Distribuição das atletas de voleibol nas categorias de base do estado de São Paulo: posição de jogo e estatura. Estudo retrospectivo Distribución de las jugadoras de
voleibol en las categorías de base del estado Distribution the volleyball athletes from base categories of Sao Paulo State: position and stature: retrospective study |
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Professora de Educação Física e Fisioterapeuta. Profa. do Laboratório de Fisiologia do Exercício/Lafecc da Universidade do Vale do Itajaí, SC |
Elaine Cristina Rodrigues Farina (Brasil) |
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Resumo Este estudo teve como objetivo analisar a distribuição da estatura, por idade, posição e categoria das atletas de voleibol das categorias de base do Estado de São Paulo para caracterização da relação posição-estatura no voleibol competitivo. Para tanto, foi utilizada uma amostra de 540 atletas do sexo feminino das diversas categorias de base que foram inscritas (federadas) para as competições oficiais promovidas pela Federação Paulista de Voleibol. As categorias foram dividas conforme a idade cronológica para a competição. Os dados foram coletados por meio de questionário e avaliação antropométrica (estatura). A análise de variância mostrou que há diferença significante (p<0,05) entre as médias de idade por posição. A estatura mais baixa para a posição de Líbero e a estatura mais alta para a posição de Meio de rede. Unitermos: Antropometria. Treinamento esportivo. Desenvolvimento. Voleibol.
Abstract This study aimed to analyze the distribution of stature, age, position and category of the volleyball athletes from base categories of Sao Paulo State, in order to point out the characteristics of the relation position-stature in the competitive volleyball. A sample of 540 female athletes from base categories with inscription in the Volleyball Federation to compete in official competitions. The categories were divided regarding the chronologic age. The data were collected by means of questionnaire and anthropometric assessment (stature). ANOVA demonstrated that there is a significant difference between means of age by position (p<0.05). Libero stature is shorter than Middle Spiker. Keywords: Anthropometry. Training. Development. Volleyball.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 171, Agosto de 2012. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
A evolução e as conquistas do voleibol brasileiro são tão evidentes na categoria adulta que, atualmente, é referência mundial, modelo de técnica e tática. A organização deste esporte tem obtido sucesso também nas categorias de base. Estas categorias mantêm a contínua formação e renovação da equipe principal adulta.
O voleibol é uma modalidade coletiva caracterizada pelas trocas de posses de bola seguindo uma seqüência comum de fundamentos de saque ou serviço, recepção ou passe, levantamento, ataque ou cortada, bloqueio e defesa (Bahr R, Karlsen R, Lian O, et al., 1994). Com a evolução do esporte e a necessidade de aumentar a eficácia das defesas durante o jogo de Voleibol, a função de Líbero foi criada em 1998. O jogador nesta função tem como objetivo primordial, a recepção do saque e a defesa. Seu posicionamento fica restrito a zona de defesa, não podendo, em hipótese alguma, realizar movimentos de ataque (FIVB, 2008).
Poucos estudos têm se dedicado à trajetória das jogadoras das categorias de base. O objetivo desta pesquisa foi estudar o perfil da população que pratica esta modalidade no que diz respeito à idade cronológica, posição e estatura destas atletas. Um estudo retrospectivo, que visa colaborar, a compreender e a comparar as tendências e a evolução do comportamento destas atletas para estudos atuais, nas formações táticas das equipes influenciadas pela estatura das atletas.
Metodologia
Esta pesquisa é um estudo retrospectivo, baseados nos dados coletados em 2004 na elaboração da dissertação de mestrado do autor, as análises foram feitas baseadas nas regras vigentes no período.
Sujeitos
O estudo foi realizado em 17 clubes da capital e do interior do estado de São Paulo. A amostra foi de 540 atletas do sexo feminino (federadas) praticantes de voleibol, representando 90% das atletas que participaram dos campeonatos oficiais da Federação Paulista de Voleibol (FPV) no primeiro semestre de 2004 (Tabela 1). Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Bandeirante de São Paulo. Foram avaliadas 5 categorias Pré-Mirim, Mirim, Infantil, Infanto-Juvenil e Juvenil.
