Efeito anti-hipertensivo do exercício físico agudo El efecto anti-hipertensivo del ejercicio físico agudo |
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*Graduado em Educação Física pelo Centro Universitário de Belo Horizonte Especialista em Exercício Físico Aplicado a Reabilitação Cardíaca e a Grupos Especiais pela Universidade Gama Filho Mestre em Educação Física pela Universidade Federal de Viçosa. **Especialista em Exercício Físico Aplicado a Reabilitação Cardíaca e a Grupos Especiais pela Universidade Gama Filho |
Pedro Natali Pinheiro Soares* Arthur Matozinhos Dias** (Brasil) |
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Resumo Unitermos: Exercício físico agudo. Efeito anti-hipertensivo. Hipertensão arterial.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 171, Agosto de 2012. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
A pressão arterial anormalmente alta, ou hipertensão arterial, pode ser entendida como uma doença crônica e uma síndrome multifatorial, caracterizada pela presença de níveis tensionais elevados e que estão relacionados a alterações metabólicas, hormonais e hipertrofia cardíaca e vascular (NEGRÂO e BARRETO, 2006).
A elevação da pressão arterial representa por si só, um fator de risco para doenças cardiovasculares, e possui também complicações como: doença cerebrovascular, doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca, insuficiência renal crônica e doença vascular de extremidades (V DIRETRIZES BRASILEIRAS de HIPERTENSÃO ARTERIAL, 2006). Sendo que um indivíduo é considerado hipertenso quando, na ausência de terapia farmacológica anti-hipertensiva, seus níveis pressóricos são mantidos cronicamente em valores iguais ou superiores a 140 mmHg para a pressão arterial sistólica e/ou 90 mmHg para pressão arterial diastólica (LATERZA, 2007).
No Brasil, as doenças cardiovasculares têm sido a principal causa de morte. Em 2007 ocorreram 308.466 óbitos por doenças do aparelho circulatório. Apesar desta elevada taxa de mortalidade, entre 1990 a 2006, notou-se uma tendência lenta e constante de redução das taxas de mortalidade cardiovascular (VI DIRETRIZES BRASILEIRAS de HIPERTENSÃO ARTERIAL, 2010).
A redução da pressão arterial de repouso, ocasionada pelo exercício físico pode ocorrer de forma aguda ou crônica. A redução aguda ocorre nos minutos ou horas subsequentes à realização da atividade física, por meio do efeito denominado hipotensão pós-exercício (PESCATELLO et al, 2004). De acordo com Laterza et al (2007), diversos estudos demonstram que o exercício físico, realizado deforma aguda (uma sessão), produz um efeito hipotensor que pode durar várias horas após sua realização. Sendo que, quando realizado de forma crônica, o exercício físico aeróbio é capaz de prevenir e tratar a hipertensão arterial.
De acordo com Negrão e Rondon (2001), o exercício físico realizado de forma aguda provoca diminuição na pressão arterial no período pós-exercício, sendo que essa redução pode persistir por até 24 horas, portanto, apresenta importância clínica, principalmente em indivíduos hipertensos. Com isso, a recomendação da prática de atividade física orientada, principalmente para população com hipertensão arterial vem ganhado força, e torna-se necessário o envolvimento de equipes multiprofissionais, com o intuito de otimizar a qualidade da intervenção profissional (NEGRÃO e BARRETO, 2006).
Objetivo
Este artigo de revisão busca mostrar alguns resultados de estudos sobre o efeito anti-hipertensivo de uma sessão de exercício físico aeróbico em indivíduos hipertensos, além de verificar e demonstrar seus mecanismos.
Metodologia
Para a realização do presente estudo, foram realizadas pesquisas bibliográficas em livros e artigos que discutem o exercício físico e o seu efeito hipotensor em indivíduos hipertensos. A busca dos artigos científicos foi realizada utilizando os seguintes bancos de dados: periódicos do Portal Capes, Pubmed, Scielo e Lilacs. Para a busca dos artigos foram utilizadas as seguintes palavras: exercício físico, atividade física, exercício físico agudo, hipertensão, hipotensão, efeito hipotensor e hipotensão pós-exercício, a busca foi realizada também com esses termos em inglês. Para elaboração deste artigo, foi feita uma análise da literatura encontrada, destacando os principais achados encontrados sobre o assunto.
Exercício físico agudo
Uma imediata redução dos níveis pressóricos após a realização de uma sessão de um exercício físico, e sua permanência abaixo dos níveis encontrados em repouso tem sido denominada na literatura como hipotensão pós-exercício, e é frequentemente observado em humanos e em animais de laboratório (NEGRÃO e BARRETO, 2006, LATERZA, 2007, HAMER, 2006).
