A preparação psicológica da arbitragem no esporte de alto rendimento La preparación psicológica del arbitraje en el deporte de alto rendimiento |
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*Msc. Professor. Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Porto Velho, RO Centro de Estudos de Esporte e Lazer (CEELA - UNIR) **Estudante do Curso de Psicologia, Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Porto Velho, RO. Centro de Estudo de Esporte e Lazer (CEELA-UNIR) |
Ramón Núñez Cárdenas* Yesica Núñez Pumariega** (Brasil) |
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Resumo São muitas as teorias, definições e interpretações que aparecem na área da Psicologia do Esporte. Muitos cientistas da área entendem a Psicologia do Esporte como uma subárea da Psicologia Aplicada (Psicologia no Esporte) e outros a entendem como uma disciplina das Ciências do Esporte. Segundo Samulski (2002), a Psicologia do Esporte se ocupa da análise e modificação de processos psíquicos e de ações esportivas. Muitos autores partem do princípio de que a ação esportiva representa um comportamento intencional e psiquicamente regulado. Neste sentido, o presente estudo bibliográfico teve como pretensão investigar a preparação psicológica do arbitragem no esporte de alto rendimento. Unitermos: Psicologia. Arbitragem. Esporte.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 172, Septiembre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Além de que o processo de arbitragem vai se abrindo cada vez mais entre as temáticas de estudos mais relevantes da psicologia do esporte (Dosil, 2002), continua sendo realmente alarmante a pouca dedicação que desde os aspectos psicológicos destina-se ao trabalho aplicado com estes profissionais, desde todas as áreas e desde diversa perspectiva. Não existe a menor dúvida de que as características intrínsecas das próprias funções que desenvolve um árbitro esportivo manifestam grandes exigências a respeito de um grande número de habilidades e características psicológicas. Não obstante, é fácil que nos encontremos, por um lado, com livros orientados ao estudo exclusivo dos processos de arbitragem e, por outro lado, com manuais de psicologia do esporte gerais, os quais esquecem na grande maioria das repercussões que os aspectos psicológicos possuem no desenvolvimento do árbitro. Os primeiros por não incluir aspectos psicológicos que formam parte de sua área de ação, e os segundos, por não situar entre suas áreas de trabalho, o âmbito do árbitro.
No desenvolvimento de qualquer competição esportiva, os árbitros que participam da competição, inevitavelmente constituem um dos elementos mais relevantes de todo o processo; sua importância é imensa, pois, ademais, são os que se encarregam de coordenar e de intermediar, como uma de suas funções prioritárias, entre as outras, duas grandes figuras do evento esportivo: Atletas e treinadores. Os árbitros são elementos essenciais para o funcionamento de todo tipo de competições esportivas organizadas, abarcando desde o esporte infantil até o profissional de alto nível. A esse respeito, os motivos relevantes e justificados da necessidade de ter em conta este coletivo como a área específica de intervenção, são os seguintes:
São precisamente determinadas variáveis psicológicas e suas diferentes características de desenvolvimento e configuração dos elementos diferenciados que permitem a direção de uma boa atuação do árbitro. Investigações como a desenvolvidas por Ittenbach e Eller (1988), Weinberg e Richardson (1990), Gimeno (1997), Marrero, Martín (1997) e Guillén, Jiménez e Pérez (1999) recolhem a opinião de uma grande quantidade de árbitros esportivos que fundamentam um conjunto de características psicológicas que intervém em suas atuações, as quais são as seguintes: Estar consciente em suas decisões, estabelecer uma boa decisão com os outros, atuar com decisão e rapidez, mostrar um bom domínio e controle emocional, atuar com integridade, ter autoconfiança e estar motivado durante a competição.
As próprias características intrínsecas implicadas na tarefa do árbitro, que fazem uma necessitada demanda de atenção dirigida a fatores psicológicos.
