O efeito do treino da visão periférica no ataque de iniciados do futsal: uma análise sobre os estudos de uma dissertação El efecto del entrenamiento de la visión periférica en el ataque en la iniciación al futsal: un análisis sobre los estudios de una tesis The effect of the peripheral vision training on the attack of beginner of the indoor soccer: an analysis about the studies of a dissertation |
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*Mestre em Ciência da Motricidade Humana pela UCB do RJ **Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro ***Universidade Castelo Branco do RJ ****In memoriam 29/05/1939 a 19/12/2008 (Brasil) |
Nelson Kautzner Marques Junior* Walter Jacinto Nunes** Manoel José Gomes Tubino*** **** Vernon Furtado da Silva*** |
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Resumo O objetivo da revisão foi analisar os estudos da dissertação de Marques Junior (2008b) sobre o treino da visão periférica. Durante a revisão foi identificada as limitações dos estudos sobre o treino da visão periférica para a metodologia dos futuros artigos possuírem mais precisão. Em conclusão, uma revisão sobre o treino da visão periférica é importante porque esse tema é escasso na literatura do futsal. Unitermos: Visão. Treinamento. Aprendizado. Desempenho esportivo.
Abstract The objective of the review was analyses the studies of the dissertation of Marques Junior (2008b) about the peripheral vision training. During the review was to determine the limitation of the studies about peripheral vision training for the methodology of the futures article has more precision. In conclusion, the review about peripheral vision training is important because this theme is insufficient in futsal literature. Keywords: Vision. Training. Learning. Athletic performance.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 171, Agosto de 2012. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
Ensinar o atleta do futebol a jogar de cabeça erguida para ter ênfase na visão periférica começou nos anos 50 pelo técnico do Canto do Rio Football Club1. Posteriormente essa sessão migrou para o futsal. Em 1999, Pinto e Araújo2 denominaram o treino que educa o atleta do futebol e dos seus derivados a jogar de cabeça erguida de treino da visão periférica. Atualmente a literatura do futsal considera fundamental o atleta saber jogar de cabeça erguida porque o esportista observa com a visão periférica todo o contexto da partida quando está com a bola e facilita na execução da jogada3,4. Entretanto, apesar das referências indicarem a importância de se jogar de cabeças erguida, somente a dissertação de Marques Junior5 investigou esse tema.
Trabalho que originou vários estudos6,7, sendo interessante análise das suas pesquisas para identificar acertos, falhas e futuras direções das investigações. Consultando Corrêa8, a pesquisa da aprendizagem motora merece ser realizada conforme as “tarefas do mundo real”, ou seja, estão de acordo com a realidade de um esporte. Outro quesito que merece atenção é a hemisfericidade9, o atleta de hemisfério esquerdo de processamento mental é hábil nas tarefas analíticas e o esportista de hemisfério direito de processamento mental possui mais facilidade nas atividades motrizes10. Todas essas recomendações (“tarefas do mundo real” e hemisfericidade) foram realizadas na dissertação de Marques Junior5, parecendo que essa investigação não teve nenhuma limitação. Então, o objetivo da revisão foi analisar os estudos da dissertação de Marques Junior5 sobre o treino da visão periférica.
Análise dos estudos de uma dissertação
A análise sobre diversas pesquisas de um mesmo tema merece um estudo minucioso. O artigo que investigou sobre o aprendizado do treino da visão periférica11 é o mais importante porque a literatura do futsal12,13 até a data presente não possui nada sobre esse assunto. Inclusive foi traduzido para o espanhol14 a pedido do editor de um periódico.
Para ensinar o treino da visão periférica a amostra foi dividida conforme a qualidade de jogo do futsal e também foi equilibrada a hemisfericidade dos jovens, sendo identificada através do teste de CLEM, de acordo com os ensinamentos de Da Silva et alii15.
