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A construção da disciplina Educação Física 

ao longo da história no ambiente escolar

La construcción de la disciplina Educación Física a lo largo de la historia en el ámbito escolar

 

Mestre en Ciencias de la Educación Física, el Deporte y la Recreación

Facultad de Cultura Física de Matanzas, Cuba

André Magalhães Queiroz

andrmqueiroz@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A Educação Física embora quase sempre questionada no ambiente escolar por parte de muitos gestores da educação sempre esteve presente e atuante, como comprovam seus registros históricos. Essa disciplina marcada por uma luta interna vem ao longo dos tempos sendo estruturada por distintos pesquisadores no entanto, ainda requer de maiores reflexões para melhor delineamento de suas funções e reais possibilidades na escola e na sociedade.

          Unitermos: História. Educação Física. Escola.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 172, Septiembre de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A história da humanidade sempre foi marcada pela relação da escola com outras instituições sociais, igreja, família, o estado e as fábricas. Esta relação nem sempre se deu de forma pacífica em razão da interferência da linguagem escolar na construção da sociedade, momentos estes que podemos compreender o fato de ser “letrado” se caracterizava como elemento de distinção social. Em razão desta possibilidade de transformação social e cultural a escola sempre esteve atrelada a tais instituições determinando a escola como ponto de partida para a ordem de organização da sociedade, neste período a escola entra como forma de combater outras formas de transmissão e produção cultural.

Educação Física ao longo da história do Brasil

    No Brasil durante 210 anos os Jesuítas exerceram o monopólio da educação na Colônia. Durante este período o Governo português não interveio nem se preocupou com o ensino. Até que em 1759 os jesuítas foram “expulsos” do país neste momento a educação exercida por eles atingia menos de 0,1% dos habitantes do Brasil (Marcílio, 2005). Nesta etapa a educação brasileira era destina a formação dos quadros da igreja e da elite. A cultura humanista que pendurava, permaneceu nos quadros das escolas Brasileiras até o inicio do séc. XX. Enquanto isso, outro modelo de educação surgiu, a “instrução popular”, seja sob o impulso da Reforma e do Iluminismo, junto com o capitalismo nascente (na Alemanha, Inglaterra e América do Norte) (Oliveira, 2004). Em meio a este conflito de idéias era mantida, na ausência de boas escolas a educação doméstica onde, nas famílias mais ricas, a contratação de preceptores. Segundo Marcílio (2005) “Os mestres de escola sempre ganhavam salário de fome; bastava saber suficientemente ler e escrever, com noções de cálculos, para dar aulas; o professor sabia só um pouco mais que o aluno.”

    Várias reformas foram implementadas com o intuito de promover mudanças que pudessem efetivamente estruturar os objetivos e a função social da escola Brasileira. Os modelos adotados sempre vieram de países ditos “civilizados” na época. Segundo Souza (2000) diferentes temas da organização e estruturação escolar tornaram-se objeto da reflexão política e pedagógica: métodos de ensino, a ampliação dos programas com a inclusão de novas disciplinas, livros e manuais didáticos, a classificação dos alunos, a distribuição dos conteúdos e do emprego do tempo, a formação de professores, a disciplina escolar. Merece destaque a reforma implementada pelo Dr. Rui Barbosa, A reforma do ensino primário, no final do séc. XIX. A esse respeito, Rui segue mais uma vez as idéias pedagógicas predominantes na época, isto é, a ampliação do programa escolar justificada pelo princípio da educação integral: educação física, intelectual e moral.

    A expressão Educação Física foi criada aproximadamente no séc. XVIII onde buscava evidenciar sua contribuição na formação, na construção corporal e moral dos indivíduos do período. A sua criação foi fortemente influenciada e porque não dizer direcionado pelas instituições médica e militar, participando ativamente de projetos de assepsia social em busca de corpos fortes e vigorosos. Tem suas raízes na Europa de fins do século XVIII e início do século XIX. A instituição militar colaborou a prática de exercícios sistematizados que foram ressignificados no plano civil pelo conhecimento médico. Com a criação dos chamados Sistemas Nacionais de Ensino, a Ginástica, nome primeiro dado à Educação Física, teve lugar como conteúdo escolar obrigatório apresentando-se neste momento de uma forma bem abrangente naquilo se refere a conteúdos e finalidades. (Soares, 1996). Embora fosse um movimento de grande abrangência nem sempre apresentava relação com os propósitos da instituição escolar na qual estava inserido, problema que enfrentamos até os dias atuais e talvez seja a grande justificativa deste trabalho. Segundo Vago (1995) a educação física sempre esteve vinculada a ensinar a preparação para o mundo do trabalho quanto a preparação para o mundo da escola.

