A alimentação e sua relação com as doenças crônicas La alimentación y su relación con las enfermedades crónicas no transmisibles en personas mayores Nutrition and its relationship with chronic diseases in the elderly |
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*Docente do Curso de Nutrição da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, URI. Campus de Frederico Westphalen; Latu Senso em Saúde Pública pela Universidade Regional do Noroeste do estado do Rio Grande do Sul, UNIJUI Mestranda do Mestrado de Envelhecimento Humano da Universidade de Passo Fundo, UPF, RS **Acadêmica do curso de graduação em Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo, UPF, RS ***Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo, UPF, RS Doutora em Gerontologia, PUC, RS ****Docente do Curso de Nutrição da URI. Campus de Frederico Westphalen, RS Mestre em Engenharia de Alimentos (URI- Campus Erechim) |
Dionara Simoni Hermes Volkweis* Aline Morás Borges** Lia Mara Wibelinger*** Thaís da Luz Fontoura Pinheiro**** (Brasil) |
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Resumo Este estudo teve como objetivo realizar revisão bibliográfica sobre o envelhecimento humano, a alimentação e a ocorrência das DCNT em idosos, tais como HAS, DM e cardiopatias. Verificou-se que com o envelhecimento ocorre um predomínio de morbidade por doenças crônicas sendo estas as responsáveis pelas principais causas de morte entre idosos. Em relação à HAS, estudos epidemiológicos demonstram que a prevalência é bastante elevada, cerca de 65%. Os principais fatores associados à maior ocorrência do DM no Brasil foram a obesidade, o envelhecimento populacional e história familiar. A incidência de cardiopatias, na idade de 70 anos, é de 15% nos homens e 9% nas mulheres. A alimentação tem papel determinante e bem estabelecido nas DCNT e como sendo um dos fatores modificáveis mais importantes para o aumento de risco destas patologias, a alimentação deve ser incluída entre as ações prioritárias de saúde pública. Unitermos: Idoso. Doença. Alimentação.
Abstract This study aimed to review the literature on human aging, diet and the occurrence of DCNT in the elderly, such as diabetes mellitus, hypertension and heart diseases. It was found that with aging there is a predominance of chronic disease morbidity and these were responsible for leading causes of death among the elderly. In relation to hypertension, epidemiological studies indicate that the prevalence is high, about 65%. The main factors associated with higher incidence of diabetes in Brazil were obesity, aging and family history. The incidence of heart disease at the age of 70 years is 15% in men and 9% in women. The role and power is well established in the DCNT and as one of the most important modifiable factors for the increased risk of these diseases, food should be included among the priority actions for public health. Keywords: Aged. Disease. Feeding.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 172, Septiembre de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O aumento da perspectiva de vida dos idosos vem proporcionando o surgimento de novas formas de cuidados e assim ampliando a adoção de medidas eficazes na redução e no retardo de distúrbios orgânicos associados a enfermidades crônicas. Visto isto, é notável a importância de novos cuidados, como uma alimentação correta, pois quando a mesma é inadequada pode influenciar negativamente na longevidade do ser humano, na manutenção da saúde e também na qualidade de vida1.
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são responsáveis por 60% das mortes e incapacidade em todo o mundo e poderão alcançar a cifra de 73% de todos os óbitos em 20202. Na maioria dos países em desenvolvimento, doenças como diabetes mellitus (DM), hipertensão arterial sistêmica (HAS), doenças cardiovasculares e câncer, principalmente, vêm se constituindo como risco para a saúde dos idosos3,4.
Nesse aspecto, é importante destacar que a identificação das DCNT deve ser feita precocemente, sendo possível por meio da avaliação nutricional, considerando-se as características de cada idoso5. A alimentação e nutrição exercem papel primordial na prevenção e recuperação de doenças, manutenção e promoção da saúde, cuja importância é demonstrada pela relação consistente entre o tipo de dieta e o surgimento de DCNT, comprovada por estudos científicos6.
Com base nestes aspectos, o presente estudo teve como objetivo realizar uma revisão bibliográfica sobre o envelhecimento humano, a ocorrência das DCNT em idosos e a relação da alimentação com o surgimento da HAS, DM e cardiopatias.
Conceito e epidemiologia do envelhecimento
Envelhecer é um processo contínuo, progressivo e comum a todos os seres vivos. É atribuído a vários fatores e o mais aceito é a existência de um número máximo, finito e imutável de replicações celulares em quase todos os tecidos, o que limita sua renovação ou mesmo a sua cicatrização quando necessária1.
A epidemiologia do envelhecimento é uma área emergente com estudos nos fatores determinantes da longevidade e das transições demográficas e epidemiológicas; nas investigações da etiologia das doenças e na avaliação de serviços de saúde. Com o envelhecimento ocorre um predomínio de morbidade e mortalidade por doenças crônicas, que muitas vezes levam a redução da capacidade funcional e à dependência1.
