Avaliação nutricional de atletas
de basquetebol Evaluación nutricional de jugadores de baloncesto con historia de anemia y malaria y jugadores sanos |
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*Doutorando em Biologia Experimental Professor do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Rondônia. Coordenador do Centro de Estudo de Esporte e Lazer (CEELA) Integrante do Grupo de Estudos do Desenvolvimento e da Cultura Corporal **Doutorado em Bioquímica. Orientador da pesquisa “Avaliação do desempenho físico de atletas com historia de anemia e infecção por malária” no programa de doutorado Biologia Experimental. Professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Rondônia. Diretor da Fundação Oswaldo Cruz - Unidade de Rondônia ***Graduada e Especialista em Nutrição Integrante do Centro de Estudo de Esporte e Lazer/CEELA/UNIR ****Doutora em Sociologia e Professora de Educação Física Professora do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Rondônia. Diretora do Núcleo de Saúde da Universidade Federal de Rondônia Líder do Grupo de Estudos do Desenvolvimento e da Cultura Corporal |
Prof. MS. Ramón Núñez Cárdenas* Prof. Dr. Rodrigo Stabeli** Profª. Kaymann Scheidd Skroch*** Profª. Drª. Ivete de Aquino Freire**** rnunezcardenas@yahoo.com.br(Brasil) |
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Resumo A nutrição associada ao potencial genético e ao treinamento adequado é fator fundamental para que o atleta alcance seus objetivos nas competições esportivas. Dessa forma, o atleta deve adotar estratégias nutricionais adequadas durante o treino e no período competitivo. Considerando estes aspectos, o presente estudo visa analisar, numa perspectiva comparativa, aspectos nutricionais de atletas de basquetebol com história de anemia e infecção por malária e atletas sadios do Município de Porto Velho. Fizeram parte da pesquisa 24 atletas de Basquetebol. Um grupo de 12 esportistas com história de anemia e infecção por malária e outro grupo de 12 atletas sadios. Ambos os grupos foram submetidos à Avaliação Nutricional, realizada através do registro alimentar de três dias. Estes registros foram preenchidos pelos próprios atletas, após prévia orientação. A análise quantitativa e qualitativa dos nutrientes foi realizada através do programa de nutrição “Ava Nutri 4.0”. Para a análise das variâncias das duas amostras utilizou-se o test-f e para as análises das médias de ambas as amostras foi utilizado o teste-t. Considerou-se o nível de significância de 5% (p<0,05). Também foi utilizada às medidas descritivas: media, SD, mediana, valores mínimos e máximos. Unitermos: Avaliação nutricional. Atletas de basquetebol. Anemia. Malária.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 172, Septiembre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A junção da prática esportiva com a nutrição adequada é fundamental na conquista do melhor desempenho físico no esporte. Sabe-se que os exercícios de força no esporte são reconhecidos como atividade física anabólica; que, estimula a síntese de proteína para o aumento da massa muscular. Durante as sessões de treinamentos para o desenvolvimento da força ocorre rompimento de fibras musculares bem como o esgotamento das reservas de energia da musculatura. Para que a próxima sessão de treinamento ocorra sem o aparecimento da fatiga precoce e sem riscos de lesões, se faz necessário uma boa recuperação através da oferta de nutrientes essenciais (carboidratos, proteínas, lipídeos, vitaminas e sais minerais) como também de um período de repouso adequado para o anabolismo (FILHO, 2011).
Portanto, a alimentação tem um papel fundamental no processo de treinamento esportivo; tanto no que diz respeito a qualidade quanto a quantidade dos alimentos ingeridos. Este equilíbrio é importante para que a recuperação muscular ocorra dentro dos parâmetros fisiológicos adequados. Os carboidratos devem ser oferecidos nas quantidades adequadas principalmente antes e após o esforço físico. Da mesma forma as proteínas que são as responsáveis pelo aumento do tamanho das fibras musculares também devem ser ingeridas corretamente para que o organismo as utilize sem riscos de sobrecarga de órgãos vitais como rins e fígado. No caso dos atletas que não conseguem balancear a dieta na sua totalidade se faz necessário a utilização de suplementos nutricionais; cuja ingestão deve ser prescrita por profissionais qualificados. A alimentação adequada em conjunto com a suplementação nutricional e a atividade física orientada contribuem para melhorar o desempenho atlético como também aumentar a expectativa de vida das populações uma vez que melhora o nível de qualidade de vida (VIEBIG, FURLAN e NACIF, 2009).