    Sua introdução nas escolas européias se deu através da ginástica sendo reconhecida depois como componente curricular de caráter obrigatório, porém com papéis ideológicos muito bem definidos para homens e mulheres. Segundo Soares (2007) com a consolidação dos ideais da revolução Burguesa na Europa a educação física passou a se ocupar de um corpo (a)histórico, indeterminado, um corpo anatomofisiológico, meticulosamente estudado e cientificamente explicado.

    Sua chegada no Brasil se deu no início do século XX com a chegada da missão militar francesa. Neste período de sua história a educação física brasileira era conduzida por “instrutores” seguindo o modelo europeu. O perfil destes instrutores era de formação em escolas militares mantendo nas escolas o perfil de condução das seções de ginástica desenvolvidas nas escolas de guerra. Apresentou-se no início como responsável por formar hábitos higiênicos na população do período onde nosso país passava por um processo de adequação aos padrões mundiais que o permitiria participar do crescimento econômico mundial gerado a partir da revolução industrial vinda da Europa. A influência médica se mostrou fortíssima nesta etapa deixando marcas na atuação profissional até os dias atuais. Neste momento histórico era papel da educação física preparar o corpo das crianças, futuros adultos para aderirem como mão de obra qualificada no mundo do trabalho. Educar o corpo para a produção significava promover saúde e educação para a saúde (hábitos saudáveis e higiênicos) e essa virilidade foi também ressignificada numa perspectiva nacionalista e patriótica. Hitler na Alemanha, Mussolini na Itália, Getúlio Vargas no Brasil. Notava-se claramente que a obediência aos superiores precisava ser vivenciada corporalmente para ser conseguida; é algo mais do plano do sensível do que do intelectual. (Bracht, 1999).

    Chegada as décadas de 60 e 70 com a tomada do governo pelos militares a educação física se prende aos esportes e a mecanização de movimentos motores, sendo isto parte do processo de controle dos militares do período. O esporte passa a cumprir o mesmo papel que lhe foi designado a partir de sua criação na Inglaterra, uma forma de controle social utilizando-se principalmente da questão atrativa do movimento para impor a obediência sistemática às regras nele pré – determinadas, não cabendo nenhuma forma de questionamento. A educação física escolar passa a ser sistematicamente balizada pelo parâmetro da aptidão física (Castellani Filho, 1997). Assim, o Esporte, acompanhado pela pedagogia tecnicista que vigorava na época, encontrara um campo fértil na escola, mesmo nas séries iniciais do ensino fundamental (KUNZ, 2001).

    No final da década de 70 e inicio da de 80 passa a ocorrer uma significação do pensamento pedagógico e neste momento ela se vê obrigada a resgatar toda parte social que ela havia negado ao longo de sua história, críticas propostas denunciavam o papel conservador do sistema educacional até este momento, uma vez que este, através de vários mecanismos (ideológicos, de exclusão etc.), contribuía, não para a transformação da realidade social, e sim, para a sua reprodução nos modelos vigentes, porém este resgate lhe custou todo um conteúdo, toda uma prática, ela perde sua especificidade, que veio a gerar uma enorme lacuna na relação professor - aluno - escola. Neste momento a psicomotricidade passa a encontrar seu espaço na educação física brasileira, estávamos inseridos verdadeiramente nas tarefas da escola. As aulas eram neste momento envolvidas em um universo teórico e metodológico.

    Com a estruturação dos currículos atuais imperam a cientificidade curricular onde disciplinas como Artes, Formação Moral e Cívica e Educação Física não se enquadraram neste formato passando a ocupar um local de exclusão dentro da estrutura escolar. Qualquer questionamento sobre a sua real contribuição dentro dos currículos e esta perda de espaço deve-se, sobretudo a prática dos profissionais envolvidos e a carência de embasamento teórico que envolve estes profissionais.

    Percebe-se claramente a devida cobrança de toda sociedade e da mídia pela busca de hábitos mais saudáveis de vida. É inegável a contribuição da educação física na formação de hábitos que possam contribuir sensivelmente na sua promoção da saúde. O esporte, a ginástica, a dança, as práticas de aptidão física apresentam-se, cada vez mais como produtos de consumo, sendo muitas apenas como imagens, e os objetos de conhecimento e informação são amplamente divulgados. Jornais, revistas, rádio e televisão difundem idéias sobre práticas de movimento, sendo muitas destas produções dirigidas ao público adolescente. Este processo de formação se dá na tentativa de reverter a elevada incidência de distúrbios orgânicos relacionados a estilos de vida hipocinéticos cabendo a escola enquanto local de formação junto a família e construção de hábitos e conhecimentos saudáveis que poderiam e deveriam permitir sua ampla utilização do movimento. Além dos benefícios imediatos atribuídos a realização de esforços físicos adequados na infância e na adolescência, evidências apontam que as experiências positivas associadas à prática de atividades físicas vivenciadas nessas idades se caracterizam como importantes atributos no desenvolvimento de atitudes, habilidades e hábitos que podem auxiliar futuramente na adoção de um estilo de vida ativo fisicamente na idade adulta.

