A personalidade de alunos de danças de salão La personalidad de los alumnos de bailes de salón The personality of students of ballroom dancing |
|||
*Bacharel em Educação Física. Unesp Rio Claro **Professora Livre Docente do Departamento de Educação Física da Unesp de Rio Claro (Brasil) |
Henrique Ricardo Gazzi Fabiano* Silvia Deutsch** |
|
|
Resumo Estudos mostraram uma variedade de benefícios que a prática da Dança de Salão pode trazer tais como o lazer, a diversão, a liberação de tensões provenientes de uma rotina estressante, melhoria das relações afetivas e a expansão dos contatos sociais. Este estudo se justifica pela necessidade de avaliar um outro aspecto do ser humano que trata de sua personalidade. O homem se humaniza no contato com outros homens na cultura em que vive. São os relacionamentos sociais que possibilitam ao homem estruturar sua personalidade. Os relacionamentos propiciados no ambiente onde se pratica a dança de salão podem beneficiar o desenvolvimento da personalidade ou simplesmente colocar cada indivíduo em situações que propiciem um maior conhecimento de si mesmo, já que esta atividade apresenta características que facilitam muito o contato social entre as pessoas. Alguns exemplos são a relação entre cavalheiro e dama durante uma dança, o contato com diferentes pessoas nas aulas, os eventos sociais onde ela é praticada e até mesmo a música que é dançada. Este trabalho tem como objetivo identificar os tipos mais comuns de personalidades existentes em um grupo de participantes de um curso de Danças de Salão, com base na técnica do Eneagrama que foi desenvolvida e difundida por Gurdjieff. Essa teoria apresenta nove tipos de personalidade cada um com suas características específicas. Participaram do estudo 42 alunos de um curso de danças de salão. Foi aplicado um questionário (Daniels & Price, 2000) para identificar os tipos psicológicos dos participantes. Uma comparação entre gêneros também foi elaborada. Os resultados mostraram que nesse grupo existe um grande número de pessoas calmas, pacientes e contidas (tipo 9), mais de 42% e que são predominantemente do sexo masculino, já o sexo feminino fica distribuído, em sua maior parte, entre mulheres inovadoras, dispostas e divertidas (tipo 7); 23,1% e resolutas, determinadas e autênticas (tipo 8); 19,2%. Concluímos que os homens que buscam a prática da Dança de Salão possuem uma característica mais pacifista ou tranqüila e as mulheres dividem-se entre pessoas tranqüilas, porém com características mais abertas e/ou mais controladoras. Conhecendo e sabendo utilizar essa técnica de análise de tipos de personalidade, é possível ao professor, neste caso, de danças de salão, conhecer e se basear nas características de seus alunos para obter um melhor rendimento em suas aulas. O professor pode ainda ser um agente facilitador no processo de autoconhecimento, sendo que além de poder colaborar para o desenvolvimento de seus alunos no campo técnico da dança de salão pode também atuar simultaneamente com o autodesenvolvimento dos mesmos. Unitermos: Dança de salão. Personalidade. Eneagrama.
Resumen Palabras clave: Baile de salón. Eneagrama. Personalidad.
Abstract Studies have shown a variety of benefits that Ballroom Dancing practice can bring, such as leisure time and entertainment, the relief of tension from a stressful routine, improvement of affective relationships and the expansion of social contacts. This study is justified by the need to evaluate another aspect of the human being that comes to your personality. The man becomes more human in contact with other man at the culture he lives in. It is the social relationships that make it possible to man build your personality. Relationships propitiated in the ballroom dance environment can improve the personality development or just put each individual in situations that provide more knowledge about itself, since this activity shows characteristics that make the social contact between people much easier. Some examples are the relationship between gentleman and lady during a dance, the contact with different people in class, the social events where has the ballroom dance practice and even the music that is danced. This study aims to identify the most common types of personalities exist in a group of a participants in a ballroom dance course, using a technique based on the enneagram which was developed and disseminated by Gurdjieff. This theory presents nine types of personalities each with its specific characteristics. 42 students of a course of ballroom dancing participated of the study. A questionnaire was applied (Daniels & Price, 2000) to identify the psychological types of the participants. The comparison between genders was also made. The results shown that in this group exists a large number of calm people, patients and contained (type 9), more than 42% and they are predominantly male, at the same time the female is distributed, mostly, among innovative, willing and fun women (type 7); 23,1% and resolute, determined and authentic (type 8); 19,2%. We concluded that men who seek the ballroom dance practice are more peaceful and quiet and the women are divided between quiet personalities, however with more open and/or controller characteristics. With the knowledge of this technique for analyzing personality types, make it possible, in this case for ballroom dancing teachers, know and be based on the characteristics of their students to get a better performance in their classes. The teacher can also be a facilitator in the process of self-awareness that besides being able to contribute to the development of their students in the technical field of ballroom dancing can also act simultaneously with the self-development of them. Keywords: Ballroom dance. Personality. Enneagram.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 172, Septiembre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
Estudos apontam que a prática da atividade física traz inúmeros benefícios para seus praticantes. A dança de salão é uma atividade muito procurada por pessoas das mais diferentes faixas etárias. Busca-se sua prática por diferentes motivos, entre eles o lazer, a diversão, a liberação de tensões provenientes de uma rotina estressante, melhoria das relações afetivas e a expansão dos contatos sociais.
