efdeportes.com

A importância do ensino do atletismo
nas séries iniciais do ensino fundamental

La importancia de la enseñanza del atletismo en las primeras etapas de la escuela primaria

 

*Professor de Educação Física (SEED-PR)

**Professor de Educação Física

***Profº Esp. Faculdade Dom Bosco

(Brasil)

Dilvano Leder de França*

dihlleder@yahoo.com.br

Cleiton Vaz França**

deltazav@yahoo.com.br

César Artur de Castro Junior**

cesart7bonatti@hotmail.com

George André Cordeiro***

geoaco@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Ao chegar à fase escolar, por volta dos 6 anos de idade, a criança deveria ter o desenvolvimento motor básico desenvolvido, porém, não é exatamente isto que acontece, pois as crianças são pouco estimuladas a vivenciarem várias experiências motoras nas atividades que realizam até essa idade, cabendo assim ao professor de Educação Física instruir o aluno na realização de atividades que desenvolvam as habilidades motoras básicas. O atletismo, nessa faixa etária, contribuirá para o desenvolvimento dessas habilidades, que são o correr, saltar, arremessar, etc., movimentos esses que são básicos para a realização de outras modalidades. Com isso o atletismo contribui para uma maior facilidade no ensino de outras modalidades posteriormente. No contexto escolar há uma ênfase maior no ensino de atividades voltadas aos esportes coletivos, os quais necessitam de habilidades motoras específicas, as quais ainda não estão desenvolvidas nas séries iniciais do ensino fundamental. Porém há algumas dificuldades na aplicação do atletismo dentro das escolas, devido a falta de materiais e instalações, no entanto, os Parâmetros Curriculares Nacional da Educação Física, orienta que os espaços e materiais devem ser adaptados, pois o objetivo do ensino do atletismo nesta fase não é a esportivização, mas sim, o desenvolvimento motor.

          Unitermos: Desenvolvimento motor. Experiências motoras. Educação Física. Atletismo.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 171, Agosto de 2012. http://www.efdeportes.com

1 / 1

Introdução

    Atualmente nas séries finais do ensino fundamental não é difícil encontrar alunos que ao ser solicitado pelo professor a realização de uma atividade que inclua uma combinação de movimentos básicos, como, correr, saltar ou arremessar, que este aluno não consiga realizar, ou tenha uma grande dificuldade na realização (OLIVEIRA, 2002). Isso se deve a uma má formação motora de base, dificultando assim o ensino e o desenvolvimento de outras modalidades, como saltar no voleibol, correr no futebol ou arremessar no basquetebol. O padrão motor básico deve, ou pelo menos deveria estar desenvolvido em sua totalidade já no início da idade escolar, por volta de 6 anos idade (GALLAHUE, 2005), porém o que mais se encontra nas crianças nessa idade, são alunos com um desenvolvimento motor atrasado (OLIVEIRA, 2002). A proposta da inserção do atletismo, através de atividade recreativas, é compensar este atraso no desenvolvimento motor, já que o atletismo trás toda uma base a outras atividades, como, correr, saltar, etc., ou seja, “o atletismo é a modalidade base, da qual parte a maioria das modalidades” (JONATH, HAAG e KREMPEL, 1977 apud OLIVEIRA, 2006, pag. 26).

    No ambiente escolar, o ensino de algumas modalidades são ignoradas, por muitos professores de educação física, restringindo o conhecimento e a aprendizagem dos alunos, entre elas está o atletismo, que segundo Matthiesen e Fioravante (2008) é esquecido no cotidiano escolar, devido a falta de espaço e materiais para a sua realização. Entretanto, se esquece a diversidade motora que é necessária ser vivenciado pelos alunos, as quais são proporcionadas a vivencia dessas experiências através do atletismo.

    Contudo, essas práticas não estão sendo aplicadas em sua totalidade, já que Brasil (1997) cita que é necessário que essas experiências sejam integradas nas mais variadas situações. Quando se aplica apenas modalidades esportivas específicas, se restringe essas possibilidades. Já a aplicação do atletismo tem um padrão inverso, pois o atletismo não é apenas uma modalidade, mas uma variedade de movimentos que compõe a base do desenvolvimento motor (JONATH, HAAG e KREMPEL, 1977 apud OLIVEIRA, 2006).

