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Exercícios de Frenkel adaptados ao tratamento de uma 

paciente com síndrome de Guillain Barré: estudo de caso

Los ejercicios de Frenkel adaptados al tratamiento de una paciente con síndrome de Guillain Barré: un estudio de caso

 

*Graduada em Fisioterapia (FASU)

**Mestre em Ciências da Motricidade Humana (UCB)

Especialista em Fisioterapia Neurofuncional (UCB)

Membro do Grupo de estudo sobre doença de Parkinson, GEDOPA (UFRJ)

Doutor em Biologia Celular e Estrutural (UFV)

(Brasil)

Adriana Justi Vaz*

adrianajustivaz@hotmail.com

Meuriene Aparecida Alves*

meuriene_alves@hotmail.com

Profª. Ms. Gisele de Paula Vieira**

giselefisio04@hotmail.com

Prof. DSc.Daniel Raul Santurio Basile***

danbasufv@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve como objetivo avaliar os benefícios dos exercícios de Frenkel no tratamento de uma paciente com Síndrome de Guillain Barré (SGB). Foi realizado um estudo de caso, do tipo quantitativo e corte longitudinal, com uma paciente do sexo feminino, de 22 anos de idade, negra, obesa e diagnóstico clínico de SGB há dois anos. Foram utilizados a escala de equilíbrio de Berg para avaliação do equilíbrio estático e dinâmico e o questionário SF-36 para avaliar a qualidade de vida. Nesta pesquisa, observou-se que os exercícios de Frenkel promoveram melhora significativa do equilíbrio funcional avaliado, passando de 4 para 16 pontos e conseqüentemente, a qualidade de vida da paciente. De acordo com os resultados obtidos, concluiu-se que o tratamento utilizando os exercícios de Frenkel se mostrou eficaz em uma paciente com SGB.

          Unitermos: Síndrome de Guillain Barré. Exercícios de Frenkel. Escala de Equilíbrio de Berg.

 

Abstract

          This new study had as objective to test the benefits of Frenkel exercises in the treatment of a patient with Syndrome de Guillain Barre (SGB). A case study was carried out by the quantitative and longitudinal cut, with a female patient, that was a twenty two years old, black, obese and with a clinical diagnosis of SGB from two years to now women. They use a Berg's balance scale to test the static and dynamic balance and the SF.36's questionnaire to test the quality of life. In this research was noticed that the Frenkel exercises promoted a significant improvement in the valued functional balance, passing from 4 to 16 points and as a result of that. According to the results, was concluded that the used treatment was regarded effective with the SGB patient.

          Keywords: Guillain Barre Syndrome. Frenkel exercises. Berg Balance Scale.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 171, Agosto de 2012. http://www.efdeportes.com

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1.     Introdução

    A Síndrome de Guillain Barré (SGB) é uma polineuropatia inflamatória aguda ou subaguda de caráter autoimune que conduz a desmielinização da porção proximal dos nervos periféricos, apresentando-se como paralisia flácida de evolução simétrica ascendente e arreflexia (ROWLAND, 2002; BOLAN et al. 2007).

    Aproximadamente 60% a 70% dos pacientes com SGB apresentam alguma doença aguda precedente (1 a 3 semanas antes), podendo ocorrer após uma síndrome virótica inespecífica, caxumba, sarampo, infecção pelo vírus Epstein-Barr, por Campylobacter jejuni, Citomegalovírus e outras infecções virais, tais como hepatite por vírus tipo A, B e C, influenza, HIV e também gravidez, cirurgia e imunizações (COLLINS, 1998; TORRES; SÁNCHEZ; PÉREZ, 2003; BRASIL, 2009; LOLY et al., 2009).

    Usualmente a SGB progride por 2 a 4 semanas. Nesta fase, 30% dos pacientes necessitam de ventilação mecânica devido à insuficiência respiratória. Logo após a fase de progressão, a doença se estabiliza por vários dias ou semanas com uma recuperação gradual da função motora ao longo dos meses seguintes. Depois de2 anos do início da doença, 15% dos pacientes ficam sem nenhum déficit residual e 5% a 10% permanecem com sintomas motores ou sensitivos incapacitantes (WEINER; GOETZ, 2003; BRASIL, 2009).

    O tratamento fisioterapêutico baseia-se na antecipação e manejo das comorbidades associadas visando menor tempo de recuperação e minimização de déficit motor (BERGER; SCHAUMBERG, 1998 apud ORSINI et al., 2010).

    Existem várias propostas de tratamento fisioterapêutico, dentre elas estão os exercícios de Frenkel, que se apresentam muito úteis para desenvolver a propriocepção, enfatizando o aprendizado motor (LEITÃO, 1972; O’SULLIVAN, 1993; KOTTKE, 1994 apud SALMÓRIA et al., 2002).