Desta maneira, são atendidas às características que propriamente encontram-se implicadas em qualquer processo que inclui a decisão sobre si, uma posição, um instrumento ou uma situação de competição, permitidas pelo regulamento. Assim, se nos detivermos nas que implicam os processos de valorar objetivamente as execuções dos diferentes atletas que participam na competição segundo o acordado no regulamento, vemos o reflexo imediato da necessidade de ter em conta também aspectos psicológicos em referência aos processos que estes dois grandes procedimentos incluem. Se nos detivermos nos casos onde o árbitro tem que avaliar aspectos artísticos, como a originalidade e criatividade, além do estilo e a correção dos movimentos, como é o caso das competições de ginástica rítmica ou, as intenções de determinadas ações do atleta, como é o caso dos esportes como o futebol e basquete, contam com a localização de sérias discrepâncias entre diferentes árbitros, ficando descobertos os enormes esforços que, todavia tem que se levar a cabo para aumentar a objetividade de determinados árbitros ou equiparar valorizações. Na medida do possível, fica certo modo no âmbito psicológico, pois de fato a explicação de algumas das discrepâncias que se produzem entre valorizações realizadas por diferentes árbitros na maioria dos casos, reside em fatores psicológicos disposicionais e em variáveis situacionais, que tem que ter em conta necessariamente para otimizar os níveis de excelência dos processos do árbitro. Landers (1970), Ansorge & Scheer (veáse Riera, 1989), Ansorge & Cols. ( 1978), Sheer & Ansore (1979), Scheer, Ansorge & Howard ( 1983), Wander (1987), Ansorge & Scheer (1988) e Seltzer & Glass (1991). E para realizar corretamente tarefas tão relevantes e complexas necessitam, não só uma adequada preparação técnica, mas também psicológica.
A enorme influência de fatores disposicionais e situacionais nos resultados esportivos que surgem de decisões geradas pelo árbitro esportivo. Para que as atuações do árbitro esportivo se desenvolvam sob uns parâmetros de justiça e imparcialidade absoluta, deve-se ter em conta, obrigatoriamente, uma série de fatores disposicionais e situacionais que estão determinando a correta tomada de decisões e o correto desenvolvimento do resto de fatores incluídos em uma ótima arbitragem (Cruz, 1997). No desenvolvimento da competição podem produzir-se uma série de “situações” que podem, de um modo ou outro, afetar o desenvolvimento dos processos de arbitragem. Por exemplo, reações da torcida ante determinadas decisões, queixas do treinador ou de atletas, o resultado em cada um dos momentos da competição, o tempo que resta de jogo ou comportamento da torcida conforme avança a competição específica, são fatores que podem incidir no estado emocional do árbitro.
A implicação completa de altos níveis de objetividade para ser concernentes com as decisões que se vão tomando e que favoreçam só o resultado justo da competição esportiva.
As dificuldades geradas pelo próprio regulamento específico, a não inclusão de determinadas situações que aparecem no desenvolvimento da competição ou atuação esportiva, ou os diferentes níveis de competição que pode possuir o árbitro são fatores que fazem viável a existência de altos níveis de objetividade no desenvolvimento das tarefas do árbitro, sendo muito importante ter em conta esta série de circunstâncias que muitas vezes são passadas de largo, pois fatores como estes são os que aumentam ostensivamente a complicação de finalizar, com a máxima objetividade possível, as ações que implicam as atuações do árbitro. Isto se agrava se levarmos em conta que em determinados esportes nos encontramos com regulamentos que implicam valorar, além de ações que se realizam na competição, também as intenções com as que se realizam determinadas ações, multiplicando a necessidade de proclamar essa objetividade.
O desenvolvimento de seu trabalho influi de um modo decisivo no resultado da competição, e seu processo de desenvolvimento se realiza sob umas circunstâncias e características peculiares. Ao longo do desenvolvimento de seu trabalho durante a competição, o árbitro há de tomar decisões em intervalos de tempo que poderíamos considerar mínimas, decisões a respeito das quais não se lhe permite errar, pois em todos os casos, o que são viáveis e as que não o são, exige-se que sejam corretas, pois delas dependerá, em certa medida, o resultado definitivo do evento esportivo e que ademais, provoca reações normalmente adversas no resto de participantes do evento esportivo, e ante uma boa quantidade de espectadores, unido a tudo isto, as explicações que lhes são exigidas por parte de atletas e treinadores como um fator adicionado à obrigação que possuem de dirigir competições. Conjugado a tudo isto com a necessidade de ter que suportar a pressão dos espectadores e a posterior pressão dos meios de comunicação, provocando a conjunção de todas estas variáveis o fato de que esta tomada de decisões torne-se uma profissão estressante, e cuja vivência se apresente continuamente associada a situações gerenciadoras de tensão, fator diretamente associado às estratégias cognitivas de controle “treináveis” desde a Psicologia.