O grupo experimental (GE) foi composto por 5 jogadores, sendo que um era o goleiro (10±2,82 anos). A hemisfericidade era constituída por 4 jogadores de hemisfério esquerdo de processamento mental (1 era o goleiro) e 1 com hemisfério direito de processamento mental. Enquanto que o grupo controle (GC) foi formado por 5 esportistas, mas tinha 3 futebolistas de salão de hemisfério esquerdo de processamento mental (1 era o goleiro) e 2 de hemisfério direito (10,8±1,92 anos). O GE e o GC também foram divididos com similar dados antropométricos e físicos. Porém, a investigação não mensurou a idade biológica dos participantes, podendo comprometer alguns resultados da pesquisa16. Teste fácil de detectar vendo os pêlos das axilas dos jogadores17. Entretanto, quando os atletas possuem similar tempo esportivo, o caso da amostra desse artigo, a idade biológica não interfere na pesquisa, resultado já evidenciado na literatura18,19.
As sessões do treino da visão periférica aconteceram duas vezes na semana por 1 hora, sendo organizadas através da periodização tática adaptada indicada por Marques Junior20. A tabela 1 resume como aconteceu o treinamento:
Tabela 1. Periodização tática adaptada do treino da visão periférica
A tabela 2 mostra a estatística descritiva do grau da cabeça erguida e baixa no ataque do GE e do GC.
Tabela 2. Média e desvio padrão do grau da cabeça baixa e erguida no ataque.
Os resultados do estudo identificaram através de Anova two way (2 grupos x 3 turnos) e de Tukey, diferença significativa (p≤0,05) do GE em relação ao GC no 1º e 2º turno no início ofensivo, na construção e desenvolvimento ofensivo e na finalização. Mostrando que o GE jogou de cabeça erguida, acontecendo aquisição dessa habilidade motora. Contudo, quando foi dado o mesmo estímulo ao GC no 3º turno, esses resultados não apresentaram diferença significativa (p>0,05) em relação ao GE. Portanto, o GC com 10 sessões jogou de cabeça erguida.
Entretanto, o estudo apresentou algumas limitações, não realizou um teste de retenção21, ou seja, o GE e o GC deveriam ficar alguns dias sem fazer o treino da visão periférica para averiguar se realmente o GE e o GC aprenderam jogar de cabeça erguida no 3º turno. Outro problema da investigação é não possuir equipamentos que determinem para onde o atleta está olhando22, logo afirmar que jogar de cabeça erguida faz uso da visão periférica torna-se muito conclusivo.
Consultando Cunha et alii23, somente a partir de 30 dias um pessoa começa obter significativa conexões de neurônios referente a uma habilidade motora, o estudo foi em 25 dias, deveria ser de no mínimo 3 meses. Então, após cada mês o ideal era ocorrer um campeonato em dupla. Talvez seja essa a causa, pouco tempo de treino, o decréscimo do GE em jogar de cabeça erguida durante o 2º turno. Entretanto, o GC fez 10 sessões do treino da visão periférica e conseguiu jogar de cabeça erguida no 3º turno, mas na finalização atuou de cabeça baixa. Portanto, provavelmente foi uma breve duração da sessão.
Apesar dessas limitações, a partir desse estudo foi possível averiguar se jogar de cabeça erguida é eficaz no ataque. Marques Junior24 identificou por scout que o treino da visão periférica permite reduzir o número de ações do ataque do GE e do GC no 3º turno. No futsal, menos ações ofensivas é vantajoso porque resulta em mais gols25. O leitor pode notar na figura 1, que no 2º turno o GE praticou menos ações no ataque após ter feito 15 sessões do treino da visão periférica (Obs.: No 2º turno o GE foi 1º e 2º colocado) e os resultados foram similares no 3º turno. O mesmo achado aconteceu com o GC, após 10 sessões do treino da visão periférica essa amostra efetuou menos ações no ataque (Obs.: No 3º turno o GC foi 1º e 3º lugar).
Figura 1. Média da quantidade de ações no ataque em cada turno
A Anova three way (2 grupos x 3 turnos x 8 ações durante o ataque) não foi significativa na maioria das comparações (p>0,05), mas foi significativa para ações F (6,81) = 5,02, p = 0,001, interação entre grupo e turno F (2,81) = 3,44, p = 0,03 e interação entre turno e ações F (3,81) = 3,02, p = 0,001.
