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Percepção dos jogadores profissionais de futebol dos principais clubes

de Fortaleza com relação à aplicabilidade do treinamento de força

La percepción de los jugadores de fútbol de los principales clubes de 

Fortaleza con relación a la aplicabilidad del entrenamiento de la fuerza

 

*Pós-Graduação lato senso em Treinamento Esportivo

Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, CE

**Graduação em Educação Física, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, CE

***Pós-Graduação lato senso em Nutrição e Exercício

Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, CE

****Mestrado em Ciências Fisiológicas

Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, CE

(Brasil)

André Igor Fonteles*

andre_fonteles@hotmail.com

Renan Góis Mateus**

Eduardo da Silva Pereira***

Raquel Felipe de Vasconcelos Carneiro****

Adriano César Carneiro Loureiro****

adriano.loureiro@uece.br

 

 

 

 

Resumo

          O jogador de futebol necessita de força, em suas diversas formas de manifestação, para um desempenho de alto nível. Para que o atleta possa render o máximo possível faz-se necessário um processo de estruturação do treinamento. A escolha deste tema ocorreu devido à importância do treinamento de força na preparação física dos jogadores profissionais de futebol. Este estudo teve como objetivo investigar o conhecimento dos jogadores profissionais de futebol de campo com relação à aplicação do trabalho de força na preparação física. A pesquisa envolveu 30 atletas profissionais de futebol com idades variando entre 18 e 38 anos. Para tanto, utilizou-se um questionário sobre a aplicabilidade do trabalho de força nos principais clubes de futebol profissional da cidade de Fortaleza-Ce. 97% dos profissionais responderam que se sentem motivados e concentrados ao realizar o treinamento de força. O trabalho de força na musculação foi o preferido por 43% dos entrevistados. 30% responderam que o atleta tende a perder sua agilidade com incremento da força. 83% dos atletas consideram à musculação como meio de recuperação após lesões Em geral, observou-se que os atletas, têm conhecimento da importância do treinamento de força para performance, mostrando que a percepção dos atletas vão ao encontro do que diz a literatura.

          Unitermos: Futebol. Treinamento de força. Percepção. Musculação.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 171, Agosto de 2012. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    O futebol é caracterizado pela realização de esforços de alta intensidade e curta duração, interposto por períodos de menor intensidade e duração variada, caracterizando-se assim como uma atividade intermitente e acíclica (BARROS e GUERRA, 2004). Segundo Santos e Soares (2001), o futebol é um jogo extremamente complexo do ponto de vista fisiológico, com ações específicas que evidenciam uma tipologia de esforço de grande diversidade e que, em termos metabólicos, apelam a fontes energéticas claramente distintas.

    Durante uma partida de futebol o atleta submete-se a diferentes tipos de esforços, como saltos, arranques curtos, piques, giros, sendo necessário do atleta de alto nível ter bons níveis de aptidão física nos diferentes sistemas energéticos (BARROS e GUERRA, 2004). Segundo Tubino (1993) considera que a preparação física assumiu nos últimos tempos uma grande importância no treinamento de alta competição, evidenciando inclusive uma certeza de que os grandes resultados desportivos serão sempre correlacionados com condicionamentos físicos de padrões elevados e serão sempre com a aplicação de programas atualizados nas concepções científicas mais modernas

    Segundo Weineck (2000), o jogador de futebol necessita de força nas suas diferentes formas de manifestação, pois a força representa nesse esporte um considerável fator restritivo. Não existe clube que não tenha estratégias para trabalhar esse fator específico do desempenho no futebol. Dessa forma, um adequado processo de estruturação do treinamento faz-se necessário em razão da complexidade do desporto e em função das particularidades que o rodeiam, como, calendários de competição, composição do grupo de atletas, objetivos da direção técnica e patrocínio (OLIVEIRA, 2008).

    Assim, o futebol atualmente é um esporte, onde os dribles e as jogadas bonitas vêm sendo substituídos por uma metodologia de treinamento voltado para preparação física, na qual a força ganha grande importância no meio futebolístico.