    Essa diversidade motora contemplada pelo atletismo é descrita pelos PCN’s (Parâmetros Curriculares Nacionais) da Educação Física (BRASIL, 1997) como um objetivo a ser atingido pelo professor para o desenvolvimento motor dos alunos.

    Oliveira (2006) salienta a importância da utilização de recursos como as atividades recreativas, dando oportunidade do aluno descobrir o atletismo através do brincar, levando o aluno a ampliar suas habilidades motoras de forma implícita.

    Sendo assim, o objetivo deste trabalho é analisar a importância da aplicação do atletismo como atividade básica para o desenvolvimento motor aos alunos das séries iniciais do ensino fundamental, observando a importância das mais variadas experiências motoras nesta fase, para a realização de novas atividades com maior complexidade de movimento posteriormente, e verificar a aplicação do atletismo dentro das séries iniciais do ensino fundamental, de acordo com as orientações contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação Física, analisando as facilidades e dificuldades encontradas na sua aplicação dentro das escolas.

Referencial teórico

Histórico do atletismo

    Atletismo é “o conjunto de provas individuais ou coletivas que se baseiam em quatro atividades: marcha, corrida, salto e arremesso” (OLIVEIRA, 2006, pag. 22), que surgiu da imitação dos movimentos naturais de atividade física, que acompanha o ser humano deste as suas origens (CBAT, 2011), porém, no início estavam relacionados principalmente com a produção, caça e defesa do ser humano (SCHMOLINSK, 1982 apud OLIVEIRA, 2006).

    O berço do Atletismo se da na Grécia por volta de 1225 a.C., onde ocorreram competições com cinco provas, sendo elas: corrida, luta, salto em distância e arremesso de dardo e disco, praticado apenas pelos homens (OLIVEIRA, 2006).

    Porém em 393 d.C. o Imperador Romano Teodósio extingue os Jogos Olímpico, consigo sendo extinto também o atletismo, tendo a sua volta após o ano de 1892 após o francês Pierre de Fredy, ou Barão de Coubertin, e representantes de outros 12 países se reunirem em Paris para decidirem a volta dos Jogos (SIMONI e TEIXEIRA, 2009).

    No Brasil o atletismo começou a ser realizado por volta de 1850, quando ocorreram os primeiros eventos do atletismo no Brasil, com corridas e caminhadas realizadas por oficiais da Marinha Inglesa após ancorarem seus navios em Santos e no Rio de Janeiro, vindo a ser realizadas as primeiras corridas de rua em torno de 1860, as quais eram disputadas apenas por associados de clubes esportivos antes de serem abertas para toda a comunidade (CSAT, 2003).

    Em 1880 foram realizados os Jogos Atléticos Inglezes, o qual havia competições de 120, 300, 440 e 1000 jardas, steeple-chase, salto em altura, salto em distância e arremesso de peso; diferente da competição de pentatlo que foi realizada em 1900 pelo Clube Germânia, hoje Pinheiros (CSAT, 2003).

    Em 1914 aconteceu a primeira competição, por iniciativa do Jornal o Estado de S. Paulo, com 12 provas, e em 1918 realizou-se uma corrida de 24 km em volta da cidade, vindo ocorrer em 1921 o primeiro campeonato oficial de atletismo entre atletas do Rio de Janeiro e São Paulo (OLIVEIRA, 2006). Um ano depois foi realizado os Jogos Latino-Americano, disputados no Rio de Janeiro, capital federal até então, por ocasião do Centenário da Independência do Brasil (CSAT, 2003). Em 1924 o Brasil estréia com o atletismo nos Jogos Olímpicos, realizado em Paris, no ano seguinte aconteceu a primeira edição da corrida de São Silvestre, em São Paulo, e em 1937 pela primeira vez o Brasil organizou o Campeonato Sul-Americano (CSAT, 2003).

