Nacional Desenvolvimentismo: as
influências das escolas Nacional desarrollismo: la influencia de las escuelas francesa y alemana de "gymnástica" en la educación física escolar National Developmentalism: the influences of French and German schools "gymnastica" for physical education |
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*Pós Graduado em Psicologia Política com aplicação à Atividade Física pela USP Graduando em Ciências da Atividade Física pela USP Mestrando em Participação Política pela USP **Professor Doutor pela Universidade de São Paulo (Brasil) |
Eduardo Mosna Xavier* Marco Antonio Bettine de Almeida** |
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Resumo O Nacional Desenvolvimentismo marcou a sedimentação e a utilização do aparato legislativo como medidas de fomento de políticas públicas nas áreas de lazer e de esporte competitivos no Brasil. Período caracterizado pela existência de múltiplas escolas de ginástica. A escola francesa, primeira doutrina à chegar ao Brasil, esboçava o início de um enfraquecimento, em virtude dos rigorosos exercícios calistênicos e da falta de elementos culturais e políticos que caracterizam aquela época, como a competição e a vitória. E escola alemã, com desenvolvimento em locais peculiares (principalmente nos Estados da região sul) utilizava a educação física como mecanismo de reforço ao nacionalismo e à formação de um cidadãos “conscientemente político e fisicamente preparado para defender sua pátria”, metodologia essa claramente presente no sistema “Waldorf”. Unitermos: Nacional Desenvolvimentismo. Escolas de ginástica. Educação Física Escolar. Escola Francesa. Escola Alemã.
Resumen El Nacional Desarrollismo marcó la sedimentación y el uso del aparato legal como las medidas para promover las políticas públicas en las áreas de recreación y deporte de competición en Brasil. Fue un período caracterizado por la existencia de varias escuelas de gimnasia. La escuela francesa, es la primera doctrina que llega a Brasil, y marca el inicio de un debilitamiento debido a los rigurosos ejercicios de calistenia y de falta de elementos políticos y culturales que caracterizan a esa época como la competencia y la victoria. Y la escuela alemana, con su desarrollo en lugares particulares (principalmente en la región del sur) que se utiliza la educación física como un mecanismo para fortalecer el nacionalismo y la formación de una conciencia política de los ciudadanos y físicamente preparado para defender su patria, esta metodología está claramente presente en el sistema "Waldorf". Palabras clave: Nacional desarrollismo. Escuelas de Gimnasia. Educación Física. Escuela francesa. Escuela Alemana.
Abstract The National Developmentalism marked sedimentation and use of the legal apparatus as measures to promote public policies in the areas of leisure and competitive sport in Brazil. Period characterized by the existence of multiple schools of gymnastics. The French school, the first doctrine to arrive in Brazil, outlined the beginning a weakening because of the rigorous calisthenics and lack of political and cultural elements that characterize that time as competition and victory. And the German school, with development in peculiar places (mainly in the southern region) used physical education as a mechanism for strengthening nationalism and the formation of a citizens' political consciously and physically prepared to defend their homeland, this methodology clearly present in system "Waldorf". Keywords: National Developmentalism. Schools gymnastics. Physical Education. School French. German School.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 172, Septiembre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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A Escola Francesa
O Sistema Frances de atividade física originou-se no final do Renascimento, durante o Século XVIII, na Europa. Tinha como pressuposto que o lado físico contribuía diretamente para a construção do homem ideal para a sociedade pois, através da “gymnastica” 1 (movimentos coordenados, ritmados e coreografados do corpo), seria possível a formação ética (disciplina), social (resistência as adversidades das guerras) e higiênicas (aumento da força e saúde corporal), conforme apontava GRIFI (1989):
A ginástica apareceu, então, como um elemento essencial para a educação do “homem total”, pois servia para enriquecer o espírito, enobrecer a alma e fortalecer o corpo. . Para tanto, as atividades físicas deveriam ser aplicadas de forma a atingir fins éticos, sociais e higiênicos. Éticos porque eram consideradas um válido instrumento de disciplina e formação da juventude; sociais, prevalentemente militares, porque fortificavam o corpo tornando-o mais resistente às fadigas da guerra e, por conseguinte, úteis à pátria; higiênicos porque eram tratadas como um indispensável meio para fortalecer o organismo e manter a saúde corporal (pág. 155).