    Esta pesquisa investigou o conhecimento dos jogadores profissionais de futebol de campo com relação ao trabalho de força, embasada em opiniões pessoais dos mesmos em relação a esta conduta de trabalho, visando demonstrar que o treinamento de força é uma capacidade fundamental na prática da modalidade, devendo assim ter um maior destaque dentro da periodização do treinamento.

    Portanto, como objetivo geral, foi verificar a percepção dos jogadores profissionais de futebol de campo em relação ao treinamento de força, bem como se averiguou a relevância que os jogadores de futebol atribuem ao treinamento dessa capacidade motora como fator condicionante na performance da modalidade.

Metodologia

    Esta pesquisa investigou o conhecimento dos jogadores profissionais de futebol de campo com relação ao trabalho de força, embasada em opiniões pessoais dos mesmos em relação a esta conduta de trabalho, visando demonstrar que o treinamento de força é uma capacidade fundamental na prática da modalidade, devendo, assim ter um maior destaque dentro da periodização do treinamento.

    Portanto, como objetivo geral, verificou-se a percepção dos jogadores profissionais de futebol de campo em relação ao treinamento de força, bem como se averiguou a relevância que os jogadores de futebol atribuem ao treinamento dessa capacidade motora como fator condicionante na performance da modalidade.

    Os questionários foram entregues ao preparador físico do Ceará e ao preparador físico do Fortaleza, que foram orientados a supervisionar a sua aplicabilidade ao repassarem aos seus atletas. Posteriormente, foi feito o levantamento dos resultados.

    As variáveis relacionadas às respostas do questionário foram analisadas depois da aplicabilidade do questionário. Os dados das questões objetivas foram analisados através de estatísticas descritivas com avaliação percentual. A apresentação dos resultados foi realizada por meio de gráficos e quadros. Para análise estatística foi utilizado o programa Excel 2003.

    Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da UECE com o processo nº: 83521224-4 FR: 217970. Todos os atletas eram freqüentadores regulares dos treinamentos e aceitaram participar do estudo como voluntários assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Além disso, foram observados os preceitos éticos da resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo humanos.

Resultados e discussão

    Quando os profissionais foram questionados a respeito de sua motivação e concentração ao realizar o treinamento de força, 97% dos profissionais responderam que se sentem motivados e concentrados, enquanto que 3% dos profissionais responderam não estarem motivados e concentrados no trabalho.

    Questionando os atletas se antes de começarem o treinamento de força haviam passados por um período de adaptação muscular, curiosamente 27% responderam que não respeitaram essa fase do treinamento, enquanto 73% passaram por esse período.

    Normalmente, os preparadores físicos ao aplicarem um treinamento não explicam os objetivos do treinamento a ser realizado. Por isso, provavelmente esse percentual de 27% que não teve um período de adaptação muscular, pode até ter passado por essa fase no treinamento, mas não foram orientados naquele momento sobre o objetivo do trabalho.

    Quando foi questionado qual o tipo de treinamento de força os atletas preferem realizar, o trabalho na musculação foi aceito com 43% dos entrevistados, enquanto 27% preferem à corrida tracionada e 30% optam pela caixa de areia.

    Acredita-se que a musculação teve maior preferência (47%) devido aos futebolistas associarem o treinamento resistido como meio de uma serie de benefícios, por outro lado, a pliometria não foi relacionada por nenhum futebolista, acreditando-se que esteja associada a risco de lesões, ou até mesmo por falta de estrutura dos clubes que não possuem o material adequado. Entretanto, o treinamento pliométrico necessita de uma atenção especial, pois segundo Weineck (2000), a pliometria representa uma forma de treinamento que induz elevações da performance na força rápida do futebolista, pois possuem um bom nível dessa capacidade motora, devido sua alta intensidade da carga, levando a uma melhora da coordenação intramuscular e um acentuado incremento de força sendo significativo para atletas de resistência, como é o caso do futebolista.

    No momento de responder se é perceptível a influência do treinamento de força no seu desempenho dentro de campo, 100% dos futebolistas afirmam que o treinamento contribui para sua performance.

    Questionando os atletas se o treinamento de força tende a deixar o atleta com menos agilidade, 70% dos entrevistados acreditam que essa teoria seja inexistente, enquanto 30% responderam que o atleta tende a perder sua agilidade com incremento da força.

