Análise das condutas morais de atletas universitários de futsal em contextos competitivos Estudio de las conductas morales de jugadores universitarios de futsal en contextos competitivos |
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*Educador Físico e Filósofo Professor Adjunto do Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia Universidade Federal do Amazonas **Estatístico; Professor Assistente do Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia. Universidade Federal do Amazonas |
Dirceu Ribeiro Nogueira da Gama* Pedro Marinho Amoedo** (Brasil) |
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Resumo O objetivo do presente estudo exploratório consistiu em investigar as disposições de atletas universitários de futsal para eventuais condutas violentas em contextos de competição. O público alvo consistiu de cento e cinco jogadores de ambos os sexos. Foram usados dois instrumentos para coletar os dados: um questionário demográfico para sexo e idades; e a Escala de Desvio de Condutas Morais no Esporte. Para comparação das médias por sexo, procedeu-se a aplicação do teste “t”, enquanto que para idades, a análise de variância (ANOVA) one way. Os resultados mostraram ausência de diferenças significativas (p < 0,05) para os valores das médias da variável sexo. Quanto aos grupos de idades, observou-se a existência de diferenças significativas entre os grupos 18–19 anos e 32–39 anos e entre os grupos 30–31 anos e 32–39 anos. O estudo permitiu concluir que os jogadores avaliam seus pares segundo critérios instrumentais e utilitários. Unitermos: Condutas morais. Atletas universitários. Competição. Futsal. Estudo exploratório.
Resumen El propósito de este estudio exploratorio fue investigar las tendencias de jugadores universitarios de futsal por el posible comportamiento violento en el contexto de competiciones deportivas. El grupo investigado estuvo conformado por 105 jugadores de ambos sexos. Se utilizaron dos instrumentos para recolectar datos: un cuestionario demográfico por sexo y edad, y la Escala de Desvío de las Conductas Morais en el Deporte. Para la comparación de promedios por sexo, se procedió a aplicación del test “t”, mientras que para las edades, el análisis de varianza (ANOVA) one way. Los resultados no mostraron diferencias significativas (p < 0,05) para los valores medios de la variable sexo. Acerca de los grupos de edad, se observaron diferencias significativas entre los grupos de 18-19 años y 32-39 años, y entre los grupos de 30-31 años y 32-39 años. El estudio concluye que los jugadores juzgan a sus compañeros con criterios instrumentales y utilitarios. Palabras clave: Comportamiento moral. Jugadores universitarios. Competiciones. Futsal. Estudio exploratorio.
Abstract The purpose of this exploratory study was to investigate the inclinations of futsal college players for possible violent behavior in contexts of sportive competition. The target group consisted of one hundred and five players of both sexes. To collect data, two instruments were employed: a demographic questionnaire for sex and ages; and the Moral Disengagement in Sport Scale. The comparison of means concerning sex was made by “t” test, while the analysis of variance (ANOVA) one way for ages. The results showed no significant differences (p < 0,05) in mean values of the sex variable. About age groups, one observed significant differences between the groups of 18–19 years and the 32–39, and between the group 30–31 years and the 32–39 again. The study concluded that players evaluate their peers using utilitarian and instrumental approaches. Keywords: Moral behavior. College athletes. Competition. Indoor soccer. Exploratory study.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 171, Agosto de 2012. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
A crença de que a adesão a práticas esportivas é capaz de impulsionar o desenvolvimento físico e psíquico das pessoas é tão antiga quanto a própria história do esporte. Desde a Grécia antiga até os tempos modernos, inúmeros pedagogos e filósofos escreveram obras sugerindo a possibilidade de uma relação positiva entre amadurecimento moral da personalidade e engajamento em atividades esportivas (Grifi, 1992).
Não obstante o peso dessa tradição, em grande medida até hoje existente nos meios educacionais, uma gama considerável de estudos oriundos da sociologia e psicologia do esporte vem, desde o final dos anos sessenta, encaminhando posições contrárias. Segundo eles, o engajamento em práticas esportivas também pode se mostrar potencialmente indutor do exercício de ações pouco altruístas (McNamee, 2008). Os argumentos empregados partem da constatação de que o modelo de prática esportiva tornado hegemônico nos tempos modernos institui a vitória sobre os adversários como o principal eixo norteador das ações atléticas. Em termos históricos, Guttmann (1978) diz que a idéia de uma absoluta importância da vitória esportiva, conforme vista na modernidade, não predominou nos períodos anteriores ao século XX com a mesma conotação deste. Não que em civilizações de épocas mais distantes, onde o culto ao esporte também existia, a valorização da vitória fosse nula: na Antiguidade Greco-Romana e na Idade Média, lembra o autor, a relevância social das competições atléticas também era notória; todavia, a exacerbação absoluta do esportista vitorioso não se aproximava dos paroxismos do século XX. Guttmann (1978) sustenta que os seguintes fatores sócio-antropológicos fundamentam tal tese:
Especialização: o esporte moderno pauta-se numa lógica em que a especialização de papéis faz parte de sua constituição. Além do elevado nível de complexidade das regras, cabe aos atletas desempenharem funções particulares nas efetivas situações de prática (atacantes, defensores, bloqueadores, guarda-metas, pivôs, etc.), o que, de certa maneira, corresponde a uma forma de divisão do trabalho.