As atividades físicas ministradas nas aulas de educação física escolar, sob as orientações metodológicas da escola francesa, eram baseadas em exercícios calistênicos2: movimentos repetitivos que trabalhavam, de forma isolada, membros superiores e inferiores. O professor indicava a forma de realização da ação motora ou demonstrava na prática, de forma que seus alunos repetissem sua execução. No auge dessa escola higienista, na década de 1930, era comum essa sistemática de aula, conforme ilustra a figura abaixo:
Figura 01. Alunos do Colégio Leopoldo, no Rio de Janeiro, em aula de educação física escolar em 1930
Fonte: http://colegioleopoldo.org.br/esportes.html
O Método Francês alinhava a formação higienista, militar e ideológica (com forte teor nacionalista). Além de ser a primeira doutrina à aportar em nosso território tornou-se, também, a primeira metodologia legal a ser reconhecida e utilizada em currículos escolares. Essa utilização precípua ocorreu através do Regulamento nº 07 da Educação Física, que essa institui essa doutrina no Brasil. Com um foco na estruturação de um alicerce, idealizando uma formação física, social e moral, essa regulamentação apresentava uma estrutura que, de forma geral, se assemelhava aos primeiros estudos e publicações dessa escola, na França:
Tabela 01. Bases pedagógicas do Regulamento nº 07 de Educação Física:
Fonte: Goellner (1992, pág. 66)
Apesar de iniciar sua gradual decadência a partir de 1940, em virtude do afastamento da identificação entre educação física escolar e instrução militar, o Método Francês ainda possuía significativa representatividade na educação física escolar, durante o Nacional Desenvolvimentismo. Sua hegemonia nas escolas de nível fundamental e médio deixaram incisivos sinais nesta área de práticas de atividade física reverberando, inclusive, em nossos dias. O cerne do discursos propalados pelo referido Método, qual seja, o higienismo e a disciplina, corroboraram com os ideais dos governos vigentes naquele período. Assim pondera GOELLNER (1992):
Quanto ao discurso pedagógico emanado pelo Sistema Francês, percebo como predominante duas vertentes: uma oriunda do pensamento médico higienista, fundada na abordagem positivista da ciência, que invadiu o contexto escolar em nome da manutenção da saúde; outra, transposta da caserna, que percebeu na escola mais um espaço a ser ocupado no tocante a um trabalho com a disciplinação, a manutenção da ordem e a imposição de valores. Vertentes estas que na sua essência apontavam para o fortalecimento da raça brasileira, tão necessária à consolidação do processo de industrialização que se instaurava (pág. 09)
Higienismo e militarismo: eis a síntese do Método Francês! A criticidade desse sistema se devia, sobretudo, ao reducionismo pelo qual as técnicas de ginástica e de exercícios eram ministradas aos alunos. As crianças e os adolescentes eram tratados levando-se em consideração apenas suas características biológicas, sendo perfil psicológico e social (que transforma o ser humano num ser complexo e holístico) completamente ignorados na didática de ensino.
Desta forma, é evidente que o objetivo desse sistema, sobretudo no ensino da educação física escolar, assemelhava-se pedagogicamente com as instruções realizadas com os militares, sobretudo, durante seu período de treinamento. O eugenismo e o nacionalismo estampavam um significado muito mais complexo do que, apenas, a formação corporal e saudável das crianças e dos adolescentes. Serviam como uma política pública para a manutenção do sistema político vigente, além de servir como uma espécie de preparação para a futura força de trabalho a ser utilizada nas indústrias em expansão3.
A Escola Alemã
A doutrina alemã de educação física preceituava a formação do corpo e a corporeidade como o principais elementos de educação. As escolas nada mais eram que verdadeiros espaços para a formação física dois futuros cidadãos que, através da imponência de sua representação física, poderiam simbolizar a magnitude e a superioridade do Estado germânico, em relação às demais raças em relação aos demais. Essa filosofia de ensino da Educação Física Escolar, originária na Alemanha logo após sua constituição como Estado Moderno (República de Weimar - 19184) possibilitou a formação de ideais totalitaristas, que culminariam com a rápida inflamação dos princípios nazistas (capitaneados por Adolph Hitler) e fascistas (defendidos pelo ditador Benito Mussolini na Itália) e com a deflagração da 2ª Guerra Mundial.
