Características e nível de satisfação dos pacientes atendidos na clínica-escola de fisioterapia da Universidade Católica de Brasília Características y nivel de
satisfacción de los pacientes atendidos en la Features
and level of satisfaction of patients treated in physical therapy |
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*Graduada em Fisioterapia pela Universidade Católica de Brasília, DF **Mestre, docente do curso de Fisioterapia da Universidade Católica de Brasília, DF (Brasil) |
Jaqueline Bontempo Santos* Karina Andrade Bicalho* Maria Beatriz Silva e Borges** |
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Resumo A interação com o paciente visa identificar o que lhe satisfaz, bem como a humanização do cuidado com o indivíduo, levando em consideração sua opinião quanto à atenção recebida. A crise existente no Sistema Único de Saúde (SUS) tem levado a população a se sentir insatisfeita e insegura, o que pode justificar o fato de pacientes se submeterem a atendimentos que não sejam realizados por profissionais habilitados, como é o caso das clínicas-escolas. Objetivo: Avaliar as características dos pacientes atendidos na clínica-escola de Fisioterapia da Universidade Católica de Brasília (UCB), bem como a prevalência e o nível de satisfação apresentado pelos mesmos. Metodologia: Foi realizado um estudo retrospectivo a partir de informações contidas nos prontuários de 402 pacientes atendidos nos setores da clínica-escola de Fisioterapia da UCB, no período de agosto a setembro de 2010. Após esta etapa foi aplicado um questionário aos pacientes atendidos na clínica-escola nesse período; participaram voluntariamente 176 pacientes. Resultados: No setor de Neuropediatria houve maior número de atendimentos (29,4%); 80% apresentaram renda familiar de até três salários mínimos e 31,2% não concluíram o Ensino Médio, sendo 2,3% analfabetos. Quanto à satisfação, 47,7%indicaram como “excelente “o atendimento de uma forma geral; todos os pacientes responderam que indicariam a clínica para familiares e amigos. Conclusão: Os pacientes avaliados são, em sua maioria, aposentados residentes de Ceilândia e se mostraram satisfeitos com o atendimento oferecido pela clínica-escola de Fisioterapia da UCB. Unitermos: Prevalência. Satisfação do paciente. Perfil epidemiológico. Fisioterapia (especialidade).
Abstract: The interaction with the patient seeks to identify what he pleases, and the humanization of care for the individual, taking into consideration their views on the care received. The crisis in the National Health System (SUS) has led people to feel unhappy and insecure, which may explain the fact that patients undergo attendances that are not performed by qualified professionals, such as school clinics. Objective: To evaluate the characteristics of patients attending the school clinic of Physiotherapy at the Catholic University of Brasilia (UCB) and the prevalence and level of satisfaction shown by these patients. Methodology: A retrospective study was conducted based on information contained in the records of 402 patients treated in the sectors of the school clinic of Physiotherapy of UCB in the period from August to September 2010. Thereafter a questionnaire was administered to all patients served in the school clinic during this period; 176 patients participated voluntarily. Results: Had greater number of visits in the sector of Pediatric Neurology (29,4%); 80% had family incomes of up to three minimum wages;31,2% did not complete high school and 2,3% are illiterate. Regarding satisfaction, 47.7% indicated "excellent" satisfaction with the service in general; all patients responded that they would recommend the clinic to family and friends. Conclusion: The patients assessed are mostly retired residents in Ceilandia and feel satisfied with the service offered by the school clinic of Physiotherapy of UCB. Keywords : Prevalence. Patient satisfaction. Health profile. Physical therapy (Specialty).
Trabalho apresentado como requisito à obtenção do título Bacharel em Fisioterapia.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 171, Agosto de 2012. http://www.efdeportes.com |
Introdução1 / 1
A qualidade em saúde inclui a humanização do cuidado com o paciente. Trata-se de interagir melhor com o indivíduo a fim de identificar o que lhe satisfaz e os seus direitos como consumidor dos serviços de saúde, colocando em destaque sua opinião quanto à atenção recebida1-4. Inclui a organização do trabalho, a equipe e o paciente – e não somente o material. Essa visão reconhece as perspectivas do fornecedor e do paciente, valorizando a autonomia das pessoas de assumirem a sua própria saúde1.