Racionalização: o esporte moderno baseia-se em regras e regulamentações explícitas, de modo a não haver dúvidas sobre o que é permitido ou não acontecer na sua esfera. Há nisso a pretensão de dar certa previsibilidade aos eventos competitivos. Outro elemento assente nessa lógica racionalizadora é o uso deliberado e permitido de tecnologias científicas para determinados objetivos (medicamentos, equipamentos, métodos de treino, etc.).
Organização burocrática: o esporte moderno integra um vasto conjunto de organismos deliberativos (clubes, secretarias de Estado, universidades, conselhos, ministérios, federações, confederações, tribunais de justiça, empresas, comitês, etc.) responsáveis pela gestão da sua prática nos níveis públicos e privados em dimensões locais, nacionais e internacionais.
Quantificação: o esporte moderno – coerente com o modus vivendi da sociedade moderna – presume a conversão das façanhas atléticas em medidas quantificáveis e comparáveis, a fim de que sejam efetuadas avaliações de desempenho (número de pontos; distâncias percorridas; quantidades de participantes, etc.).
Recorde: o esporte moderno caminha de mãos dadas com a idéia de recorde, uma combinação de quantificação numérica das performances e superação de limitações. Assim, o ímpeto pela vitória constitui algo necessário. O recorde permite comparações entre praticantes situados em diferentes tempos e espaços, pois em seguida a cada aperfeiçoamento performático, pode aparecer outro e assim sucessivamente.
Concordando com Guttmann (1978), Bento (1999) assevera que a reunião desses imperativos de especialização, racionalização, burocratização, quantificação e recorde dita o modus operandi do que denomina de “sistemas esportivos modernos”. De acordo com o autor, sistemas esportivos são conjuntos de instâncias públicas e privadas cujas ligações institucionais estruturam, em variados graus de liberdade, os valores, paradigmas, negócios e representações inerentes à prática do esporte no mundo moderno. Bento (1999) afirma que as determinações desses sistemas penetram no cotidiano dos praticantes através de múltiplas e subliminares maneiras, do tipo propagandas midiáticas; logomarcas; designs de equipamentos, materiais e vestimentas; slogans publicitários; gestos corporais, etc. Dependendo do grau de entrada de tais mensagens no dia a dia dos esportistas, pouco importando serem eles escolares, universitários, profissionais ou adeptos de tempo livre, alguns abalos emocionais podem mesmo acometê-los. Isso porque, nas palavras do autor, informações desse teor, quando excessivas, tendem a despertar frustrações, decepções, baixa auto-estima, sensações de raiva, melancolia, etc. nas vidas psíquicas de quem não consegue atingir os sutis padrões de sucesso que advogam. Além disso, segue Bento (1999), também quase sempre cabe a estes mesmos indivíduos a tarefa de terem que aprender sozinhos a descobrir os mecanismos capazes de aliviar o peso dessas pressões. Em casos extremos, a permanência de tal desconfortante quadro pode redundar na elaboração subjetiva de que apenas o acúmulo das vitórias esportivas, independente do preço a ser pago, é capaz de mitigar os sentimentos pessoais de impotência, nem que para isso haja a necessidade do emprego de ações condenáveis do ponto de vista moral. Exemplos de ações esportivas dessa natureza são, dentre outras, recurso às substâncias dopantes e as violências propositadas contra os adversários nos espaços e tempos de prática.
Com efeito, as observações de Bento (1999) são de cunho eminentemente especulativo, sem o acompanhamento de dados empíricos que lhes sustentem. Além disso, elas versam muito mais sobre eventuais determinantes macroscópicos das pressões psíquicas às quais atletas profissionais e amadores estão sujeitos. Em seus juízos, Bento (1999) deixa de mencionar que fatores microscópicos também podem causar estresse psíquico, como, por exemplo, a natureza das características da modalidade praticada. No entanto, malgrado sua generalidade, ainda assim o diagnóstico traçado possui validade enquanto exercício teórico de reflexão, pois alerta para o fato de que tendências comportamentais contrárias a um eventual “cavalheirismo esportivo” constituem fato usual nos meios esportivos (Keating, 1988).