Quando se discute essa queda da pressão arterial, alguns fatores estão envolvidos diretamente tanto na ocorrência quanto na magnitude e na duração da hipotensão pós-exercício. O nível inicial da pressão parece influenciar na ocorrência de hipotensão pós-exercício, sendo que indivíduos que apresentam níveis pressóricos mais altos no estado de repouso, como os hipertensos, estão mais propensos a apresentarem uma redução de maior magnitude (CASONATTO e POLITO, 2009). Em indivíduos hipertensos a queda da pressão arterial sistólica é de aproximadamente 18 a 20 mmHg e de 7 a 9 mmHg para pressão arterial diastólica, enquanto em indivíduos normotensos a redução da pressão arterial sistólica é de 8 a 10 mmHg e diastólica 3 a 5 mmHg (KENNEY; SEALS, 1993).
Com relação à intensidade do exercício, uma faixa entre 40% e 80% do consumo de oxigênio de pico, apresenta quedas da pressão arterial de maiores duração e magnitude (NEGRÃO e BARRETO, 2006). Em um trabalho realizado por Pescatello et.al. (2004), 49 homens com hipertensão estágio 1 (145.0 ± 1.5/85.8 ± 1.1 mmHg), realizaram exercício em esteira rolante com as intensidades de 40% (leve) e 60% (moderado) do VO2máx. Como conclusão, os autores encontraram que as intensidades leve e moderada provocaram hipotensão pós-exercício. Já em um estudo realizado por MacDonald et. al. (1999), 10 indivíduos normotensos (~135/75 mm Hg) realizaram uma sessão de 30 minutos de exercício em cicloergômetro, em duas intensidades: 50% e 75% do VO2pico. Como conclusão, o estudo indicou que a atividade realizada em cicloergômetro com as intensidades propostas, foi capaz de provocar similares reduções na pressão arterial após a atividade física.
Já relacionado à duração da sessão de exercícios físicos, nota-se melhores resultados de duração e magnitude em sessões entre 20 e 60 minutos (NEGRÃO e BARRETO, 2006). Forjaz et. al. (1998), desenvolveu um protocolo experimental com 10 indivíduos que realizaram duas sessões de exercício (25 e 45 minutos) no ciclo ergômetro em 50%VO2pico. Como conclusão, foi demonstrado que o exercício físico de maior duração provoca hipotensão pós-exercício maior e mais prolongada.
E considerando o tipo de exercício, os que envolveram atividades dinâmicas, como caminhadas, natação ou cicloergômetros, foram os que provocaram maior redução nos níveis pressóricos, apesar de não parecer ocorrer diferenças com relação aos níveis de hipotensão pós-exercício entre as atividades. A massa muscular total envolvida na prática da atividade física também parece provocar reações distintas na pressão arterial, sendo que exercícios que envolvem maiores grupos musculares, podem provocar uma hipotensão pós-exercício de maior duração comparado com atividades realizadas com menores grupos musculares (NEGRÃO e BARRETO, 2006, (CASONATTO e POLITO, 2009).
Diversos são os estudos que demonstram os efeitos de uma única sessão de exercício físico na pressão arterial sistólica e diastólica de indivíduos hipertensos. Na tabela abaixo (adaptada de CASONATO E POLITO, 2009) existe alguns estudos abordando esse tema, citando a característica da amostra (idade), o sexo, o número de participantes do estudo, o tipo, a intensidade e a duração do exercício, tempo de mensuração da pressão arterial e o efeito provocado pelo protocolo proposto.
Tabela 1. Efeito de uma sessão de exercício físico na pressão arterial
Mecanismos responsáveis pela hipotensão pós-exercício
Diversos mecanismos poderiam estar ligados ao comportamento da pressão arterial no período da recuperação da atividade física. Uns dos fatores seriam os hemodinâmicos, como por exemplo, o débito cardíaco e a resistência vascular periférica total (NEGRÃO e BARRETO, 2006). Alguns autores têm demonstrado que a hipotensão pós-exercício esta relacionada com a diminuição do débito cardíaco, sendo que esta redução foi provocada por um menor volume sistólico em virtude de um menor enchimento ventricular (LATERZA, 2007). Negrão e Rodon (2001), relataram em um artigo de revisão, que uma única sessão de exercício prolongado de moderada ou baixa intensidade proporciona redução prolongada na pressão arterial, e que essa redução está ligada basicamente a uma diminuição de débito cardíaco, associado à redução do volume sistólico.
Seguindo a mesma linha, Rondon e Brum (2003), demonstraram em estudos realizados com animais espontaneamente hipertensos, que a hipotensão pós-treinamento é explicada pela diminuição do débito cardíaco. Outro fator que poderia estar associado à redução dos valores pressóricos é a atividade nervosa simpática inibida durante a hipotensão pós-exercício em humanos e em modelos animais, o que favoreceria a redução da resistência vascular periférica (FLORA et al., 1989). Este mecanismo poderia ser explicado pelo fato de que durante o aumento da pressão arterial, nervos aferentes que compõem o sistema barorreflexo são estimulados, desencadeando bradicardia reflexa e vasodilatação periférica (KRIEGER; BRUM e NEGRÃO, 1998).