Muitos estudos têm demonstrado que o exercício diário e a inadequação dietética expõem os praticantes de atividade física a problemas orgânicos. Têm-se registrado casos de anemia, perda mineral óssea, distúrbios alimentares, relacionados a atletas de ambos os sexos, e amenorreia como as principais disfunções que acometem os desportistas. Não existe uniformidade de distúrbios alimentares entre atletas de forma geral; o que ocorre é um comportamento esperado de deficiências de acordo com a modalidade avaliada, com destaque para lutas, ginástica olímpica e maratona. Visando identificar estas deficiências nutricionais, tem-se como uma das estratégias conhecerem o consumo energético, sua forma de distribuição, além da quantidade de micronutrientes consumidos, em especial o cálcio e o ferro (CABRAL, ROSADO, SILVA e MARINS, 2006).
Com o advento dos Jogos Olímpicos de 2016 a serem realizados no Brasil, o governo do país no ano de 2010 estabeleceu políticas no âmbito do esporte tendo como desafio projetar a nação como potência esportiva mundial. O país deve conquistar este status nos próximos 10 anos. Tais políticas, em fase de organização, tiveram como ponto de partida a Conferência Nacional de Esportes e Lazer, que mobilizou todos os estados da federação e Distrito Federal (MINISTERIO DO ESPORTE, 2010).
Entretanto, com ou sem incentivo dos governos federal, estaduais e locais, as práticas esportivas, tanto do ponto de vista amador como profissional em alguma medida, são verificadas em todo o Brasil. No município de Porto Velho este fenômeno não ocorre de modo diferente. Se por um lado trata-se de uma região cuja população apresenta motivação para a prática esportiva; por outro lado é também uma localidade do Brasil onde as condições de moradia de grande parte da população, são propícias para o elevado risco de doenças como a Malária, por exemplo. Porto Velho é considerado uma cidade endêmica, com potencial impacto para a saúde pública.
Atualmente, a transmissão da malária no Brasil está basicamente restrita a Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins). Em 2006, os municípios de Cruzeiro do Sul (AC), Manaus (AM) e Porto Velho (RO) foram responsáveis por 22,59 % do total de casos de malária da Amazônia (Ministério da Saúde, 2007).
A malária ou paludismo é uma doença infecciosa, aguda ou crônica causada por protozoários parasitas do gênero Plasmodium, transmitidos pela picada do mosquito Anopheles. As manifestações iniciais desta doença são febre, sensação de mal estar, dor de cabeça, dor muscular, cansaço e calafrios. No homem, os esporozoítos infectantes se direcionam até o fígado, dando início a um ciclo de aproximadamente, seis dias para Plasmodium falciparum, oito dias para a Plasmodium vivax e 12 a 15 dias para a Plasmodium. Malariae, reproduzindo-se assexuadamente até rebentarem as células deste local (no mosquito, a reprodução destes protozoários é sexuada). Após esses eventos, espalham-se pela corrente sanguínea e invadem hemácias, até essas terem o mesmo fim, causando anemia no indivíduo (Ministério da Saúde, 2007).
Considerando estes aspectos, o presente estudo apresenta, numa perspectiva comparativa, a avaliação nutricional de atletas de basquetebol com história de anemia e infecção por malária e atletas sadios do Município de Porto Velho. Determinaram-se os seguintes objetivos específicos: a) conhecer a freqüência de ingestão nutricional dos atletas; b) levantar o consumo de energia e de macronutrientes dos jogadores; c) estabelecer correlação entre o consumo energético de atletas de basquetebol com história de anemia e infecção por malária e atletas sadios; d) Identificar o percentual de ingestão de carbohidratos, lipídios e proteínas na dieta dos atletas.
Os achados neste estudo poderão subsidiar ações de caráter preventivo e respaldar tecnicamente periodizações de treinamento esportivo com vistas a colocar o município de Porto Velho em lugar de destaque nas competições de elite, a médio e longo prazo. Para tanto, realizou-se o estudo numa abordagem interdisciplinar integrando o conhecimento sobre o desempenho físico de atletas e suas inter-relações com a saúde humana. Esta abordagem permite avaliar as associações entre as variáveis “malária”, “anemia”, nutrição e “desempenho físico”, de modo a construir indicadores de vigilância em Saúde de atletas de regiões endêmicas. Assim, a pesquisa poderá servir de referência nacional no processo de elaboração de Políticas Públicas de Saúde de Atletas.