    Em 1945 foi criado pelo governo de São Paulo o Troféu Brasil de Atletismo, principal competição de clubes do país (CSAT, 2003).

    Em 1955 o brasileiro Adhemar Ferreira da Silva se torna bicampeão olímpico ganhando o ouro nos Jogos Olímpicos de Melbourne e Helsinque em 1952, mesmo jogos em que José Telles da Conceição ganhou a medalha de bronze no salto em altura (CSAT, 2003).

    Em 1968 Nelson Prudêncio ganha medalha de prata nos Jogos do México e bronze em Munique, 1972 (CSAT, 2003).

    E finalmente em 1977 é criada CBAT (Confederação Brasileira de Atletismo), no Rio de Janeiro, a qual é transferida para Manaus em 1994 (CSAT, 2003).

Atletismo e desenvolvimento motor

    As relações entre o desenvolvimento motor e o atletismo estão fortemente atreladas ao longo de todo o processo de desenvolvimento do indivíduo, pois, o “desenvolvimento motor é a contínua alteração no comportamento ao longo do ciclo da vida, realizado pela interação entre as necessidades da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente” (GALLAHUE e OZMUN 2003, p. 3), ou seja, desenvolvimento motor é a “alteração adaptativa em direção à habilidade” (KEOGH e SUGDEN, 1985 apud GALLAHUE e OZMUN, 2003, p. 19). Haywood (1986) apud Isayama e Gallardo (1998) conceitua o desenvolvimento motor como um processo relativo à idade cronológica, durante o qual o indivíduo progride de um movimento simples, até o ponto de conseguir habilidades motoras complexas e organizadas (HAYWOOD, 1986 apud ISAYAMA e GALLARDO, 1998).

    Gallahue e Ozmun (2005) dividem o desenvolvimento motor em fases, sendo elas: fase motora reflexa, fase motora rudimentar, fase motora fundamental e fase habilidade relacionado à idade. Esta subdivisão garante uma prévia avaliação quanto ao desenvolvimento motor adquirido da criança até a sua idade atual.

    A fase motora fundamental segundo Gallahue (2005) compreende a idade de 2 a 7 anos, o desenvolvimento pleno dos padrões motores dessa fase garantirá uma base para o resto da vida, pois esta compreende movimentos de manipulação, locomoção e estabilidade. Gallahue e Ozmun (2005) dividem a fase motora fundamental em estágios, inicial (primitivo), elementar (intermediário) e maduro (avançado).

    O atletismo vem de encontro à esta fase, e pode ser indicado ao desenvolvimento de padrões motores desta fase, pois atua como reforçador dessas tarefas, para o desenvolvimento das mesmas.

    Segundo Gallahue (2005) a maior parte das crianças tem o potencial de estar no estágio maduro e iniciando a transição para a fase de movimento especializado de movimento, já aos 6 anos de idade, porém muitas crianças ao chegarem à idade escolar, geralmente se encontram no estágio inicial ou elementar dos padrões motores enquanto deveriam estar no estágio maduro ou avançado (OLIVEIRA, 2002).

    Muitos adolescentes têm suas capacidades de movimento limitadas devido à falta de oportunidades de vivenciar as mais variadas experiências motoras, falta de instrução e pouco incentivo. Com isso, é fácil encontrar adolescentes e adultos que praticam uma atividade em um estágio inicial ou elementar, utilizando padrões de movimento de crianças de pré-escola (GALLAHUE, 2005).

    “Um padrão de movimento, como definido por Wikstron (1983), é a combinação de movimentos organizados de acordo com determinada seqüência tempo-espaço particular” (GALLAHUE e OZMUN, 2003, p. 22-23).

    Segundo Gallahue e Ozmun (2003, p. 23), padrão de movimento “refere-se ao desempenho observável de movimentos básicos locomotores, manipulativos e estabilizadores,” Os quais envolvem a combinação de dois ou mais segmentos corporais, como, correr, pular, arremessar, girar e virar.