    Os exercícios de Frenkel foram desenvolvidos em 1889 para tratamento de pacientes com problemas de incoordenação cerebelar ou proprioceptiva, constituindo uma série de atividades de dificuldade progressiva e ritmada que, por sua vez, exige um grau elevado de concentração mental, controle visual do movimento e repetições. Os exercícios são realizados com o paciente deitado, sentado ou em pé, progredindo de posturas de maior estabilidade até posturas de maior desafio que visam à melhora do controle proprioceptivo dos membros inferiores, da situação locomotora e o controle do movimento funcional (KOTTKE et al. 1994 apud SALMÓRIA et al., 2002; O’SULLIVAN, 2010).

    Portanto, o objetivo geral deste estudo foi propor e realizar um tratamento fisioterapêutico baseado nos exercícios de Frenkel em uma paciente com SGB. A fim de atingir seus objetivos específicos, este trabalhou buscou: a) avaliar o equilíbrio estático e dinâmico; b) avaliar a independência funcional; c) realizar um programa de reabilitação utilizando os exercícios de Frenkel; e d) reavaliar a paciente após o tratamento para analisar a eficácia do método utilizado.

2.     Metodologia

    Foi realizado um estudo de caso com início no mês de maio e término em setembro de 2011, em uma clínica particular de fisioterapia no município de Astolfo Dutra, Minas Gerais. Trata-se de uma pesquisa do tipo quantitativa, com corte longitudinal, com a paciente J.M.S., de 22 anos de idade, do sexo feminino, negra, obesa, com diagnóstico clínico de SGB há dois anos.

    No presente estudo, foram consideradas as questões éticas preconizadas na Resolução nº 196 de 1996 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996), sendo inteiramente voluntária a participação da paciente e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) devidamente assinado (Apêndice A), com a garantia do anonimato da paciente.

    A paciente apresentou, em 2009, Hepatite tipo B, desencadeando quadros de cefaléia, tremores, parestesia, fraqueza muscular, vômitos freqüentes, permanecendo no leito, evoluindo para incapacidade de ortostatismo.

    Dentre os instrumentos utilizados para melhorar o equilíbrio estático e dinâmico, atividade motora e independência funcional, foram instituídos os exercícios de Frenkel desenvolvidos em 1889 (O’SULLIVAN, 2010) duas vezes por semana, totalizando 40 sessões, de 45 minutos cada. Os exercícios foram desempenhados em decúbito dorsal, sentado e em pé, com apoio unilateral e sem apoio, de forma unilateral ou bilateral. Foram realizados de forma suave, executados lenta e uniformemente, progredindo de posturas de maior estabilidade (deitada, sentada) para posturas de maior desafio (de pé, caminhando), enfatizando o aprendizado motor.

    A coleta de dados foi realizada na pré e pós-intervenção. Para avaliar o equilíbrio estático e dinâmico foi utilizada a Escala de Equilíbrio de Berg composta de 14 itens com 5 alternativas, que variam de 0 a 4 pontos comuns à vida diária, podendo chegar ao escore máximo de 56 pontos (O’SULLIVAN, 2010).

    O Questionário SF-36 foi utilizado para avaliar a qualidade de vida da paciente. Ele é formado por 36 itens, englobados em 8 componentes: (1) capacidade funcional, (2) aspectos físicos, (3) dor, (4) estado geral de saúde, (5) vitalidade, (6) aspectos sociais, (7) aspectos emocionais, (8) saúde mental e mais uma questão de avaliação comparativa entre as condições de saúde atual e as de um ano atrás (O’ SULLIVAN, 2010). Após obtenção dos resultados foi feito um estudo descritivo representados em dois gráficos e em uma tabela.

3.     Resultados e discussão

    O plano de tratamento utilizando os exercícios de Frenkel se mostrou eficaz de acordo com a avaliação e reavaliação adotadas para este estudo.

    Os dados dos exercícios de Frenkel estão demonstrados no Gráfico 1.

Gráfico 1. Exercícios de Frenkel, avaliação e reavaliação.

Fonte: dados da pesquisa

    Os exercícios foram realizados de forma gradativa e seguindo as posturas neuroevolutivas. Inicialmente a paciente executou os exercícios de Frenkel de forma unilateral, apresentando dificuldade para entender e realizar os comandos, alcançando o item 9 com 5 repetições de cada exercício.

    Durante um mês, progrediu para 10 repetições, realizando os exercícios bilateralmente. Depois de 3 meses, evoluiu para 15 repetições conseguindo realizar mudanças de posturas, passando de sentado para de pé, mantendo a posição ortostática sem apoio por alguns minutos e alcançando o item 13 referente à transferência de peso. Além disso, apresentou ganho de consciência corporal e coordenação motora, não conseguindo realizar os itens 14 (andando de lado ou para frente, sob uma contagem especificada) e 15(girar sob uma contagem específica). Esses dados corroboram com os resultados obtidos no trabalho de Urbsheit e Oremland (1995) apud SALMÓRIA et al., 2002), onde afirmam que os exercícios de Frenkel melhoram a incoordenação, propriocepção de membros inferiores e, conseqüentemente, a situação locomotora, visando o controle do movimento funcional (LEITÃO, 1972; O'SULLIVAN, 1993; KOTTKE, 1994 apud SALMÓRIA et al., 2002), e atuando sobre a percepção consciente e inconsciente.

