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O gênero feminino nas aulas de Educação 

Física: um olhar através dos estudos culturais

El género femenino en las clases de Educación Física: una mirada desde los estudios culturales

 

Mestranda em Gestão e Prática Educacionais UNINOVE, 2012

Coordenadora da Educação Infantil da Secretaria da Educação, Jandira, SP

(Brasil)

Alessandra Aparecida Dias Aguiar

alessandraef@bol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo cientifico tem como objetivo apontar, como o currículo contribui para a construção das identidades do gênero feminino durante as aulas de Educação Física. Baseando nos estudos culturais, estudos feministas e autores entre eles; Hall (197), Giroux (2007), Silva (2006) e Louro (1995). De modo, a colaborar para uma reflexão crítica sobre o currículo de Educação Física e suas possíveis influências nas identidades do gênero feminino.

          Unitermos: Educação Física. Currículo. Gênero. Estudos Culturais.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 171, Agosto de 2012. http://www.efdeportes.com

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1.     Introdução

    Este artigo tem como objetivo principal entender como ocorre a construção das identidades do gênero feminino e qual a influencia do currículo, através de uma pesquisa bibliográfica. Tendo como objeto de estudo o próprio currículo. Considerando isso, este trabalho investe na possibilidade de refletir sobre os aspectos que vem sendo abordados na produção de gênero na educação física e de contribuir para o incremento da problemática constituinte de gênero no âmbito das discussões da área. O trabalho faz parte do levantamento de pesquisas sobre gênero publicadas na área da educação física.

    Pensar nessa temática e através de uma perspectiva cultural, significa expressar as histórias de vida dos sujeitos, suas origens sócio-culturais, o pertencimento a diferentes classes sociais, gênero, credo religioso e etnia.

    Sendo assim, as questões de gênero podem se constituir em traços importantes de reconhecimento das identidades dos alunos e alunas, pois, desde muito cedo são incorporadas regras, valores, normas e crenças através dos discursos que refletem os papéis sociais sobre o gênero.

    Ao realizar um levantamento bibliográfico, percebi que esta questão vem causando inquietações no campo acadêmico durante alguns anos. Isto é, até a década de 80 a relação de gênero, na Educação Física e especificamente a participação da mulher, se pautava em preconceitos e estereótipos calcados no mito da feminilidade, sinônimo de beleza, passividade, fragilidade e inferioridade. (Sousa, 1994).

    Romero (1990) denunciou a presença de estereótipos masculinos e femininos na educação, como reprodutora de uma ideologia sexista e discriminatória dos papeis sexuais. As atitudes, os valores e os hábitos se iniciam na família e na escola, podendo ser gratificados ou punidos os alunos e alunas, que não seguissem os modelos masculinos e femininos construídos pela comunidade escolar.

    Deste modo, sanções e gratificações são perpetuadas conforme o comportamento do aluno correspondente ou não às suas expectativas. Na escola, a criança recebe contribuições e influências muito significativas para a sua formação e o professor é uma figura de fundamental importância neste contexto, pois veicula idéias, percepções, conceitos e preconceitos adquiridos durante a sua vida.

    O comportamento de homens e mulheres é diferente, devido à vivência cultura e segundo Romero (1990) os papéis sociais são conseqüências socioculturais e a criança cresce se comportando de acordo com os padrões culturais e históricos nos quais é educada, a escola, muitas vezes, recria uma educação que reforça e transmite os padrões de comportamentos estereotipados.

    Segundo Fernandes (2008), “se as diferenças de gênero são estimuladas de modo a criar fronteiras e desigualdades entre as crianças na escola, lá também pode ser um lugar de questionamento dessas informações binárias que perpassam nossos cotidianos.” (pág. 112)

    Conta a autora que todas as crianças têm o direito de experimentar os conteúdos da Educação Física, com dignidade, independente de serem meninas ou meninos, pois isso lhes permitirá conhecer, entender, interpretar e transformar o mundo.

    Deste modo, a persistência de uma Educação Física que não reflete sobre suas práticas e seu papel na formação de seus alunos (as) poderá colaborar para a ratificação dos estereótipos entre homem e mulher, histórico e culturalmente construídos, desta forma, cabe então repensar o currículo de Educação Física e suas práticas.