A má qualidade dos atendimentos prestados nos serviços de saúde, característica da crise existente no Sistema Único de Saúde (SUS) tem levado a população a se sentir insatisfeita e insegura1. Essa situação, somada à realidade de que nem todos os cidadãos têm acesso aos cuidados básicos de saúde, podem justificar o fato de pacientes buscarem atendimentos que não sejam realizados por profissionais habilitados4. Esse é o caso das clínicas-escolas, que são unidades de apoio ao ensino e às atividades de extensão ofertadas pelas instituições de ensino superior, onde os acadêmicos atendem a população dentro das especialidades oferecidas pelas clínicas-escolas4.
Esse atendimento é realizado por alunos do último ano de graduação, sob a supervisão de professores graduados em Fisioterapia, que possuam, no mínimo, título de especialista, dependendo da instituição. Sendo assim, a relação paciente-terapeuta apresenta características especiais, pois os pacientes atendidos nas clínicas-escolas se submetem ao tratamento realizado por acadêmicos4.
A satisfação dos usuários vem sendo considerada cada vez mais importante para os serviços de saúde5, pois é vista como um indicador da qualidade da atenção oferecida4, sendo fundamental sua avaliação quando se busca melhorias em atendimento2. Avaliar a satisfação dos pacientes é, portanto, um passo necessário quando se objetiva alcançar a qualidade na atenção à saúde2.
A satisfação tem natureza multidimensional, isso significa que um indivíduo pode estar satisfeito com um ou mais aspectos de uma consulta ou sessão de tratamento e insatisfeito com outros4. A satisfação é ligada de forma sinérgica à qualidade técnica no que se refere ao sucesso do tratamento4, sendo considerado como principais fatores: a relação entre terapeuta-paciente, localização, acessibilidade, continuidade do atendimento e instalações6. Com isso, é possível identificar que pacientes insatisfeitos aderem menos ao tratamento oferecido4.
O contentamento de pacientes no âmbito da Fisioterapia ainda não é bem compreendido e há poucos estudos sobre essa temática, visto que, apenas recentemente, têm sido desenvolvidos instrumentos padronizados que avaliam o nível de satisfação desses indivíduos4. A Fisioterapia apresenta uma série de características que influenciam a satisfação do paciente, pois o tratamento é realizado de maneira contínua e, muitas vezes, de forma prolongada; além disso, a terapia pode causar incômodo e dor, sendo encarada como uma ameaça física4. Portanto, a interação do profissional com o paciente, que, na maioria das vezes, leva mais tempo do que uma consulta médica habitual somada à participação do paciente que é, geralmente, ativa4, 7,8, são fatores que podem alterar os índices de satisfação.
É escassa a literatura que visa analisar o perfil de pacientes atendidos em clínicas-escolas de Fisioterapia correlacionando-o com o grau de satisfação apresentado pela população assistida. Assim, o objetivo desse estudo consistiu em definir as características dos pacientes atendidos na clínica-escola de Fisioterapia da Universidade Católica de Brasília (UCB), bem como a prevalência e o nível de satisfação apresentado por estes pacientes.
Materiais e métodos
Estudo retrospectivo, realizado a partir de informações contidas nos prontuários de 402 pacientes atendidos na clínica-escola de Fisioterapia da UCB, no período de agosto a setembro de 2010, nos setores de Ortopedia, Neuropediatria, Uro-ginecologia e Obstetrícia, Diabetes, Neurologia Adulto e Amputados, dos turnos vespertino e matutino. Tendo sido concluída essa etapa, foi aplicado um questionário a população assistida nesse período, onde 176 indivíduos participaram voluntariamente.
Foram excluídos os pacientes que, durante o estudo, realizavam a primeira sessão de fisioterapia, assim como os atendidos nos setores de Saúde Pública, Hidroterapia e Geriatria, visto que esses setores estão instalados fora da clínica-escola: Areal, piscina terapêutica do Hospital da Universidade Católica de Brasília – HUCB e Lar Cecília Ferraz de Andrade (Casa do Vovô –603 L2 Norte) respectivamente.