Geralmente não são identificados nesses benefícios aspectos como autoconhecimento e autodesenvolvimento. Um novo enfoque a ser estudado quanto aos motivos que as pessoas buscam tipos específicos de atividade física relaciona-se aos diferentes tipos de personalidade. Este estudo tem por finalidade, identificar os tipos mais comuns de personalidades existentes em um grupo de participantes de um curso de Danças de Salão, com base na técnica do Eneagrama.
Obtendo um instrumento que permita ao professor conhecer melhor a personalidade de seu aluno através da técnica do eneagrama, acredita-se ser possível, em suas aulas de danças de salão, utilizar esse conhecimento para obter um melhor rendimento técnico em seu ensino e ainda ser um agente facilitador no processo de autoconhecimento e autodesenvolvimento dos mesmos.
Revisão de literatura
A Dança
Desde a pré-história, o homem já dançava. Os motivos eram os mais diversos. Antropólogos e arqueólogos assumem que o homem primitivo dançava como sinal de exuberância física, rudimentar tentativa de comunicação e, posteriormente, já como forma de ritual. Dançou-se assim desde os tempos imemoráveis, em torno de fogueiras e diante de cavernas; gestos rítmicos, repetitivos, às vezes levados ao paroxismo, serviam para aquecer os corpos antes da caça e combate (PORTINARI, 1989 apud ROCHA, 2007).
Segundo Silvester (1990) o desejo de dançar é um dos instintos mais primitivos do gênero humano. É dito que: “dançar é mais antigo até mesmo que comer, beber ou amar”. Mesmo antes da linguagem falada, o homem já dançava e que de uma forma ou de outra, todas as danças derivam do movimento natural do homem (DEUTSCH, 1997).
A formação de danças aos pares, isto é, com contato corporal, nada mais é que um produto dos salões, uma criação social, produto de uma nova abordagem, uma nova visão de sociedade sendo que entre os vários tipos de danças é um dos estilos que tem como característica permitir a participação de grande número de pessoas de quase todas as faixas etárias (da juventude a terceira idade pode-se sempre praticar este estilo de dança), proporcionando então, uma grande interação entre as pessoas, sem necessariamente, cobrar uma beleza estética. (DEUTSCH, 1997 e VOLP, 1994).
A Dança de salão
Volp (1994) define a dança de salão como uma modalidade de dança na qual pares de dançarinos sincronizam passos e figuras ao som da música, mantendo-se dentro das normas sociais em relação ao contato entre eles e com os outros pares no salão. Como atividade física, ela pode ser caracterizada de intensidade leve a forte dependendo do ritmo e da execução associada a ela. Silvester (1990) considera a dança de salão como uma forma de expressão artística, destacando-a como uma das mais belas e mais difíceis artes. Ensinando elegância, dá-nos um conjunto de movimentos corretos e harmoniosos. Quando comparada a outros esportes, a dança de salão apresenta uma configuração única no tocante à interação dos parceiros. Em nenhum outro esporte a interação a dois é tão próxima, tão íntima (exceção talvez, até certo ponto, a patinação em duplas). No tênis e outros esportes de rebate, os parceiros jogam a metros de distância e, quando não jogam em dupla, são adversários cujo objetivo é vencer o outro e não cooperar com ele. Na Vela, a interdependência e necessidade de empatia entre proeiro e timoneiro são grandes, mas dispensa o contato físico. No Remo, a harmonia é imprescindível apenas no ritmo e na amplitude das remadas. Nos grandes jogos, a atenção é focalizada no conjunto da equipe, não no parceiro individual. Todos esses esportes têm seu valor como alternativa de lazer, devido à necessidade de interação social, e focalizam aspectos que podem torná-los mais valiosos em um dado caso individual. Quando o casal está à procura de uma atividade física de lazer que possa ser praticada a dois, e cujas características ressaltem a interação afetiva entre os dois parceiros, unindo-a ao contato físico íntimo, não há alternativa senão a dança de salão (RIED, 2003).
