

    Identificou-se alto consumo diário de frutas, folhosos, legumes, leite e derivados, carnes, feijão, arroz, pão e suco natural. Em contrapartida observou-se que os alimentos com baixo consumo foram os embutidos, biscoito recheado, frituras, salgados, chips, sanduíches, refrigerantes e café (Tabela 1). Tais resultados assemelham-se aos encontrados por Santos et al. (2011) com adolescentes da cidade de Anápolis.

Tabela 1. Freqüência (%) do consumo alimentar relatado pelos responsáveis dos alunos de uma academia na zona sul, São Paulo - SP, 2012

    Comer uma variedade de frutas, legumes e verduras garante, seguramente, uma adequada ingestão da maior parte dos micronutrientes, fibras e uma gama de fatores nutricionalmente essenciais. Além disso, pode ajudar a substituir alimentos que possuem altas concentrações de gorduras saturadas, açúcar e sal (GOMES, 2007). O consumo insuficiente destes alimentos aumenta o risco de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como as cardiovasculares (DCV) e alguns tipos de câncer, e estão entre os 10 fatores de risco que mais causam mortes e doenças em todo o mundo (JAIME et al, 2007).

    Ao considerar a ingestão de leites e derivados, observou-se que a maioria das crianças consome estes alimentos diariamente. O leite é a maior fonte de cálcio da dieta, além de possuir vitamina D e lactose que aumentam a absorção deste mineral. O cálcio é essencial para formação e manutenção dos ossos e dentes, e quando não ingerido em quantidade suficiente, é retirado dos ossos, enfraquecendo-os, podendo causar fraturas e osteoporose no futuro (BUENO; CZEPIELEWSKI, 2007; COSTA; CORDONI JÚNIOR; MATSUO, 2007).

    Os itens arroz e feijão foram consumidos diariamente por grande parte desta população, e segundo Lopes, Prado e Colombo (2010), nas últimas três décadas, nas áreas metropolitanas do Brasil, evidenciou-se declínio no consumo de alimentos básicos e tradicionais na dieta do brasileiro.

    O arroz contém metionina e o feijão, lisina – aminoácidos que compõem um importante perfil protéico. O arroz possui ainda várias vitaminas do complexo B, carboidratos, cálcio e folato (ácido fólico). O feijão, por sua vez, é rico em proteínas, ferro, vitaminas do complexo B e demais minerais fundamentais para o bom funcionamento do organismo. A parceria também é responsável por manter o equilíbrio no índice glicêmico. Enquanto o arroz pode ocasionar aumento nas taxas de açúcar e insulina, o feijão é responsável por conter esse efeito (EMBRAPA, 2012).

    Em relação ao consumo de embutidos, frituras, salgados, chips e sanduíches, observou-se baixo consumo pelas crianças, diferentemente dos resultados encontrados por Carvalho et al. (2010) e Schaffazick (2011), que destacam grande consumo de alimentos gordurosos, de alto valor calórico e rico em açúcares. Salgadinhos e embutidos contém elevadas concentrações de sal e gordura. Logo, o consumo prolongado desses alimentos aumenta o risco de ocorrência de DCNT, DCV, obesidade, dislipidemia e HAS (SCHAFFAZICK, 2011).

    Quanto à freqüência de consumo rara/nunca, destaca-se a ingestão de refrigerantes e biscoito recheado. O refrigerante é um líquido calórico e, como tal, possui em sua composição o sódio, carboidratos e principalmente o açúcar; já o biscoito recheado, além do açúcar possui gordura trans, e o consumo freqüente desses alimentos aumenta o risco de DCNT, como DM, obesidade e dislipidemias (SCHAFFAZICK, 2011).

    Essa diferença na caracterização dos padrões alimentares, pode ter influência das condições socioeconômicas, e como apresentado no estudo de D’Innocenzo et al. (2011), melhores condições implicam em maior consumo de alimentos variados e, em sua maioria, saudáveis.

    Em relação ao consumo diário de água, verificou-se que as crianças do sexo masculino ingerem de 721,4 ml a 950,0 ml, e do sexo feminino consomem 866,7 ml a 1040,0 ml (Tabela 2).

Tabela 2. Média do consumo diário de água (ml) segundo faixa etária e

gênero, de alunos de uma academia da zona sul. São Paulo - SP, 2012

    Durante os exercícios físicos temos uma grande produção de energia, que resulta na liberação do calor gerado e para manter o equilíbrio da temperatura interna do corpo, esse calor deve ser dissipado. Muitas vezes, para diminuir a temperatura corporal é preciso perder uma quantidade de suor muito elevado, causando desidratação e perdas hidroeletrolíticas, aumentando a necessidade de consumo de líquidos (LANIUS; CRESCENTE; SIQUEIRA, 2010; PERRONE; MEYER, 2011).

    Os resultados obtidos neste estudo mostram que a ingestão hídrica das crianças é inferior a 1 litro por dia, em ambos os sexos e faixas etárias, com exceção do sexo feminino, de 9 a 12 anos de idade. Tais dados revelam um consumo inadequado de líquidos.