    A preparação física, muitas vezes foi carregada de más interpretações e falsas teorias. Durante algum tempo foi reconhecido, erroneamente, entre os treinadores que o treinamento de força fazia com que o atleta perdesse sua agilidade, por isso, acredita-se que esse percentual de atletas (30%) que relacionam que a força venha a influenciar negativamente na agilidade esteja associado com orientações adquiridas erroneamente durante seu ciclo de treinamento. Portanto, de acordo com Almeida e Rogatto (2007) a agilidade é dependente da força, pois, consideram que as valências de potência, velocidade e agilidade são muito requisitadas e os atletas necessitam realizar movimentos específicos e poderosos característicos da força explosiva, demonstrando nesse estudo que à agilidade melhorou após um treinamento de força pliométrico para membros inferiores.

    Os futebolistas foram indagados á respeito da inclusão do treinamento de força como fator de queda da flexibilidade, onde 80% dos atletas consideram que o treinamento de força não venha a diminuir sua flexibilidade, enquanto 20% relataram que a flexibilidade venha a diminuir com incremento do treinamento de força.

    Observa-se com as respostas obtidas que os futebolistas encontram-se bem orientados dos benefícios que o treinamento de força pode proporcionar à flexibilidade, por outro lado, alguns futebolistas (20%) consideram que venha a diminuir sua flexibilidade, provavelmente por orientações errôneas adquiridas durante sua carreira como futebolista.

    Ao indagar aos futebolistas se a sua velocidade dentro de campo teve benefícios após o treinamento de força, 83% dos atletas encontraram melhora nessa capacidade motora, enquanto 17% não relataram evolução na velocidade devido ao treinamento de força.

    Com as respostas, verifica-se que os futebolistas (83%) associam a melhora da velocidade devido ao treinamento de força. Acredita-se que esse percentual esteja associado com a percepção dos atletas dentro de ações especificas no campo de jogo. Por outro lado, os outros futebolistas (17%) podem estar relacionado a velocidade com treinamentos inadequados, ou os atletas não tiveram a percepção dessa melhora com o treinamento de força.

    Quando perguntados sobre a utilização do treinamento de força como complemento na recuperação de lesões, 87% dos atletas consideram que seja necessário esse método de tratamento, por outro lado 13% acreditam não ser necessário o treinamento de força como forma de complementar o tratamento na recuperação de lesões.

    Observa-se com as respostas obtidas, que 83% dos atletas consideram à musculação como meio de recuperação após lesões. Acredita-se que esse percentual possa estar relacionado aos atletas que já tiveram alguma lesão e passaram com sucesso por essa fase no tratamento de lesões, ou, relacionado ao nível de conhecimento dos futebolistas sobre o assunto. Por outro lado, desconhece-se o motivo de 17% considerar que não seja necessário um treinamento de força como complemento na recuperação de lesões. Portanto, segundo com Kurata, Martins e Nowatny (2005), a reabilitação tem como objetivo fundamental restaurar a função neuromuscular, com inclusão da força, da coordenação e de propriocepção, e recuperar a capacidade cardiorrespiratória e habilidade do desempenho esportivo.

    Relacionando a ausência do treinamento de força com uma maior probabilidade de lesões, 100% dos futebolistas consideram a força como um dos fatores na prevenção de lesões.

    Os futebolistas (100%) consideram que o treinamento de força seja de fundamental importância na prevenção de lesões, pois, devido às respostas obtidas acredita-se que os atletas correlacionam os benefícios que o treinamento de força pode atribuir na sua manutenção da forma desportiva.

    Ao questionar os futebolistas qual a capacidade que os atletas necessitam de melhor condicionamento, houve um equilíbrio entre as respostas, onde 37% consideram a capacidade aeróbia como fator condicionante no seu desempenho, e 46% relatam a potência muscular como primordial na sua performance, e 17% associam a necessidade das duas capacidades de forma equilibrada.