Características energéticas do basquetebol
O jogo de basquete apresenta exigências que se acomodam num conjunto diversificado de fatores (técnicos, táticos, físicos, psicológicos, etc.), cuja hierarquia de predominância é variável em função da idade e da experiência de seus praticantes (JANEIRA, 1994). No contexto desta pesquisa, destaca-se o esforço físico como um fator importante.
Para Sampaio (1999), o basquetebol caracteriza-se, pelo nível do esforço físico exigido aos jogadores. De acordo com este autor, o referido esporte demanda esforço intermitente: alterna esforços submáximos com esforços mais moderados.
Complementando e aprofundando o que diz Sampaio, outros autores também apresentam as características do basquetebol. Araújo (2000), por exemplo, afirma que o basquetebol é marcado por um tipo de esforço misto aeróbio/anaeróbio, em que as ações são, maiormente do tipo curto/veloz. A fonte de energia anaeróbia predomina nesta modalidade embora a fonte aeróbia seja fundamental devido à duração do jogo e à necessidade de recuperar rapidamente entre ações, E Vaquera (2001) expõe o Basquetebol como uma modalidade esportiva em que predomina o metabolismo aeróbio e anaeróbio alático, sendo a glicólise láctica pouco solicitada.
Metodologia
O estudo ora apresentado é parte de um projeto mais amplo que pretende avaliar o desempenho físico de atletas com história de anemia e infecção por malária no Município de Porto Velho. Trata-se de uma pesquisa experimental que envolve uma equipe multidisciplinar composta por Médicos, Nutricionista e Profissionais de Educação Física.
Neste subprojeto, intitulado “Avaliação nutricional e desempenho físico de atletas com história de anemia e infecção por malária e atletas sadios” realizou-se um estudo descritivo-comparativo. Fizeram parte da pesquisa 24 atletas de basquetebol do Município de Porto Velho. Um grupo de 12 esportistas com história de anemia e infecção por malária e outro grupo de 12 atletas sadios. Ambos os grupos foram submetidos a Avaliação Física e nutricional.
Características da amostra
A Tabela 1 apresenta as características de faixa etária, gênero, tempo de prática no esporte e frequência semanal de treinamento dos atletas que apontaram histórico de anemia e infecção por malária. Já a Tabela 2 apresenta as características de faixa etária, gênero, tempo de prática no esporte e frequência semanal de treinamento dos atletas que não apontaram histórico de anemia e infecção por malária. Neste caso, denominados no estudo como indivíduos “sadios”.
Tabela 1. Característica da amostra do grupo de atletas com histórico de anemia e infecção por malária
Tabela 2. Característica da amostra do grupo de atletas que não apontaram histórico de anemia e infecção por malária
Materiais e métodos
a. Avaliação nutricional
A avaliação nutricional foi realizada através do registro alimentar de três dias consecutivos ou não, sendo um deles final de semana; e do questionário de frequência alimentar para avaliar o perfil dietético dos atletas estudados. Esses são os métodos de avaliação dietéticos mais utilizados para calcular a ingestão energética, tanto quantitativa quanto qualitativa, de uma pessoa ou população. Estes registros foram preenchidos pelos próprios atletas, após prévia orientação. A análise quantitativa e qualitativa dos nutrientes foi realizada através do programa de nutrição “Ava Nutri 4.0”.
Apesar de ser um método subjetivo e vulnerável a tendências psicológicas, o registro alimentar é amplamente utilizado. Para aplicação do método, o individuo deve anotar todos os alimentos ingeridos em um determinado tempo, com sua respectiva quantidade.
Análise estatística dos dados
Para a análise das variâncias das duas amostras utilizou-se o test-f e para as análises das médias de ambas as amostras foi utilizado o teste-t. Considerou-se o nível de significância de 5% (p<0,05). Também foram utilizadas às medidas descritivas: média, SD, mediana, valores mínimos e máximos.
Resultados e discussão
Os atletas estudados apresentavam idade média de 25 anos, praticavam a modalidade há cinco anos; treinavam em média duas horas e 30 minutos por dia, com frequência de cinco vezes por semana.
