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Brincando e jogando como Educação: algo muito sério

Juego y recreación en la Educación: algo muy serio

 

*Mestranda em Educação. Pedagoga

e Especialista em Gestão Educacional. UFSM

**Doutoranda em Educação, UFSM

Prof. da Universidade de Cruz Alta, UNICRUZ

***Graduando do curso de Licenciatura

em Educação Física da UNICRUZ

(Brasil)

Nilta de Fátima Hundertmarck Graciolli*

niltagr@hotmail.com

Vaneza Cauduro Peranzoni**

vaneza.cauduro@terra.com

Vagner Maurício da Luz***

vagnerdaluz@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O jogo e o brinquedo assumem papel importante, pois estão relacionados com o comportamento infantil por isso devem ser usados como recursos pedagógicos, facilitando o processo de aprendizagem. O brincar é preparar a criança para a vida adulta e o brinquedo é a oportunidade de desenvolvimento, estimulando a curiosidade, a autoconfiança e autonomia, proporcionando o desenvolvimento da linguagem do pensamento, da concentração e da atenção. Brincar é indispensável a saúde física, emocional e intelectual da criança contribuindo no futuro para a eficiência e o equilíbrio do adulto. Dessa forma objetivou-se com esse estudo conhecer o lugar ocupado pelo jogo e o brinquedo no contexto histórico e atual da educação. O mesmo caracterizou-se como uma pesquisa bibliográfica, realizado através de textos atuais sobre o tema em questão. No início dos anos 80, a rua ainda era o espaço das crianças e variadas brincadeiras, ir a rua para juntar os amigos e jogar bolita ou empinar papagaio, é bem diferente de estar a frente de uma televisão operando botões para decolar um avião num jogo virtual. A escola como ambiente formativo deve possibilitar que as situações problemas contidas na manipulação das brincadeiras façam com que a criança cresça através da procura de soluções e de alternativas. O jogo, o brinquedo e a brincadeira têm como prazer o ato de se divertir, uma vez que o brincar um fato social e cultural, sendo fácil de entender porque o ato de brincar tenha mudado tanto ao longo do tempo. A própria história mostra isso, o brincar da criança está sendo substituído por atividades diversas pelos pais que buscam preencher os horários destas, o espaço das brincadeiras está sendo deletado da vida delas. Fica evidenciada a não valorização da vivência lúdica através do brincar. As brincadeiras aconteciam de forma espontânea e coletiva, estimulando as primeiras experiências e interações sociais e o desenvolvimento integral das crianças, assim é necessário cada vez mais o uso do valor educativo do jogo, do brinquedo e do brincar como recurso e motivação na parte essencial do trabalho pedagógico.

          Unitermos: Jogo. Brinquedo. Desenvolvimento. Educação.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 171, Agosto de 2012. http://www.efdeportes.com

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Introdução

    Atualmente é sabe-se que o brincar é uma experiência fundamental para qualquer idade, pois se brinca para viver, interage-se com o real, descobre-se o mundo que nos cerca, sendo dessa forma uma atividade que ajuda na organização e socialização. Desta forma, o brincar e o brinquedo já não seriam mais, na escola, aquelas atividades utilizadas pelo professor para recrear as crianças, como atividades em si mesma.

    Segundo Galvão (1995) quanto mais rica for a experiência da criança, maior será o material disponível e acessível a sua imaginação, surgindo a necessidade do professor de ampliar, cada vez mais, as vivências da criança com o ambiente físico, com brinquedos, brincadeira e com outras crianças.

    Muitos se perguntam o que acontece durante um jogo de crianças? Aos olhos de um observador desatento, apenas brincadeiras, coisas sem importância. Aos olhos de um pesquisador, ou de um educador, tantas coisas importantes estão ocorrendo: assimilação e apropriação da realidade humana, construção de hipóteses, elaboração de soluções para problemas, enriquecimento da personalidade. Conforme Galvão (1995, p. 67):

    (...) o jogo permite uma assimilação e apropriação da realidade humana pelas crianças já que este "não surge de uma fantasia artística, arbitrariamente construída no mundo imaginário da brincadeira infantil; a própria fantasia da criança é engendrada pelo jogo, surgindo precisamente neste caminho pelo qual a criança penetra na realidade.