    A justificativa de se pesquisar sobre este assunto, é que mesmo tendo um aumento significativo de artigos relacionados ao gênero em Educação Física, ainda há inúmeras possibilidades de ampliar a análise do currículo e as identidades de gênero.

    Este artigo visa descrever alguns princípios norteadores, e para investigar o problema faz necessário responder as seguintes questões:

  • Em que medida os currículos influência a manutenção do preconceito e da discriminação em relação ao gênero?

  • O que são estudos culturais e feministas?

  • Gênero e o currículo de Ed. Física uma articulação necessária?

    A relevância deste artigo está em ampliar as discussões sobre as relações de gênero, a partir da ótica do currículo, para que profissionais da área da Educação possam compreender, analisar e refletir, sobre suas práticas pedagógicas.

2.     Metodologia

    Esta é uma pesquisa exploratório-descritiva, de caráter qualitativo, que buscou estabelecer o status do conhecimento numa área de interesse. As fontes de informações foram impressas e/ou on-line, e constituem publicações científicas que nos permitem seguir a evolução dos fenômenos e das situações no tempo, para este tipo de pesquisa, previamente realizou-se um levantamento na plataforma Qualis/Capes de todos os periódicos de circulação nacional, de categorias A, B e C5, válidos para a área da educação física, provenientes das demais áreas do conhecimento.

    Após, fez-se a seleção das revistas que eram exclusivas da área da educação física, com edições disponíveis online e/ou impressas de fácil acesso, identificação dos artigos sobre gênero. Para seleção dos artigos, fez-se a busca por temas/termos como educação física e gênero, estudos culturais, estudo feminista, diferenças e igualdade, representações de masculinidade e feminilidades, etc. A opção para o recorte de conteúdos foi pelo modelo misto, aquele em que as categorias tanto são selecionadas no início, quanto são modificadas e/ou acrescidas, em função do que a análise apontava. A forma preferencial desse recorte foi em temas, isto é, fragmentos que correspondem cada um a uma idéia particular e também através de diversos livros que embasaram o referencial teórico.

3.     Os estudos culturais

    As modificações sociais, econômicas, políticas e culturais no mundo contemporâneo têm sido postas em questão. A globalização intensificada de informações por meio de novas tecnologias traz várias identidades locais e regionais, que reivindicam com base em garantias igualitárias o direito à diferença.

    Os Estudos Culturais (EC), originados na década de 1960 na Inglaterra, têm-se tornado influentes no campo da investigação social, como campo de luta em torno do significado por meio da esfera cultural. Surge através das movimentações de certos grupos sociais que buscam se apropriar de ferramentas conceituais, de saberes que emergem de suas leituras do mundo pautadas por uma cultura que visa oportunidades democráticas.

    A cultura deve ser entendida neste referencial, como um local de lutas e de disputas, e não simplesmente um campo autônomo e determinado, segundo Jonhson (1999). Nesse sentido, o currículo na escola, por exemplo, pode ser concebidos como os próprios locais onde o significado é negociado e fixado.

    Uma das principais características dos Estudos Culturais é justamente sua versatilidade teórica, entendendo que os processos culturais vinculam-se de maneira importante às relações sociais de classe, de raça e de gênero envolvendo relações de poder e como tais relações assimétricas nascem processos de tradução, resistência e de mestiçagem ou hibridação cultural1 que levam à formação de múltiplas identidades.

    Nos Estudos Culturais em Educação as questões como cultura, discurso, identidade e representação ajudam a entender e a analisar as práticas pedagógicas, valorizando questões que estiveram ao longo tempo mergulhadas numa epistemologia monocultural tendo em vista que as sociedades capitalistas dão lugar à desigualdade.

    Giroux (2007) compreende que os Estudos Culturais oferecem possibilidades para os educadores e as educadoras, repensarem a natureza das teorias e das práticas educacionais, bem como para refletirem sobre o que significa educar para o século XXI.

