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Musculação: mitos, medos e objetivos
de mulheres praticantes da modalidade

Musculación: mitos, miedos y objetivos de mujeres que practican esta modalidad

 

*Graduada em Educação Física. Especialista em fisiologia do exercício, treinamento desportivo

e prescrição do exercício físico pela Faculdade IDEAU. Personal Trainer e professora

de aprendizagem motora e dança na educação infantil

**Professor do curso de graduação em Educação Física da Faculdade IDEAU

de Getúlio Vargas, RS e da UnC de Concórdia, SC

Indiana Paula Bagnara*

indibagnara@gmail.com

Prof. Ms. Ivan Carlos Bagnara**

ivanbagnara@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo tem o propósito de descobrir quais os principais objetivos das praticantes de musculação, assim como os medos que as mesmas apresentam com relação aos mitos existentes sobre essa prática para mulheres. A investigação é de caráter quantitativo, realizada por meio de questionários respondidos por 50 mulheres com idade entre 20 e 35 anos, praticantes de musculação em uma academia de Erechim RS. De acordo com a análise das respostas dos questionários, observou-se que a maioria das mulheres apresenta uma insatisfação corporal principalmente em relação ao abdômen, glúteos e coxas. Quanto aos medos, o mais citado foi o medo de não atingir o objetivo esperado com o programa de treinamento. Com relação aos mitos, poucas levaram em consideração a existência dos mesmos ou sentem incômodo na hora de praticar a musculação. Pode-se perceber, também, que a melhora na saúde e a busca pela vida saudável, assim como a tonificação dos músculos são os principais fatores que levam as mulheres a optar pela prática da musculação.

          Unitermos: Musculação feminina. Mitos. Medos. Objetivos.

 

Abstract

          This study aims to find out what are the main goals of bodybuilders, as well as fears that they have regarding the myths surrounding this practice for women. This is a quantitative research, conducted through questionnaires answered by 50 women aged between 20 and 35 years, bodybuilders in a gym at Erechim RS. According to the analysis of questionnaire responses, it was observed that most women experience body dissatisfaction especially in relation to the abdomen, buttocks and thighs. As for the fears most often mentioned was the fear of not achieving the expected goal with the training program. With regard to the myths, few consider their existence or feel discomfort when practicing bodybuilding. It also can be noticed that the improvement in health and the quest for healthy living as well as toning the muscles are the main factors that lead women to opt for the practice of bodybuilding.

          Keywords: Female bodybuilding. Myths. Fears. Goals.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 171, Agosto de 2012. http://www.efdeportes.com

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1.     Considerações iniciais

    Há algum tempo atrás, não era muito comum notar a presença de mulheres nas salas de musculação. Alguns conceitos equivocados, como o de que a musculação torna o corpo masculinizado, sem curvas e com músculos exageradamente grandes, acabavam afastando as mulheres das academias. Porém, este cenário ganhou nova forma nos últimos anos. Cada vez mais as mulheres estão se conscientizando de que é possível praticar a musculação e conservar uma silhueta delicada e bem feminina.

    Atualmente, é comum observar um número crescente de mulheres que buscam a musculação como forma de melhorar a estética, a saúde, e ter uma vida saudável, dentre outros, quebrando muitos dos tabus no que diz respeito a mulheres e treinamento com peso. Um dos padrões de beleza determinado pelo senso comum em nossa sociedade é o de corpos modelados por músculos fortes e definidos, fazendo com que cada vez mais mulheres busquem na musculação a sua tão desejada estética.

    De acordo com Bossi (2009), a musculação promove o aumento de massa magra, desencadeando o processo de hipertrofia. Neste sentido, ocorre também um aumento no tamanho do músculo e, consequentemente, aumento das dimensões corporais.

    Nas mulheres, a musculação melhora a harmonia e a simetria dos músculos, contribuindo para o aumento de massa muscular, o aumento da densidade óssea e a redução da gordura corporal. A musculação é reconhecida como uma das atividades mais eficientes para modificar favoravelmente a composição corporal. Deve-se ter a consciência de que a composição corporal muda favoravelmente no sentido da saúde, da aptidão física e da modelagem do corpo.