Para avaliar as características dos pacientes em relação a sexo, idade, diagnóstico, procedência e ocupação, foi realizada a análise de dados disponíveis nos prontuários dos mesmos, descrevendo assim, o perfil desses indivíduos. O nível de satisfação, por sua vez, foi avaliado por meio da aplicação de questionário autoexplicativo desenvolvido por Mendonça e Guerra4,7, com validade e confiabilidade constatadas. O questionário é dividido em duas partes: a primeira consiste em 12 questões descritivas sobre idade, sexo, renda familiar, plano de saúde, como o paciente tomou conhecimento da clínica-escola, experiências prévias com fisioterapia, diagnóstico e tratamento fisioterapêutico atual. A segunda parte consiste em 23 questões sobre a satisfação do paciente com vários aspectos concernentes ao tratamento fisioterapêutico administrado. Dentre essas questões, 20 referem-se a quatro componentes: interação paciente-terapeuta, acesso e atendimento da recepção e do pessoal de apoio, conveniência e ambiente físico; uma questão sobre a satisfação geral do paciente e as duas últimas referentes a futuras intenções do paciente com relação à clínica-escola. Na segunda parte, as respostas são dadas numa escala intervalar, sendo pontuadas de 1 (péssimo) a 5 (excelente) 4.
Questionário sobre a satisfação dos pacientes com a Fisioterapia (Mendonça & Guerra, 2007)
PRIMEIRA PARTE (questões descritivas)
1. Idade__________ anos
2. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
3. Qual seu nível de escolaridade?
( ) 1º Grau incompleto ( ) 1º Grau completo ( ) 2º Grau incompleto
( ) 2º Grau completo ( ) Superior
4. Renda familiar ( em salários mínimos):
( ) 1 a 3 ( ) 4 a 6 ( ) 7 a 10 ( ) mais de 10
5. Qual é o seu plano de saúde?
( ) Unimed ( ) Hapvida ( ) Smile ( ) OAB ( ) Sul América ( ) Cassi
( ) Outro:_______________
6. Como você tomou conhecimento sobre esta clínica? Verifique todas as alternativas:
( ) Médico ( ) Catálogo do plano de saúde ( ) Amigo
( ) Paciente anterior ( ) Catálogo telefônico
( ) Outros, por favor indique ______________
7. Essa foi sua primeira experiência com a fisioterapia?
( ) Sim ( ) Não
8. Esta foi sua primeira experiência nesta clínica?
( ) Sim ( ) Não
9. Sexo do fisioterapeuta que lhe atende:
( ) Masculino ( ) Feminino ( ) Masc./ Fem.
10. Por favor indique a área da especialidade fisioterapêutica em que você recebe o tratamento:
( ) Ortopedia ( ) Neurologia infantil ( ) Uroginecologia / obstetrícia
( ) Diabetes ( ) Neurologia adulto ( ) Amputados
Outros:_____________________
11. Você sabe qual é o seu diagnóstico clínico?
( ) Não ( ) Sim
Qual?_______________________
12. Quantas sessões de Fisioterapia você já fez nessa clínica?
SEGUNDA PARTE (Questões objetivas com uso de legenda)
Por favor, avalie seu grau de satisfação com cada uma das seguintes afirmações:
1. Explicações oferecidas com clareza pelo fisioterapeuta sobre o seu tratamento no primeiro contato.
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
2. Segurança transmitida pelo fisioterapeuta durante o tratamento.
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
3. Esclarecimento de suas dúvidas pelo fisioterapeuta.
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
4. Gentileza do fisioterapeuta.
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
5. O respeito com que você é tratado pelo fisioterapeuta.
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
6. Privacidade respeitada durante sua sessão de fisioterapia.
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
7. Oportunidade dada pelo fisioterapeuta para expressar sua opinião.
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
8. Aprofundamento do fisioterapeuta na avaliação do seu problema
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
9. Gentileza dos outros membros da equipe
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
10. Gentileza e disponibilidade no atendimento da recepcionista.
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
11. Facilidade na marcação do seu primeiro atendimento após indicação e autorização.
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
12. Facilidade na marcação das sessões após o primeiro atendimento
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
13. Disponibilidade de horários convenientes para realização de seu tratamento.
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
14. Tempo de permanência na sala de espera após o horário de espera após o horário marcado.
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
15. Conveniência na localização da clínica pra você.
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
16. Disponibilidade do estacionamento pra você.
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
17. Conforto da sala de espera.
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
18. Conforto do ambiente onde você realiza a fisioterapia
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
19. Condições gerais de higiene da clínica
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
20. Facilidade para transitar dentro das instalações da clínica.
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
21. Satisfação geral da sua experiência com a fisioterapia.
( ) Péssimo ( ) Ruim ( ) Bom ( ) Ótimo ( ) Excelente
22. Você retornaria para esta clínica, se no futuro precisar de tratamento fisioterapêutico.
( ) Nunca ( ) Talvez ( ) Possivelmente ( ) Sim ( ) Com certeza.