    “Os Estudos Culturais se baseiam na crença de que entramos num período no qual as distinções que separam e enquadram as disciplinas acadêmicas estabelecidas não podem dar conta da grande diversidade de fenômenos culturais e sociais que caracterizaram um mundo pós industrial cada vez mais hibridizado.” (Giroux, 2007 p. 89)

    Uma forma interessante de hibridização no mundo contemporâneo é, realizada por intermédio de uma estratégia denominada ancoragem social2 que leva a questionar os processos históricos, políticos, sociológicos, culturais e outros, através de conexões significativas e do olhar crítico para percepções e ideias relativas ao conhecimento, educação, formação docente e outras categorias, e como estão intimamente ligados a dinâmicas sociais culturais e históricas.

    Utilizando desse termo Neira e Nunes (2009), discutem a ancoragem social dos conteúdos na escola questionando quais processos históricos, políticos e culturais estão enraizados em determinadas manifestações culturais, possibilitando aos alunos e alunas um entendimento das práticas culturais a fundo e superando a alienação.

3.1.     Cultura, identidade e currículo

    A cultura vem sendo ao longo do tempo discutida, e está ganhando vários significados porém Hall (1997), questiona a noção unificada da cultura nacional, afirmando que grande parte das nações foram formadas por um processo de diferentes povos, de classes sociais, assim como diversas etnias e gênero.

    Sendo assim, a cultura deixa gradativamente de ser domínio exclusivo da erudição, da tradição literária e artística de padrões estéticos elitizados e passa a contemplar também o gosto das multidões.

    Em sua flexão plural o conceito “culturas”, incorpora novas e diferentes possibilidades de sentido e de constituições de novas identidades via intersecções e negociações, tendo como resultado, os intercruzamentos destas culturas borrando as fronteiras, isto é, reconhecendo o caráter arbitrário contextual e histórico de tudo aquilo que somos capazes de afirmar ou negar. No campo da educação, este posicionamento desacomoda algumas certezas tomadas como âncoras.

    Tais deslocamentos em relação à cultura vêm ocorrendo, nos mais variados âmbitos sociais e educacionais. Desta forma cabe questionar: como a escola vem refletindo a respeito? Que atos de currículo interagem nesses espaços? Que representações estão incluídas nos diversos currículos? Como explorar formas de desestabilizar e desafiar as questões de gênero? Que identidades se desejam que os alunos e alunas reflitam e construam?

    Talvez, um ponto de partida para este processo na escola segundo alguns autores, seria a democratização através de questionamentos e reivindicações sobre as manifestações culturais européias, e hegemônicas presentes no currículo escolar para em seguida, desnaturalizar as narrativas eurocêntricas ainda dominantes na educação escolar brasileira e a construção de novas identidades.

    O sujeito pós-moderno, segundo Hall (2001) não tem uma identidade fixa essencial ou permanente, a identidade torna-se uma "celebração móvel" formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam, sendo definida historicamente e composta de várias identidades em diferentes momentos e até mesmo de maneira contraditória.

    Na medida em que os sistemas de significação e representação cultural se multiplicam, somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possíveis. “A identidade muda de acordo com a forma como o sujeito é interpelado ou representado a identificação não é automática, mas pode ser ganhada ou perdida. '' (HALL 2001 p. 21)

    Após essas considerações, é importante que nos questionemos em relação ao currículo que está em prática nas escolas e quais identidades estarão “formando”. Contudo, é essencial que tenhamos consciência do quanto nossa atuação pode vir a contribuir ou a prejudicar as pessoas que estão a nossa volta e o conjunto social no qual estamos inseridos.

    Giroux corrobora, por meio de seus trabalhos abordando a organização e a atuação da escola e o seu papel, esclarecendo o poder que a ela e o currículo têm, podendo constituir-se de ferramentas de reprodução das desigualdades sociais, ideologias e do poder das classes dominantes, é claro, dependendo da forma como são utilizados. Portanto, os profissionais que atuam nas áreas educacionais são "produtores culturais" de suas práticas, construindo e interagindo em currículos culturais como "campo de luta", esses sujeitos podem possibilitar vivências críticas para que todos participem das construções sociais nessa arena de intercruzamento de identidades.

    O currículo é um local onde se entrecruzam saber e poder, representação e domínio discurso e regulação, sendo também no currículo que se condensam relações de poder que são cruciais para o processo de formação de subjetividades sociais. Em suma, currículo poder e identidades sociais estão mutuamente inclusos, desta forma o currículo corporifica as relações sociais.