O movimento de aproximação pedagógica entre eugenia e atividade física (sobretudo com o esporte) ganhou notoriedade mundial com os Jogos Olímpicos de 1936, ocorridos em Berlim. A exposição dos atletas alemães, normalmente com um biótipo característico, induzia à percepção de uma superioridade genética (“altos, fortes e rápidos”). Essa estratégia foi um importante meio de marketing, difundindo a expansão dessa doutrina ao mundo, com reflexos diretos no Brasil.
A transmissão das imagens e das notícias (via rádio) dos desempenhos atléticos dos alemães objetivavam espécie de demonstração de força da Alemanha em relação aos demais países, através da exteriorização de uma clara política nacionalista, além da construção de uma imagem de Estado Nação. SIGOLI & JÚNIOR (2004) acreditavam que os Jogos Olímpicos de 1936 foram os primeiros eventos esportivos que utilizaram as competições como ferramentas de divulgação ideológico-política:
Apesar dos Jogos Olímpicos terem se tornado uma instituição independente, continuaram a ser apropriados por estados nacionais e outras instituições. Este fato pode ser observado na Alemanha nazista durante os Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936 (...). Com o desenvolvimento da mídia, o esporte foi englobado pelas estruturas econômicas e tornou-se uma mercadoria cultural (pág. 117).
A divulgação da Escola Alemã, impulsionada pelos canais midiáticos e os expressivos resultados olímpicos, expunha uma filosofia de práticas de educação física escolar baseada numa completa abnegação das crianças e dos adolescentes aos exercícios físicos, inclusive fora das escolas, com uma forte conotação ideológica, objetivando a formação de corpos e de mentes que viessem a trabalhar em prol do Estado Nação. SHARMAM (1938), que acompanhou como educador ápice da aplicação desta doutrina nas Escolas da Alemanha entre 1930 e 1940, deixou claro em suas palavras a utilização da prevalência da condição física para simbolizar a supremacia de uma raça em relação às outras:
As escolas de um Estado Nacional deverão dedicar mais horas para o desenvolvimento do corpo. Não deveria passar-se só dia em que o menino não dispusesse de uma hora inteira para o exercício corporal, tanto de manhã como de tarde [...]. Nos membros mais novos da nação, a partir da infância, toda a educação e treino deverão visar incutir em cada qual a convicção da sua superioridade sobre os demais. a obra educativa do Estado Nacional deverá collocar (sic) em grande proeminência (sic) a formação do caracter (sic) passo a passo com a cultura do corpo [...]. O jovem allemão (sic) do futuro deverá ser a nossos olhos, esbelto e vigoroso, veloz como o lebreu (sic), rígido como o couro, e duro como o aço Krupp (pág. 11).
A utilização de termos que reforçam e exaltam a condição física, como “esbelto” e “vigoroso”, reforçavam o propósito estético e moral da doutrina alemã, afastando-se do higienismo apregoado pela doutrina francesa. Apesar de ambos os métodos utilizarem a “gymnástica” como forma de práticas de atividade física, a escola francesa almejava uma condição física que possibilitaria uma maior saúde das crianças e adolescentes. Em contra partida, a escola alemã considerava os atributos externos, materializados pela imponência corporal, como formas de exteriorizar um anseio político de dominação, renegando à segundo plano os outros benéficos propiciados pelos exercícios físicos, como a qualidade de vida e a saúde.
Entre todas as escolas de ginástica, a alemã foi a que apresentou a maior proximidade com os exercícios praticado em ambiente militar. Os movimentos repetitivos, acrescidos de estímulos verbais em busca do máximo rendimento, foram utilizados em grande parte das academias militares5. A formação do corpo, com ênfase numa espécie de disciplina da corporeidade, refletiam a ideologia do próprio povo alemão, multiplicando rapidamente seu uso, sobretudo, em territórios com característica de Estado Nação.6
A escola alemã de educação física experimentou seu auge no Brasil durante o Nacional Desenvolvimentismo: em 1956, chegou ao movimento pedagógico alemão “Waldorf”. Com um foco de ensino direcionado no desenvolvimento humano e nas atividades manuais, foi criado pelo filósofo Rudolph Steiner
7 no início do século XX. Era baseado na proximidade da educação escolar com a atividade laboral, sobretudo, àquelas realizadas em linhas de montagens industriais. O estilo pedagógico em questão dividia o período de formação em três fases: do 00 aos 07 anos (maturidade escolar), dos 08 aos 14 anos (maturidade sexual) e dos 15 aos 21 anos (maturidade social)Desta forma, a concepção “waldorfiana” conjugava diretamente os propósitos da escola alemã, qual seja, a preparação física e mental da futura substituição de mão de obra industrial. Apesar do enfoque laboral, as atividades físicas e a formação de uma corporeidade militar, com foco ideológicos, também marcava a educação física escolar no sistema “waldorfiano”. Essa metodologia de ensino persiste no Brasil em nossa contemporaneidade, sobretudo em algumas cidades do sul, fruto da manutenção da cultura germânica nessa região.