    Segundo Vygotsky (1989), um dos principais membros da corrente histórico-cultural, a imaginação, surge da ação. A ação na fantasia da criança conduz seu comportamento na medida em que percebe objetos e/ou situações e o significado desses objetos e situações. A capacidade de brincar possibilita às crianças um espaço para resolução dos problemas que a rodeiam, sendo relevante papel ao ato de brincar na constituição do pensamento infantil.

    Embora sejam apontadas várias qualidades do brinquedo, do brincar o discurso é muitas vezes diferente da prática utilizada em nossa educação. A escola segundo Freire (1995) pensa estar educando para o aprendizado dos símbolos, e estes, representados pelos números, letras e outros sinais, são reconhecidos socialmente. No entanto, esquece-se que as crianças não deixaram de ter seu mundo particular (sua rua, sua casa, seu clube) ao ir à escola, cujos símbolos precedem os universais, através de imagens criadas por elas como forma de representação do real. E acrescenta que estes constituiriam o dispositivo mais forte de proteção do ser humano. Assim, quando a criança se entrega ao faz-de-conta, passa a aprender, na visão do autor, aquilo que mais deve ser aprendido entre os humanos: a simbolizar. Dessa forma justifica-se este estudo que teve como objetivo conhecer o lugar ocupado pelo jogo e o brinquedo no contexto histórico e atual da educação.

O lúdico na escola como espaço educativo

    Segundo Benjamin (1984) a ludicidade e a aprendizagem não podem ser consideradas como ações com objetivos distintos. O jogo e a brincadeira são, por si só uma situação de aprendizagem. As regras e a imaginação favorecem à criança comportamento além dos habituais. Nos jogos ou brincadeiras a criança age como se fosse maior do que a realidade, e isto, inegavelmente, contribui de forma intensa e especial para o seu desenvolvimento.

    A escola como espaço educativo deve possibilitar atividades direcionadas a formação integral do ser humano. Silva (1999) esclarece que as escolas são partes integrantes e participativamente ativa da sociedade, apresentando-se como importante meio de remodelação das dinâmicas sócio-culturais.

    Reforça Negrine (1994) que sem se preocupar com raça, religião, escala social a criança sempre teve o desejo de brincar de uma forma natural e particular, mostrando nas suas brincadeiras as suas potencialidades e aprimorando as suas relações com o meio onde está inserida. Ao mesmo tempo, a criança sente-se prestigiada e desafiada, descobrindo e vivendo experiências que tornam o brinquedo o recurso mais estimulante e mais rico em aprendizado.

    Para conceituar a palavra brinquedo deve-se levar em consideração segundo o que fala Kishimoto (1999) que outras palavras podem ter o mesmo significado, como por exemplo, o jogo, a brincadeira e o brincar. Todas elas são sinônimas de divertimento, de passatempo, distração, embora o brinquedo seja mais visto como o objeto que proporciona o brincar, a brincadeira, como a bola, o carrinho de lomba, a pipa entre outros. O brinquedo, conforme Atzinger (2001) pode ser todo e qualquer objeto destinado à recreação desde o mais simples, como caixinhas vazias, bruxinhas de pano e carrinhos de lata, confeccionados pela própria criança até os mais ricos e sofisticados engenhos eletrônicos.

    Ribeiro e Sanchotene (1990) falam que é difícil ter idéia certa de onde, quando e como surgiram os primeiros brinquedos, a única coisa que se tem certeza, através de estudos arqueológicos na busca de civilizações e povos perdidos da Idade da Pedra e do Bronze, terem sido encontrados piões, dados, bolas e bonecas que pertenceram às crianças que fizeram parte desta época.