Na relevância e impacto que possuem os erros cometidos por um árbitro esportivo, carece de importância o fato de estar consciente da existência de algumas faltas que desde o regulamento não são definidas operacionalmente, como uma mão intencionada no futebol, ou a consciência de que tem ações, ou jogadas, ou faltas, que são praticamente impossíveis de ser observadas por um árbitro, como é o caso de um fora de jogo num passe rápido. Do árbitro é sempre exigido o acerto de suas decisões e ações. Jamais se ressalta as coisas corretas que eles fazem.
Os estilos de comunicação e de direção que têm que se adotar ante os atletas ao longo da competição. Tão importante como tudo o que foi visto até agora, é o fato de como o árbitro tem que se dirigir aos atletas e treinadores.
A imparcialidade que se reclama que se há de manter durante toda a competição. Sem ela, é impossível o ótimo desenvolvimento das tarefas do árbitro. A maioria das situações analisada até este ponto são situações que influenciam na imparcialidade, a qual só pode ser mantida caso se tenha, entre outras habilidades, o controle das situações de tensão que vão surgindo, e a possessão de uma adaptada confiança na correta atuação que estamos realizando (a qual deverá manter-se impune, independentemente das reações dos participantes do evento esportivo).
Intervenção psicológica com o árbitro
A psicologia do esporte, na área da arbitragem, é uma das principais ações que se pode desenvolver no trabalho direto, numa série de variáveis psicológicas que, não só se perfilam como relevantes para a otimização das atuações em si, mas também procuram que não haja abandono. As variáveis psicológicas mais utilizadas na área da arbitragem são as seguintes:
Concentração
Manter o foco da atenção dirigido aos estímulos mais relevantes para a operação de uma correta arbitragem, é uma das principais “função paralela”, que todo árbitro a de controlar perfeitamente, se o que deseja é realizar uma atuação eficiente dentro do marco de sua profissão.
De fato, o controle da atenção é um dos aspetos psicológicos que, de um modo quase continuado, é mencionado pelos próprios árbitros, como fundamental para o desempenho ótimo de um processo de arbitragem esportivo. Em diferentes momentos, é manifestada como uma das qualidades psicológicas mais desejáveis para um melhor desempenho do árbitro (Gimeno & Cols, 1988; López & Fernández, 1999).
Mostrar-se e sentir-se concentrado é, desde o inicio das investigações sobre arbitragem, um dos objetivos a desenvolver por este coletivo, chegando ao ponto inclusive de propor desde a literatura científica, estratégias de intervenção concretas, que tenham como fim último, melhorar a concentração de uma pessoa incluída neste coletivo (Weinberg & Richardson, 1990), diferenciando, ademais, entre estratégias que deverão ser aplicadas antes de iniciar a competição e estratégias que se utilizarão durante a competição.
Decisões dos árbitros
Atuar com decisão e rapidez nas próprias decisões que se vão tomando no transcurso da competição constitui uma das áreas mais estudada na psicologia do esporte, nos estudos realizados, pode-se contatar que uma eficaz tomada de decisões fica englobada entre os princípios uma boa arbitragem (Gimeno & Cols., 1998). Neste sentido, incluso Tenenbaum, Yuval, Elbaz, Bar-Eli e Weinberg (1993) especificam que a experiência na arbitragem é o melhor indicador da capacidade para a tomada de decisões.
O limitado tempo que possuem os árbitros para a tomada de decisões, é um dos aspetos fundamentais que mais causa stress antes, durante e depois das competições; o qual interfere na tomada de decisões que eles têm de realizar durante as mesmas. Estímulos ambientais como o barulho e as críticas, só contribuem para dificultar na tomada de decisões no desempenho deste coletivo (Martín, 1990).
Cruz (1997), entre suas investigações, ressalta a relevância de analisar os fatores psicológicos implicados em seus processos de tomada de decisões, para posteriormente considerá-lo como um fator básico, entre outras coisas, pela influência e pelas especiais características ante as quais os árbitros deverão tomá-las e executá-las.