Os atletas participantes do estudo apresentaram os seguintes resultados nutricionais:
Tabela 1. Consumo de energia e de macronutrientes dos jogadores de basquetebol sem história de anemia e malária
Tabela 2. Consumo de energia e de macronutrientes dos jogadores de basquetebol com história de anemia e malária
Figura 1. Representação gráfica da frequência de refeições diárias dos atletas sem história de anemia e malária
Referente ao número de refeições diárias, podemos verificar na Figura 1, que a maior percentagem da amostra de atletas sem história de anemia e malária (41,66%) realizam 5 refeições diárias; enquanto 33,33% da amostra realizam 6 refeições diárias; e 25% realizam 4 refeições diárias. Estes achados referentes aos atletas sem história de anemia e malária do convergem com o número de refeições diárias, proposta por Bruns (1999) e Rego (1998) para atletas de basquetebol; e de Horta (1996) para esportistas.
Estes resultados também contemplam o que recomenda Rodrigues dos Santos (2002) sobre o número de refeições diárias. De acordo com o autor, um maior número de refeições diárias permite fracionar o aporte de alimentos com elevado índice glicêmico durante o dia, evitando-se uma maior concentração de alimentos em poucas refeições e disponibilizando glicose de forma equilibrada para o exercício físico.
Figura 2. Representação gráfica da frequência de refeições diárias dos atletas com história de anemia e malária
No que concerne ao número de refeições diárias, podemos verificar a partir da Figura 2 que a maior percentagem da amostra de atletas com história de anemia e malária (41,66%), realizam 6 refeições diária; 33,33% da amostra realizam 5 refeições diária; e 25% realizam 4 refeições diárias.
Os resultados mostram que o número de refeições diárias dos atletas com história de anemia e malária se assemelha aqueles encontrados junto aos atletas sadios. Ambos os grupos realizam majoritariamente o número de refeições diárias, proposta por Bruns (1999) e Rego (1998) para atletas de basquetebol, e de Horta (1996) para esportistas. Do mesmo modo, os achados atendem o que recomenda Santos (2002) sobre o fracionamento do aporte de alimentos.
Consumo energético dos atletas estudados
Na tabela 3, apresentamos os resultados da estatística descritiva referentes ao valor energético total que os atletas sem história de anemia e malaria ingerem diariamente.
Tabela 3. Consumo de energia e de macronutrientes dos jogadores de basquetebol sem história de anemia e malária
Comparando o resultado dos atletas sem história de anemia e malária (2.167 kcal/dia, tabela 3) com o de outros estudos realizados em esportistas verifica-se que o valor obtido neste grupo é inferior ao que indica a literatura. Ferreira (1994) recomenda para atletas uma ingestão calórica variando entre 3000 e 3500 kcal/dia; Horta (1996) sugere uma amplitude de 2700 a 3500 kcal/dia; e Veríssimo (1999) recomenda a ingestão calórica entre os 3000 a 4000 kcal/ dia.
Estudos realizados com atletas de basquetebol mostram que os valores recomendados na ingestão calórica são inalteráveis. Martinchic (2003) recomenda a ingestão de cerca de 5000 kcal/dia para jovens atletas de basquetebol do gênero masculino, enquanto que Bruns (1999) adverte que um jogador profissional de basquetebol, do gênero masculino, pode necessitar 6000kcal/dia.
Seguindo o que afirmam Horta (1996) e Veríssimo (1999), o gasto energético dos atletas de basquetebol deverá ser calculado tendo em conta o seu peso, a altura, o gênero e a idade do desportista. Ambos os autores, seguem a fórmula de Harris e Benedict (x = 66 + [13,7 x peso (kg)] + [5 x altura (cm)] - [6,8 x idade (anos)]). Assim sendo, de acordo com os mesmos autores, os jogadores de basquetebol sem história de anemia e malária deverão ter uma ingestão calórica diária de 3106,833 kcal (tabela 1).
No entanto, e apesar de não haver nenhuma referência que nos providencie informação acerca da ingestão calórica por dia e por quilograma de peso corporal, pode-se pensar que o valor médio da ingestão calórica dos atletas sem história de anemia e malária (2167 kcal/dia tabela 3) demonstra tendencialmente, um déficit em termos de consumo energético.