    De acordo com os autores acima, Oliveira (2002) destaca que o desenvolvimento motor se divide em etapas ao longo da vida, para obtenção de habilidades motoras, que são de extrema importância na vida, sendo o correr, andar, saltar e arremessar, a base do atletismo, e estes movimentos considerados básicos, seguem uma sequência para sua realização ao decorrer do ciclo vital. Essa seqüência pode ser chamada de melhora devido a sua prática.

    Um indivíduo dificilmente obterá sucesso no basquetebol, por exemplo, caso suas habilidades de arremessar, saltar ou de correr não atingirem níveis maduros (GALLAHUE, 2005).

    Conforme o autor citado, a prática de uma determinada modalidade esportiva depende de um desenvolvimento motor básico para tal modalidade, como no voleibol, é necessário que o indivíduo tenha um desenvolvimento desenvolvido para saltar, quando se realiza um saque ou um ataque. Habilidades estas que fundamentam todo o esporte, e que são desenvolvidas ainda quando estão nas séries iniciais do ensino fundamental. Porém se esse desenvolvimento não for efetivo nesta fase, é provável que este aluno não apenas seja infeliz num determinado esporte, mas tenha grande dificuldade em realizar as atividades físicas em outros períodos da fase escolar. Por isso que não é raro encontrar alunos nas séries finais do ensino fundamental que não conseguem realizar com êxito uma atividade básica, como saltar um obstáculo (OLIVEIRA, 2002).

    Thompson (1991) apud Silva (2007) aponta que o atletismo possibilita que as crianças experimentem várias formas de movimento, tais como corridas, saltos, lançamentos e arremessos, movimentos estes que auxiliam no desenvolvimento motor, trazendo oportunidades da prática dessas habilidades básicas.

    Segundo Souza et al (2006) estas qualidades são consideradas naturais do ser humano, porém quando codificadas, proporcionam à criança a interação com a riqueza de uma multiplicidade cinética significativa e fundamental ao seu desenvolvimento.

    Porém as habilidades podem ser supridas através do atletismo até certa idade, que segundo Gallahue e Ozmun (2005), compreende por volta dos 7 anos, onde termina a fase motora fundamental, período onde a criança absorverá todas as suas experiências motoras e transformará em habilidades de realizar novas atividades.

    Pois, a partir desta fase o desenvolvimento motor é restringido pela maturação das células cerebrais e formação da bainha de mielina, na adolescência (KOLB e WHISHAW, 2002 apud ANDRADE, LUFT e ROLIM, 2004), a qual acelera a condução do impulso ner­voso (MENDES e MELO, 2011).

Atletismo nas escolas

    Segundo os PCN’s da Educação Física (BRASIL, 1997), deve-se atribuir aos conteúdos das séries iniciais do ensino fundamental a ginástica, jogos e atividades rítmicas e expressivas, contendo dentro disso os esportes, incluindo o atletismo, aplicando atividades como, corridas de velocidade, de resistência, com obstáculos, de revezamento; saltos em distância, em altura, triplo, com vara; arremessos de peso, de martelo, de dardo e de disco.

    As crianças, segundo o PCN de Educação Física (BRASIL, 1997) chegam às escolas com uma série de conhecimentos sobre movimento, corpo e cultura corporal, frutos das experiências pessoais, das suas vivências e os meios de comunicação, e que a quantificação dessas experiências depende das oportunidades que elas vivenciaram. Brasil (1997) ainda cita que cabe a escola garantir experiências variadas, a qual a criança não tem acesso fora do contexto escolar.

    Ou seja, toda criança ao chegar à escola traz consigo experiências motoras vivenciadas durante o período pré-escolar, sendo que algumas trarão uma pequena gama de experiências motoras devido a falta de vivencia delas, já as crianças que tiveram a oportunidade de brincar, correr, saltar, etc., terão uma maior facilidade na realização de movimentos posteriores; com isso, o atletismo vem para suprir a defasagem dessas experiências, através da grande variação de movimentos que é proporcionado, como correr, saltar, arremessar e girar, e podendo utilizar-se de atividades em circuitos de obstáculos, que favorecerá o desenvolvimento de capacidades e habilidades individuais (BRASIL, 1997).