Estas alterações hemodinâmicas na diminuição da pressão arterial após uma sessão de um exercício físico podem ocorrer de modificações em fatores neuro-humorais, como atividade nervosa simpática, hormônios circulantes e fatores endoteliais locais, dentre outros. Em indivíduos hipertensos a diminuição da atividade nervosa simpática explicaria a queda da pressão pós-exercício (NEGRÃO e BARRETO, 2006). Trabalhos iniciais mostram que a regulação vascular simpática foi prejudicada após uma sessão de 60 minutos de atividade física, sugerindo uma transdução ineficiente do fluxo simpático dentro da resistência vascular (HALLIWILL et al., 1996). Essa transdução ineficiente da atividade nervosa na vasoconstrição poderia resultar de uma menor liberação de neurotransmissores, como a noradrenalina.
De acordo com Pontes Junior, Prestes, Leite e Rodrigues (2010), (apud, HALLIWILL, 2001; CHEN e BONHAN, 2010) a redução da pressão arterial após o exercício físico ocorre por componentes neurais e vasculares. O componente neural envolve o reajuste dos pressorreceptores, referente à redução da atividade simpática no músculo, já o componente vascular, refere-se à influência potencial de substâncias vasodilatadoras e menor resposta vascular à ativação dos receptores alfa-adrenérgicos.
Modificações na sensibilidade de receptores adrenérgicos cardíacos (dessensibilização dos β-adrenérgicos) envolvidos na regulação da freqüência cardíaca estariam envolvidas na hipotensão pós-exercício (NEGRÃO e BARRETO, 2006). Alem disso, de acordo com Negrão e Barreto (2006) (apud, BLANCHARD et al. 2006) foi demonstrado existir uma estreita relação entre o sistema renina-angiotensina (aumento na expressão dos genes da ECA (enzima conversora de angiotensina)) sobre a resposta da pressão arterial em atividades realizadas em intensidades baixa e moderada, resultando em aumento dos níveis basais da pressão arterial e hipotensão pós-exercício de maior magnitude.
Em uma revisão realizada por Pontes Junior, Prestes, Leite e Rodrigues (2010), diversos autores citados por eles, indicaram uma relação entre o sistema renina-angiotensina e o sistema calicreína-cininas. Relatando que o aumento nas concentrações séricas da ECA pode acarretar em maior síntese de angiotensina II e desativação das cininas, o que poderia prejudicar a regulação do balanço de água e sódio e a pressão arterial. Este efeito estaria ligado mais diretamente com o exercício físico realizado de forma crônica, apesar de poder apresentar algum efeito em uma única sessão de atividade física.
Substancias vasodilatadoras que atuam diretamente nas células endoteliais contribuem para hipotensão pós-exercício. NO (oxido nítrico) e receptores H1 são exemplos destas substancias influenciadas pela ação do exercício físico, relacionado com mudanças na condutância periférica total e, portanto implica em um mecanismo anti-hipertensivo (HAMER, 2006).
E de acordo com Rão, Collins e DiCarlo (2002) o NO é um importante sinalizador intra e extracelular sintetizado pelas células endoteliais, que provoca relaxamento do músculo liso e, consequentemente, com a redução na resistência vascular periférica. Estudos conduzidos com modelos animais demonstraram que o oxido nítrico contribui para a HPE.
O efeito do oxido nítrico junto ao treinamento aeróbio induz ao remodelamento vascular e ao aumento na capilarização sem a hipertrofia das fibras musculares. Além disso, o exercício induz a arteriogênese, que é a ampliação dos vasos condutores já existentes, aumentando a capacidade de fluxo para o músculo (PRIOR et al., 2003).
Considerações finais
O exercício físico realizado de forma aguda, provoca redução na pressão arterial pós-exercício, principalmente em indivíduos hipertensos, provavelmente por estes apresentarem níveis tensionais basais maiores que indivíduos normotensos.
Os mecanismos anti-hipertensivos do exercício parecem ser multifatoriais e podem divergir entre os indivíduos, e deve ser encarado como uma terapia para prevenção primária, tratamento e controle da hipertensão. De acordo com a maioria das evidencias encontradas, e de acordo com Pescatello 2004, o exercício deve seguir as seguintes prescrições para otimizar a redução da pressão arterial:
Frequência: preferencialmente todos os dias da semana
Intensidade: intensidade moderada (40-60% do VO2máx.)
Duração: ≥30 minutos de atividade física contínua ou acumulada por dia
Tipo: principalmente atividade física aeróbica.
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