A interação significativa entre grupo e turno o teste “t” independente determinou diferença entre o GE e o GC, os resultados foram os seguintes: GE (2º turno) x GC (2º turno) (t (30) = 2,62, p = 0,001), o GE foi melhor do que o GC, sendo evidenciado nos resultados do campeonato, ou seja, menos ações ofensivas melhor performance.
A interação significativa entre turno e ações, o teste “t” independente determinou diferença entre o GE e o GC, nos seguintes resultados: GE (3 ações no 2º turno) x GC (2 ações no 2º turno) (t (6) = 5,19, p = 0,001), GE (3 ações no 2º turno) x GC (3 ações no 2º turno) (t (6) = 5,23, p = 0,001), GE (3 ações no 2º turno) x GC (4 ações no 2º turno) (t (6) = 5, p = 0,001), o GE foi melhor do que o GC, mas em outros resultados o GC foi superior ao GE, GE (3 ações no 3º turno) x GC (2 ações no 3º turno) (t (6) = - 3,94, p = 0,001) e GE (4 ações no 3º turno) x GC (2 ações no 3º turno) (t (6) = - 6,02, p = 0,001). Portanto, pode-se observar que a menor quantidade de ações no ataque do GE no 2º turno (1º e 2º lugar) e do GC no 3º turno (1º e 3º lugar) propiciou os melhores resultados para essas duas amostras.
Através desses resultados conclui-se que parece que o treino da visão periférica causou um menor número de ações no ataque, porém não se pode afirmar porque não foi mensurada a qualidade defensiva. Essa limitação é comum nos estudos sobre a análise do jogo, geralmente só é mensurado quem está com a bola26. Outro problema dessa investigação, é que aconteceu num jogo de futsal adaptado, em dupla, merecendo pesquisa se o treino da visão periférica reduz as ações no ataque durante uma partida oficial.
Foi evidenciado através de scout os gols de cada turno do GE e do GC (Obs.: Parte dos resultados desse estudo, o 1º e o 2º turno, foram apresentados na dissertação de Marques Junior5). A figura 2 mostra que a média de gols do GE foi superior ao do GC no 2º turno, momento que essa amostra fez 15 sessões do treino da visão periférica e praticou menos ações no ataque (Ler os parágrafos anteriores). Em contra partida, o GC efetuou mais gols no 3º turno quando realizou o treino da visão periférica e fez menos ações no ataque.
Figura 2. Média de gols do GE e do GC em cada turno
A Anova two way (2 grupos x 3 turnos) não foi significativa na maioria da comparações (p>0,05), mas foi significativa na interação entre grupo e turno F (2,18) = 3,71, p = 0,04. A interação significativa entre grupo e turno, o teste “t” independente identificou diferença entre o GE e o GC, sendo relevante para esse estudo o seguinte resultado: o GE foi melhor do que o GC no 2º turno, t (6) = 3,65, p = 0,01.
Continuando o estudo anterior, Marques Junior e Da Silva27 verificaram por scout a zona dos gols do futsal. Esses autores identificaram que o treino da visão periférica não permite que o GE faça mais gols perto da meta do que o GC. Os resultados ao longo dos turnos e de todo o campeonato foram similares. Na comparação entre os turnos, Anova three way (2 turnos x 3 turnos x 6 zonas) não foi significativa na maioria das comparações (p>0,05), somente foi significativa na comparação entre as zonas da quadra, F (4,54) = 19,44, p = 0,001.
Tukey HSD detectou diferença significativa (p≤0,05) da média de gols da zona 2 (perto do gol), quando comparado com as demais (zona 3, 5, 6 e 8). Esses resultados foram contrários ao da literatura28,29, uma melhor qualidade visual permite ao atleta fazer mais gols. Entretanto, a zona 2 e 5 foi onde aconteceu mais gols, estando de acordo com as referências dessa modalidade25,30,31. A figura 3 mostra as zonas do futsal e a figura 4 expõe os gols em cada turno do GE e do GC.