    A partir dos estudos de Guedes & Guedes (1997) parece ser unanimidade entre as diferentes propostas de programas a serem adotados nas escolas, deve-se ao pleno atendimento de duas metas prioritárias: a) promover experiências motoras que possam repercutir de forma positiva na direção da maior promoção do estado de saúde, procurando afastar ao máximo a possibilidade de aparecimento dos fatores de risco que contribuem para o surgimento de eventuais distúrbios orgânicos; e b) levar os educandos a assumirem atitudes positivas em relação a prática de atividades físicas para que se tornem ativos fisicamente não apenas na infância e na adolescência, mas também na idade adulta.

    Devido ao compartilhamento da cultura do movimento seja como prática ativa seja como informação surge uma nova valorização de tal conteúdo. Tal valorização social das práticas corporais de movimento legitima o aparecimento da investigação científica e filosófica em torno do exercício, da atividade física ou do homem em movimento. Inicialmente restrito ao domínio da Fisiologia do Exercício, área da Medicina, esse campo de pesquisa está presente hoje em muitas áreas científicas, como História, Psicologia e Sociologia, além da Filosofia.

    Essa situação gera um questionamento da atual prática pedagógica da Educação Física escolar por parte dos próprios alunos que, não vendo mais significado na disciplina, desinteressam-se e forçam situações de dispensa. Contudo, valorizam muito as práticas corporais realizadas fora da escola. O processo de ver o esporte torna-se talvez mais interessante que o fazer o esporte. O fenômeno é mais agudo no Ensino Médio, no qual, desconsiderando as mudanças psicossociais por que passam os adolescentes, a Educação Física preserva um modelo pedagógico concebido para o Ensino Fundamental.

    Os papéis determinados a disciplina educação física são amplos, porém nem sempre tem alcançado êxito na sua finalização ao público alvo: o aluno. Localizada em uma escola que tem como base o modelo científico a educação física nunca foi capaz de afirmar seu verdadeiro valor na formação das crianças e jovens embora nunca tenha deixado de cumprir o seu papel, sendo prioritariamente necessária sua legitimação por parte dos profissionais envolvidos. Segundo Vago (1995); A escola deveria se apresentar como um espaço que favoreça o acesso ao conhecimento, a discussão das relações humanas a partir da vivência da corporeidade.

    Enquanto componente curricular a educação física deve assumir o papel de formação com o intuito de introduzir e integrar o aluno a cultura do movimento, possibilitando usufruir de maneira consciente, critica, sendo capaz de posicionar-se e visualizar seu corpo como parte de uma cultura que foi construída ao longo da história da humanidade passando por diferentes etapas e sendo visto, julgado, manipulado em todos estes períodos. Fazer ampla utilização dos aspectos filosóficos, sociológicos, antropológicos, fisiológicos, biomecânicos, psíquicos.Cabe ao professor enquanto formador de cultura compreender sua correta participação e contribuição na construção de um modelo corporal que seja verdadeiramente integrado e que este corpo possa usufruir do seu meio ambiente de forma ampla e acima de tudo saudável. Segundo Betti (1992) “A integração que possibilitará o usufruto da cultura corporal de movimento há de ser plena – é afetiva, social, cognitiva e motora. Vale dizer, é a integração de sua personalidade”.

    É papel do professor privilegiar a incorporação de princípios que venham a favorecer não somente os momentos das aulas mas que propicie um crescimento e desenvolvimento motor pleno possibilitando desta forma ativar os interesses dos alunos, valorizando seus avanços estando estes ou não em um padrão de movimento culturalmente pré- estabelecidos; desafiar o pensamento oportunizando sua plena participação em ações táticas e decisões do grupo permitindo desta forma sua inserção no coletivo evidenciando e se necessário questionando sua contribuição nas decisões tomadas deixando claro as possibilidades de acerto mas identificando e permitindo acima de tudo o erro desta forma aguçando sua auto-estima, sua confiança em ações e decisões sempre respeitando o posicionamento dos colegas instalando o entusiasmo e a confiança na participação individual ou em grupo.