    Educadoras e educadores, inscritos nessa aproximação com os Estudos Culturais, podem reconhecer que a escola é um campo onde a aprendizagem e a educação na atualidade estão inseridas aos processos multiculturais em que vivemos.

    Portanto, o currículo escolar consiste em uma atividade de questionamento, intervenção, problematização e com intenção crítica como um recurso que “nos revele um espaço narrativo que evidencie o contexto e os aspectos específicos, ao mesmo tempo em que reconheça os modos pelos quais tais espaços estão impregnados por questões de poder" (Giroux & Shannon, 1997, p. 4).

4.     Os estudos feministas

    Nascido da revolta das mulheres face às normas e condições que presidiam seu destino pessoal e seu confinamento à esfera privada, o movimento feminista contemporâneo tornou-se rapidamente, no decorrer dos anos 60, um projeto intelectual e político.

    Em práticas de resistência, os objetivos dos movimentos das mulheres levaram rapidamente militantes e intelectuais à busca de uma apreensão singular da dinâmica sexuada das relações sociais, a desmistificar uma tradição intelectual e científica que as havia excluído até então de seus locais de produção. Hall (1997) ressalta o impacto causado pelo feminismo não só no campo teórico, mas principalmente, como movimento social que, segundo ele, caracterizou como um dos principais movimentos sociais que politizou a identidade feminina.

    Nesta ótica, os Estudos Feministas seguiram um caminho intelectual comum, a fim de opor-se aos pressupostos androcêntricos dos saberes dominantes e assim escapar à rigidez das proposições normativas (Louro, 1995).

    De acordo com a mesma autora, o Feminismo introduziu aspectos inteiramente novos na sua luta de contestação política, na medida em que abordou temas como família, sexualidade, trabalho doméstico, o cuidado com as crianças, etc. Contestando politicamente o patriarcalismo e demais forma de dominação.

    Além disso, enfatizou a questão política e social e de como somos formados e produzidos como sujeitos generificados. Isto é, ele politizou a subjetividade, a identidade e o processo de identificação como homens/mulheres, mães/pais, filhos/filhas, aquilo que começou como um movimento dirigido à contestação da posição social das mulheres expandiu-se, para incluir a formação das identidades sexuais e de gênero. (Hall, 1997)

    Os Estudos Feministas sempre estiveram preocupados com as relações de poder entre mulheres e homens. Em princípio, tais estudos procuravam chamar a atenção para as condições de exploração e dominação a que as mulheres estavam submetidas.

    De acordo com Louro (1995), além de uma ferramenta teórica potencialmente útil para os estudos das ciências sociais, o gênero despontava como uma importante categoria analítica para a História da Educação, caráter político destes estudos pode ser considerado uma de suas marcas mais significativas.

    Os Estudos Feministas contribuem assim, à renovação dos saberes, bem como para desconstruir as representações e relações de poder e da divisão social dos sexos e de outros sistemas de dominação, para constituir as mulheres enquanto categoria social e colocar o sexo/gênero como categoria de análise.

5.     Gênero e o currículo de Educação Física

    Depois da síntese dos Estudos Culturais e das contribuições dos Estudos Feministas, parto para as reflexões sobre as relações de gênero e o currículo de Educação Física e pergunto: Que território é este? Há uma aproximação ou distanciamento entre eles?

    Para Louro (1995) tem discorrido que desde o início a escola exerceu uma função de separação dos sujeitos, através de múltiplos mecanismos, classificação, ordenação e hierarquização, começou por separar adultos de criança, católicos de protestante, também separou ricos de pobres e ela imediatamente separou os meninos das meninas.

    As expectativas em relação à diferença de comportamento que se deseja para o menino e para a menina justificadas pelas diferenças biológicas, acabam proporcionando distintas vivências corporais.

    A construção social das diferenças e o poder a elas atribuído, quando assentadas nas relações de gênero, podem revelar as diferenças criadas, ou percebidas socialmente, sofrem variação de acordo com a estrutura e caracterização histórico-cultural.