    A exploração de novas experiências motoras ocorre de forma individual no primeiro ciclo do ensino fundamental, uma das atividades que frisa isso é o atletismo, diferentemente das modalidades coletivas, se pode separar de forma individual e coletiva, sem comprometer o ensino (BRASIL, 1997).

    O PCN (BRASIL, 1997) além de ressalta a importância das explorações das experiências de forma individual, lembra que a especialização não é adequada para a faixa etária, pois não é o momento de restringir as possibilidades dos alunos, mas sim, se deve abordar a maior diversidade possível de movimento, ou seja, correr, saltar, arremessar, lançar, marchar, nas mais diversas situações. O atletismo proporciona todos esses quesitos devido o enfoque na valorização do potencial individual do aluno, além de não especificar o movimento, já que o atletismo é rico na variação de movimentos.

    Embora o atletismo seja considerado clássico, próprio daquilo que se pode chamar de educação física, há ainda uma negligência no campo escolar (MATTHIESEN, SILVA e SILVA, 2008). Essa negligência faz com que as crianças desconheçam e tenham uma visão distorcida dessa modalidade, talvez, imaginando que sua prática é muito mais difícil do que realmente seja (MATTHIESEN e FIORAVANTE, 2008).

    As aulas de atletismo geralmente utilizam movimentos repetitivos, tornando os mecânicos, cabe assim ao professor estar atento as novas situações, analisando os movimentos para não haver apenas uma automatização, e posteriormente uma aversão à modalidade (BRASIL, 1997).

    É importante ressaltar que essa deficiência que envolve o trabalho com essa modalidade, vem desde a fase escolar, já que tem sido praticamente ignorado nas aulas de Educação Física por muitos professores (MATHIESEN et al, 2008).

    O interesse pelo atletismo no ensino superior é baixo (MEURER, SCHAEFER e MIOTTI, 2008), o que influencia diretamente naquilo que poderia ser ministrado no contexto escolar, ficando descaracterizado o processo de ensino-aprendizagem. A partir desse desinteresse, Matthielsen et al (2008) cita que faltam professores que se dediquem a trabalhar com o atletismo.

    É necessário que o professor de educação física reflita mais sobre suas atividades de ensino, utilizando do atletismo, que poderá apresentar grandes possibilidades de desenvolvimento no contexto escolar, além de oportunizar as crianças uma multiplicidade de situações, possibilitando a construção de um repertório motor amplo (MARQUES e IORA, 2009; BRASIL, 1997).

    Durante o planejamento das atividades se devem contemplar atividades com ênfase nas capacidades de força, velocidade, coordenação e ritmo, capacidades essas que são as principais dentro do ensino do atletismo (BRASIL, 1997).

    Segundo Matthielsen (2007) o atletismo é importante na formação da criança, em qualquer faixa etária, pois suas regras são de fácil entendimento, a aprendizagem é rápida e se repetem em várias provas, além de ser considerada a modalidade base para outras atividades esportivas.

    Conforme o autor, o atletismo independe de complexidade para seu ensino, devido à fácil aprendizagem, e pode ser melhor explorado no âmbito escolar, pois não necessita de materiais complexos para a execução de uma aula, basta criatividade do professor para um ensino eficientes das modalidades. Os movimentos a serem trabalhados no atletismo são básicos para a vida diária, e foram adquiridos ao longo da vida, cabe ao professor trabalhar os movimentos, antes do dia a dia, e agora para realizar um esporte.

    Esses movimentos, citados por Matthielsen (2007) vão além da compreensão dos alunos, que apenas analisam como simples tarefas cotidianas, pois não tem interesse num esporte individual como o atletismo, e não entendem que a aplicação dos movimentos de correr, saltar, lançar ou arremessar pode ser utilizada para avaliar o desenvolvimento motor adquirido pelos mesmos.

    Matthiesen et al (2008) sugere que seja explorado o lado educacional do atletismo, pois, por meio dele é possível explorar as habilidades motoras básicas, seus movimentos específicos, sua história e regras, despertando, nas crianças o gosto e o interesse por essa bela modalidade.