23. Você recomendaria essa clínica para familiares e amigos.
( ) Nunca ( ) Talvez ( ) Possivelmente ( ) Sim ( ) Com certeza
Comentários e sugestões
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Questão modificada:
PRIMEIRA PARTE: questão 10
( ) Ortopedia ( ) Neurologia infantil ( ) Uroginecologia / obstetrícia
( )Diabetes ( ) Neurologia adulto ( ) Amputados
Os questionários foram respondidos na recepção da clínica-escola e/ou durante as reavaliações dos setores respectivos. Os pacientes foram orientados a perguntaras duas pesquisadoras caso necessitassem de esclarecimentos durante o preenchimento. Para isso, as pesquisadoras encontraram-se disponíveis para tais explicações e, ainda, para realizar a leitura do questionário aos pacientes analfabetos no preenchimento. No setor de Neuropediatria o questionário foi aplicado aos pais ou responsáveis legais.
O estudo foi realizado após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição (nº 123/2010) e todos os que participaram da pesquisa assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
Os dados foram analisados de forma qualitativa, por meio de uma análise estatística descritiva.
Resultados
Em relação à caracterização dos 402 pacientes atendidos, no período do estudo, observou-se que236 são do sexo feminino (58,7%) e 166 do sexo masculino (41,3%). A tabela 1 apresenta dados referentes à idade e a prevalência de atendimentos em cada setor. Observa-se que houve maior número de atendimentos no setor de Neuropediatria.
Tabela 1. Característica da População
Dentre as 68 ocupações descritas, os aposentados representam 16,7% dos prontuários avaliados. Quanto à procedência, 25,2% residem em Ceilândia, conforme pode ser visualizado na tabela 2.
Tabela 2. Ocupação e procedência dos pacientes
Com relação à prevalência das patologias em cada setor, a tabela 3 mostra as mais freqüentes.
Tabela 3. Prevalência das patologias por setor
Acerca do questionário aplicado aos 176 voluntários, a tabela 4 mostra os dados referentes à escolaridade e a renda familiar dos pacientes. Verificou-se que 75,6%apresentaram renda familiar de até três salários mínimos e 31,2% não completaram o Ensino Médio, sendo que 2,3% são analfabetos.
Tabela 4. Escolaridade e renda familiar dos pacientes entrevistados
A média de idade dos participantes é de 47,3 anos, sendo que 71,6% são do sexo feminino. Dentre esses indivíduos, 63,6% nunca haviam passado por tratamento fisioterapêutico anteriormente; 90,3% nunca tinham ido à clínica-escola antes e apenas 23,9% afirmaram possuir convênio médico. Verificou-se que metade desses informou estar sendo atendidos por fisioterapeutas do sexo feminino e 46,6% por fisioterapeutas de ambos os sexos; além disso, o diagnóstico apresentado era conhecido por 86,4% dos indivíduos. Não foi possível realizar o levantamento exato do número de sessões, visto que muitos pacientes não souberam informar corretamente. O conhecimento sobre a clínica-escola foi tomado, principalmente, por indicação médica (46%) e por indicação de amigo (28,4%);as demais formas de indicação corresponderam a 25,6% das respostas.
Com relação ao nível de satisfação, a figura 1 expõe as respostas relativas à interação paciente-terapeuta. O respeito e a gentileza dos supervisores e estagiários foram os itens que receberam melhor classificação.
Quanto ao acesso e atendimento da equipe do setor, 42% dos participantes definiram como “excelente” tanto a disponibilidade de horários convenientes, quanto à facilidade na marcação das sessões após o primeiro atendimento; além disso, não houve queixas quanto à gentileza e disponibilidade da recepcionista ou da equipe, como mostra a figura 2.