No que concerne especificamente à verificação de atitudes violentas entre praticantes, Bredemeier e Shields (1984) aprofundam a questão ao salientarem que, quando estas últimas passam a ser corriqueiras em ambientes de treino e de jogos (xingamentos veementes, agressões físicas, provocações verbais, reclamações desrespeitosas, etc.), cabe analisá-las segundo uma dupla perspectiva. De um lado, ao insurgirem de modo espontâneo, indicam o elevado estado de tensão a que esportistas estão submetidos e a necessidade de algum extravasamento, ainda que temporário. Mas, do outro, caso reflitam escolhas visivelmente intencionais, urge vê-las como parte de procedimentos estratégicos que visam gerar efeitos inibitórios. Dizem os autores que nas situações onde comportamentos assim passam a ser repetidos, vige o consenso de que é justificável mantê-los porque auxiliam na aquisição de sucesso, prestígio e vitórias através da desmoralização do adversário. “Obter uma vantagem sobre seus competidores e ganhar a competição é o objetivo básico de todo atleta. Esta perspectiva interna, individual e subjetiva, é que pode determinar a maneira como um atleta se comporta em uma situação competitiva.” (Tavares, 1999, p. 187). Logo, o uso instrumental, imoral e consciente de violências pertence ao horizonte de possibilidades inerentes ao esporte moderno.
A título de ilustração, cumpre citar os resultados de pesquisas efetuadas com atletas em idade escolar e universitária que reiteram essa colocação. Mesmo recentes e concentradas no campo específico dos esportes coletivos, elas trazem contribuições elucidativas que não devem ser desprezadas. Guivernau e Duda (2002) em um estudo envolvendo cento e noventa e quatro jovens atletas americanos de futebol de campo de ambos os sexos, todos universitários, mostraram que os mesmos aceitariam se tornar mais agressivos contra adversários se isso fosse comunicado por seus treinadores como fator significativo para aumentar os seus níveis de competitividade.
Já Smith (1983) reporta que cento e sessenta e seis jogadores e jogadoras canadenses de hockey no gelo, com idades entre doze e quatorze anos, admitiram que reprimendas severas de treinadores ou responsáveis não aconteciam após os jogos em que brigavam caso os resultados finais fossem favoráveis às suas equipes.
Em relação às expectativas de julgamentos dos pais, responsáveis e treinadores, ela parece exercer influência considerável sobre os comportamentos de jovens esportistas em idade escolar. Kabitsis, Harahousou, Arvaniti e Mountakis (2002) observaram que cobranças de parentes pelas vitórias dos seus sobrinhos, filhos, netos, etc. dificultaram a assimilação das noções de tolerância, ponderação e coletividade propostas em alguns programas curriculares experimentais de educação física escolar na Grécia. Pagelow (1984), por seu turno, detectou que atletas adolescentes de esportes coletivos citaram a anuência dos pais como a principal justificativa de suas agressões a companheiros ou adversários. Na mesma linha, Lefebvre, Leith e Bredemeier (1980) identificaram o desprezo à figura simbólica do árbitro como o principal aspecto das atitudes desrespeitosas de jovens esportistas estimuladas pelos seus treinadores.
Ademais, em investigação realizada com homens e mulheres em parques, praças e clubes da cidade de Oeiras, Portugal, com idades oscilando entre dezessete e vinte e cinco anos, Gonçalves (1999) concluiu que: 1) a maioria deles não reconhece nenhum desrespeito voluntário às regras se os árbitros não notarem; 2) erros de arbitragem são protestados apenas se favorecerem a equipe contrária; 3) homens e mulheres acreditam que equívocos do árbitro acontecem de propósito, com o objetivo de prejudicar ou favorecer alguém; 4) tanto homens como mulheres sustentam que jogar com cavalheirismo não leva a vitória, mas a derrota; 5) jogadores do sexo masculino toleram melhor comportamentos ilegais e imorais, incluindo os violentos, além de defenderem que é preferível vencer recorrendo a alguma artimanha não permitida do que perder atuando com cavalheirismo; 6) mulheres apresentam perfis mais cooperativos; 7) adeptos de esportes coletivos onde ocorre intenso contato físico (futsal, futebol, handebol, hockey sobre patins, etc.) admitem que esta circunstância estimula atitudes violentas; 8) praticantes mais velhos aceitam melhor comportamentos contrários ao fair play.
Nos Estados Unidos da América, Ryska (2003) encontrou resultado parecido em pesquisa feita com atletas universitários: veteranos de futebol americano universitário do sexo masculino declararam ter abandonado os “bons modos esportivos” que tinham nos tempos de iniciantes, igualmente insistindo que não sentiam necessidade de procurar conviver harmonicamente com adversários e mesmo colegas de equipe, treinadores e árbitros em treinos e jogos.
Na Islândia, Thorlinsson e Jonsson (1991) concluíram que boa parte dos jogadores e jogadoras de futebol com idades na faixa de quinze e dezesseis anos não hesitaria em empregar meios ilícitos para vencerem seus jogos. Em Portugal, após estudar as atitudes de jovens futebolistas, Boaventura (1991) aferiu que apenas 30,8% deles estavam dispostos a seguir regras e respeitar integralmente os oponentes. Enquanto isso, segundo os levantamentos de Pradie (1991) efetuados com noventa e dois atletas de futebol franceses menores de dezesseis anos, não mais que 37% defenderam a importância de jogar com fair play. Na Suécia, Nilsson (1991) evidenciou o quanto o medo de punições, e não a adesão ao fair play, limitava as ações violentas de jogadores e jogadoras de futebol entre doze e dezesseis anos.