    De acordo Costa (2000) as brincadeiras são universais e fazem parte da cultura popular como a literatura oral, a música, a culinária. Este autor considera ser impossível dar a palavra final sobre o surgimento de uma brincadeira, pois ela agrega variante e se transforma ao longo do tempo. Ribeiro e Sanchotene (1990), falam da maneira como os povos antigos viam os brinquedos e os relacionavam com as suas crenças e religiosidade, mostra também que o brinquedo assumia um papel simbólico. Entre os gregos e romanos, os brinquedos da criança, tomada adulta, eram oferecidos aos deuses. As bonecas das meninas em idade de casar eram consagradas a Vênus e a Diana Com a evolução da sociedade, bem como de sua indústria os brinquedos passaram por mudanças, e entraram na era do sintético, plástico e eletrônico, representando muitas vezes como o adulto vê a criança, trabalhando seu imaginário. Educadores e psicólogos falam que um brinquedo não necessita ser caro para ser atrativo para uma criança. Os estudos de Benjamin (1984) mostram como, desde as origens, o brinquedo sempre foi um objeto criado pelo adulto para a criança.

    Segundo Benjamin (1984) acredita-se erroneamente que o conteúdo imaginário do brinquedo é que determina as brincadeiras infantis, quando na verdade quem faz isso é a criança. Por esta razão, quanto mais atraentes forem os brinquedos, mais distantes estarão do seu valor como instrumentos de brincar.

    Em grande parte das vezes a criança escolhe seus brinquedos por conta própria e não é raro de encontrar entre estes objetos que o adulto jogou fora, conforme Ribeiro e Sanchotene (1990).

A importância do brinquedo no processo educativo

    Assim podemos perceber mais visivelmente que o brinquedo assume papel importante, pois está relacionado com o comportamento infantil, por isso são tão usados como recursos pedagógicos, facilitando o processo da aprendizagem. Conforme Moreno Murcia (2005) o brincar é preparar a criança para a vida adulta. O brinquedo é oportunidade de desenvolvimento. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração e atenção. Brincar é indispensável à saúde física, emocional e intelectual da criança, contribuindo, no futuro, para a eficiência e o equilíbrio do adulto.

    Macedo (2000) fala que as situações problemas contidas na manipulação dos jogos e brincadeiras fazem a criança crescer através da procura de soluções e de alternativas.

    Nos estudos de Gallahue (1995) o desempenho psicomotor da criança enquanto brinca alcança níveis que só mesmo a motivação intrínseca consegue. Ao mesmo tempo favorece a concentração, a atenção, o engajamento e a imaginação. Como conseqüência a criança fica mais calma, relaxada e aprende a pensar, estimulando sua inteligência.

    Conforme Papalia (2000) o brinquedo significativo para a criança é aquele que tenha pontos de contato com sua realidade. Através da observação do desempenho das crianças com seus brinquedos avaliamos o nível de seu desenvolvimento motor e cognitivo. No lúdico, manifestam-se suas potencialidades e observando enriquecemos sua aprendizagem, fornecida através dos brinquedos ao seu desenvolvimento.

    Segundo Previtale (2006) nos inícios dos anos 80 a rua ainda era o espaço das crianças e variadas brincadeiras. Ir à rua para juntar os amigos e jogar bolita ou empinar papagaios é bem diferente de estar à frente de uma televisão apertando botões para decolar um avião num jogo virtual.

    A escola como ambiente formativo deve possibilitar que as situações problemas contidas na manipulação das brincadeiras segundo Friedmann (2000) pois fazem a criança crescer através da procura de soluções e de alternativas, além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração e atenção.

    A escola, segundo Neira (2006) é uma instituição social e por abranger uma boa parcela de pessoas de diferentes culturas, entende-se como palco de confrontos culturais, colocando a educação e a cultura lado a lado, a cultura entendida como passado presente e futuro, e a educação, relacionada com a cultura criando uma perspectiva de futuro atuando no presente.

