Relação do IMC com a aptidão física relacionada à saúde em escolares do sexo masculino de Curitiba, PR Relación del IMC con la aptitud física relacionada con la salud en escolares varones de Curitiba, PR Relation of BMI with health-related physical fitness among male schoolchildren in Curitiba, PR |
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Prof. de Educação Física Especialista em Fisiologia do Exercício (UFPR) (Brasil) |
Renato Maziero |
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Resumo O presente estudo teve como objetivo verificar a relação do índice de massa corporal (IMC) com a flexibilidade, resistência abdominal e VO2máx. A amostra foi constituída por 309 estudantes do sexo masculino, entre 10 e 16 anos de idade, pertencentes a escolas estaduais de Curitiba-PR. Foram medidas a estatura e a massa corporal para o cálculo do IMC. Os testes de flexibilidade e resistência abdominal foram empregados conforme os protocolos do PROESP. A aptidão cardiorrespiratória foi avaliada através do testes de 12 minutos de Cooper. Foram utilizadas análises descritivas para a apresentação dos dados e a correlação de Pearson para verificar a relação entre as variáveis analisadas. Para estas análises foi utilizado o programa estatístico SPSS 18.0 com um nível de significância estipulado em p<0,05. Os resultados demonstraram uma correlação significativa inversa do IMC com a resistência abdominal (r= -0,242; p= 0,0001) e com o VO2máx (r= -0,223; p= 0,0001), contudo, não foi encontrada relação significativa entre o IMC e a flexibilidade (p=0,81). Observando tais resultados, nota-se que a obesidade pode contribuir para a diminuição dos níveis de aptidão física dos indivíduos jovens, o que por sua vez, acarreta em uma condição inferior de saúde e qualidade de vida. Unitermos: Aptidão física. Obesidade. Saúde. Escolares.
Abstract This study aimed to examine the relationship between body mass index (BMI) with the flexibility, abdominal endurance and VO2máx. The sample consisted of 309 male students, between 10 and 16 years old, belonging to state schools in Curitiba-PR. Height and body mass were measured to calculate the BMI. The testing of flexibility and abdominal endurance were employed according to the protocols of the PROESP. Cardiorespiratory fitness was assessed by 12-minute Cooper testing. Descriptive analysis was used for the presentation of data and Pearson correlation to investigate the relationship between the variables. For this analysis we used SPSS 18.0 with a significance level set at p<0.05. The results showed a significant inverse correlation between BMI and abdominal endurance (r= -0.242, p= 0.0001) and VO2máx (r= -0.223, p= 0.0001), however, there was no significant relationship between BMI and flexibility (p= 0.81). Observing these results, we note that obesity may contribute to decreased levels of physical fitness of young individuals, which in turn leads to a lower health status and quality of life. Keywords: Physical fitness. Obesity. Health. Schoolchildren.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 171, Agosto de 2012. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
A globalização contribuiu para que se originassem importantes transformações no comportamento social dos indivíduos. Destaca-se esta afirmativa por perceber-se a grande aceitação e inclusão de instrumentos modernos pela sociedade em geral, que facilitam a vida dos indivíduos, garantindo um mínino de esforço físico (Machado, 2009). Além dos avanços tecnológicos, o estilo de vida sedentário é influenciado por outros fatores como a falta de tempo, o status o sócio-econômico, as influências culturais, idade e a condição de saúde (Nahas, 2001).
Estes fatores que afetam os adultos são observados do mesmo modo em crianças e adolescentes e, além disso, nas horas de lazer observa-se a troca atividades ativas, como a participação em escolinhas esportivas, atividades como o escotismo, jogos e brincadeiras por atividades sedentárias, como horas em frente ao videogame, assistindo TV, internet e computador, o que têm contribuído muito para o declínio da prática de atividade física nesta população (Boreham & Riddoch, 2001; Guedes & Guedes, 2003; Salmon et al., 2005).
Desta forma, a diminuição na prática de atividades físicas e o aumento do sedentarismo levam a uma diminuição no gasto energético, o que colabora para o equilíbrio energético positivo, onde o consumo energético é maior que a demanda energética. Este fator demonstra uma relação direta com o aumento da gordura corporal e suas comorbidades (Bouchard, 2002; Guedes & Guedes, 2003; Guyton & Hall, 2006; Nahas, 2001).