Em resumo, o estado da arte dos estudos e referenciais teóricos acima exibidos indica que atos e julgamentos violentos, destemperados e egoístas contra companheiros, adversários, treinadores e árbitros despontam como acontecimentos usuais no cotidiano dos esportes coletivos praticados por escolares e universitários de ambos os sexos em diversas nações, tais como futebol, hóquei, futebol americano, etc. Além disso, quantidades razoáveis desses esportistas admitem propensão a tomadas de medidas agressivas se isso, conforme suas interpretações pessoais, lhes tornar individualmente mais competitivos e performáticos. Muitas vezes, as opiniões dos pais, parentes e técnicos são lembrados como justificativas para estas ações. Isto posto, verificar até que ponto, e com qual dimensão, essa tendência comportamental reaparece no universo específico dos esportes coletivos praticados na esfera estudantil brasileira é algo que ainda necessita de maiores esclarecimentos.
Portanto, conforme esse diagnóstico, o objetivo do presente estudo consiste em investigar as disposições de atletas universitários praticantes de futsal para a adoção ou não de condutas consideradas agressivas, violentas ou desrespeitosas em contextos de competição. A escolha pelo futsal vem da constatação de que ele é a modalidade de esporte coletivo com mais adeptos em todos os segmentos dos meios educacionais brasileiros na atualidade (Salles & Moura, 2005). Logo, tanto esse reconhecimento como a necessidade de arrolar maiores informações sobre a temática em voga acabam justificando a realização do trabalho em apresentação.
Metodologia
O desenvolvimento do estudo, ora delineado como descritivo e de natureza exploratória, obedeceu a procedimentos éticos, metodológicos e estatísticos. Num primeiro momento, aconteceu a sua submissão, ainda enquanto projeto de pesquisa, ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Amazonas – processo n.o 0145.0.115.000-11 – em 18/04/2011, com aprovação em 22/06/2011.
Sobre o grupo alvo, ele consistiu de cento e cinco discentes (quarenta e cinco mulheres e sessenta homens) adultos, com idades oscilando entre dezoito e trinta e nove anos, todos regularmente matriculados na Universidade Federal do Amazonas e Universidade do Estado do Amazonas e também disputantes do campeonato universitário de futsal da Liga Esportiva do município de Parintins. Essa seleção foi intencional e definida em função de sua pertinência aos propósitos da pesquisa. A Tabela 1 detalha as freqüências dos sujeitos por faixas etárias e sexo.
Tabela 1. Freqüência dos sujeitos por faixas etárias e sexo
Os contatos com cada um dos cento e cinco universitários se deram pessoalmente nos dias de jogos das suas equipes, de acordo com a tabela da competição. As partidas eram realizadas semanalmente à noite, de agosto a novembro de 2011, no Ginásio Municipal Simão Elias Assayag. Para os pesquisadores adentrarem as dependências do ginásio, solicitou-se uma autorização formal à Superintendência Municipal de Esportes de Parintins, concedida após reunião com os gestores do setor onde foi explicitada a natureza, objetivos e metodologia do estudo.
A abordagem dos jogadores acontecia no interior da supracitada instalação, uma a duas horas antes dos jogos, onde os mesmos recebiam explicações sobre os motivos do trabalho, da confidencialidade das informações fornecidas e da não necessidade de identificação pessoal. Após a confirmação do aceite, finalmente lhes era dado o termo de consentimento livre e esclarecido para assinarem. Cumpre realçar que todos os cento e cinco jogadores universitários aceitaram tomar parte na pesquisa.
Foram usados dois instrumentos para coletar os dados: um questionário sócio-demográfico, apenas para levantar o sexo e as idades dos praticantes; e a “Escala de Desvio de Condutas Morais no Esporte” (EDCME), versão adaptada e validada para a língua portuguesa por Gillet et al (2008) do teste “Moral Disengagement in Sport Scale”, criado por Boardley e Kavussanu (2007) na Escola de Esportes e Ciências do Exercício da Universidade de Birmingham, Reino Unido.
A Escala de Desvio de Condutas Morais no Esporte (EDCME) é um inventário de trinta e dois itens agrupados em seis dimensões. Ela visa aferir as tendências comportamentais de atletas diante de situações eventualmente surgidas no decorrer de esportes coletivos com contato físico que possam encorajá-los a ações desleais. As dimensões do teste são: 1) Reconstrução Significativa de Condutas (RSC, itens um a oito); 2) Analogias Vantajosas (AV, itens nove a doze); 3) Irresponsabilidade (IRS, itens treze a vinte); 4) Distorção das Conseqüências (DC, itens vinte e um até vinte e quatro); 5) Desumanização (DES, itens vinte e cinco até vinte e oito); 6) Atribuição de Culpa (AC, itens vinte e nove a trinta e dois).