    O futebol caracteriza-se como uma modalidade predominantemente aeróbia, mas como fator determinante na modalidade, temos a potência muscular. Com as respostas obtidas pelos futebolistas, verifica-se certo equilíbrio nas respostas acreditando-se que até mesmo os atletas confundem-se em relação qual a capacidade motora o atleta tenha que estar melhor condicionado. De acordo com Gomes e Souza (2008), consideram a resistência aeróbia de importância substancial para todas as modalidades esportivas devido à formação da base funcional, mas no futebol, a resistência aeróbia, é uma capacidade de apoio, principalmente no que se refere ao treinamento da resistência especial.

    Questionando os futebolistas quais os tipos de treinamento de forma quantitativa eles realizaram durante seu ciclo como profissional, 70% consideram haver um equilíbrio entre os treinamentos gerais (resistência aeróbia, alongamentos, piques cíclicos) e treinamento específicos (força, velocidade, piques acíclicos), enquanto 20% dos atletas relataram uma predominância de treinamentos específicos e 10% consideram uma carga maior de treinamentos gerais. Portanto, a partir das informações obtidas foi possível organizar o gráfico 1 que resume a maneira como os avaliados percebem o treinamento de força aplicado ao futebol.

Gráfico 1. Percepção geral dos atletas em valores percentuais em relação ao treinamento de força aplicado ao futebol

Conclusão

    Alguns questionamentos necessitam de esclarecimentos, pois algumas respostas obtidas pelos atletas tiveram um percentual que merecem destaque como: 27% responderam que não passaram por um período de adaptação muscular, 30% relacionam que o treinamento de força venha diminuir sua agilidade e 20% consideram que o treinamento irá prejudicá-los na sua flexibilidade.

    Essas respostas podem ser reflexo das más interpretações da literatura científica e das falsas teorias, que treinadores e atletas tiveram ao longo dos anos. No entanto, a ciência do treinamento desportivo é bem explicativa sobre esses temas. Por isso, cabe aos profissionais que compõem à comissão técnica, em especial, o preparador físico, orientar aos futebolistas sobre esses questionamentos.

    De maneira geral, os futebolistas apresentaram uma boa percepção sobre o treinamento de força, com respostas que estão de acordo com o que a literatura científica apresenta. Portanto, os atletas, em geral, são conhecedores dos benefícios que o treinamento de força pode proporcionar para seu desempenho na modalidade. Por tanto, fica evidente a necessidade do treinamento de força como método de treinamento bem planejado e controlado dentro da periodização específica da modalidade, podendo trazer benefícios no desempenho do futebolista dentro de campo, como melhora nas capacidades motoras de: força, potência, velocidade, resistência aeróbia e anaeróbia, agilidade, flexibilidade e até mesmo como medida preventiva.

Referências

  • ALMEIDA, G.T; ROGATTO, G.P. Efeitos do método pliométrico sobre a força explosiva, agilidade e velocidade de deslocamento de jogadoras de futsal. Revista Brasileira de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança. v.2, n.1, p. 23-38, mar. 2007.

  • BARROS, T.L; GUERRA, I. Ciência do Futebol. Barueri, SP: Manole, 2004.

  • GOMES, A.C; SOUZA, J. Futebol: Treinamento Desportivo de Alto Rendimento. Porto Alegre: Artmed, 2008.

  • KURATA, D.M; MARTINS, J.J; NOWATNY, J.P. Incidências de lesões em atletas praticantes de futsal. Iniciação Cientifica CESUMAR. v.9, p.45-51, 2007.

  • OLIVEIRA, P.R. Periodização contemporânea do treinamento desportivo: modelo das cargas concentradas de força: sua aplicação nos jogos desportivos (basquetebol, futebol de campo, futsal, voleibol) e luta (judô). São Paulo: Phorte, 2008.

  • SANTOS, P.J.; SOARES, J.M. Capacidade aeróbia em futebolistas de elite em função da posição especifica no jogo. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto. v.1, n°2, 2001.

  • TUBINO, M.G. Metodologia Científica do Treinamento Desportivo. 11 ed. São Paulo: Ibrasa, 1993.

  • WEINECK, J. Futebol Total: o treinamento físico no futebol. Guarulhos, SP: Phorte, 2000.

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