Este aumento da gordura corporal e o aumento nos níveis de obesidade na infância e adolescência podem apresentar como conseqüência uma diminuição da aptidão física geral, demonstrando uma função cardiorrespiratória e musculoesquelética baixas. Sendo evidente que níveis desejáveis de desempenho são necessários para manutenção e melhora da aptidão física relacionada à saúde e que indivíduos com baixos índices de aptidão física podem apresentar um baixo índice de qualidade de vida, a manutenção do peso normal pode ser uma estratégia para assegurar melhores índices de aptidão física e qualidade de vida (American College of Sports Medicine [ACSM], 2006; Blair et al., 1995; Costa, 2009; Guedes & Guedes, 2003; Hantan et al., 1999).
Sendo assim, o objetivo deste estudo foi verificar a relação do índice de massa corporal (IMC) com os níveis da aptidão física relacionada à saúde em estudantes do sexo masculino, entre 10 e 16 anos de idade, de escolas estaduais em Curitiba-PR.
MÉTODOS E PROCEDIMENTOS
Amostra
O estudo foi realizado com alunos de duas escolas estaduais da cidade de Curitiba-PR, na região Sul do Brasil. A amostra se caracterizou como não aleatória voluntária e para o presente estudo foi constituída de 309 estudantes do sexo masculino, com idade entre 10 e 16 anos.
Os pais e/ou responsáveis autorizaram a participação dos escolares na pesquisa mediante a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE).
INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS
Os testes foram realizados nos horários das aulas de Educação Física nos períodos matutino e vespertino, durante três semanas para cada turma pesquisada. Como orientação básica para a execução do procedimento, foi solicitado descanso no dia anterior aos testes.
Para medir a estatura dos avaliados foi usado estadiômetro com precisão de 2mm. No momento da medida foi solicitado ao aluno que se posicionasse de costas para a escala do estadiômetro, mantendo os pés juntos e calcanhares encostados junto à parede (PROESP-BR, 2009).
Para a medição da massa corporal total usou-se uma balança com precisão de até 100 gramas marca Plena. A medida foi anotada em quilogramas com a utilização de uma casa decimal (PROESP-BR, 2009). O índice de massa corporal (IMC) foi calculado pela divisão da massa corporal pela estatura ao quadrado e foi classificado conforme a proposta de Conde e Monteiro (2006).
Para avaliar a aptidão cardiorrespiratória foi utilizado o teste de Cooper de 12 minutos (Cooper, 1970). Foi medida uma área em volta da quadra desportiva da escola e demarcada com cones, é a área por onde os alunos correram durante os 12 minutos do teste. Quando foram completados os 12 minutos de corrida, foi dado um sinal sonoro para que todos andassem perto dos lugares onde estivessem no momento do sinal para que o professor pudesse anotar as distâncias alcançadas individualmente. O VO2máx (ml.Kg.min) foi calculado através da fórmula: 22,351xD(Km) -11,288.
Para avaliar a flexibilidade foi empregado o teste de Sentar e Alcançar, utilizando um Banco de Wells. Os alunos estavam descalços, sentados de frente para a base do banco, com as pernas estendidas e unidas. Com as mãos sobrepostas e dedos médios alinhados, flexionam o corpo e alcançam com as pontas dos dedos a maior distância possível sobre a régua graduada, sem flexionar os joelhos e sem utilizar movimentos de balanço. Foi registrada a maior distância alcançada na melhor de duas tentativas (PROESP-BR, 2009).
Para a avaliação da força/potência abdominal foram utilizados colchonetes de ginástica e cronômetro. O aluno se posicionou em decúbito dorsal com os joelhos flexionados a 90 graus e com os braços cruzados sobre o tórax. O avaliador fixou os pés do estudante ao solo. Ao sinal, o aluno realizou o maior número de flexões do tronco em 1 minuto. As flexões somente foram consideradas quando os cotovelos tocavam as coxas. O resultado foi expresso pelo número de movimentos completos realizados em 1 minuto (PROESP-BR, 2009).
Análise estatística
Foi utilizada a estatística descritiva com médias, desvio-padrão, valores mínimos e máximos para apresentação dos dados. Para verificar a relação entre IMC, VO2máx, Resistência abdominal e flexibilidade foi utilizada a correlação de Pearson. O nível de significância estipulado foi p<0,05. Para todas as análises foi utilizado o programa estatístico SPSS 18.0.
RESULTADOS
Como caracterização da amostra, na Tabela 1 são apresentados os valores das médias e desvio padrão do IMC, Flexibilidade, Resistência abdominal, VO2máx dos meninos.