Coleta de dados
A coleta de dados foi conforme a aceitação e disponibilidade dos profissionais com agendamento prévio. A estatura é uma variável antropométrica determinante do desempenho do Voleibol (Massa M, Silva LRR, Bohme MTS, et al., 2003). Para a avaliação dessa variável, foi utilizado o estadiômetro portátil, seguindo o protocolo de aplicação. Em pé, descalças, com os pés unidos e em apnéia inspiratória, a cabeça orientada no plano de Frankfurt. Observando as recomendações sugeridas por Filho (2003).
Tratamento estatístico
Os dados foram organizados em tabelas por freqüência ou média e desvio padrão. Para testar a diferença entre médias, foi feita análise de variância seguida do teste post hoc de Tukey (p<0,05).
Resultados
A idade das atletas variou de 11 a 19 anos. Até 13 anos (Pré-Mirim); 14 anos (Mirim); 15 anos (Infantil); 16/17 anos (Infanto-Juvenil) e 18/19 (Juvenil). Em relação às posições, as atletas foram divididas em: a) Todas, para as jogadoras da categoria Pré-Mirim que ainda não têm especialização, b) Levantadora, c) Líbero, d) Saída de Rede (oposto), e) Ponta (entrada de rede) e f) Meio de Rede.
Quanto às posições e categorias, foram consideradas apenas a posição vigente da atleta e a categoria de sua idade quando a mesma participava de mais de uma categoria nas competições. A distribuição das atletas, por categoria e posição, está na Tabela 2, idade, por categoria, está na Tabela 3.
Tabela 1. Equipes participantes no Campeonato Paulista no 1º semestre de 2004, por categoria
Tabela 2. Distribuição das atletas, por categoria e posição
O maior número de atletas atua na posição de ponta, seguida da posição de meio, desconsiderando a categoria Todas por não haver a especialização ainda. Em relação às Levantadoras, inicia-se com grande número diminuindo conforme o avanço da idade e conseqüentemente da categoria. No caso das Líberos, houve menor número de atletas com esta função, esta que é bastante específica neste esporte. No total, pode-se observar homogeneidade no número de atletas por categoria, com exceção a categoria juvenil em que há uma diminuição significativa de participantes. As categorias infanto-juvenil e juvenil são compostas por duas idades 16/17 anos e 18/19 anos respectivamente na formação destas categorias diferentemente das demais categorias.
Tabela 3. Idade das atletas, por categoria e por posição. Média e (desvio padrão)
Na categoria Pré-Mirim, as atletas atuam em todas as posições com exceção da posição de Líbero. Por isso, a idade média das atletas classificadas como Todas as posições é apenas de 12,6 ± 0,6 anos. Por outro lado, o treinamento especializado da posição de Líbero começa efetivamente na categoria Infanto-Juvenil, segundo as Normas Táticas para Categorias Menores. Isso faz com que a média de idade das Líberos seja de 16,4 ± 1,2 anos. Nesta posição, uma das atletas tinha 14 anos, apesar da idade, atuava somente como Líbero uma categoria acima da sua. Já a posição de Saída de rede (oposto) começa ser treinada efetivamente na categoria infantil, fazendo com que a média de idade desta posição também seja de 15,4 ± 1,4 anos. Já com as Levantadoras, ocorre o contrário: nas categorias inferiores há grande número de Levantadoras. À medida que se ascende às categorias de maior idade, diminui o número de Levantadoras. A maior concentração de Levantadoras mais jovens fez com que nesta posição a média de idade fosse de 14,7 ± 1,4 anos. A análise de variância mostrou que há diferença significante (p<0,05) entre as médias de idade por posição (Tabela 4).
A análise de variância mostrou que há diferença significante entres as médias de estatura. As jogadoras de meio são mais altas que as levantadoras e as líberos.