Segundo a American Dietetic Association, Dietitians of Canada and the American College of sports Medicine (2001), ingestões energéticas baixas podem resultar numa perda de massa muscular, redução no aumento da densidade óssea, risco crescente de fadiga, lesões e doenças. Com uma ingestão energética limitada, o tecido magro e gordo é utilizado pelo corpo para desempenhar a função de “combustível”.
Na tabela 4, apresentamos os resultados da estatística descritiva referentes ao valor energético total, que os atletas com história de anemia e malária ingerem diariamente.
Tabela 4. Consumo de energia e de macronutrientes dos jogadores de basquetebol com história de anemia e malária
Seguindo a fórmula de Harris e Benedict (x = 66 + [13,7 x peso (kg)] + [5 x altura (cm)] - [6,8 x idade (anos)] ) aplicada por Horta (1996) e Veríssimo (1999) para o cálculo do gasto energético, os jogadores de basquetebol com história de anemia e malária deverão ter uma ingestão calórica diária de 2877,8 kcal (tabela 2). Neste sentido, também se pode pensar que o valor médio da ingestão calórica dos atletas com história de anemia e malária (1446 kcal/dia tabela 3) demonstra tendencialmente, um déficit em termos de consumo energético.
Correlação do consumo energético entre os atletas com história de anemia e malária e atletas sadios
Após a apreciação do consumo energético de ambas as amostras, foram realizadas análises estatísticas para comparar o consumo energético entre ambos os grupos de atletas. Neste processo utilizou-se o teste-f para a análise das variâncias das duas amostras, e o teste-t para a análise das médias de ambas as amostras.
Na análise das variâncias de ambas as amostras, pode-se apreciar que a variância do grupo de atletas sem história de anemia e malária é diferente ao grupo de atletas com história de anemia e malária. Isto por que: como P(F<=f)< 0,05, rejeita-se a hipóteses nula; ou seja, as variâncias de ambas as amostras são diferentes (tabela 5).
Tabela 5. Teste-F: para análise de variâncias das duas amostras
Após a análise das variâncias de ambas as amostras, foi utilizado o teste-t presumindo variâncias diferentes para a análise das médias de ambas as amostras. O resultado aponta que o consumo energético de ambas as amostras é significativamente diferente (P(T<=t) <0,05); isto é, os atletas sem história de anemia e malária possuem um consumo energético significativamente superior (Tabela 6 e Figura 3). Neste sentido poderíamos dizer que, pelo fato de ambas as amostras apresentarem déficit no consumo energético, os atletas com história de anemia e malária apresentam, segundo o preconiza a American Dietetic Association, Dietitians of Canada and the American College of sports Medicine (2001) um maior risco de perda de massa muscular, redução no aumento da densidade óssea, risco crescente de fadiga, lesões e doenças.
Tabela 6. Teste-t: duas amostras presumindo variâncias diferentes
Figura 3. Representação gráfica da correlação do consumo energético entre os atletas com história de anemia e malária e atletas sadios
Carboidratos
Diversos estudos mostram que o basquetebol é um esporte de intensidades variadas e devido ao tempo do jogo (40minutos), o consumo energético é considerável. Por tais motivos é necessária uma dieta reforçada antes e após os treinos e competições. Para a planificação e preparação do processo de treino é fundamental o conhecimento sobre as exigências energéticas e fisiológicas. Estas informações facilitarão a caracterização de um processo de treino rigoroso, científico e adaptado às necessidades próprias do basquetebol enquanto desporto (Zaragoza, 1986).
Biesek (2005) refere que no acompanhamento nutricional de atletas que representam alto gasto energético, satisfazer as necessidades energéticas torna-se uma prioridade, porém estimar qual seria a ingestão energética adequada pode ser tarefa difícil, já que para a mesma atividade há variações dependendo da fase de treino e/ou competição.
De acordo com Rodrigues (1995) e Costil (1991) os carboidratos são os elementos mais energéticos do corpo humano. Isso porque, fundamentalmente constituem-se os únicos que podem ser metabolizados de forma anaeróbia o que permite o apoio energético a exercícios de grande intensidade. Complementando o que dizem estes autores, e aplicando tais conhecimentos no âmbito esportivo, Bruns (1999) e Ketterly (2006) mencionam que os carboidratos (CHO) são a principal fonte de energia durante o jogo de basquetebol.