A dança de salão consegue, com pouca prática e um mínimo de instrução formal, atender seu objetivo enquanto lazer, que se apresenta através da sensação agradável de se movimentar em um salão em harmonia com o parceiro (a) e com a música, como cita Ried (2003).
A dança tem forte caráter socializador e motivador; seja em par ou sozinho, seja velho ou criança, seja homem ou mulher, dançando todos nos sentimos bem. É uma prática para toda a vida, que nos desperta sentimentos e desenvolve capacidades anteriormente inimagináveis (HAAS et al, 2006).
É através do contato com esses sentimentos e possíveis capacidades às quais nos permitimos expor no ambiente em que se desenvolve que nos tornamos seres melhores com maior capacidade de relacionamentos e conhecedores de nós mesmos.
Eneagrama
O Eneagrama é um antigo ensinamento Sufi, que descreve nove tipos diferentes de personalidade e suas inter-relações, são nove padrões de pensamento, sentimento e ação, definidos e fundamentalmente diversos entre si. Segundo Palmer (1993) e Daniels & Price (2000) cada um dos nove padrões baseia-se em uma tendência explicita de percepção. Essa tendência ou filtro determina os objetos aos quais você presta atenção e o modo pelo qual você dirige o uso de sua energia. Esse antigo ensinamento pode nos ajudar a identificar nosso próprio tipo lidando melhor com nossos problemas; compreendendo nossos colegas de trabalho, pessoas amadas, familiares e amigos; e apreciando a predisposição que cada tipo tem para as capacidades humanas superiores, tais como a empatia, a onisciência e o amor. Ele auxilia no autoconhecimento, ajudando ou contribuindo para a melhora dos relacionamentos apresentando aptidões superiores específicas de seu tipo de personalidade.
Figura 1. Eneagrama.
O que o Ocidente sabe sobre o Eneagrama se deve a George Ivanovitch Gurdjieff, que pode ser considerado o pai do moderno Eneagrama. Foi ele um grande viajante, conhecendo o Afeganistão e todo Oriente Médio chegando até a Índia, e toda a Ásia Menor de onde afirma ter trazido este conhecimento (PALMER, 1993; HORSLEY, 2006; ROHR & EBERT, 2005 e BASSOI, 2009).
Oscar Ichazo fascinado pela idéia de recuperar conhecimentos perdidos, assim como Gurdjieff, viajou pela América Latina e todo Oriente Médio ate voltar para América do Sul e começar a depurar o que havia aprendido. Pesquisou e sintetizou os vários elementos do Eneagrama até que, no início da década de 50, descobriu qual a relação entre o símbolo e os tipos de personalidade. Os nove tipos que ele ligou ao símbolo provem de uma antiga tradição que lembrava os nove atributos Divinos conforme se refletem na natureza humana. A distorção dos atributos Divinos deu origem aos “Sete Pecados Capitais” que acrescidos de mais dois (Medo e Ilusão) contribuíram com a idéia de Ichazo (RISO & HUDSON, 1999; PALMER, 1993, GRAZIANO FILHO, 2009).
Os Nove Tipos
Tipo 1 -
Tipo 2 -
Tipo 3 -
Tipo 4 -
Tipo 5 -
Tipo 6 -
Tipo 7 -
Tipo 8 -
Tipo 9 -
Características do Eneagrama
O Eneagrama, muito além de seu símbolo que é o digrama, e sua divisão em nove tipos de personalidade, possui algumas outras características internas, como a divisão das nove personalidades em três centros distintos. São eles os centros emocional, sexual e mental.