    Ao pensar no atletismo na escola, além de refletir sobre suas possibilidades de afloramento de habilidades motoras básicas, se tem que compreendê-lo enquanto ferramenta educativa (SOUZA et al, 2006). Mezzaroba et al (2006) cita que correr, saltar e lançar são classificados como habilidades físicas de base, e estão presentes em quase todas as modalidades esportivas. Sendo assim uma adequação a prática das modalidades do atletismo, pode garantir uma indicação a um esporte no qual ela mais se adapte, a partir da base adquirida.

    O atletismo segundo Silva (2007) é uma ferramenta que promove nas aulas de Educação Física o desenvolvimento global do aluno, podendo ser uma solução nos dias de hoje, para que as crianças realizem os movimentos básicos para seu desenvolvimento motor, pois não há mais espaço suficiente para brincar, esse espaço foi tomado pelo “aparecimento de novas tecnologias como o computador, o vídeo game e, mais recentemente, a internet, o sedentarismo corporal passa a referenciar negativamente o desenvolvimento motor” (SILVA, 2007, p. 29).

    Costa (1992) apud Mezzaroba et al (2006) garante que o ensino do atletismo na escola é um pré-atletismo, onde começa com as habilidades básicas e após impõe um grau de complexidade na execução das mesmas.

    O atletismo deve ter um significado para os alunos, que através dos conteúdos ministrados aprenderão a gostar da modalidade, e do exercício físico, entendendo a relação com uma qualidade de vida melhor (OLIVEIRA, 2006).

    A contextualização da prática do atletismo, baseado em situações do dia a dia, garante que os exercícios não se tornem mecânicos e automatizados, pois é simples uma adaptação do atletismo, sejam em caráter de regras, materiais ou espaço para sua realização (BRASIL, 1997).

    Lembrando que o atletismo aproxima das atividades culturais da criança, o que facilita a aprendizagem (OLIVEIRA, 2006), isto é uma vantagem para o professor, pois deve explorar os movimentos utilizados no cotidiano da criança.

    Porém há dois grandes empecilhos que dificultam e restringem aos professores de aplicarem o atletismo dentro das aulas, sendo o primeiro, a motivação dos alunos pelos esportes que conhecem por meio da mídia e pelo convívio com crianças mais velhas, como o atletismo não tem uma grande visibilidade no Brasil, isso explica a predileção por outros esportes, como o futebol e o voleibol, dificultando a implantação de atividades individuais e recreativas voltadas ao atletismo (BRASIL, 1997).

    A segunda é a falta de materiais e espaços específicos ao ensino do atletismo, porém o PCN da Educação Física (BRASIL, 1997, pag. 61) cita que “mesmo que não se tenha uma quadra convencional, é possível adaptar espaços”, como a substituição de bastões, por cabos de vassoura, ou até mesmo a substituição da pista, pelos corredores da escola, estimulando a construção e desenvolvimento de materiais alternativos, que poderão ser adaptados para o uso do aluno, tamanho, altura, peso e distância (OLIVEIRA, 2006), entre outras adaptações possíveis dentro das condições encontradas.

    Essa flexibilidade apontada no PCN da Educação Física (BRASIL, 1997), nas questões de regras, de local, materiais e no número de alunos, além do caráter de atividade a ser apresentada, competitiva, recreativa ou cooperativa, dá uma maleabilidade ao conteúdo que está sendo ministrado, sendo uma característica particular da educação física.

    Cabe ao professor adaptar às limitações físicas do local, quanto a técnica dos alunos para realização de determinados movimentos, enfatizando o prazer e satisfação do aluno em movimentar-se, pois não cabe a escola treinar o aluno, mas expor o esporte de forma atrativa e de modo que todos compreendam e participem (OLIVEIRA, 2006).

    O ensino do atletismo nas escolas deve ocorrer através de brincadeiras e atividades recreativas de caráter simbólico, o qual os alunos terão uma melhor compreensão da sua aplicação, objetivando uma melhora dos movimentos básicos (KIRSCH, KOCH e ORO, 1984; OLIVEIRA, 2006).