Como não foi localizada literatura que apresenta recomendação específica de Valor Energético Total/VET; para atletas de basquetebol, foi realizada a comparação dos resultados com as recomendações para esportistas de diferentes autores. Desta forma Rodrigues (1995) e Soidán (2005), fazem uma recomendação de 55 a 60% VET; Veríssimo (1999) recomenda entre 60 a 65 % VET; Applegatem (1991) e Manore (2000) referem 60-70% VET; American Colleg of Sports Medicine, American Dietetic Association and Dietitians of Canada (2001) aconselham um atleta a ingerir 60% do VET sobre a forma de CHO.
No presente estudo encontrou-se uma percentagem média do VET de 52,10% para os atletas sem história de anemia e malária (Tabela 1 e Figura 4); e 52,18% para os atletas com história de anemia e malária (Tabela 2 e Figura 5), referente à ingestão de CHO. Considera-se estes resultados excessivamente baixos uma vez que ficam distante dos valores recomendados para esportistas, conforme a literatura consultada.
Em consonância com os resultados atingidos em relação ao consumo de carboidrato, Coyle (1991) diz que durante um exercício desenvolvido a intensidades entre os 60–80% do VO2Max., a fadiga está perfeitamente relacionada com a depleção das reservas deste nutriente. Como tal é recomendável a ingestão de CHO dado que atrasa o aparecimento da fadiga em 20 a 30 minutos.
Ketterly (2006) alude ainda que dada a natureza do jogo de basquetebol, a principal fonte de energia durante o jogo são os CHO. Se um jogador de basquetebol pretende atingir um alto nível de desempenho deve seguir uma orientação nutricional com uma preocupação na manutenção da hidratação adequada e o fornecimento necessário de CHO. Isso porque, logo que se esgotam as reservas de CHO os atletas ficam com a sensação de fadiga, sendo evidente pela diminuição da rapidez, e declínio no tempo de reação, na tomada de decisões, na capacidade de concentração e retomada de atenção (Ketterly 2006). Além disso, quando o corpo começa a apresentar déficit de CHO, o jogador está definitivamente em baixo desempenho de jogo, influenciando o rendimento não só dele, mas de toda a equipe. Portanto, manter as reservas de CHO e a reposição dos mesmos é uma prioridade nutricional dos atletas de basquetebol.
Havendo um predomínio da fonte de energia anaeróbia neste esporte (Araújo, 2000) e sendo os carboidratos o único macronutriente através do qual se pode obter energia anaerobicamente, torna-se evidente conscientizar os atletas sobre a importância da ingestão de carboidratos na prática do basquetebol. É papel da equipe técnica desenvolver esta tarefa junto aos atletas.
Lipídios
Segundo várias recomendações, uma dieta saudável não deve ter mais de 30% do aporte calórico total proveniente das gorduras. Manore (2000) sugere uma ingestão de 15-25% VET; Soidán (2005) aconselha valores entre os 20-25% do VET. Horta (1996) refere que os valores devem rondar, sem ultrapassar os 30% VET. Ohana cita que os atletas não devem ingerir menos que 15%, recomendando uma percentagem de ingestão diária de 25–30% VET.
No presente estudo pode verificar-se que a média (32,65%, Tabela1) correspondente aos jogadores sem história de anemia e malária; e a média (34,20%, Tabela 2) dos atletas com história de anemia e malária é superior a qualquer dos valores máximos recomendados na literatura consultada. De acordo com Teixeira (2008), a gordura corporal adicional pode servir como proteção desejável em situações de defesa; entretanto, é uma desvantagem em atividades de sprints (velocidade) e corridas (ataque), como as exigidas na prática do basquetebol.
O excesso de lípidos pode ser um indicador importante no aumento do peso corporal dos atletas. Do mesmo modo, a manutenção do hábito de ingestão excessiva desta substância, pode tornar o organismo vulnerável ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
Proteínas
As proteínas são necessárias para o crescimento, manutenção e reparação dos tecidos corporais, sendo também importantes para a formação de enzimas, hormônios e anticorpos. Estes último, ajudam a combater as infecções, diminuindo assim os efeitos lesivos do treino e a competição (Santos 1995).
Em termos percentuais, a literatura sobre o tema recomenda de 10–15% do VET (Horta, 1996), de 12-14% do VET (Manore, 2000), 12%-15% do VET (Applegatem, 1991 ; American Dietetic Association, Dietitions of Canada, American College of Sports Medicine, 2001) e de 15% do VET (Soidán, 2005).