Notas
Desenvolveu-se, efetivamente, a partir dos exercícios físicos realizados pelos soldados da Grécia antiga, incluindo habilidades para montar e desmontar um cavalo e habilidades semelhantes a executadas em um circo, como fazem os chamados acrobatas. Naquela época, os ginastas praticavam o exercício nus (gymnos – do grego, nu), nos chamados gymnasios, patronados pelo deus Apolo. A prática só voltou a ser retomada - com ênfase desportiva e militar - no final do século XVII, na Europa,. Tais avanços geraram a chamada ginástica moderna, agora subdividida.
Calistenia vêm do termo grego “Kalistenés”, que significa “cheio de vigor ou força” (“kallos”: belo / “stheno”: força).
As escolas profissionalizantes dos serviços sociais forma as últimas que substituíram a metodologia higienista francês, já em 1970 (fonte: www.sesc.org.br/historiaoficial/educaçaofisicanaescola.47369.php)
As revoltas operárias ocorridas na Alemanha levaram a abdicação do imperador Guilherme II e a formação de uma frágil república, formalizada por uma constituição assinada na cidade de Weimar, já que estava fixada às ordens emanadas pelo Tratado de Versalhes.
O Brasil foi uma das principais exceções ao domínio da doutrina alemã no mundo. A escola francesa, que foi inserida no Brasil com a chegada da missão francesa (início da década de 1900), apesar de ter na metodologia do bailado militar “joinville le pont” seus principais exercícios, reforçava a necessidade da atividade física como meio de preservar a saúde de seu praticante, evitando eventuais manifestações de doenças.
Na segunda Guerra Mundial (1936-1945), os principais países do eixo (Alemanha, Itália e Japão) adotavam essa doutrina como meio de treinamento de seus exércitos, bem como de formação física e ideológica de suas crianças e adolescentes.
Filósofo Austríaco, nascido em 1861, foi um dos mais calorosos divulgadores das recém criadas sociedades Teosóficas e Antroposófias durante a primeira metade do século XX.
Referências
Alves, V.F.N. (2003). Uma leitura antropológica sobre educação física e lazer. In: WERNECK, C.L.G. & ISAYAMA, H.F. Lazer, recreação e educação física. Belo Horizonte: Autêntica.
Almeida, M.A.B. (2008). Análise do desenvolvimento das Práticas urbanas de lazer relacionadas a produção cultural no período nacional-desenvolvimentista à globalização através da “Teoria da Ação Comunicativa”. Campinas: UNICAMP.
Castro, C. (1997). In Corpore Sano: Os militares e a introdução da educação física no Brasil. Rio de Janeiro: Revista Antropolítica, nº 02.
Costa, L.P.D. (2004). Atlas de Educação Física e Esporte no Brasil. São Paulo. Editora CONFEF.
Goellner, S.V. (1992). O Método Francês e a Educação Física no Brasil: da caserna à escola. Porto Alegre: Dissertação de Mestrado no Curso de Ciências do Movimento, UFRGS.
Tani, G. et al (1994). Competição no Esporte e Educação Física Escolar. In: Conceição, José Augusto Nigro. Saúde Escolar: a criança, a vida, a escola. São Paulo/SP: Editora Sarvier.
Grifi, G. (1989). História da Educação Física e do Esporte. Porto Alegre: Editora Luzzatto.
Sigoli, M.A. & Júnior, D.D.R. (2004). A história do uso político do esporte. In Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília: v. 12, n. 02.
Sharman, J.R. (1938). A educação profissional dos professores de educação physica na Allemanha. In Educação Physica, Rio de Janeiro: n. 19, p. 10-12 e 69- 70, jun. 1938.
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