O Centro Sexual
São pessoas que agem instintivamente, se interessam por poder e justiça, em geral são indivíduos diretos, abertos e até mesmo agressivos. Os tipos correspondentes a esse centro são os de número OITO, NOVE e UM (PALMER, 1993; ROHR & EBERT, 2005).
O Centro Emocional
São pessoas que tendem sua energia aos outros e se interessam em estar a disposição, encaram a vida como uma tarefa a ser executada e por isso procuram prestígio. Seus tipos correspondentes são os de número DOIS, TRÊS e QUATRO (PALMER, 1993; ROHR & EBERT, 2005).
O Centro Mental
São pessoas que se afastam dos outros, em todas as situações esses indivíduos dão o primeiro passo para trás, para poderem refletir e somente depois disto é que prosseguem sempre de maneira metódica. Correspondem aos tipos CINCO, SEIS e SETE (PALMER, 1993; ROHR & EBERT, 2005).
Figura 2. Os Centros
As Asas
Os pontos que aparecem de cada lado dos tipos psicológicos são variações das personalidades nucleares, chamadas de asas. Isso significa que o traço principal compartilha algumas preocupações e hábitos de suas respectivas asas.
As asas são influentes, porque dão um colorido a esse tipo de personalidade principal.
As Setas
A estrela de nove pontas mapeia a relação entre duas leis fundamentais do misticismo, a “Lei do Três” (trindade), que identifica as três forças presentes no início de um evento, e a “Lei do Sete” (oitavas), que governa as fases de implementação desse evento, à medida que se desenrola no mundo físico.
Uma vez iniciado um evento, a lei do Sete ou a Lei das Oitavas entra em ação. A relação do Sete para com a unidade pode ser expressa através da divisão de 1, a unidade, por 7, que produz a dízima periódica 0,142857142857142857..., que não contém nenhum múltiplo de três. O Eneagrama completo é um círculo dividido em nove partes iguais, que representa a fusão da Lei do Três e da Lei do Sete, as quais interagem de maneiras específicas ao longo das linhas internas do diagrama. (PALMER, 1993 e PATERHAN, 2006).
Figura 3. As Setas
A lei do Três também se aplica ao fato de que cada tipo de personalidade se compõe de três aspectos: o aspecto predominante, que vigora em condições normais e que é chamado de seu tipo; o aspecto que vigora quando você entra em ação (ou é colocado sob estresse); e o aspecto que entra em cena em situações de segurança (não estressantes ou consolo). O ponto de ação (estressante) está no sentido da seta, e o aspecto de consolo (não estressante), no sentido contrário a ela. Assim, cada tipo é, de fato, a união de três aspectos, cada um dos quais passíveis de ser estimulado por situações específicas da vida.
Objetivo
Este trabalho tem como objetivo identificar os tipos mais comuns de personalidades existentes em um grupo de participantes de um curso de Danças de Salão, com base na técnica do Eneagrama.
Materiais e método
Participantes
A amostra utilizada para este estudo foi constituída por 42 pessoas, todos participantes do Projeto de Extensão “Iniciação as Danças de Salão”, oferecido pelo departamento de Educação Física da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho, campus de Rio Claro. O questionário foi aplicado aos participantes da pesquisa que se dividem em 26 mulheres e 16 homens e as observações foram feitas com 6 pessoas, três casais escolhidos aleatoriamente durante as aulas.
Instrumentos
Os instrumentos utilizados foram um questionário e uma lista de checagem.
O questionário utilizado baseou-se no livro de Daniels & Price (2000), “A Essência do Eneagrama”, cujo teste identifica o tipo de personalidade eneagramática do participante e é aceito por muitos como o “Teste Essencial do Eneagrama”. Esse teste é baseado em frases que dizem respeito ao seu modo de agir, seu comportamento diante das situações que surgem em nossa vida.
A lista de checagem é de autoria dos próprios autores sendo desenvolvida para a observação dos alunos durante as aulas de Dança de Salão no sentido de relacionar os comportamentos apresentados por alguns alunos com seus tipos de personalidades. A construção da lista de checagem se baseou na literatura apresentada sobre os tipos de personalidade e também sobre diversos testes psicológicos relacionados à personalidade. Através disso pode-se supor algumas características do comportamento do tipo psicológico dentro da aula de dança de salão.