Figura 3. Zona dos gols do estudo, em azul e com realce em amarelo a zona 5 e 2, onde aconteceu mais gols
Figura 4. Média de gols das zonas em cada turno
Em todo o campeonato, o GE e o GC tiveram resultados similares, porém, quando o teste “t” independente comparou a zona 5 do GE versus do GC, aconteceu diferença significativa (t (6) = 3,22, p = 0,05), talvez o treino da visão periférica causou um incremento para o GE. A figura 5 apresenta a média de gols por zona de todo o campeonato.
Figura 5. Média da zona de gols de todo o campeonato
Os dois estudos sobre gols apresentaram limitações, não foi mensurado a qualidade da defesa e do goleiro, também não identificou a qualidade da tomada de decisão dos jogadores, outro problema, não foi detectada a visão do atleta durante o chute. Por esse motivo a pesquisa ficou sem explicação sobre os resultados parecidos do GE e do GC em relação aos gols.
Marques Junior5 também pesquisou por scout a qualidade ofensiva do GE e do GC, mas só foi o 1º e o 2º turno. Na figura 6 e 7, é possível observar uma superioridade do grau do início ofensivo e da construção e desenvolvimento ofensivo do GE em relação ao GC. Essa diferença foi mais acentuada no 2º turno, quando o GE experimental fez a final do campeonato. Esses achados estiveram de acordo com a literatura20,32,33, uma excelente qualidade visual proporciona em melhores jogadas de ataque. Porém, o GC conseguiu um melhor desempenho no grau da finalização do 1º turno, talvez isso seja o motivo do título do 1º turno dessa amostra. Entretanto, no 2º turno, o GE conseguiu o seu melhor grau da finalização, um dos motivos que essa amostra obteve supremacia nesta disputa (1º e 2º lugar). Em contrapartida, no 2º turno, o GC teve a sua pior média na finalização. A figura 6 e 7, ilustra essas explicações:
Figura 6. Média das fases ofensivas do 1º turno
Figura 7. Média das fases ofensivas do 2º turno
A Anova two way (2 grupos x 2 turnos) no início ofensivo determinou diferença significativa apenas para grupo F (1,207) = 21,15, p = 0,001. Na construção e desenvolvimento ofensivo, a Anova two way (2 grupos x 2 turnos) detectou diferença significativa apenas para o grupo F (1,303) = 11,43, p = 0,001. Enquanto que na finalização, a Anova two way (2 grupos x 2 turnos) identificou diferença significativa para a interação entre grupo e turno F (1,174) = 7,50, p = 0,001. Essa interação foi investigada pelo teste “t” independente, as análises mostraram diferença significativa apenas em uma comparação do grau da finalização do 2° turno do GC versus o 2° turno do GE, t (98) = - 2,98, p = 0,004.
Os dados a seguir não foram publicados na dissertação e em nenhum artigo. A coleta dos chutes sem gol foi praticada por scout que é apresentado a seguir:
Tabela 3. Scout para determinar a quantidade de chute sem gol.
Jogo: ……………….…….. ( ) classificatória ( ) 3º lugar ( ) 1º lugar
Turno: …………
A estatística descritiva da quantidade de chute sem gol é mostrada na tabela 4.
Tabela 4. Média e desvio padrão de chute sem gol de cada turno
O leitor observou na tabela 4 que o acontecimento dos turnos ocasionou diminuição dos erros, porém, não ocorreu o que era esperado, no 1º e no 2º turno achava-se que o GE por realizar o treino da visão periférica cometeria menos erro do que o GC. Mas os resultados foram similares entre o GE e o GC, a Anova two way (2 grupos x 3 turnos) não foi significativa na execução do chute sem gol para grupo F (1,18) = 0,02, p = 0,87, turno F (2,18) = 0,46, p = 0,63 e para a interação entre grupo e turno F (2,18) = 0,00, p = 0,99. A figura 8 ilustra o chute sem gol durante o ataque de cada turno.