Tabela 1. Valores médios, desvios padrão, mínimos e máximos das variáveis analisadas
Através das análises de correlação, foram observadas correlações significativas do IMC com a resistência abdominal (r= -0,242; p=0,0001) e com o VO2máx (r = -0,223; p=0,0001), sendo que quanto maior o IMC menores foram os valores de resistência abdominal e VO2máx. Em contrapartida, não houve relação significativa entre o IMC e a flexibilidade (p=0,81).
DISCUSSÃO
A identificação dos fatores associados à prática de atividades físicas na adolescência é importante para orientar políticas públicas de promoção de atividade física (Sallis, Prochaska, & Taylor, 2000). Não obstante, conhecer os fatores associados aos diferentes tipos e intensidades de atividades físicas torna-se relevante para orientar programas de intervenção que visem promover o estilo de vida ativo durante a adolescência, especialmente aos grupos de maior risco ao comportamento sedentário.
Isto se torna importante uma vez que os indivíduos com menores níveis de atividade física podem apresentar diversos problemas associados à saúde, sendo um deles o aumento na gordura corporal.
No presente estudo, observa-se uma correlação fraca e inversa entre IMC e VO2máx, indicando que, quanto mais elevado o valor do IMC dos escolares, menor à distância o VO2máx dos indivíduos. Ainda, observou-se uma correlação fraca e inversa do IMC com o teste de abdominal, indicando que, quanto maior o valor do IMC, menor a quantidade de abdominais realizada.
O desempenho dos sujeitos desta pesquisa vem ao encontro à afirmação de Oliveira, Ribeiro e Santos (2006), de que a aptidão física e a capacidade de tolerância ao exercício máximo e submáximo de indivíduos obesos são mais baixos comparados com a dos seus pares não obesos. Bar-Or (1987), citado por Ehlert et al. (2010), afirma que a obesidade é um dos principais fatores para baixos níveis de aptidão física. Afirma ainda que, a obesidade afeta não só a capacidade física da criança e adolescente, mas também sua auto-estima e a sua capacidade de socialização.
Há ainda, estudos que relacionam a obesidade a uma menor capacidade cardiorrespiratória, índices de aptidão física inferiores, quando comparados a crianças eutróficas (Frey & Chow, 2006) e maior gasto energético no decorrer das atividades, pois requerem maior esforço físico, que sujeitos eutróficos, para o desempenho de uma mesma atividade (Bracco et al., 2002).
Segundo Pinho e Petroski (1999), citado por Ehlert et al. (2010), à falta de atividade física seria uma característica marcante no comportamento habitual de crianças com sobrepeso e obesidade e, esta carência de atividades, além de poder vincular-se a problemas cardiorrespiratórios e outras doenças crônicas, poderia também influenciar no desenvolvimento das habilidades motoras, devido ao insuficiente nível de experiências motoras.
Pazim, Frainer e Moreira (2007) citado por Ehlert et al (2010) alertam para o fato de esses atrasos acontecerem devido à inatividade que está ligada a obesidade. Pois, as crianças e adolescentes obesas podem demonstrar certa resistência à prática de atividades, por apresentarem dificuldade na realização das mesmas ou por vergonha da exposição da aparência corporal. Este cuidado com a exposição proporciona aos obesos, muitas vezes, a opção por atividades com baixo gasto calórico, abandono de hábitos saudáveis de vida, que, geralmente, nestas faixas etárias, estão muito ligados as atividades desportivas em grupo.
Desta forma, a criança ou o adolescente, troca práticas ativas, como a participação em escolinhas esportivas, atividades como o escotismo e até mesmo as aulas de Educação Física, por atividades sedentárias em casa, como horas em frente ao videogame, assistindo TV, internet e computador; atividades estas que não proporcionam a ela vivências motoras amplas, limitando o desenvolvimento de suas capacidades, em um período fundamental para o desenvolvimento destas (Pazim, Frainer e Moreira, 2007 citado por Ehlert et al., 2010).
Através dos resultados apresentados podemos concluir que, apesar de encontrar valores de correlação fracos, existe uma tendência dos indivíduos com maiores valores de IMC apresentar resultados inferiores de VO2máx e nas repetições abdominais. Este resultado é importante por demonstrar que os indivíduos com maiores valores de IMC, mesmo em idades mais jovens, podem apresentar uma condição de saúde prejudicada, uma vez que a aptidão física é diretamente ligada à saúde e à qualidade de vida.
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