Essa lista auxiliou na observação dos alunos durante as aulas e teve como objetivo identificar se o comportamento dos indivíduos observados durante o processo de aprendizado da Dança de Salão era semelhante ao do tipo de personalidade eneagramática apresentado.
Procedimentos
Inicialmente foi feito um levantamento bibliográfico sobre o tema, estudando as características do comportamento de cada tipo eneagramático (de personalidade) dentro da aula de dança de salão. Com base nestes estudos foi desenvolvida uma lista de características de comportamento dos diversos tipos de personalidades eneagramáticas que poderiam ser apresentadas pelos alunos durante o aprendizado da dança de salão.
O primeiro passo da pesquisa ocorreu com o início das aulas de dança de salão, e os 42 alunos responderam ao questionário para identificar seu tipo psicológico de acordo com o Eneagrama. Esse questionário foi aplicado logo no início da aula, com a presença de todos os alunos participantes do curso.
O segundo momento constou de um processo de observação e análise do comportamento individual de alunos participantes da pesquisa. Seis alunos foram aleatoriamente escolhidos para serem observados durante as aulas, desde a entrada na sala até sua saída (praticando os passos, observando no momento de demonstração dos passos, descansando, conversando, enfim todo momento era passível de observação).
A observação foi feita durante as aulas de Dança de Salão que ocorreram uma vez por semana durante o período de 3 meses. Os participantes foram observados individualmente durante 4 aulas de 1:30 h de duração cada, totalizando 6 horas de observação para cada aluno.
Resultados e discussões
Ao analisar quantitativamente os dados obtidos através do questionário, para saber a quantidade de alunos apresentados em relação a cada tipo psicológico, chegou-se aos seguintes resultados:
Tabela 1. Número de alunos relacionados aos tipos psicológicos
Com base na análise dos dados obtidos podemos entender que o tipo 9 por sua característica de se relacionar bem com qualquer indivíduo, tende a apreciar as aulas de dança de salão, já que esta é considerada uma atividade prazerosa, onde os praticantes buscam além de seu bem estar físico, se relacionar com outras pessoas (VOLP, 1994).
Pode-se notar também que o tipo 7 (19%) e o tipo 8 (14,3%) se destacam como resultados, isso se deve as características dos alunos do tipo 7, com seu caráter extrovertido e brincalhão, que se encaixa muito bem com diversos ritmos ensinados nas aulas de dança de salão. O tipo 8 possui uma característica de extrema importância para esse tipo de atividade, que é o comando. Tipos 8 são exímios condutores, tomam a dianteira da situação e se tratando da dança de salão, os cavalheiros do tipo 8 apresentam uma tendência a serem claros em suas conduções durante os passos. Já no caso de damas tipo 8 apresentam grande dificuldade em se deixarem conduzir, característica primária e extremamente necessária de uma boa dama que deve ser leve e esperar a condução do cavalheiro. (SILVESTER, 1990; DEUTSCH, 1997; VOLP, 1994).
Outra variável observada foi quanto ao gênero. Observando os resultados quanto aos tipos eneagramáticos constatou-se o seguinte resultado:
Tabela 2. Número de pessoas do sexo masculino e feminino e seus tipos psicológicos
Ao analisarmos a tabela 2, quanto ao gênero na dança de salão e o tipo de personalidade, a uniformidade é grande entre os tipos 2, 3, 4 e 5, sendo distribuídos de maneira parecida entre homens e mulheres.
Assim como discutido anteriormente os tipos 7, 8 e 9 são relacionados a um número maior de indivíduos, neste caso os tipos 7 (23,1%) e 8 (19,2%) com predominância feminina, e o tipo 9 (42,9%) com predominância masculina. Esta é uma característica bem peculiar e que deve ser aproveitada para este curso de dança de salão. Damas de tipo 8 assim como citam diversos autores como Rohr & Ebert (2005); Riso & Hudson (1999); Horsley (2006); Daniels & Price (2000); Palmer (1993) e Paterhan (2006) seguem uma tendência de controle e dominação que não será muito apreciado por seus respectivos parceiros que poderão até se sentir intimidados por não conseguirem conduzi-las durante a dança, somado a isto temos o fato de que existe um grande número de cavalheiros do tipo 9 cuja característica é de evitar conflitos e ter uma grande dificuldade em se impor e dizer “não”, damas 8 autoritárias e dominantes tendo como par um cavalheiro paciente e, que até certo ponto, esquece de si próprio farão com que os papéis dos dançarinos se invertam, resultando em uma dama que conduz e um cavalheiro que espera a condução. Porém essas são as características que reunidas permitem que os casais se entendam e continuem dançando juntos.