Figura 8. Média de chute sem gol em cada turno
O teste “t” independente não foi significativo para o chute sem gol de todo o campeonato, entre o GE (chute sem gol = 5,50±4,33) versus o GC (chute sem gol = 5,25±2,76), t (22) = 0,16, p = 0,86. A figura 9 expõe o chute sem gol durante o ataque de todo o campeonato.
Figura 9. Média de chute sem gol de todo o campeonato
Prosseguindo o tema chute sem gol, sendo publicada uma parte no artigo de Marques Junior, Garcia e Da Silva34, foi investigado as zonas do chute sem gol do GE e do GC. A coleta de dados foi efetuada pelo scout a seguir:
Evento da Filmagem:................................ Jogo:.....................................
Atividade:............ Tentativa:............ Dupla no Ataque:...................
Figura 10. Scout para identificar a zona do chute sem gol
Os resultados da estatística descritiva sobre a zona do chute sem gol são apresentados na tabela 5.
Tabela 5. Zona do chute sem gol conforme o turno
A Anova three way (2 grupos x 3 turnos x 6 zonas) não revelou diferença significativa para grupo F (1,63) = 1,21, p = 0,27, para turno F (2,63) = 0,19, p = 0,82 e nas interações entre grupo e turno F (2,63) = 1,17, p = 0,31, grupo e zona F (3,63) = 0,79, p = 0,50, turno e zona F (5,63) = 0,68, p = 0,63, e grupo, turno e zona F (2,63) = 2,19, p = 0,12. No entanto, foi encontrada diferença significativa nas comparações entre as zonas do chute sem gol, F (5,63) = 3,96, p = 0,001. As comparações específicas entre as zonas foram realizadas por Tukey HSD, que detectou apenas diferença significativa (p≤0,05) da média da zona 5 do chute sem gol em relação à zona 3, 6, 8 e 9. Na zona 5 aconteceram muito mais erros de chute. O GE e o GC realizaram mais chute sem gol na zona 2 e 5, apresentando resultados similares. A figura 11 ilustra a média da zona do chute sem gol do GE e do GC.
Figura 11. Média das zonas do chute sem gol de cada turno do GE e do GC
A tabela 6 mostra a estatística descritiva da zona do chute sem gol de todo o campeonato do GE e do GC.
Tabela 6. Zona do chute sem gol de todo o campeonato
A tabela 7 apresenta os resultados do teste “t” independente das comparações da zona do chute sem gol de todo o campeonato entre o GE e o GC.
Tabela 7. Resultados do teste “t” independente
As comparações entre o GE versus o GC, o teste “t” independente detectou que a zona 5 do chute sem gol em todo o campeonato foi a de mais erro, depois foi a zona 2. O GE e o GC obtiveram resultados parecidos em todo o campeonato. A figura 12 apresenta a média da zona do chute sem gol de toda a disputa entre o GE e o GC.
Figura 12. Média da zona do chute sem gol de todo o campeonato do GE e do GC
Os resultados sobre chute sem gol mostraram que o GE e o GC obtiveram resultados similares, então, o treino da visão periférica não causou uma redução no erro. Logo, não foi possível identificar o motivo porque não foi aferida a qualidade biomecânica do chute35, uma análise do jogar dos zagueiros e do goleiro36, a visão dos esportistas durante o chute37, a qualidade da tomada de decisão dos jogadores38 e o conhecimento tático dos atletas39. Também foram identificadas outras variáveis que podem interferir nos resultados do chute, gerando em erro, os jovens do futsal jogaram descalço e muitos tinham pouca vivência competitiva, podendo ficar nervosos durante a disputa (Obs.: O nervosismo dos meninos durante as partidas foi identificado na filmagem, porém o estudo não mensurou). Para uma próxima pesquisa indica-se o ensino do treino do olho imóvel, onde o atleta fixa a visão num alvo e faz o remate, gerando em mais acertos40.