No presente estudo verificou-se uma percentagem de ingestão protéica de 15,22% (Tabela1 e Figura 4) nos atletas sem história de anemia e malária; e 13,81% (Tabela 2 e Figura 5) dos jogadores com história de anemia e malária. Os resultados obtidos correspondem positivamente ao que recomenda a literatura.
A ingestão excessiva de proteínas pode constituir-se como um fator de risco, no sentido de desenvolver certos tipos de cardiopatias. Além disso, pode afetar o rendimento dos atletas, já que a ingestão excessiva destes macronutrientes provoca acidose metabólica e consequentemente insuficiente recuperação (Bruns, 1999; Ketterly, 2006). A exagerada ingestão de proteínas tem diversas consequências entre as quais destacam-se as seguintes: digestões difíceis e prolongadas, e sobrecarga hepática (Horta, 2000); desidratação, devido à perda de água associada à excreção de azoto (Santos, 1995); e aumento do peso corporal, normalmente por transformação em gordura.
Figura 4. Representação gráfica da Percentagem dos macronutrientes em relação ao valor
energético total das dietas dos jogadores de basquetebol sem história de anemia e malária
Figura 5. Representação gráfica da Percentagem dos macronutrientes em relação ao valor
energético total das dietas dos jogadores de basquetebol com história de anemia e malária
Conclusões
Considerando-se os objetivos pretendidos na pesquisa e os resultados obtidos, são expostas as seguintes conclusões:
No que concerne ao número de refeição diária os atletas sem história de anemia e malária apresentam um valor médio de (5.0), enquanto que os atletas com história de anemia e malária atingiram um valor médio de (5.1). Estes valores adquiridos no estudo estão dentro do recomendado pela literatura para esportistas, especificamente para atletas de basquetebol.
Os atletas sem história de anemia e malária possuem um consumo energético significativamente superior aos de atletas com história de anemia e malária, embora se aprecie um déficit no consumo energético em ambas as amostras.
No que diz respeito à ingestão de carboidratos, em termos de absolutos % VET, os valores são inferiores aos recomendados pela literatura. Havendo um predomínio da fonte de energia anaeróbia neste esporte; e sendo os carboidratos o único macronutriente através do qual se pode obter energia anaerobicamente, torna-se evidente conscientizar os atletas sobre a importância da ingestão de carboidratos na prática do basquetebol.
Em relação aos níveis de ingestão de lipídeos estes ultrapassam os valores recomendados, o que pode afetar além do desempenho físico geral, aquelas habilidades específicas do esporte praticado.
Os níveis de ingestão de proteína correspondem com os valores recomendados na literatura.
De modo geral, os dados levantados parecem evidenciar uma inadequada ingestão alimentar dos atletas estudados. Em termos quantitativos, a ingestão calórica diária das duas amostras foi insuficiente para suportar as exigências energéticas que o basquetebol demanda.
Em termos qualitativos, preocupa o excesso no consumo de gorduras por parte dos atletas estudados. Isto implicará uma maior dificuldade para suportar os esforços submáximos com esforços mais moderados, de elevada intensidade característicos do basquetebol, uma vez que os hidratos de carbono são o único macronutriente que pode ser metabolizado anaerobicamente. Do mesmo modo, também é motivo de inquietação o déficit encontrado no consumo energético de ambos os grupos de atletas; com maior destaque para os esportistas com história de anemia e malária. Ainda que o gasto calórico de um atleta dependa da programação do treinamento e das competições, a deficiência identificada no consumo pode além de diminuir o desempenho na prática do esporte, também afetar negativamente a saúde do mesmo.
Dos resultados obtidos deduz-se a necessidade de investimentos em Políticas Públicas voltadas ao esporte, com enfoque na saúde dos atletas. Os déficits nutricionais identificados apontam que é imperativo maior controle nutricional dos atletas, principalmente antes, e após os treinamentos. A alimentação adequada é fator fundamental quando se pensa em êxito esportivo de alto rendimento; e o cuidado com a saúde dos praticantes é essencial nesse processo. O salto de qualidade do desempenho esportivo brasileiro depende de investimentos, mas não somente naqueles atletas que já despontaram a nível nacional ou internacional, mas, sobretudo na descoberta de talentos.
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