Esses conflitos gerados pelo tipo de personalidade de cada indivíduo podem ser quebrados com simples comandos. Silvester (1990) e Ried (2003) colocam diversas regras de etiqueta e comportamento para um baile ou local onde se pratica a dança de salão, essas noções devem ser abordadas e sempre que possível reafirmadas durante as aulas, simples frases como “a dama deve ser leve e flexível para esperar e sentir a condução do cavalheiro” ou “cavalheiros de frente para o espelho” forçando as damas a não seguirem sua percepção visual, até mesmo exercícios como troca de papéis, damas se tornando cavalheiros e cavalheiros se tornando damas, serão de grande ajuda para o cavalheiro compreender melhor como é ser conduzido e a dama poder entender de quem é o papel da condução.
O segundo segmento de análise da pesquisa foi feito através de uma descrição dos resultados obtidos através da observação dirigida pela lista de checagem.
Da amostra total de 42 participantes, apenas seis participantes foram observados, e os resultados foram os seguintes para cada participante:
Tabela 3. Resultados quanto aos tipos psicológicos
nas situações de resposta ao questionário e na observação
O segundo segmento analisado é o de estudo do comportamento do aluno dentro da aula de dança de salão relacionado ao seu tipo de personalidade segundo o Eneagrama. Foi utilizada uma lista de checagem, montada pelo próprio autor, para verificar as ações do aluno em aula. Os resultados mostram que três dos seis participantes observados demonstraram ter o mesmo comportamento que seu tipo de personalidade “eneagramático” identificou anteriormente pelo questionário, ou seja, metade da amostra analisada confirmou seu tipo, mesmo sendo avaliada por outra pessoa e outro instrumento.
Por outro lado outros três participantes demonstraram estar em um tipo diferente do que indicado pelo questionário assinalado no início da pesquisa e serão comentados individualmente.
O participante AN teve sua personalidade “eneagramática” identificada pelo questionário como tipo 9, porém suas ações, seu comportamento e sua postura durante as aulas de dança de salão demonstraram características diferentes mais relacionadas ao tipo 1 como a busca da perfeição e excelência nos passos e um espírito de competição com outros pares, esperando saber qual par seria o que melhor executaria os passos desenhados pelo professor. Como dito por Palmer (1993) e Paterhan (2006) o indivíduo tipificado tem juntamente com suas características principais, algumas outras características de suas asas. Neste caso específico a asa predominante no participante AN, que é de tipo 9, é a asa do tipo 1, que em determinadas situações, sejam elas de controle ou estresse reage com sua personalidade e rege seu comportamento, levando assim um sujeito que tem como princípios ser paciente e positivista, a ter alguns comportamentos repetitivos, nervosos e exibitórios.
Essa mesma tendência em relação à asa pode ser notada no participante FE que foi identificado como tipo 5 pelo questionário aplicado no início da pesquisa e que por determinados comportamentos foi considerado tipo 6 pela lista de checagem. Suas ações como pensar muito na dança e se esquecer de executar os passos imaginados, também o fato de ser muito inseguro no momento da dança e de apresentar atitudes pessimistas como a desistência o levam a ser considerado tipo 6.
O participante SA apresenta características diferentes dos demais observados, ele foi identificado como pertencente ao tipo 5 de personalidade eneagramática, porém com base na lista de checagem sua personalidade foi determinada como pertencente ao tipo 8. Riso & Hudson (1999), Horsley (2006) e Paterhan (2006) citam que uma das características do Eneagrama é suas setas que representam a Lei do Três e a Lei do Sete, ambas as leis tem o caráter de indicar o “movimento” interno do Eneagrama de personalidades. Como já foi demonstrado o tipo 5 quando em uma situação de estresse tende ao sentido da seta, passando a ter características do tipo 7, porém o mesmo tipo 5 quando em um estado de controle ou não-estresse pode passar a ter algumas características do tipo 8 como por exemplo autoritarismo e controle em excesso, caso deste participante observado, que identificado como tipo 5 demonstrou características e comportamento de tipo 8.