O número de pessoas com idade de 60 anos ou mais aumenta gradativamente, a expectativa de vida média está aumentando regularmente e espera-se que a média de idade no ano de 2020 seja em torno de 73 anos, tanto para homens como mulheres. No Brasil o envelhecimento de sua população tem sido gradual e constante, a população idosa é a de maior crescimento no país, constituindo a sexta maior população idosa do mundo7.
Doenças crônicas não transmissíveis em idosos
As DCNT geralmente são incuráveis e de origem não contagiosa, caracterizadas por um longo período de latência, curso prolongado, provocando incapacitação e com alguns fatores de risco bem conhecidos. A maioria delas é associada ou causada por uma combinação de fatores sociais, culturais, ambientais e comportamentais. Apesar de não oferecerem risco de vida imediato, causam sobrecarga substancial para a saúde, provocam impacto econômico e deterioram a qualidade de vida das pessoas, famílias e comunidade8.
Especialmente nos países ocidentais, vem crescendo o número de idosos que sofrem de condições crônicas e verifica-se que as DCNT são responsáveis pelas principais causas de morte neste grupo etário9.
A partir de dados internacionais, as DCNT foram responsáveis por aproximadamente 60% do total de 56 milhões de doenças e 47% da mortalidade registrada no mundo em 2001. Diante disso, calcula-se que estas possam se tornar a causa de três quartos de todas as mortes previstas para o ano de 202010.
No ano de 2003, 30% da população brasileira declarou ter pelo menos uma DCNT. A proporção destas doenças aumenta com a idade: 75,5% entre os idosos em contraste com 9,3% na faixa etária de 0 a 14 anos, sendo que as DCNT mais prevalentes são a hipertensão arterial, diabetes, e as cardiopatias11.
Hipertensão Arterial Sistêmica
A prevalência de HAS é maior quanto à faixa etária, sendo causada pela redução da complacência dos grandes vasos, enrijecimento das artérias e diminuição da elasticidade entre outros aspectos fisiopatológicos que comprometem uma boa função cardíaca. Mais da metade da população de idosos é hipertensa constituindo um dos problemas de saúde de maior prevalência na atualidade, sendo que este fenômeno não é considerado apenas uma consequência normal do envelhecimento12.
Estima-se que a HAS atinja aproximadamente 22% da população brasileira acima de vinte anos, sendo responsável por 80% dos casos de acidente cérebro vascular, 60% dos casos de infarto agudo do miocárdio e 40% das aposentadorias precoces, além de significar um custo de 475 milhões de reais gastos com 1,1 milhão de internações por ano13. No Brasil, estudos epidemiológicos realizados demonstram que a prevalência de HAS entre idosos é bastante elevada, cerca de 65%, sendo que entre as mulheres com mais de 75 anos a sua prevalência pode chegar a 80%11.
Diabetes Mellitus
Com o aumento da expectativa de vida da população, verifica-se maior prevalência do DM entre os idosos14. Em geral, o diagnóstico do DM tipo 2 dificilmente é feito antes das complicações crônicas aparecerem e aproximadamente um terço dos indivíduos com esta doença pode não ser diagnosticados15. Estudos realizados no Brasil evidenciaram que entre os sujeitos de 30 a 39 anos de idade a prevalência da referida doença é de 1,7%, aumentando nas outras faixas até atingir 17,3% entre aqueles com 60 a 69 anos de idade16.
No Brasil, as cidades das regiões sul e sudeste, consideradas de maior desenvolvimento econômico do país, apresentam maiores prevalências de DM e de tolerância à glicose diminuída, tendo como principais fatores associados a obesidade, o envelhecimento populacional e história familiar da doença17.
Cardiopatias
Na senescência o sistema cardiovascular sofre alterações, tais como arteriosclerose, diminuição da distensibilidade da aorta e das grandes artérias, comprometimento da condução cardíaca e redução na função barorreceptora7. As estatísticas mostram que a maior causa de mortalidade e morbidade é a doença cardiovascular, sendo a causa de 70 a 80% de mortes, tanto em homens como em mulheres. A insuficiência cardíaca congestiva é a causa mais comum de internação hospitalar, de morbidade e mortalidade na população idosa. Ao contrário da doença coronariana, a insuficiência cardíaca congestiva continua aumentando18.
Ao se avaliar o idoso quanto ao predomínio das DCNT se destaca a doença coronariana. A incidência de cardiopatia isquêmica, na idade de 70 anos, é de 15% nos homens e 9% nas mulheres. Com diagnóstico clínico, a doença coronariana aumenta para 20% tanto no homem quanto na mulher7.
Dieta e a relação com doenças crônicas não transmissíveis
No processo de envelhecimento a importância da alimentação é comprovada por estudos epidemiológicos, clínicos e de intervenção, que têm demonstrado ligação consistente entre o tipo de dieta e o surgimento DCNT, incluindo as doenças cardíacas coronarianas, DM e HAS6.