    Com este estudo, pretendemos investigar quais são os principais objetivos e os medos com relação aos mitos existentes na musculação em mulheres de 20 a 35 anos que praticam essa atividade, ou seja, compreender o motivo que leva as mulheres a optarem pela prática da musculação e não pela prática de outras modalidades de ginástica; identificar as prioridades que as mulheres têm com relação à musculação; entender qual é o maior medo existente nas mulheres ao decidirem praticar a musculação; compreender a visão feminina com relação aos mitos que envolvem a mesma, e descobrir qual a parte do corpo que mais as incomoda.

    O presente estudo trata-se de uma pesquisa de campo, com aprofundamento bibliográfico e com análise documental, predominando os aspectos quantitativos. Para o levantamento dos dados foi utilizado um questionário com perguntas fechadas. Responderam ao questionário 50 mulheres com a faixa etária de 20 a 35 anos de idade, praticantes de musculação em uma academia de Erechim. A fundamentação teórica realizou-se através da revisão da literatura em livros, artigos, periódicos e sites especializados. A análise documental foi realizada através de um diagnóstico dos dados coletados nos questionários, sendo que os mesmos foram analisados e interpretados pela própria pesquisadora utilizando-se de estatística simples, e apoiados em publicações de outros estudos e autores pesquisadores do tema em questão.

2.     Fundamentação teórica

    Para Lima; Pinto (2008) a musculação é hoje em dia uma das modalidades de atividade física mais praticada pela população em geral, crianças, jovens, adultos e também os idosos. Tanto homens quanto mulheres estão inseridos em programas de treinamento com fins preventivos, com a intenção de melhorar o desempenho esportivo, e principalmente, com fins estéticos.

    Segundo Gardner (1996), a satisfação do corpo é um aspecto muito importante e tem uma grande relação com a imagem corporal, é através dela que o indivíduo mostra-se satisfeito ou não com sua aparência. Esta se trata de um componente subjetivo da imagem corporal e está relacionada com o tamanho do corpo ou partes dele. Além disso, padrões e normas da cultura dominante influenciam indivíduos, provocando distúrbios de imagem corporal. Que está associada a características cognitivas, afetivas e comportamentais. A insatisfação corporal tem sido também identificada como a discrepância entre o corpo percebido e o corpo desejado, sendo que quanto maior for o afastamento, maior a insatisfação.

    A procura pela prática da atividade física, inúmeras vezes está relacionada à insatisfação corporal. Para Damasceno (LIMA; VIANNA; VIANNA & NOVAES, 2005), a prática de um exercício regular não está só relacionada à saúde como fator principal. Para determinados grupos, a estética torna-se um ponto crucial e a saúde vem como consequência da boa forma. Um dos padrões de beleza defendido por nossa sociedade é o de corpos modelados por músculos fortes e definidos, fazendo com que cada vez mais mulheres busquem na musculação a sua tão desejável estética.

    Para Esquerdo (2010), o exercício físico é a forma mais divertida, eficaz e barata de se manter saudável, e dentre eles a musculação é o meio mais completo, preventivo, terapêutico e estético para conseguirmos esses objetivos.

2.1.     Mitos na musculação

    Houve momentos de muita repressão com relação às práticas desportivas femininas, dentre elas a musculação. Repressão que ainda se reflete no pouco investimento, na profissionalização ou na formação de estereótipos da mulher masculinizada. Para além da estereotipia estão os conhecimentos e os resultados dessas práticas, ou seja, as mulheres satisfeitas com seu próprio corpo, com uma rotina mais saudável, com menos probabilidade de algumas doenças crônico-degenerativas e principalmente mais confiantes (LESSA, OSHITA E VALEZZI, 2007).

    Nieman (1999, p. 32) diz que “é comum observar um número crescente de mulheres que praticam musculação como forma de melhorar a estética, a saúde e a qualidade de vida, quebrando todos os tabus e mitos no que diz respeito a mulheres no treinamento com pesos”.