Estilo de comunicação interpessoal
A importância do estilo de comunicação que, em cada momento, adota o árbitro em seu desempenho, reúne em si mesma, uma importância que às vezes não é consciente. Fatores como estes norteiam o desenvolvimento de uma boa arbitragem.
Controle emocional e controle de stress
Manter o autocontrole e mostrar um bom domínio das diferentes emoções nas que se encontra o árbitro, é uma das qualidades que, desde a investigação aplicada, assume como destreza a demandar qualquer pessoa que desenvolve processos de arbitragem esportiva.
Motivação
Estar motivado nas competições é uma das condições que, desde os diferentes estudos empíricos, também se mostra como básica para otimizar e dirigir a tarefa do árbitro a níveis de excelência global.
Autoconfiança
Diferentes estudos mostram, entre outras questões, que para ser um bom árbitro é necessário ter boa autoconfiança e uma consolidada segurança em si mesmo (Alker, Straub & Leary, 1973; Fratzke, 1975; Ittenbach & Eller, 1986; González Suarez, 1999).
Estabelecimento de rotinas prévias e preparação psicológica para a competição. As quais ficam centradas, por exemplo, em:
Estilo de vida saudável, hábitos de dieta, sono, descanso e atividade física.
Estabelecimento de rotinas flexíveis nos momentos prévios aos jogos que lhes permita centrar-se nos aspetos fundamentais do acontecimento esportivo e adaptar-se a possíveis demoras ou aprazamentos imprevistos.
Preparar a estratégia do jogo (análises objetivo dos estilos de jogo) dos participantes, as características da torcida e as análises dos próprios pontos fortes e fracos que se possuem nesse momento, para evitar um tipo de avaliação geral que se faz muitas vezes, qualificando um jogo difícil (o qual produz preocupação) ou fáceis (o que provoca excesso de confiança).
Utilização da prática mental, como técnica psicológica a desenvolver nos momentos anteriores ao jogo, com o fim de ver-se assim mesmo em diferentes situações previstas do jogo, e controlando, por exemplo, o foco da atenção mais adequado em cada momento, para selecionar eficientemente os sinais relevantes e ignorar os que são pouco importantes, ou para controlar a ansiedade ou os fatores de stress que surgem desde qualquer momento.
Conclusões
Com base no exposto anteriormente, pode-se chegar às seguintes conclusões:
É de grande importância que todos os envolvidos com a arbitragem esportiva tomem consciência da aplicação da psicologia do esporte na preparação psicológica antes, durante e após as competições.
Intensificar o trabalho interdisciplinar torna-se cada vez mais necessário para a eficiência do arbitragem na prática esportiva.
Existe a necessidade que o psicólogo do esporte intensifique cada vez mais seu trabalho em estabelecer as melhores relações no triângulo esportivo (Arbitro -Treinador - Atleta), relação indispensável durante a competição.
Torna-se necessário estender os conteúdos curriculares da Psicologia do Esporte na formação dos Professores de Educação Física, Psicólogos, Treinadores, Médicos do Esporte e Fisioterapeutas.
Aumentar a realização de eventos científicos para oferecer uma melhor divulgação dos trabalhos da Psicologia do Esporte.
Bibliografia
Dosil, J. (2000). El Psicólogo del deporte. Asesoramiento e intervención. Madrid: Síntesis.
Cruz Feliu, Jaume (1996). Asesoramiento psicológico en el arbitraje. En Cruz Feliu, J. (ed.), Psicología del Deporte, pp.245-269. Madrid: Síntesis.
Gordillo, A .(2000). Intervenção com os pais (pp. 119-132). En Benno Becker Jr. (Ed.), Psicologia aplicada á criança no esporte. Brasil: Feevale.
Dosil, J. (2002). El Psicólogo del deporte. Asesoramiento e intervención. Madrid: Síntesis.
Garcés de Los Fayos, E.J; Elbal, P.C. y Reyes, S. (1999). Burnout en árbitros de fútbol. En Psicología de la actividad Física y el Deporte: Áreas de investigación y Aplicación (vol. I). VII Congreso Nacional de Psicología de la Actividad Física y del deporte. Murcia: 19-22 octubre 1999, pp. 628-633.
Samulski, D. (1992) Emoción. En su: Psicología del Deporte. Teoría y aplicación práctica. Impresora Universitária/UFMG. Belo Horizonte. pp. 115-130.
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