Tabela 4. Estatura das atletas, por categoria e por posição. Média e (desvio padrão)
Discussão
Para cada categoria, existem normas específicas de tática para que o jogo possa acontecer. Na Tabela 2, percebe-se maior número de atletas de ponta (entrada de rede) diferentemente das atletas de saída (oposto). A posição de ponta é bastante requisitada e almejada pelo fato da maioria das pessoas serem destras, e esta posição favorece biomecanicamente às atletas com esta característica, além de ser uma posição de “bola de segurança”. Nos casos em que a recepção ou a defesa realizada não chega adequadamente na posição onde o levantador aguarda para agir, criam-se dificuldades na distribuição de bolas para o ataque nas diferentes posições (ponta, meio, saída ou fundo). No entanto, este fator parece favorecer o levantamento para a posição de Ponta. Segundo Rocha e Barbanti (2004), ao analisar o voleibol masculino de alto nível, verificou-se forte relação da recepção e destino do ataque. Gouveia (2005), ao analisar as ações de jogo na categoria Juvenil em 16 jogos (56 sets), verificou que 50% de todos os ataques realizados ocorreram na Ponta (entrada de rede). Enquanto que a posição de saída beneficia as atletas sinistras (canhotas), mas não é uma regra. Outro fator, que pode justificar o maior número nesta posição é a necessidade de ter duas atletas com esta função colocadas opostamente em quadra para que quando uma sair da zona de ataque a outra estará entrando. O mesmo ocorre com as atletas de meio. Porém, diferente com as atletas de saída que cruzam opostamente com as Levantadoras, necessitando apenas uma posição para cada uma, a partir da categoria infantil, quando permite o sistema 5x1 (5 atacantes e 1 Levantadora). Antes disso, emprega-se o sistema 6x6 e o sistema 4x2 sem infiltração da levantadora para recepção do saque na categoria Mirim. No caso das Levantadoras especificamente, quando se ascende às categorias a necessidade de Levantadoras vai diminuindo pela freqüência do sistema empregado, 5x1. Na categoria Pré-Mirim o treinamento é generalizado pelo emprego do sistema 6x6 obrigatoriamente, sendo levantador o atleta que estiver originariamente na posição 3 em cada um dos rodízios (NORMAS TÁTICAS PARA CATEGORIAS MENORES, 2008). Cada atleta deve passar por todas as posições, evitando a especialização precoce. Isso obriga as atletas aprenderem a atuar em todas as funções e posições neste período de formação esportiva. Estas Levantadoras não foram consideradas em nosso estudo por não haver a especialização, classificadas como Todas.
Na observação do número total, a categoria juvenil tem uma queda bastante significante na participação em relação às outras quatro categorias, que apresentam homogeneidade quanto ao número de atletas. Considerando que, a categoria infanto-juvenil se aproxima numericamente as outras categorias devido ao agrupamento de duas idades diferentes para formação de uma única categoria. Enquanto, as categorias anteriores a esta são compostas por uma única idade somente. Porém, se observarmos a média da idade da categoria infanto-juvenil é de 16,1 anos. Este resultado indica que a maioria das atletas 61 (49%) estava ingressando na categoria oficialmente, isto é, no primeiro ano da categoria pela idade cronológica, 49 (39%) no segundo ano da categoria e o restante 14 (11%) atletas completavam a categoria, tendo idade inferior a 16 anos. Esses declínios participativos encontram igualmente na categoria juvenil, 20 (51%) no primeiro ano da categoria, 10 (26%) no segundo ano e 09 (23%) completavam a equipe, atletas com idade inferior a 18 anos. A separação das idades tornando-as independe respectivamente em 16 depois 17 anos da categoria Infanto-Juvenil e 17 depois 18 anos da categoria juvenil, nos confirma uma progressão descendente no número de participações conforme a progressão ascendente das categorias. Além, do aumento proporcional do número de participantes com idade abaixo da sua categoria atuante. Talvez, seja importante considerar fatores como, por exemplo, a estrutura sócio-econômica, o apoio da família, a disposição e motivação do próprio atleta, os estudos e as lesões. Estão em transição para a fase adulta, podendo ter influenciado no menor número de equipes inscritas, aumentando suas responsabilidades sociais, tendo que escolher entre continuar a participar dos treinamentos diários ou seguir outro caminho na sua vida fora das quadras.
Na Tabela 2, nas relações das atletas por categoria e posição, a média total da amostra foi de 14, 5 ± 1,7 anos, destacando a predominância de idades mais baixas praticarem esta modalidade. Na categoria pré-mirim, a média de idade é de apenas 12,6 ± 0,6 anos sabendo-se que a idade permitida para esta categoria é de até 13 anos e que não há especialização, a mínima idade encontrada foi 11 de anos de idade. Por outro lado, o treinamento especializado de Líbero começa efetivamente na categoria infanto-juvenil, justificando a maior média de idade alcançada pelo grupo entre as posições 16,4 ± 1,2 anos. Analisando a distribuição das freqüências do Líbero, uma das atletas tinha a idade de 14 anos, esta atuava apenas como líbero em uma categoria acima Infanto-Juvenil. Pelo motivo de não haver a categoria pela qual deveria participar infantil em seu clube. Existem muitas atletas que atuam em mais de uma categoria, por falta de atletas nas categorias acima ou mesmo por suas habilidades destacadas. Nestes casos, as posições das atletas aqui referidas são referentes a sua idade cronológica x categoria atuante no período.