    Dessa forma Bryant (PETERSON A. e PETERSON L. 2001) destacam alguns desses mitos:

  • Mito 1: A mulher não consegue ficar forte: as mulheres podem sim desenvolver o condicionamento muscular, elas possuem potencial para que isso ocorra, em especial na parte superior de seu corpo, uma parte que é menos desenvolvida no corpo feminino. Em geral uma mulher de porte médio, ganha força em uma proporção mais rápida que o homem de porte médio.

  • Mito 2: O treinamento de musculação faz a mulher perder a feminilidade: os benefícios funcionais assim como aqueles para saúde mental e física, promovidos pela musculação não se limitam só aos homens. O treinamento adequado ao aumentar a capacidade de trabalho físico, melhora a composição corporal e diminui o risco de lesões, realça o aspecto da mulher fazendo com que ela se sinta melhor, com os músculos firmes e compactos. Nada tem a ver com a expressão “perda de feminilidade”.

  • Mito 3: Musculação gera músculos volumosos: as mulheres não apresentam potencial genético para desenvolver músculos grandes, pois não possuem a quantidade de hormônios suficiente para que isso ocorra, enquanto esteroides ou meios artificiais conseguem provocar o crescimento muscular exagerado, a musculação isolada não tem essa capacidade.

  • Mito 4: O treinamento de força diminui a flexibilidade: o termo “músculo travado” aponta falta de flexibilidade, a musculação adequada não o torna menos flexível, ao contrário torna o músculo mais flexível. Se os músculos se mantiverem alongados, exercitando os mesmos ao longo de toda a amplitude (prática adequada da musculação), eles permanecerão flexíveis.

  • Mito 5: Mais é melhor: com qualquer forma de exercício alcança-se um platô, o risco de se machucar ocorre se não for usado o bom senso para decidir que quantidade é suficiente. A qualidade do treinamento de musculação é mais importante do que a quantidade de tempo que se gasta para realizá-la. Por exemplo, uma sessão de treino de 30 minutos é capaz de desenvolver o condicionamento muscular de modo eficiente e seguro.

  • Mito 6: Sem dor não há resultado: um programa de treino da musculação pode ser desconfortável, mas não deve ser dolorido, deve impor um esforço razoável sobre os sistemas musculares para aumentar a força, sem expor a mesma a um risco de lesão exagerado.

  • Mito 7: Os músculos viram gordura quando você para de treinar: os músculos não podem virar gordura. Eles não têm capacidade fisiológica de mudar de um tipo de tecido para outro, os músculos têm a prioridade de serem usados ou de serem perdidos, se você não usar o músculo, o mesmo atrofia.

  • Mito 8: Você deve usar suplementos proteicos para ter uma boa forma física: o condicionamento muscular não aumenta com o uso de suplementos, pois o corpo não é capaz de armazenar proteína adicional, o excesso de proteína é convertido em gordura e armazenado dessa forma, sendo assim, se a proteína for consumida além da dieta normal, qualquer ganho de peso será em gordura.

2.2.     Benefícios da musculação

    “A musculação quando sobre supervisão adequada, representa uma excelente opção para a manutenção da saúde e melhoria da qualidade de vida, pois qualquer indivíduo pode se beneficiar da mesma” (PRAZERES, 2007, p.14).

    Segundo Balsamo e Simão (2003) recomendações têm sido feitas com relação à prática da musculação ou treinamento de força em todas as populações seja ela sadia ou populações ditas especiais, pois programas incorporados por exercícios de resistência e treinamento de força têm mostrado redução em diversas doenças crônicas, como diabetes, doença cardíaca, osteoporose e obesidade, como também mostra muitos benefícios de proteção à saúde num geral.