    A linguagem corporal apresenta-se como uma das principais formas de comunicação junto com a linguagem, a escrita deveria se apresentar como um dos pilares da formação escolar. No entanto o que se percebe é uma grande lacuna nesta discussão e forma de pensamento entre diretores, pedagogos e por incrível que possa parecer entre os professores de Educação Física das escolas.

A importância da didática

    Em busca de um conceito do seu atual momento pode-se dizer que, a escola caracteriza-se como parte integrante de um sistema de instrução e ensino com propósitos intencionais, práticas sistematizadas e alto grau de organização, ligado intimamente as demais partes de formação social, como a Igreja, as associações comunitárias e de classe. Pela educação escolar democratizam-se os conhecimentos, sendo na escola que os membros da sociedade continuam tendo a oportunidade de prover escolarização formal aos seus filhos, adquirindo conhecimentos científicos e formando capacidades de pensar criticamente os problemas e desafios postos pela realidade social. As práticas escolares são cercadas de metodologias que em razão do avanço nas pesquisas tem se tornado cada vez mais específicos em cada disciplina. Atrelado as metodologias disciplinares, as ciências humanas fornecem um vasto amparo com conteúdos como a sociologia, a filosofia e a didática que tornam o espaço escolar mais democrático e acessível a distintos indivíduos assim como seus hábitos culturais.

    A didática é caracterizada segundo Luguetti et al (2011) como uma disciplina técnica e que tem como objeto de estudo e pesquisa a técnica de ensino (direção técnica da aprendizagem) em todos os aspectos práticos e operacionais. A didática no ambiente escolar se encarrega de oferecer o correto tratamento do processo de ensino, da maneira como ele ocorrerá, e a fundamentação da Metodologia do Ensino, envolvendo desde o planejamento à avaliação da prática pedagógica. De acordo com Betti et al (2007) a didática deve buscar direcionar a interação educativa, atentando para as relações sociais, em especial a comunicação humana. Os autores abordam que um dos problemas da Didática da Educação Física escolar é o fato de estar voltado para uma abordagem técnica, afastando-se muitos momentos de uma reflexão sobre os pressupostos do método didático, da dimensão do processo de ensino-aprendizagem e das diferentes abordagens da prática pedagógica. Bracht e Caparroz (2007) refletem que o papel do professor em sua atuação ao dizer que não se deve aplicar a teoria na prática, mas sim (re)construir (reinventar) sua prática com referência em ações/experiências e em reflexões/teorias. A apropriação das teorias pedagógicas é fundamental para sua utilização em práticas de forma autônoma e crítica, e não em modelos ditos ideais, em receitas universais, em verdades “absolutas”, mas reconhecer que o conhecimento no campo da Educação Física escolar é uma construção humana, histórica e cultural. Esta compreensão ajuda na reflexão da ação pedagógica onde o professor deve se reconhecer como peça fundamental da produção do conhecimento escolar. Daolio (2003) ressalta que os profissionais formados por volta de 1980 tinham como formação a predominância de conhecimentos voltados para a área biológica, discussões sobre os valores socioculturais do movimento humano não eram debatidos. O corpo não era visto como elemento da cultura, a única concepção do esporte era a do alto rendimento, a Educação Física não tinha o caráter cultural.

    Conhecer esse passado e suas marcas é fundamental para aqueles que buscam modificações no seu presente através de uma releitura das críticas feitas a este momento. A tarefa de mudar a prática cotidiana parece sempre nos colocar mais obstáculos do que se poderia prever, mas para mudarmos nosso futuro ou simplesmente questionarmos por análises o nosso presente é necessário que conheçamos o nosso passado. Recorrendo a Frei Leonardo Boff “cada um lê com os olhos que tem e interpreta a partir de onde seus pés pisam.” De acordo com a análise de alguns estudiosos que se destacam no meio acadêmico, esse papel encontra raízes em práticas profissionais/pedagógicas acríticas e/ou tecnicistas, marcadas segundo eles pela pouca reflexão e embasamento teórico (Bracht, 1986; Castellani Filho, 1991; Medina, 1983).

Considerações finais

    As contribuições deste trabalho vai além das quadras, busca a profundidade e a importância da comunicação humana através do gesto motor que se mostra presente desde o nascimento até a terceira idade. Compreender a importância e a contribuição do professor de educação física enquanto um agente escolar no pleno desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e prioritariamente motor faz-se de extrema importância uma utilização plena do movimento em todas suas vertentes desde o esporte, amplamente utilizado, porém nem sempre de formas verdadeiramente formativas, passando pelos jogos, recreação, a dança e atividades psicomotoras.

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