As respostas a cada item da EDCME são dadas segundo uma escala bidirecional do tipo Likert graduada em sete pontos, cujas opções variam da seguinte forma: “Discordo muitíssimo” [1 ponto]; “Discordo muito” [2 pontos]; “Discordo” [3 pontos]; “Não possuo opinião formada” [4 pontos]; “Concordo” [5 pontos]; “Concordo muito” [6 pontos] e “Concordo muitíssimo” [7 pontos]. Cada dimensão do teste deve ser analisada individualmente, mas um resultado geral também é admissível. Escores brutos elevados, sejam em cada dimensão específica da EDCME ou então no somatório total, denotam a propensão do respondente a valorizar positivamente atitudes violentas, desrespeitosas e agressivas.
Gillet, Vallerand, Paty, Gobancé e Berjot (2008) adequaram o construto a língua portuguesa e atestaram sua validade por meio de análises fatoriais confirmatórias com o auxílio de trezentos e cinco sujeitos de ambos os sexos, com idades oscilando entre doze e cinqüenta e cinco anos. A obtenção de resultados satisfatórios, corroborados via índices estatísticos de confiabilidade (Robust Comparative Fit Index = 0.93; Robust Non Normed Fit Index = 0.93; Standardized Root Mean Residual = 0.05; Root Mean Square Error of Approximation = 0.05), permitem concluir que o instrumento discrimina adequadamente as atitudes e comportamentos que esportistas consideram moralmente pertinentes nas situações de prática esportiva coletiva (Ibid.). Ainda para demonstrar a consistência interna das seis dimensões do instrumento, cálculos Alpha de Crombach foram feitos, e os coeficientes obtidos (Reconstrução Significativa de Condutas = 0.86; Analogias Vantajosas = 0.81; Irresponsabilidade = 0.81; Distorção das Conseqüências = 0.86; Desumanização = 0.81; Atribuição de Culpa = 0.73) ratificaram que os itens constitutivos de cada uma das seis dimensões do teste apresentam precisão e fidedignidade. Portanto, a partir de todos esses indicadores, é lícito assumir que o EDCME avalia, de maneira acurada, aquilo a que se propõe avaliar. A Tabela 2 mostra os trinta e dois itens da EDCME agrupados por dimensão.
Tabela 2. Escala de desvio de Condutas Morais no Esporte
Aplicado o instrumento, veio a seguir a análise dos dados obtidos segundo os procedimentos de estatística descritiva geral. Inicialmente, calculou-se o valor dos estimadores de tendência central e não central (média aritmética, desvio padrão, mínimo e máximo, mediana, média truncada a 5%, moda) para os escores obtidos em cada uma das seis dimensões do teste, por variável controlada (sexo e grupos de idades).
Finda essa etapa, empregam-se testes estatísticos para comparação das médias por sexo e grupos de idades. No primeiro caso, fez-se a aplicação do teste t para amostras independentes; no segundo, a análise de variância (ANOVA) one way. A hipótese inicial de trabalho foi a de não existência de diferenças significativas (p < 0.05) nas médias dos escores da EDCME tanto para sexo como grupos de idades.
Resultados
A Tabela 3 apresenta os resultados da estatística descritiva para cada uma das seis dimensões em estudo, de acordo com o sexo dos praticantes.
Tabela 3. Estatísticas descritivas por dimensão, controlando-se a variável Sexo
Nota-se que nas dimensões Reconstrução Significativa de Condutas (RSC), Distorção das Conseqüências (DC) e Desumanização (DES), os valores das médias aritméticas nominais femininas superam as masculinas, ao passo que em Analogias Vantajosas (AV); Irresponsabilidade (IRS) e Atribuição de Culpa (AC) prevalece o contrário. Isso significa que as propensões de homens e mulheres a tomarem atitudes violadoras do fair-play obedecem, pelo menos em termos nominais, a razões diferentes.
Vale a pena mencionar que, dentre todas as dimensões, a maior média nominal masculina foi obtida na dimensão Irresponsabilidade, ao passo que a maior média nominal feminina ocorreu na dimensão Reconstrução Significativa de Condutas. Da parte dos homens, tal resultado indica concordância quanto ao fato de que os jogadores mentirosos, agressivos e violentos não incorrem em nenhuma imoralidade se isso tem o aval de seus companheiros de time, treinadores, pais ou parentes. Ou seja, acontecimentos dessa natureza não lhes soam justificáveis para a aplicação de sanções disciplinares. Denominado por Bandura (1999) de “deslocamento de responsabilidades”, esse tipo de conduta costuma ser observada, segundo Green e Gabbard (2010), entre indivíduos cuja prioridade não está na prática desportiva como fim em si mesma, mas enquanto meio para obtenção de visibilidade externa e adulações.