    É oportuno destacar que, na prática de natação, o contato da boca com a água durante todo o período de treinamento estimula os receptores localizados na região orofaríngea, atuando, assim, como se o atleta estivesse continuamente se hidratando. Esse tipo de estimulação nervosa faz com que o atleta não sinta sede, podendo provocar, em muitas ocasiões, uma ausência total de hidratação durante o treinamento (HEITZMANN et al., 2011).

    Sabe-se que o estilo de vida passou a ser considerado fundamental na promoção da saúde. A atividade física regular e uma alimentação saudável podem reduzir muitas doenças no futuro e melhorar a qualidade de vida das pessoas. (KRUG; MARCHESAN, 2009). Assim, é imprescindível incentivar as crianças à tais práticas, pois é durante a infância que se constrói a base dos hábitos saudáveis (CAVALCANTI; JARABIZA; GARCIA, 2011).

4.     Conclusão

    Analisando o consumo alimentar desta população, verificou-se que há uma grande preocupação com as escolhas alimentares, optando por alimentos mais saudáveis, pois o mesmo estava adequado na maior parte das crianças. Para que tais hábitos sejam reforçados e incentivados, sugere-se atividades de orientação nutricional a fim de melhorar a saúde e a performance das crianças.

Referências bibliográficas

  • ALVES, Fernanda Donner; BERBIGIER, Marina Carvalho; PETKOWICZ, Rosemary de Oliveira. Avaliação nutricional, consumo alimentar e risco para doenças cardiovasculares de crianças praticantes de natação. Rev. do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, v.30, n.3, p. 214-218, ago. 2010.

  • BERGAMASCO, Juliana Silvério et al. Promoção da atividade física na infância como forma de prevenção de futuras doenças crônicas. EFDeportes.com, Revista Digital, Buenos Aires, ano 13, n. 121, p.1, jun. 2008. http://www.efdeportes.com/efd121/atividade-fisica-na-infancia-prevencao-de-futuras-doencas-cronicas.htm

  • BUENO, Aline Lopes; CZEPIELEWSKI, Mauro Antônio. Micronutrientes envolvidos no crescimento. Rev. do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, v.27, n.3, p. 47-56, 2007.

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  • EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Arroz e feijão fazem o par perfeito. Disponível em: http://www.embrapa.br/imprensa/noticias/2011/dezembro/4a-semana/arroz-e-feijao-fazem-o-par-perfeito-1/. Acesso em 17 de mai. 2012.

  • GOMES, Fabio da Silva. Frutas, legumes e verduras: recomendações técnicas versus constructos sociais. Rev. Nutr. Campinas, v. 20, n.6, p. 669-680, nov. 2007.

  • HEITZMANN, Fernanda et al. Estado de hidratação de nadadores com deficiência intelectual de uma associação paradesportiva de São Paulo. Rev. Mackenzie de Educação Física e Esporte. São Paulo, v. 10, n. 1, p. 107-114, mar. 2011.

  • JAIME, Patricia Constante et al. Educação nutricional e consumo de frutas e hortaliças: ensaio comunitário controlado. Rev. Saúde Pública. São Paulo, v.41, n.1, p. 154-157, fev. 2007.

  • KRUG, Rodrigo de Rosso; MARCHESAN, Moane. Recomendações de alimentação e de atividades físicas nas diferentes idades: uma revisão da literatura. EFDeportes.com, Revista Digital, Buenos Aires, ano 14, n. 132, p. 1, mai. 2009. http://www.efdeportes.com/efd132/alimentacao-e-atividades-fisicas-nas-diferentes-idades.htm

  • LANIUS, Simone Fetter; CRESCENTE, Luiz; SIQUEIRA, Osvaldo Donizete. Perda hídrica em atletas jovens de natação. EFDeportes.com, Revista Digital, Buenos Aires, ano 15, n. 147, p. 1, ago. 2010. http://www.efdeportes.com/efd147/perda-hidrica-em-atletas-jovens-de-natacao.htm

  • LOPES, Patrícia Carriel Silvério; PRADO, Sônia Regina Leite de Almeida; COLOMBO, Patrícia. Fatores de risco associados à obesidade e sobrepeso em crianças em idade escolar. Rev. Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 63, n.1, p. 73-78, fev. 2010.

  • PERRONE, Claudia Altmayer; MAYER, Flávia. Avaliação do estado hidroeletrolítico de crianças praticantes de exercício físico e recomendação de hidratação. Rev. Bras. Ciênc. Esporte, Florianópolis, v. 33, n. 3, p. 773-786, set. 2011.

  • RAYA, Maria Alice Cesarino et al. Recomendações nutricionais para crianças praticantes de atividade física. EFDeportes.com, Revista Digital, Buenos Aires, n. 110, jul. 2007. http://www.efdeportes.com/efd110/recomendacoes-nutricionais-para-criancas-praticantes-de-atividade-fisica.htm

  • SANTOS, Grazielle Gebrim et al. Hábitos alimentares e estado nutricional de adolescentes de um Centro de Juventude da Cidade de Anápolis. Rev. Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, Campo Grande, v. 15, n. 1, p.141-151, ago. 2011.

  • SCHAFFAZICK, Ana Luiza. Estado nutricional e consumo de alimentos das crianças cadastradas no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional do município de Lagoa dos Três Cantos – RS. 2011. 48f. Trabalho de conclusão de curso (Especialista em Saúde Pública) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.

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