    As diferenças na escola em relação ao gênero são importantes e que não podem ficar em segundo plano, ambicionando que os alunos e as alunas aceitam passivamente todas as imposições externas que lhe são impostas, pois eles se envolvem e são envolvidos reagem, questionam, visto que conforme aponta Foucault (1979), aonde existe o poder também existe resistência.

    Uma maneira de enxergar o poder e a dominação, para que eles possam ser desconstruídos e antigos padrões derrubados, isto é, dando espaço à diversidade através de uma prática dialógica do currículo.

    Muitas pessoas ainda hoje sofrem com o preconceito e com os padrões vigentes, que apoiados, no homem e no poder, acabam excluindo e rotulando aqueles que não se encaixam e nem se identificam com as regras que lhes são impostas desde o nascimento.

    As práticas escolares traduzem a marca da cultura e do sistema dominante, que nelas imprimem as relações sociais que caracterizam a moderna sociedade capitalista. A forma da escola controlar e disciplinar o corpo estão ligados aos mecanismos das estruturas do poder, resultante do processo histórico da civilização ocidental.

    A persistência de uma Educação Física que não reflete sobre suas práticas e seu papel na formação de seus (as) alunos e alunas acabam, através de seu silêncio, colaborando para a formação dos estereótipos de homem e mulher, mantendo assim uma postura supostamente neutra, ajudando na formação de uma consciência coletiva de que ser homem e ser mulher atende a determinados padrões e regras normatizadas de conduta, segundo Gonçalves (1994).

    Partindo do princípio de que a escola nasce como a necessidade de organização do saber e na tentativa de atender determinados interesses. A exclusão começa a moldar a sua forma exercida de poder, deter esse conhecimento as amarras de um currículo de Educação Física monopolizador de controle dos corpos durantes as aulas.

    Segundo o mesmo autor, o poder não é somente uma força negativa, mas também uma força produtiva; que o poder está sempre presente; e que onde há poder, há resistência, e que a resistência não é nunca uma posição de exterioridade em relação ao poder, temos assim, a possibilidade de mudar a situação e que esta possibilidade existe sempre. A resistência é um elemento das relações estratégicas nas quais se constitui o poder, ela se apóia na realidade, sobre a situação à qual combate.

    O sistema patriarcal que rege a organização da maioria das sociedades do mundo atinge e prejudica as mulheres em geral, e também os homens, principalmente aqueles em que a sexualidade diverge do que é considerado normativo.

    Para Silva (2007), as teorias críticas se concentraram, inicialmente, em questões de acesso à educação e ao currículo das crianças e jovens pertencentes a grupos étnicos e raciais considerados minoritários. Somente em uma segunda fase, por meio dos estudos culturais e pós-estruturalistas, o próprio currículo passou a ser problematizado como sendo racialmente enviesado. “A questão da raça e da etnia não são simplesmente, um ‘tema transversal’: ela é uma questão central de conhecimento, poder e identidade” (p. 102).

    Por sua vez Neira e Nunes (2009), defendem que “a cultura corporal dominante seja analisada sob outros ângulos, isto é, tomando como base as crenças epistemológicas não dominantes. Essa análise não significa que tal patrimônio tenha um caráter demoníaco ou se constitua em artimanha arquitetada pala elite contra os desfavorecidos, ao estilo da Teoria da Conspiração”. (p. 251)

6.     Considerações finais

    Empreendi este recenseamento bibliográfico assumindo uma função problematizadora crítica ao tema abordado, e à minha leitura está atrelado um modo de compreender gênero e sua relação com a instituição escolar. Assim sendo, considero que muito têm a contribuir, para dinâmica de renovações de conhecimentos relativos a gênero e à escola, autores e autoras que trazem uma visão crítica sobre o assunto.

    Por meio deste estudo, foi-me possível vislumbrar como a escola está internalizada com imagens-padrão de menino e menina, e como esta questão de gênero ainda é um assunto que muito tem que ser explorado, espero que este artigo possa subsidiar a construção de novas teorias, oferecer novas possibilidades de análise e subsidiar intervenções que possam promover rupturas na estrutura social vigente.

Notas

  1. Para o conceito de hibridação cultural, ver García Canclini (1998).

  2. Social mooring, termo mencionado por Grant & Wieczorek (2000).

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