Conclusão

    Com relação aos diversos conceitos que cada uma das palavras “brinquedo, brincadeira e jogo podem ter, todos supõem o prazer no ato de divertir-se. Sendo o brincar um fato social e cultural é fácil de se entender do porque desse ato de brincar ter mudado tanto ao longo do tempo. A própria história mostra isso. O que não se pode negar que o brincar das crianças estão sendo substituídos por atividades diversificas, onde os pais buscam preenchem os horários das crianças. Nesta relação se percebe que os espaços para brincadeiras esta sendo deletado da vida delas. Sobre esta desvalorização do brincar na realidade brasileira, os pesquisadores como de Marcellino (1996), Freire (1989, 1995), Rocha (2000), Silva (2001), Bracht (2003), Müller e Rodrigues (2002) evidenciam a não valorização da vivência lúdica através do brincar, uma vez que as brincadeiras aconteciam de forma espontânea e coletiva, estimulando as primeiras experiências e interações sociais e o desenvolvimento integral das crianças. É necessário que cada vez mais se utilize o valor educativo do jogo, brinquedo, brincadeira como recurso e motivação na parte essencial do trabalho pedagógico. Conforme Piaget (1998), os professores podem guiar seus alunos proporcionando-lhes materiais apropriados, mas o essencial é que, para que uma criança entenda, deve construir ela mesma, deve reinventar. Cada vez que ensinamos algo a uma criança, estamos impedindo que ela descubra por si mesma. Por outro lado, aquilo que permitimos que descubra por si mesma, permanecerá com ela.

Referências

  • ATZINGER, Maria Cristina Von. A História do Brinquedo: Para as crianças conhecerem e os adultos se lembrarem. São Paulo: Alegro, 2001.

  • BENJAMIN, Walter. Reflexões: A criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Summus, 1984.

  • COSTA, Mônica Rodrigues. Você sabe quem foi que inventou a maria-cadeira? São Paulo: Folha de São Paulo, 500 Brincadeiras, 16 abril 2000.

  • FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. 10. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003b.

  • FRIEDMANN, Adriana. A Arte de Brincar: Brincadeiras e jogos tradicionais. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

  • GALLAHUE, D.; OZMUN, J. Compreendendo o desenvolvimento motor. 3. ed. Madison: Brown & Benchmark, 1995.

  • GALVÃO, Z. Educação Física Escolar: Transformação pelo Movimento. Motriz, 1, 1995.

  • KISHIMOTO, T. M. (apud Froebel). Jogo, brinquedo, brincadeira e educação. 3 ed. São Paulo: Cortez, 1999.

  • MACEDO, Lino de.; PETTY, Ana Lúcia.; PASSOS, Norimar C. Aprender com jogos e situações-problema. Porto Alegre: Artmed, 2000.

  • MORENO MURCIA, Juan Antonio. Aprendizagem através do jogo. Porto Alegre: Artmed, 2005.

  • NEGRINE, Airton. Aprendizagens & Desenvolvimento Infantil: Simbolismo e jogo. Porto Alegre: PRODIL, 1994.

  • NEIRA, Marcos G.; NUNES, Mario, L. F. Pedagogia da cultura Corporal, Criticas e alternativas. São Paulo: Phorte, 2006.

  • PAPALIA, Diane E.; OLDS, Sally Wendkos. Desenvolvimento Humano. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000.

  • PIAGET, Jean. A psicologia da criança. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

  • RIBEIRO, Paula Simon.; SANCHOTENE, Rogério Fossari. Brincadeiras Infantis: Origem, Desenvolvimento, Sugestões Didáticas. 2. ed. Porto Alegre: Sulina, 1990.

  • SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, Superintendência de Educação. Departamento de Educação Especial. Recursos Pedagógicos na Aprendizagem. Subsídios e Orientações. Curitiba - Paraná: SEED / SUED, 1999.

  • SILVA, Laeth Souza da. Atividade Lúdica como facilitadora da aprendizagem na Educação Infantil. Universidade Federal de Rondônia. Porto Velho: Mimeografado, 1999.

  • VYGOTSKY, L. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

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