    Para Ghorayeb e Barros (1999), a musculação é muito conhecida atualmente nas academias, quando bem elaborada e realizada de uma forma correta, traz inúmeros benefícios ao organismo da mulher, tais como: aumento da densidade óssea, aumento da massa magra e consequentemente perda da massa gorda, melhor funcionamento hemodinâmico do coração, aumento da ventilação pulmonar, redução de níveis de triglicerídeos e LDL colesterol, aumento do nível do colesterol bom (HDL), aumento da sensibilidade das células à ação da insulina. A maior quantidade de massa muscular significa maior gasto energético diário e maior quantidade de tecido captador de glicose, fortalecimento das articulações dentre muitos outros benefícios que poderão afastar o aparecimento de algumas doenças infecciosas não transmissíveis.

    Prazeres (2007) e Vieira (1996) ressaltam que dentre os muitos benefícios da musculação estão:

  1. Manutenção e Aumento do Metabolismo - decorrente do aumento de massa muscular, pois a mesma é responsável pela maior parte do metabolismo orgânico.

  2. Diminuição da perda de Massa Muscular - efeito este de grande utilidade principalmente aos idosos, pois no processo de envelhecimento há uma diminuição progressiva da Massa Muscular.

  3. Redução da Gordura Corporal - devido ao aumento do gasto energético e da conseqüente queima de calorias, ocorre uma diminuição das reservas de gordura corporal. Para Santarém (1995), a musculação é importante no processo de emagrecimento, porque aumenta o gasto calórico e impede a diminuição do metabolismo basal que costuma ocorrer durante as dietas hipocalóricas. Sampedro (1986), afirma que com um treinamento misto de musculação e corrida de 10 minutos, encontrou acentuada diminuição do percentual de gordura de indivíduos não treinados.

  4. Diminuição das Dores Lombares - com um programa adequado de alongamento e fortalecimento da musculatura lombar ocorre uma significante queda no desconforto lombar.

  5. Minimização da Ansiedade e da depressão - deprimidos podem encontrar melhora na prática de exercícios. Indivíduos com tendência à ansiedade e depressão são beneficiados pela liberação de substâncias calmantes e relaxantes durante os exercícios. As endorfinas, aumentadas no organismo de quem pratica musculação, por exemplo, ajudam muito na diminuição da hiperatividade.

  6. Melhora do sono - quem se exercita dorme com mais facilidade e aproveita melhor o sono, um programa de exercícios comprovadamente melhora a qualidade e duração do sono e ajuda o praticante a adormecer com mais facilidade. O efeito dos exercícios no sono são explicados pelo maior relaxamento muscular e a redução da tensão nervosa decorrentes da atividade física.

  7. No meio estético, conclui-se que a musculação gera dois importantes benefícios: o aumento da massa corporal metabolicamente ativa e a melhoria da autoimagem. Neste ambiente, o principal elemento que deve ser observado com a prática da musculação é a modelagem do corpo, respeitando a individualidade biológica de cada praticante. Com uma imagem corporal mais bem delineada, o praticante sente-se autoconfiante para o estabelecimento de relações interpessoais (PRAZERES, 2007; VIEIRA 1996).

    Segundo Gardner (1996, a satisfação do corpo é um dos aspectos mais importantes relacionado à imagem corporal, e é por meio dela, da imagem corporal, que o indivíduo mostra essa satisfação ou insatisfação.

3.     Análise dos dados

    A partir deste momento, analisaremos os dados levantados pelo questionário. A seguir, encontram-se as representações gráficas, que reproduzem os dados encontrados durante a investigação e analisados pelos autores. Nelas estão expostas quais as partes do corpo que mais incomodam e que têm prioridades na musculação, os medos existentes ao iniciar a prática, os mitos que envolvem a mesma e também os fatores que influenciaram e motivaram na escolha da musculação.

    Como primeiro ponto inquietante de nosso estudo, procuramos descobrir quais as partes do corpo que mais incomodam as mulheres, e consequentemente, os que possuem prioridades para serem trabalhados durante um programa de musculação.