Com relação ao ambiente físico, as respostas de alguns pacientes foram negativas, contudo, em pequena porcentagem (6,8%). Cerca de 47% dos participantes consideram o conforto da sala de espera “bom” e as condições de higiene “excelente”, assim como a facilidade para transitar dentro da clínica-escola. O conforto do ambiente de realização da fisioterapia foi considerado “ótimo”, como apontado na figura 3.
O item “disponibilidade de estacionamento” apresentou uma porcentagem importante de resultados negativos, onde 9,1% afirmaram ser “ruim” e 4% “péssimo”.
A satisfação com o atendimento, de uma forma geral, não obteve respostas “ruim” ou “péssimo”, sendo que 47,7% indicaram como “excelente”, 36,4%como “ótimo” e 15,9% como “bom”; cerca de 79% afirmaram que, caso necessitassem de novo tratamento fisioterapêutico, retornariam à clinica-escola “com certeza”, 18,7%responderam que “sim” e 2,3%responderam que “possivelmente”. Todos os participantes responderam que “sim” e “com certeza” indicariam a clínica-escola para outra pessoa.
Discussão
Com a realização deste estudo, foi possível observar as características e a prevalência de patologias dos pacientes atendidos na clínica-escola da UCB, assim como o nível da satisfação apresentado por eles em relação à clínica-escola e aos atendimentos.
Segundo Gomes et al12 as mulheres procuram mais os serviços de saúde. Esse fato é ligado à socialização dos homens, onde o cuidado não é visto como uma prática masculina; isso está diretamente relacionado ao estudo, visto que 58,7%dos pacientes são do sexo feminino.
Houve certa dificuldade durante a aplicação do questionário, pois muitos necessitaram de auxílio para o preenchimento. Acredita-se que isso esteja relacionado com o nível de escolaridade dos pacientes, principalmente dos setores de Diabetes e Amputados, onde 57,6% e 75% eram, respectivamente, analfabetos ou não haviam concluído o Ensino Fundamental.
Dos entrevistados, 75,6% possuem renda familiar entre 1 e 3 salários mínimos (ano-base 2010) e são, na maior parte, aposentados. Ceilândia, Taguatinga e Samambaia são os locais de residência mais freqüentes. Além disso, poucos pacientes possuem plano de saúde (23,9%); e os que possuem, muitas vezes, não podem passar por uma reabilitação adequada devido às restrições ao número de sessões4, o que pode estar relacionado com o fato de 63,6% dos pacientes avaliados nunca terem passado por tratamento fisioterapêutico anteriormente.
Segundo Fornasari e Medeiros13, conhecer o padrão socioeconômico de usuários de serviços públicos é de suma importância no processo de planejamento das atividades a serem realizadas nas clínicas de instituições de ensino superior, bem como é determinante na construção do plano de tratamento a ser proposto para cada paciente.
A clínica-escola, conforme Suda et al4 , é vista como uma ótima oportunidade para os que precisam de tratamento por longo período, como é o caso de pacientes portadores de seqüelas crônicas.
Vale ressaltar que muitas crianças atendidas no setor de Neuropediatria são portadoras de Paralisia Cerebral, apresentando-se de diversas formas. A Fisioterapia tem um papel extremamente importante no tratamento de tais crianças. Contudo, a terapêutica é prolongada e necessita de diversas adaptações e mudanças familiares.
Dentre os pacientes amputados, 60,6% perderam o membro devido a Neuropatia Diabética - doença crônica definida como uma lesão de nervo periférico, somático ou autônomo, atribuível, exclusivamente, ao Diabete Melito15 - que leva a alterações vasculares. Muitos pacientes atendidos no setor de diabetes possuem Hipertensão Arterial que, segundo Pace et al14, está ligada diretamente ao elevado risco para o desenvolvimento de vasculopatias, situação propícia ao desenvolvimento de Neuropatia Diabética.