Marques Junior5 identificou na sua dissertação, durante o 1º e o 2º turno, as três seqüência ofensivas mais praticadas pelo GE e pelo GC. O GE efetuou mais a saída do meio campo no início ofensivo (IO) seguido da condução da bola na construção e desenvolvimento ofensivo (CDO) e terminando com chute (finalização - F), a outra seqüência do ataque foi composta pela saída do meio campo (IO) seguido da bola rola sem ser tocada (CDO) e acabando com chute (F) e a terceira mais praticada foi composta pela saída do meio campo (IO) e imediatamente com chute (F).
Enquanto que o GC efetuou mais vezes as mesmas seqüência ofensivas que o GE. As ações foram: saída do meio campo (IO) seguido da bola rola sem ser tocada (CDO) e terminando com chute (F), saída do meio campo (IO) depois com a condução da bola (CDO) e chute (F), a outra seqüência no ataque muito praticada através da saída do meio campo (IO) e imediatamente com chute (F). Estes dados quantitativos mostraram uma semelhança na seqüência ofensiva do GE e do GC. A figura 13 apresenta a seqüência ofensiva do GE e a figura 14 do GC.
Figura 13. Seqüência ofensiva do GE
Figura 14. Seqüência ofensiva do GC
Como a literatura do futsal é escassa4, não foi possível confrontar os dados da seqüência ofensiva. Porém, pode-se observar que a seqüência ofensiva mais pratica pelo GE e pelo GC foi similar, embora o GE tenha feito muito mais a saída do meio-campo seguido de condução da bola e terminando a ação com o chute. Talvez essa maior prática de ataque esteja relacionada com o treino da visão periférica, como o campeonato foi em dupla e em meia quadra, é necessário acontecer poucas ações para o ataque ser eficaz.
Os fundamentos mais praticados pelo GE e pelo GC não foram publicados. A coleta de dados aconteceu nos três turnos pelo scout apresentado a seguir:
Quadro 1. Scout para quantificar os fundamentos do ataque do GE ou do GC.
A tabela 8 mostra a estatística descritiva dos fundamentos do GE e do GC de todo o campeonato.
Tabela 8. Média e desvio padrão dos fundamentos do ataque de todo o campeonato
A figura 15 e 16 expõe a média dos fundamentos mais praticados nos três turnos pelo GE e pelo GC.
Figura 15. Média dos fundamentos do GE
Figura 16. Média dos fundamentos do GC
O GE praticou 25 sessões do treino da visão periférica, talvez o maior uso da condução da bola (9±2,37) e do chute (10±2,13) estão relacionados com a ênfase na visão espacial durante o jogo de futsal adaptado porque os atletas dão a saída do meio-campo e realizam essa seqüência de fundamentos. A maior prática desses fundamentos talvez sofra influência da área de disputa, menor do que a oficial. Observando o estudo de Amaral e Garganta30, o drible foi o fundamento mais utilizado, sendo diferente dessa pesquisa. Outras referências mostraram que o drible e o chute são mais realizados no ataque31,37. Então, o drible é a ação mais praticada no início ofensivo e no desenvolvimento do ataque, atividade diferente do GE desse estudo, que preferiu a condução da bola. Enquanto que o GC preferiu utilizar mais o passe (8,92±2,53) e o chute (10,25±0,86), talvez pelo fato de jogar de cabeça baixa o 1º e o 2º turno tenha resultado no maior uso desses fundamentos.
Os resultados do campeonato em dupla foram muito próximos entre o GE e o GC, somando a pontuação dos jogadores da linha, o GE venceu a disputa com 17,5 pontos e o GC ficou em segundo com 17 pontos. O 1º lugar a dupla ou o goleiro ganhava 5 pontos, o 2º lugar era atribuído 3 pontos, o 3º lugar a dupla obtinha 2 pontos e o 4º lugar e último, os jogadores conseguiam 1,5 pontos. Os resultados de cada turno foram os seguintes:
Os resultados após o 1º turno estiveram conforme o mencionado pelas referências de hemisfericidade10,42, atletas com hemisfério direito de processamento são melhores para atividades motrizes, logo, foi evidenciado que, a dupla campeã e vice do 1º turno, tinha hemisfério direito. O treino da visão periférica não causou um incremento na colocação do campeonato, ou seja, as duplas favoritas por causa da hemisfericidade fizeram a final da disputa.