    Com a finalidade de avaliar o equilíbrio funcional, foi utilizada a escala de equilíbrio de Berg (EEB), obtendo os resultados apresentados no Gráfico 2.

Gráfico 2. Escala de Equilíbrio de Berg (EEB), avaliação, escore máximo e reavaliação.

Fonte: dados da pesquisa.

    Mediante a escala de equilíbrio de Berg, ficou evidenciado que a paciente apresentava, durante a avaliação, um índice de equilíbrio muito baixo em relação à pontuação máxima, realizando apenas o item “permanecer sentado sem apoio”. Ao final do tratamento, depois da reavaliação, constatou-se que houve aumento da pontuação para os itens: posição sentada para posição em pé; permanecer em pé sem apoio; posição em pé para posição sentada; transferências; permanecer em pé com os olhos fechados; e virar-se para olhar para trás, revelando uma melhora do equilíbrio após a realização dos exercícios de Frenkel.

    De acordo com Miyamoto et al. (2004), a escala de equilíbrio de Berg vem sendo utilizada principalmente para determinar os fatores de risco durante a perda da independência e quedas em idosos, atendendo a várias propostas: descrição quantitativa da habilidade de equilíbrio; acompanhamento do progresso dos pacientes; e avaliação da efetividade das intervenções na prática clínica e em pesquisas.

    Para avaliação da qualidade de vida foi utilizado o questionário SF-36, importante meio de reconhecimento do perfil da paciente. Os resultados dessa avaliação podem ser visualizados na Tabela 1.

Tabela 1. Análise descritiva dos resultados da avaliação e reavaliação da qualidade de vida da paciente com Síndrome de Guillain Barré

    Esses valores mostram a interferência da disfunção na qualidade de vida dessa paciente e as limitações apresentadas nas atividades de vida diária. A análise dos resultados da avaliação mostrou que as piores pontuações do SF-36 foram obtidas nos domínios de capacidade funcional, limitação por aspectos físicos e aspectos emocionais,obtendo melhor desempenho após o tratamento nos domínios de capacidade funcional, estado geral de saúde, vitalidade e saúde mental.

    Philips e Haskell (1995) apud OKUMA, 1997) citam que a perda da capacidade funcional leva o indivíduo à diminuição das atividades de vida diária: vestir-se, comer, tomar banho sozinho e até mesmo caminhar pequenas distâncias de forma independente. Da mesma forma, também são prejudiciais as atividades instrumentais da vida diária que se referem às atividades mais complexas do cotidiano, tais como: passear, fazer compras, limpar a casa, lavar roupa, dirigir, utilizar meios de transporte coletivo, entre outros, levando a um processo depressivo, assim como demonstrado no item “aspectos emocionais”. Quanto aos aspectos físicos, estes também apresentaram interferência na qualidade de vida dos indivíduos avaliados, visto que o baixo escore na pontuação reflete uma diminuição nas habilidades diárias, confirmando os achados do presente estudo.

4.     Conclusão

    De acordo com os resultados obtidos neste estudo, conclui-se que os exercícios de Frenkel promovem melhora significativa no equilíbrio funcional avaliado por meio da EEB.

    No questionário de qualidade de vida SF-36 a paciente apresentou melhora da capacidade funcional, estado geral de saúde, vitalidade e saúde mental, comprovando que o aumento do equilíbrio funcional contribui diretamente para a melhora da qualidade de vida.

    Considera-se que um programa de tratamento preventivo e de reabilitação deve ser iniciado o mais precocemente possível e ter caráter multidisciplinar. Entretanto, não foram encontrados na literatura trabalhos que utilizassem essa modalidade terapêutica em pacientes com SGB, sendo necessários novos estudos com mais amostras.

Referências bibliográficas

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  • SALMÓRIA, J.G.; MARQUES, L.M.P.C.; CHIQUETTI, E.M.S. Exercícios de Frenkel adaptados e modificados no tratamento de paciente com marcha atáxica e incoordenação motora: relato de caso. Arquivo Ciências da Saúde UNIPAR, Umuarama, PR, v. 6, n. 2, 2002.

  • SILVA, C.A.B.; STIVALI, C.M.; MARTONI, F.R.; FARIA,D.; MANDU, S.A.; OLIVEIRA, T.M.; OBERG, T.D.; ZUBEN, A.V.; LIMA, N.M.F.V. A influencia da estimulação sensório-motora plantar em indivíduos com polineuropatia: relato de casos. Revista Neurociências, Campinas, SP, v.19, n. 2, 2011.

  • WEINER, W.J.; GOETZ, C.G. Neurologia para não Especialistas. 4ª ed. São Paulo: Santos, 2003.

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