No que tange ao resultado das mulheres, o mesmo aponta que elas comungam da idéia de que intimidar intencionalmente adversários e autoridades (mesários, delegados de jogos, comissão técnica das outras equipes, etc.) através de violências físicas e/ou verbais lhes torna, em tese, mais “respeitáveis” e competitivas.
Quanto a dimensão Desumanização, percebe-se que ela acusou, tanto para homens como mulheres, as menores médias nominais em comparação às observadas para todas as outras dimensões em questão. Assim, faltar com o ideário do fair play a partir de atitudes ancoradas em concepções que, metaforicamente, considerem os adversários como “sub-humanos” constitui algo pouco prestigiado entre os jogadores e jogadoras investigados.
No que concerne a análise comparativa de médias para a aferição de possíveis diferenças entre os grupos masculino e feminino nas seis dimensões, foi aplicado o teste t, cujos valores seguem apresentados abaixo, na Tabela 4.
Tabela 4. Comparações entre as médias das dimensões por Sexo
Os dados mostram a não existência de diferenças estatisticamente significativas (p < 0,05) para os valores das médias.
A respeito dos resultados das estatísticas descritivas por grupos de idades, eles seguem expostos na Tabela 5.
Tabela 5. Estatísticas descritivas por dimensão, controlando-se a variável Grupos de Idades
A Tabela 5 mostra que as maiores médias nominais absolutas de cada uma das seis dimensões em análise ficaram restritas a apenas três grupos de idades (GI) dos oito existentes. Em Reconstrução Significativa de Condutas e Irresponsabilidade, os valores médios máximos foram atingidos pelo GI 30–31 anos; em Analogias Vantajosas, Distorção das Conseqüências e Desumanização, pelo GI 24–25 anos; em Atribuição de Culpa, pelo GI 20–21 anos.
Por outro lado, observando os escores nominais médios máximos por segmento etário, verifica-se que os GI 18–19 anos; 22–23 anos; 24–25 anos; 26–27 anos e 30–31 alcançaram-no na mesma dimensão, a saber, Reconstrução Significativa de Condutas. Nominalmente, isso significa que as cinco faixas etárias entendem, por exemplo, a hostilidade a membros da comissão de arbitragem, a quebra de regras, as violências verbais e a agressão física aos oponentes como medidas que tanto podem lhes fazer mais respeitáveis como elevar suas capacidades performáticas em quadra. Por conseguinte, essa seria uma razão convincente a justificar o exercício dessas ações imorais, desleais e desonestas. Acerca dos valores dos escores nominais médios máximos dos GI 20–21 anos; 22–29 anos e 32–39 anos, eles foram alcançados na dimensão Irresponsabilidade. Também nominalmente, isso revela que os jogadores crêem que a execução de atos indisciplinados, agressivos e violentos outrora aprovados pelos parentes, colegas e treinadores não deve ser alvo de punições.
No caso das médias nominais mínimas, um aspecto relevante vem à tona: para todos os grupos de idades, sem exceção, elas estão compreendidas na dimensão Desumanização. Portanto, ajuizar os adversários como figuras “sub-humanas” não desponta como motivo capaz de convencer e induzir os jogadores a agirem amoralmente contra eles.
Outro detalhe que merece consideração remete ao grupo 32-39 anos. Em quatro das seis dimensões em estudo (Reconstrução Significativa de Condutas, Analogias Vantajosas, Desumanização e Atribuição de Culpa) eles apresentaram as menores médias nominais em relação às outras faixas de idades, à exceção de Irresponsabilidade e Distorção das Conseqüências. Nestas duas, os grupos 22–23 anos e 28–29 anos lhe superaram. Todavia, em Distorção das Conseqüências, o segmento 32-39 anos ainda chegou a acusar a segunda menor média nominal. Tal tendência parece indicar que os praticantes com mais idade cronológica apresentam menor propensão a agressões e violências de todos os tipos.
Em se tratando da análise das médias entre grupos de idades, foi aplicado o procedimento ANOVA one way, cujos valores estão na Tabela 6.
Tabela 6. Comparações entre as médias das dimensões por Grupos de Idades
Os resultados indicam a existência de, ao menos, uma diferença significativa (p < 0.05) na dimensão Reconstrução Significativa de Condutas. A aplicação dos testes complementares de Tukey e Bonferroni permitiu localizá-la com mais precisão, revelando, ao todo, a existência de duas diferenças significativas. A primeira figura entre os grupos de idade 18–19 anos e 32–39 anos, no sentido de que o primeiro (o mais jovem) mostra-se muito mais propenso a intimidar, brigar, hostilizar, violar regras e desqualificar árbitros e oponentes quando comparado com o segundo (o mais idoso). A segunda diferença foi acusada entre o grupo 30–31 anos e, novamente, o grupo 32–39 anos. Neste caso, o grupo 30–31 anos (o segundo mais idoso) também sobrevaloriza as atitudes agressivas, hostis, violadoras de regras e intimidadoras em relação ao grupo 32–39 anos (o mais idoso).