O 2º turno o treino da visão periférica causou um diferencial para o GE em relação ao GC nas colocações do campeonato em dupla, 1º e 2º lugar. Isso foi evidenciado nos estudos, ou seja, menor quantidade de ações no ataque24, melhor qualidade ofensiva5 e mais gols.
A colocação do 3º turno teve um significativo efeito do treino da visão periférica porque o GC B foi último no 1º e no 2º turno, após 10 sessões do treino da visão periférica essa amostra obteve a vitória no campeonato frente ao GE B, um dos favoritos do campeonato. A disputa do 3º lugar o GC conseguiu vencer, mostrando a eficácia do treino da visão periférica. Isso foi evidenciado nos estudos, ou seja, menor quantidade de ações no ataque24 e mais gols efetuados.
A tabela 9 expõe um resumo de toda pontuação do campeonato.
Tabela 9. Pontuação total e colocação do GE e do GC
O resultado final do campeonato esteve relacionado com a hemisfericidade, ou seja, o hemisfério direito de processamento mental obteve melhor colocação e praticou mais gols. A figura 17 destaca esse ocorrido.
Figura 17. Colocação, gols e hemisfericidade de cada dupla da linha
Quase todos os estudos da dissertação tiveram limitação, exceto a investigação quantidade de gol, chute sem gol e fundamentos praticados que são dados quantitativos, a análise foi por scout, podendo comprometer muito o resultado da investigação43. Embora a literatura internacional faça uso desse equipamento para análise do jogo44,45. O ideal para uma próxima pesquisa é utilizar vídeo computador para os achados serem mais precisos26.
Outro problema de todos os estudos da dissertação foi o tratamento estatístico, inicialmente o autor deveria verificar a normalidade dos dados através de Shapiro-Wilk (n = 50) ou por Kolmogorov-Smirnof (n = 51 ou mais)46. Em caso de dados normais, deveria utilizar a estatística paramétrica, mas para dados não normais, aplicaria a estatística não paramétrica.
Muitos resultados dos artigos da dissertação ficaram sem resposta porque não foi utilizado o equipamento que determina para onde o atleta está olhando, merecendo no próximo estudo o uso da mesma instrumentação de alguns autores renomados da visão no esporte47-49.
Consultando diversos artigos de análise do jogo dos professores da Universidade do Porto50-52, pode-se identificar que os estudos da dissertação não realizaram a confiabilidade da observação, tornando os resultados dessas obras menos precisos. As pesquisas que deveriam ser praticadas a confiabilidade da observação são as seguintes: ensino do treino da visão periférica11, quantidade de ações no ataque24, zona dos gols27, qualidade ofensiva5 e zona sem gol. A confiabilidade da observação consiste do pesquisador efetuar a análise do jogo de no mínimo 10% do total da amostra53. Após a análise do jogo, deve-se dar uma pausa de 15 a 30 dias e realizar nova análise do jogo nas mesmas partidas estudadas anteriormente. Depois dessas duas análises do jogo, recomenda-se aplicar os valores na fórmula de Ballack (1966) indicada por Luciano54, sendo a seguinte:
A adequada análise do jogo possui resultados com porcentagem igual ou superior a 80%.
Através dessa revisão, o leitor conheceu os acertos e limitações dos artigos sobre o treino da visão periférica, merecendo que nós próximos estudos não aconteçam os problemas identificados nessa obra.
Conclusão
O artigo de revisão analisou todos os resultados da dissertação de Marques Junior5 que originaram em artigo ou não. Sendo extremamente importante para futuras publicações sobre o treino da visão periférica porque as próximas pesquisas serão norteadas por essa revisão. Em conclusão, uma revisão sobre o treino da visão periférica é de grande valia porque esse tema é escasso na literatura do futsal.
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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 171 | Buenos Aires,
Agosto de 2012 |