Figura 1. Partes do corpo que mais incomodam e que têm prioridades na prática da musculação em mulheres de uma academia de Erechim RS

    A maioria das praticantes de musculação que responderam ao questionário têm como prioridade os glúteos, coxas e abdômen, sendo que na minoria essas partes também foram citadas só que em conjunto com os braços. É percebível nas academias que a procura pela musculação está diretamente ligada com a insatisfação das mulheres principalmente com glúteos, coxas e abdômen assim como comprovou a pesquisa. Outra questão da pesquisa confirma isso, pois 72% das mulheres que responderam o questionário, afirmam terem escolhido a musculação, pois acreditam que, com ela, seu principal objetivo será alcançado, ou seja, a parte do corpo que mais a incomoda seja ela os glúteos, coxas ou abdômen terá uma grande melhora com os treinos da musculação e assim aumentará o nível de satisfação com seu corpo. Shih e Kubo (2002), conforme já citados anteriormente e reforçado neste momento, afirmam que a insatisfação corporal tem sido identificada também como a discrepância entre o corpo percebido e o corpo que é desejado, sendo que quanto maior o afastamento entre os dois, maior será a insatisfação da mulher.

    Após analisarmos a preferência pela parte do corpo a ser trabalhada, partimos para a discussão referente aos medos que as mulheres possuem ao iniciarem um programa de treinamento de musculação. A figura abaixo representa de forma gráfica a interpretação dos dados levantados.

Figura 2. Maior medo ao iniciar um treino de musculação

    Percebemos que 38% das questionadas disse não ter medo algum, 26 % das mulheres deixaram claro temer o fato de não atingir seus objetivos. Assim como no gráfico anterior, pode-se perceber a grande preocupação das mulheres entrevistadas em melhorar a sua imagem corporal, aquilo que não está do seu agrado. Ainda, 24 % delas temem o fato de aumentar exageradamente o corpo, e apenas 12% tem medo de lesionar alguma parte do corpo.

    Assim como na figura anterior, a representação gráfica a seguir mostrará os principais mitos existentes na musculação para mulheres e, dentre esses mitos, quais incomodam as mulheres que participaram da pesquisa. É necessário destacar neste momento que algumas das mulheres entrevistadas não possuíam conhecimento de mitos referentes à musculação feminina. Pensamos que muitos dos mitos propagados por muito tempo na sociedade podem já, em diversos momentos, terem sido diluídos por reportagens vinculadas à mídia ou ainda por ter aumentado consideravelmente a difusão de informações pelo meio acadêmico da educação física quanto ao tema.

Figura 3. Mitos sobre a musculação que incomodam as mulheres que praticam a mesma

    Percebemos que os mitos existentes sobre a prática da musculação para mulheres ainda preocupam algumas delas tendo relação direta com o medo ao praticarem a musculação, sendo que 50 % das envolvidas na pesquisa responderam que não se incomodam com nenhum dos mitos, 20% sentem incômodo com relação ao mito de que se parar de treinar os músculos transformam-se em gordura, 14% responderam que o mito de que sem dor não tem resultados as preocupa, já a minoria delas demonstrou incômodo com relação ao mito de que a musculação diminui a flexibilidade e de que a musculação engorda e masculiniza. Através da pesquisa, percebe-se que 50% das mulheres participantes ainda temem alguns mitos, por isso a necessidade de tornar cada vez mais claro o benefício da musculação para as mesmas, assim como as verdades e as mentiras sobre essa prática.

    Para Nieman (1999), atualmente as mulheres que praticam ou pensam em praticar musculação não devem temer a masculinização do corpo. A musculação pode satisfazer muitos anseios estéticos por meio do fortalecimento dos músculos, não só dos glúteos, quadríceps ou abdômen, mas também braços, peito e costas, afinal o corpo deve ser visto como um todo, e de forma alguma o treinamento intenso transformará a mulher em uma “montanha de músculos”, pois isso exige anos de prática, controle rigoroso na dieta e em certos casos a utilização de hormônios. Essa desinformação assim como muitas outras é apenas um mito, fruto de anos de repressão às mulheres.

    Como nas figuras anteriores, a representação gráfica a seguir mostrará quais os fatores que influenciaram e motivaram as mulheres para iniciarem a prática da musculação.