Discussão
A não observação de diferenças significativas no que concerne ao sexo dos praticantes revela que tanto homens como mulheres apresentam propensão a comportamentos semelhantes no que diz respeito aos elementos que as seis dimensões da “Escala de Desvio de Condutas Morais no Esporte” procura mensurar. Particularmente, esse resultado se alinha com o diagnóstico de Eagly e Steffen (1986), proferido ainda nos anos oitenta em uma meta-análise sobre gênero e violência. As autoras concluíram que diferenças estatísticas consideráveis entre atletas masculinos e femininos praticamente inexistiam quando se tratava da opção por comportamentos deliberadamente violentos durante jogos e competições esportivas. Na prática, a conclusão de Eagly e Steffen (1986) mostra que a falta de polidez e cavalheirismo em contextos esportivos não acontece mais em homens do que em mulheres. Finley e Finley (2007) também diagnosticaram a mesma tendência em recente estudo sobre a natureza dos discursos midiáticos relativos a eventos de futebol escolar na América do Norte. Ao contrário do que supõe boa parte do senso comum, dizem os autores, mulheres são tão proativas para agressões e violências em partidas de futebol como os homens.
Em relação aos grupos de idades, as diferenças significativas acusadas (p < 0.05) tanto pelo grupo 18–19 anos como pelo grupo 30–31 anos em comparação com o grupo 32–39 anos em Reconstrução Significativa de Condutas indicam que as disposições para brigas com adversários, intimidação de árbitros, enganação de mesários, etc. parecem independer de fatores etários. Afinal, malgrado um intervalo superior a uma década de diferença separar o grupo 18–19 anos do grupo 30–31 anos, os dois apresentam-se dispostos a adotar o mesmo tipo de comportamento.
Para Bredemeier e Shields (1984), tomadas de decisão dessa natureza sugerem que, para esses atletas, as relações interpessoais em ambientes esportivos são de cunho instrumental: o “outro” não é percebido como fim absoluto em si mesmo, a saber, enquanto pessoa humana absoluta, detentora de integridade física, psíquica e moral inviolável. Ao contrário, ele é visto como um potencial “objeto”, uma “coisa” capaz de obstruir ou abrir os caminhos que conduzem ao alcance da vitória. Tudo depende da forma com que ele será manejado ou gerenciado. O próprio desenrolar das situações de jogo, à medida que acontecem, desempenha uma função importante na constituição desse julgamento, no sentido de serem elas os “termômetros” a dimensionarem se a convivência com a equipe adversária está a por em risco ou não a obtenção do “prêmio” consubstanciado na conquista da vitória. No caso de uma interpretação afirmativa, onde a figura do outro insurge como sinônimo de ameaça, vale então agredi-lo, desrespeitá-lo e violentá-lo.
Sobre essa instrumentalidade, Apel (1994) classifica-a como ingênuo-estratégica. Ela é estratégica porque presume avaliações a partir dos quais o indivíduo e seu grupo escolhem a ação violenta como supostamente sendo a medida mais efetiva para conter o “outro” a ameaçar suas pretensões. Em outras palavras, chegar a conclusão de que a melhor forma de neutralizar o “outro” é manipular sua disposição ao medo e a dor exige uma certa formulação racional. Dessa feita, provocar e administrar a possibilidade da dor e do medo alheios insurge como medida racionalmente vinculada a objetivos de controle. Segundo Apel (1994), relações de alteridade com esse perfil são inautênticas porque fundamentalmente egoístas.
Todavia, elas também são ingênuas, segue Apel (1994), pelo fato dos indivíduos e grupos agressores subestimarem a totalidade dos efeitos que dor e medo provocados podem causar nos adversários. A decisão consciente de causar dor e medo indica sobrevalorização do aspecto inibitório dessas sensações, porém menosprezo ao viés reativo que também ocasionam. Em outras palavras, por mais que a dor e o medo provocados intencionalmente possam intimidar e até mesmo conter a outrem por algum tempo, tais efeitos não se prolongam indefinidamente. Em algum instante difícil de ser previsto, contra-reações igualmente voltadas a geração de dor e medo no agente causador também irão aparecer. A ingenuidade do perpetrador em escolher esse caminho mostra justamente sua pouca capacidade de estimar por completo a condição da vítima que sofre o seu assédio.
De acordo com essa perspectiva, pode-se dizer que os jogadores que sobrevalorizam atitudes violentas contra os adversários, árbitros, mesários, etc. pautam-se demasiado em leituras pontuais das conseqüências, identificando nelas apenas aquilo que lhes convém de imediato. Tal distorção interpretativa, assente em percepções e ajuizamentos imaturos, é o fator preponderante a delimitar o que lhes soa justo ou injusto fazer nos jogos de futsal. Vale lembrar que a construção de critérios dessa ordem, ancorados em inclinações fortemente emocionais, dificulta a determinação de juízos éticos autônomos e universais.