De acordo com Sudaet al4, o baixo nível socioeconômico explica o alto índice de satisfação encontrado no estudo. Segundo Beattie et al6,o contentamento do paciente é fortemente influenciado por fatores como localização e custo, pois a ausência de recursos financeiros proporciona uma falta de alternativas para o paciente, de forma que oportunidades que surgem em momentos de necessidade são bem vindas, independente da qualidade ser ou não ideal . Essa “ausência de alternativas”, tem relação direta com o que afirmam Goldstein et al9, pois os pacientes são relutantes em revelar atitudes negativas em relação ao prestador de cuidados de saúde e o ambiente onde esse tratamento é oferecido, por causa de um sentimento de dependência do atendimento. O mesmo autor sugere que esse fato pode levar os pacientes a se sentirem constrangidos em responder o que realmente gostariam, por receio de perderem o atendimento. Deve-se levar em conta também que as pessoas podem diferir no julgamento de sua satisfação, visto que além de crenças e valores, trazem consigo experiências individuais do cuidado recebido. Os pacientes entram nos serviços com uma variedade de características, bem como atitudes e experiências anteriores que, com o conhecimento e informações recebidas dos profissionais de saúde, irão capacitá-los a definir a situação deles e a determinar o que eles percebem sobre o cuidado10.
Segundo Fernandez et al11, a prestação de serviços de saúde compreende dois aspectos: técnico e interpessoal; de forma que o primeiro, por se tratar da aplicação da medicina por profissionais especializados, não é bem compreendido pelos pacientes, porém, são capazes de avaliar a qualidade interpessoal do atendimento, que é um fator determinante para indicar sua satisfação.
De acordo com os resultados pertinentes a gentileza e respeito do fisioterapeuta e equipe, segurança, privacidade respeitada, aprofundamento acerca da patologia, notou-se certo interesse da parte dos estagiários e equipe em proporcionar atendimento individualizado visando manter um bom padrão de qualidade e ética.
Conhecer a percepção do paciente sobre o cuidado recebido tem sido uma preocupação de diversos pesquisadores e profissionais responsáveis pela assistência a esses pacientes. Essa percepção é considerada como sinônimo de satisfação. Goldstein et al9 afirmam que mesmo que seja reconhecido como um importantíssimo conceito, a satisfação com a prestação de fisioterapia, ou quaisquer serviços de saúde, muitas vezes é difícil de definir, sendo considerada por Beattie et al6 como um fator multidimensional, um fenômeno abstrato.
A mesma autora6 afirma que pacientes satisfeitos são mais propensos a aderir ao tratamento e continuar a procurar cuidados de saúde em um determinado estabelecimento e isso foi observado no presente estudo, já que, alguns desses indivíduos estão sendo atendidos há anos. Ao entrevistar os pacientes, muitos afirmaram, com contentamento, que a clínica-escola da UCB oferece condições necessárias para a prestação do tratamento. Contudo, muitos pacientes questionaram sobre a falta de adaptação do banheiro para portadores de necessidades especiais além da disponibilidade do estacionamento próximo à clínica-escola, que comporte maior número de automóveis e de vagas preferenciais.
O principal meio de divulgação da clínica-escola é, atualmente, a comunicação interpessoal. Goldstein et al9 afirma que altos níveis de satisfação contribuem com essa comunicação informal, visto que pacientes satisfeitos são mais propensos a continuarem o tratamento e a divulgarem o mesmo.
Durante a realização do estudo alguns obstáculos foram encontrados, tanto na coleta de dados dos prontuários quanto na aplicação dos questionários. Os prontuários, muitas vezes, não possuem fichas de avaliação ou reavaliação padronizadas e devidamente preenchidas, dificultando a obtenção de informações importantes como os dados pessoais e do perfil do paciente; altas e desistências, bem como a constante admissão de novos pacientes influenciaram na coleta dos dados. Assim, faz-se necessário uma padronização nos prontuários para facilitar pesquisas futuras.
Conclusão
O presente estudo conclui que os pacientes avaliados são, em sua maioria, aposentados residentes de Ceilândia e que a prevalência de atendimentos se concentra, respectivamente, nos setores de Neuropediatria, Neurologia Adulto, Ortopedia, Uro-ginecologia, Diabetes e Amputados. As patologias/causas mais prevalentes são: Paralisia Cerebral, Acidente Vascular Encefálico, Fraturas, Incontinência Urinária, Hipertensão Arterial Sistêmica e Neuropatia Diabética. Observa-se também, que os participantes da pesquisa estão satisfeitos, de uma forma geral, com o atendimento oferecido pela clínica-escola de Fisioterapia da UCB.
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