Figura 4. Fatores que influenciaram e motivaram para iniciar a prática da musculação

    Dentre os inúmeros fatores que envolvem a musculação, 44% das entrevistadas responderam que a saúde e a qualidade de vida foram os que mais as influenciaram e motivaram na hora de iniciar a musculação, 17% responderam que foram motivadas e influenciadas pela hipertrofia e pela tonificação dos músculos, 13% também responderam que foram motivadas pela tonificação dos músculos e pela qualidade de vida, 10 % das mulheres foram influenciadas e motivadas pela hipertrofia e saúde, 8% pela força e qualidade de vida e, para finalizar, outras 8% pela saúde e condicionamento físico. É visível que dentre as respostas da maioria está citada a saúde ou a qualidade de vida, em conjunto com outro fator que cada uma delas considera importante para si. Com essa análise, é possível ver que a maioria das entrevistadas tem a percepção da importância da musculação principalmente com relação à saúde e ao bem estar, e também com relação à composição corporal. Para Gentil e Pulcinelli (2002), a musculação, ou seja, o treinamento com pesos, mesmo que com um volume relativamente baixo é um meio muito eficiente de alterar positivamente a composição corporal das mulheres.

4.     Considerações finais

    Considerando os objetivos a que nos propusemos no início deste estudo e as evidências encontradas durante todas as etapas da investigação, algumas conclusões importantes foram obtidas. As principais destacamos no decorrer deste tópico.

    Primeiramente, destacamos um grande número de mulheres praticantes de musculação dentro da idade destinada para a realização da pesquisa, ou seja, mulheres de 20 a 35 anos. Também, destacamos a presteza de tal público em participar do estudo, visto que nenhuma das mulheres convidadas se recusou a responder o questionário tornando a pesquisa eficaz.

    Com relação às partes que mais incomodam as mulheres praticantes de musculação, pode-se perceber que o abdômen, glúteos e também as coxas são as principais, fazendo com que os exercícios que trabalham essas musculaturas sejam a prioridade do programa de treinamento, mostrando assim a insatisfação quanto à forma corporal que a maioria sente.

    Na questão dos medos, percebemos que muitas não se incomodam com eles, o que significa que as verdades sobre a prática da musculação já vem sendo esclarecidas para algumas praticantes, mas algumas das entrevistadas citaram alguns receios como não atingir os objetivos, ou até situações mais complexas como aumentar exageradamente algumas das partes do corpo, ou sofrer lesões.

    Os mitos existentes sobre a musculação para mulheres ainda são fatores preocupantes. As entrevistadas mostraram-se bastante divididas nas respostas. 50% da amostra não demonstrou incômodo com relação aos mitos, mas a outra metade das entrevistadas demonstrou preocupação com a existência dos mesmos, o que vem confirmar que a falta de informação e conhecimentos sobre essa prática, principalmente sobre os resultados que a mesma proporciona ainda existem, e que é muito importante a preparação e qualificação dos profissionais que trabalham nessa área, sendo que estes é que farão esses esclarecimentos.

    Nos fatores que influenciam e motivam as mulheres a praticarem a musculação, as respostas variaram bastante, mas o predomínio da saúde, vida saudável e tonificação dos músculos foi bastante significativo. Priorizando estes aspectos, as entrevistadas mostram que a saúde e o bem estar ainda são os principais objetivos na procura pela musculação, assim como a estética e a satisfação corporal.

    Caracterizar um perfil das mulheres praticantes de musculação em uma academia de Erechim (RS), sobre seus principais objetivos, medos, e também a sua visão com relação aos mitos existentes, foi essencial para uma primeira visão da situação atual, ou seja, uma aproximação da realidade e da situação em que se encontra o nível de esclarecimento existente sobre a musculação, através do conhecimento e da visão das mulheres envolvidas. É importante salientar, também que ainda existem muitas praticantes inseguras, que sentem alguns medos com relação a essa prática, o que comprova a importância e a necessidade de estudos que esclareçam ainda mais as verdades e os benefícios tanto para a saúde como estéticos que estão diretamente ligados à musculação para mulheres.

Referências

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