Decorre do exposto que o emprego deliberado de atos violentos corresponde a um mecanismo de gestão a que determinados esportistas recorrem para tentarem administrar a convivência com os outros atores sociais envolvidos no mesmo ambiente de jogo. Executar tais atos violentos é um valor considerado estratégico para definir papéis e estimular funções. Por outro lado, a recorrência ao referido recurso realmente comprova o pouco peso que o altruísmo tem nas tomadas de decisões que sustentam tais atitudes e condutas. Isso mostra que o fair-play não inspira as diretrizes morais dos grupos etários ora em evidência; antes, seus parâmetros relacionais seguem referências bem menos acolhedoras.
Considerações finais
Este trabalho permitiu mapear as disposições atitudinais de cento e cinco atletas universitários de futsal de ambos os sexos, com idades variando dos dezoito aos trinta e nove anos, no que concerne a adoção de condutas violentas, agressivas e desrespeitosas em contextos de competição esportiva. Vale a pena frisar que todos estavam regularmente matriculados na Universidade Federal do Amazonas e Universidade do Estado do Amazonas, e na situação de disputantes do campeonato universitário de futsal do município de Parintins.
Os resultados obtidos por sexo, em termos nominais absolutos, mostram que a maior média nominal masculina foi obtida na dimensão Irresponsabilidade, ao passo que a maior média nominal feminina ocorreu na dimensão Reconstrução Significativa de Condutas. As menores médias nominais, tanto para homens como mulheres, aconteceram em Desumanização. Ademais, a aplicação do teste t para a análise comparativa das médias dos grupos masculino e feminino revelou a inexistência de diferenças estatisticamente significativas (p < 0,05).
No que tange aos resultados também absolutos por segmentos etários, os escores nominais médios máximos dos GI 18–19 anos; 22–23 anos; 24–25 anos; 26–27 anos e 30–31 ocorreram em Reconstrução Significativa de Condutas. Sobre os valores dos escores nominais médios máximos dos GI 20–21 anos; 22–29 anos e 32–39 anos, eles foram alcançados na dimensão Irresponsabilidade. No caso das médias nominais mínimas, um aspecto relevante vem à tona: para todos os grupos de idades, sem exceção, elas estão compreendidas na dimensão Desumanização. Para a análise comparativa das médias em termos dos grupos de idades, foi aplicado o procedimento ANOVA one way, o qual revelou a vigência de, ao menos, uma diferença significativa (p < 0.05) na dimensão Reconstrução Significativa de Condutas. O teste complementar de Tukey permitiu evidenciar a existência de duas diferenças significativas: a primeira, entre os grupos de idade 18–19 anos e 32–39 anos; a segunda, entre o grupo 30–31 anos e o grupo 32–39 anos.
Relembradas essas informações, urge reiterar a inconveniência de generalizar os resultados do estudo, pois o procedimento de coleta de dados foi intencional e não aleatório, haja vista sua incidência sobre um contingente de pessoas bastante peculiares. Todavia, isso não invalida a emissão de algumas conclusões hipotéticas importantes, capazes de ensejarem futuras pesquisas.
A primeira concerne ao fato de que os jogadores e jogadoras investigados realmente reconhecem algum grau de humanidade nos personagens que militam no campo do futsal universitário, pois não chegam ao extremo de “animalizá-los”. Ou seja, não os vêem como indivíduos desprovidos dessa característica. Mas também não tratam essa humanidade como um bem absoluto e inquestionável em si mesmo. A posição dominante é a de que se trata de um atributo manejável conforme os rumos assumidos pelo contexto competitivo. Segundo essa compreensão, administrar utilitariamente a supracitada humanidade condensada no outro através de manobras violentas aparece como algo mais valioso do que considerá-la um bem absoluto e inalienável.
O levantamento de uma constatação com tal característica pode ser particularmente útil para instigar reflexões e decisões de pedagogos, gestores esportivos, profissionais da área de segurança, juristas esportivos, psicólogos do esporte e educadores físicos. No rastro dessa colocação, as dimensões conceituais da Escala de Desvio de Condutas Morais no Esporte (Reconstrução Significativa de Condutas, Analogias Vantajosas, Irresponsabilidade, Distorção das Conseqüências, Desumanização e Atribuição de Culpa), dados os conteúdos aos quais se reportam, parecem ser uma relevante fonte de levantamento de dados para profissionais atuantes no campo do esporte, em geral, e do futsal, em particular. As diferenças estatisticamente apresentadas carecem de ser vistas como uma minúscula parcela de um quadro infinitamente mais amplo, problemático e obscuro, o da violência intencional entre esportistas.
Logo, estudos que incidam sobre a verificação da existência de diferenças estatísticas consoante outras variáveis sócio-demográficas, como nível de renda; credo religioso; etnia; número de membros na família; presença de outros esportistas na família; etc. ainda precisam ser efetuados. Nessa mesma linha, investigar classes de indivíduos situados em outros intervalos etários (por exemplo, adolescentes), a partir de seleções aleatórias, soa igualmente salutar.
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