Analisando a Tabela 4, a estatura das atletas foi relacionada à categoria e à posição que ela ocupava. Atualmente, a importância da estatura na dinâmica do jogo, está na tentativa de aumentar a eficiência no ataque e da defesa (bloqueio). Por esse motivo, mostra-se uma tendência das atletas com maiores estaturas serem direcionadas e treinadas para a posição de meio, como tática para desenvolvimento do jogo. No entanto, auxiliam de forma significante nas ações citadas anteriormente, e também no saque. Sendo mais evidente conforme os níveis de competição, além das competências técnicas de cada função. Afonso (2006) comenta que, em Portugal, o processo de detecção de atletas para esta modalidade parece estar baseado predominantemente em função da estatura.
A categoria Pré-Mirim não foi possível a análise de freqüência por não haver a especialização, a estatura média foi de 165,3 ± 7,6 cm, próximo à estatura média total das jogadoras que atuavam na posição de Levantadora entre todas as categorias. Podemos sugerir que, atualmente, a média das estaturas alcançadas nas categorias pré-mirim, nos indica a média de estatura (166,4 ± 7,2 cm) das Levantadoras que atuam no estado de São Paulo. Reforçando a hipótese que as Levantadoras tendem a ter a estatura mais baixa quando comparadas às outras posições como Ponta, Meio e Saída de rede. Lembrando que a média de idade entre a amostra foi de 14,5 anos de idade. Porém, maior quando comparado à função de Líbero. A função de Líbero apresentou o menor índice de participação, tendo uma média de estatura inferior entre todas as posições em suas respectivas categorias de atuação infanto-juvenil 168,6 ± 5,6 cm e juvenil 168,4 ± 4,7 cm. As maiores estaturas foram encontradas nas posições de Meio 177,3 ± 6,0 cm, Saída 175,6 ± 6,7 cm e Ponta 171,5 ± 7,0 cm. Há uma diferença significante (p<0,05) entre as médias de idade por posição que nos auxiliam na interpretação das comparações das dimensões corporais por posição.
Conclusão
Há tendência descendente no número de atletas participantes no sentido que as categorias ascendem considerando a idade cronológica separadamente e aumento do número de atletas com idade inferior a categoria atuante. A estatura das atletas das categorias de base sustenta a tendência de se enfatizar a estatura na formação das equipes conforme a posição na quadra: a estatura mais baixa para a posição de Líbero e a estatura mais alta para as posições de Meio de rede.
Referências
AFONSO J. Sobre a detecção e seleção de talentos. Os perigos de se sobreestimar o fator altura. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº102, 2006. http://www.efdeportes.com/efd102/volei.htm
BAHR R, Karlsen R, Lian O, Ovredo RV. Incidence and mechanisms of acute ankle inversion injuries in volleyball: a retrospective cohort study. Am. J. Sports Med. 1994; 22(5):595-600.
FILHO FJ. A prática da Avaliação Física. 2.ed. Rio de Janeiro: Shape, 2003.
FIVB (Federação Internacional de Voleibol). Rules. Available from: http://www.fivb.org/en/volleyball/Rules/FIVB.2009-2012.VB.RulesOfTheGame.Spa.TextfileOnly.pdf. [2008 apr 20].
GOUVEIA FL. Análise das ações de jogos de voleibol e suas implicações para o treinamento técnico-tático da categoria infanto-juvenil feminina (16 e 17 anos). [Tese de Mestrado da Faculdade de Educação Física]. Campinas (SP): Universidade de Campinas; 2005.
MASSA M, Silva LRR, Bohme MTS, Uezu R. A utilização de variáveis cineantropométricas no processo de detecção, seleção e promoção de talentos no voleibol. Rev bras cienc mov. 2003; 11(1):69-76.
NORMAS TÁTICAS PARA CATEGORIAS MENORES. Disponível em: http://www.fpbv.com.br/v2/ [20.02.2008].
ROCHA CM e Barbanti VJ. Uma análise dos fatores que influenciam o ataque no voleibol masculino de alto nível. Rev. Bras. Educ. Fís. Esp. 2004; 18(4):303-314.
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