Conclusões
Podemos concluir que grande parte dos alunos que buscam a dança de salão são pessoas pertencentes ao grupo que possui o centro sexual mais desenvolvido, sendo que o tipo 9 é o que mais se apresenta seguido do tipo 8 e depois o tipo 7.
Em relação ao gênero pode-se concluir que existe um número maior de damas tipo 7 e tipo 8, já no tipo 9 a predominância fica a par dos cavalheiros. Esta é uma característica que pode levar algum estranhamento a parceria, já que damas tipo 8 são autoritárias e de difícil condução durante a dança e cavalheiros tipo 9 tendem a aceitar comandos a fim de evitar conflitos.
Na observação e análise do comportamento dos diferentes tipos existentes dentro da aula de dança de salão podemos chegar à conclusão que, o tipo psicológico do participante, identificado pelo questionário no início da pesquisa, é confirmado com a análise do comportamento, no entanto algumas pessoas podem apresentar características de outros tipos durante as aulas de dança de salão. Isso poderá ocorrer quando o indivíduo considerar que as aulas o colocarão em uma situação de estresse ou de controle, fazendo com que sua personalidade se altere juntamente com seu comportamento.
Conhecendo e sabendo utilizar essa técnica de análise de tipos de personalidade, é possível ao professor, neste caso, de danças de salão, conhecer e se basear nas características de seus alunos para obter um melhor rendimento em suas aulas.
O professor pode ainda ser um agente facilitador no processo de autoconhecimento, sendo que além de poder colaborar para o desenvolvimento de seus alunos no campo técnico da dança de salão pode também atuar simultaneamente com o autodesenvolvimento dos mesmos.
Referências bibliográficas
BASSOI, V. Eneagrama: as Nove Faces da Alma. Disponível em: http://somostodosum.ig.com.br/clube/artigos.asp?id=01231. acesso em: 20 de agosto de 2009.
DANIELS, D. N.; PRICE, V.A. A Essência do Eneagrama. São Paulo: Pensamento, 2000.
DEUTSCH, S. Música e Dança de Salão: Interferências da Audição e da Dança nos Estados de Ânimo. 1997. Tese (Doutorado) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997.
FONTES, E. C. Dança de Salão: Relacionamentos e Conflitos. 2007. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Licenciatura em Educação Física) – Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2008.
GRAZIANO FILHO, R. Oscar Ichazo – Eneagrama. Disponível em: http://www.xamanismo.com.br/Consciencia/SubConsciencia1235412601It006. Acesso em: 22 de agosto de 2009.
HAAS, A. N. LEAL, I. F. O Significado da Dança na Terceira Idade. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano, Passo Fundo, 64-71 - jan./jun. 2006.
HORSLEY, M. O Eneagrama do Espírito. São Paulo: Pensamento, 2006.
PALMER, H. O Eneagrama: compreendendo-se a si mesmo a aos outros em sua vida. 2° ed. São Paulo: Paulinas, 1993.
PATERHAN, K. Eneagrama: um caminho para seu sucesso individual e profissional. São Paulo, Madras, 2006.
RIED, B. Fundamentos da Dança de Salão: programa internacional de dança de salão; dança de salão internacional. Londrina: Midiograf, 2003.
RISO, D. R.; HUDSON, R. A Sabedoria do Eneagrama. Cultrix:São Paulo, 1999.
ROCHA, M. D; ALMEIDA, C. M. Dança de Salão, Instrumento para Qualidade de Vida. Movimento & Percepção. Espírito Santo do Pinhal, São Paulo. v. 7, n. 10, jan/jun. 2007.
ROHR, R. EBERT, A. O Eneagrama as Nove Faces da Alma. Petrópolis: Vozes, 12 ed. 2005.
SILVESTER, V. Modern ballroom dancing. London: Stanley Paul, 1990.
VOLP, C.M. Vivenciando a Dança de Salão na Escola. 1994. Tese (Doutorado) – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1994.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista
Digital · Año 17 · N° 172 | Buenos Aires,
Septiembre de 2012 |