O reconhecimento de que a modificação dos hábitos de vida, com a prevenção do aparecimento dos fatores de risco e o tratamento adequado de desvios da normalidade quando estabelecidos (obesidade, dislipidemias, dentre outros), modificam a história evolutiva desses agravos19.
Dietas com elevado índice glicêmico têm sido sugeridas como possível fator desencadeante da obesidade, considerada fator de risco convincente no desenvolvimento de diversas DCNT20.
Hipertensão Arterial Sistêmica
O excesso de consumo de sódio contribui para a ocorrência de HAS. A relação entre o aumento da pressão arterial e avanço da idade é maior em populações com alta ingestão de sal. Povos que consomem reduzido conteúdo deste têm menor prevalência de hipertensão e a pressão arterial não se eleva com a idade21.
O excesso de massa corporal é um fator predisponente para a hipertensão, podendo ser responsável por 20% a 30% dos casos de HAS; 75% dos homens e 65% das mulheres apresentam hipertensão diretamente atribuível a sobrepeso e obesidade. Apesar do ganho de peso estar fortemente associado com o aumento da pressão arterial, nem todos os indivíduos obesos tornam-se hipertensos11.
Estudos observacionais mostraram que ganho de peso e aumento da circunferência da cintura são índices prognósticos importantes de HAS, sendo a obesidade central um importante indicador de risco cardiovascular aumentado. Há evidências que a obesidade apresenta maior correlação com o aumento dos níveis pressóricos do que com a adiposidade central. Indivíduos com nível de pressão arterial ótimo, que ao correr do tempo apresentam obesidade central, tem maior incidência de hipertensão11.
Diabetes Mellitus
Pesquisas científicas sugerem que uma dieta rica em cereais integrais e vegetais e pobre em cereais refinados e sacarose, possa exercer um papel protetor para o DM. Um efeito benéfico na gênese de distúrbios do metabolismo da glicose parece estar relacionado ao maior consumo de laticínios e quanto à frutose. Evidências sugerem uma relação de risco para o diabetes e doenças associadas, indicando a necessidade de recomendações do consumo moderado de alimentos com elevadas concentrações de frutose, tais como frutas passas e sucos de frutas22.
Fontes alimentares distintas de fibras e índice glicêmico consumidas por indivíduos com diversificada susceptibilidade genética, peso corporal e resistência à insulina podem influenciar a resposta metabólica individual, fato que pode explicar em parte os controversos resultados dos estudos epidemiológicos disponíveis, enfatizando a necessidade de maior número de estudos prospectivos para a elucidação das relações entre o consumo alimentar e risco para diabetes14.
Uma importante medida de prevenção do DM e controle metabólico consiste no controle glicêmico tornando a quantidade e qualidade dos carboidratos um importante fator dietético envolvido neste mecanismo17. Dietas hipercalóricas e hiperlipídicas, principalmente ricas em gorduras saturadas e trans, pobres em carboidratos complexos e fibras, proporcionam também resistência à insulina e, consequentemente, aumento do risco para desenvolvimento do DM23.
Cardiopatias
Estudos epidemiológicos têm sugerido que dentre os fatores de risco para doenças cardiovasculares estão alguns hábitos relacionados ao estilo de vida, como dieta rica em energia, gorduras saturadas, colesterol e sal24.
Em geral, os estudos de população, cada vez mais evidentes, têm revelado associação negativa entre a ingestão de ácidos graxos monoinsaturados (MUFA) e poliinsaturados (PUFA) e a incidência de cardiopatias, bem como uma associação com efeitos benéficos nas concentrações de LDL e HDL-colesterol. Estudos clínicos têm recomendado o aumento dos MUFAs e PUFAs na dieta para os indivíduos em geral, e principalmente aqueles com doença crônica23.
Vários estudos observaram que uma ingestão relativamente alta de gordura saturada é um significante contribuinte para a alta incidência de doenças coronarianas24. A hipercolesterolemia é a causa direta da aterosclerose, enquanto a hipergliceridemia é vista como um marcador para o aumento do risco de doenças arteriocoronarianas20.
Considerações finais
O aumento do contingente de idosos e a maior vulnerabilidade desta população em apresentar DCNT impõem a necessidade de rediscutir a atenção à saúde. Estudos assinalam que para consolidar mudanças nos hábitos de vida, as intervenções educativas devem ser intensas e constantes para que algum resultado possa ser observado.
Foi possível verificar que a contribuição genética para algumas DCNT é relativamente baixa. Este fato demonstra que fatores ambientais, como estilo de vida e dieta, desempenham papel fundamental. Além disso, o conhecimento das doenças associadas proporciona, cada vez mais, a elaboração de instrumentos clínicos para o benefício das pessoas idosas.
A alimentação tem papel determinante e bem estabelecido nas DCNT e como sendo um dos fatores modificáveis mais importantes para o aumento de risco destas patologias, ações educativas no sentido de melhorar a qualidade alimentar devem ser incluídas entre as ações prioritárias de saúde pública.
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