    As atividades recreativas, de forma geral, já estão inseridas numa cultura social no âmbito escolar (KIRSCH, KOCH e ORO, 1984), por sua vez devemos tratá-la dentro de uma metodologia voltada ao atletismo, como a utilização da brincadeira de “pega-pega” ao ensino da corrida, ou “mãe-bola” para o ensino do arremesso de peso.

    Segundo os autores, se pode perceber que o ensino do atletismo é mais fácil que parece, pois não há prioridade na utilização de espaços e materiais específicos, criando assim uma grande facilidade ao seu ensino.

Considerações finais

    O presente estudo conclui que é de ampla importância a aplicação e o ensino do atletismo nas séries iniciais do ensino fundamental, pois os movimentos contidos dentro do atletismo para esta faixa etária proporcionam o desenvolvimento motor como base para todas as outras atividades, que serão realizadas posteriormente nas séries finais do ensino fundamental, como, correr, saltar, lançar, arremessar, marchar, atividades essas que fundamentam todas as outras modalidades.

    Porém a aplicação do atletismo nas séries iniciais do ensino fundamental deve seguir alguns critérios para que não sejam automatizados tais movimentos, assim perdendo todo o objetivo do trabalho, já que nesta faixa etária o objetivo não é esportivizar o atletismo, mas sim, usar de atividades recreativas e lúdicas, com o principio do atletismo, como, saltar obstáculos, correr uma determinada distância, arremessar um objeto, entre outros.

    Todas essas atividades sugeridas, quando se refere ao desenvolvimento motor nesta faixa etária, ocorrem de forma individual, ou seja, o aluno terá a aprendizagem motora desenvolvida através de movimentos e experiências que ele terá individualmente, dentro disso, o atletismo consegue trabalhar integralmente o aluno, tanto de forma individual, como de forma coletiva, fazendo com que o aluno desfrute das mais variadas experiências motoras, independente do nível de desenvolvimento de seus colegas, porém, sem deixar de integrar a troca de experiências entre eles.

    Contudo, não se deve neste período escolar restringir as possibilidades dos alunos, impedindo que desfrute da maior diversidade de movimentos, mesmo em situações em que não haja a disponibilidade de materiais ou espaços adequados a prática, adaptando assim os espaços e materiais para que essas experiências sejam realizadas nas mais diversas situações.

    Compreende-se que o ensino do atletismo necessita de fatores que motivem os alunos à pratica, como, a percepção do aluno em relação a sua melhora na capacidade de realizar determinada atividade, já que, o atletismo valoriza seu individual, como, um aluno acima do peso em outra modalidade, poderia ser excluído de tal atividade, impossibilitando a aquisição de novas experiências motoras, pois não terá a oportunidade de observar sua melhora, como fazendo um gol no futebol. Mas no atletismo, este mesmo aluno terá a oportunidade de progressivamente realizar corretamente o salto sobre um obstáculo, ou saltando o mesmo, porém em uma altura maior, percebendo assim sua melhora. Sendo assim, entende-se que o atletismo traz consigo oportunidades metodológicas que o torna democrático dentro do ensino escolar.

Referências

  • ANDRADE, A.; LUFT, C. di B.; ROLIM, M. K. S. B. O desenvolvimento motor, a maturação das áreas corticais e a atenção na aprendizagem motora. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 10, n. 78, 2004. http://www.efdeportes.com/efd78/motor.htm

  • BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/linksCursosMateriais.html?categoria=23. Acesso em: 5 abr 2011.

  • CBAT Confederação Brasileira de Atletismo. Origens. Disponível em: http://www.cbat.org.br/atletismo/origem.asp. Acesso em: 26 mar 2011.

  • CSAT Confederación Sudamericana de Atletismo. Sudamérica en Atletismo. Artes Gráficas S.A., 2003.

  • GALLAHUE, D. L. Conceitos para maximizar o desenvolvimento da habilidade de movimento especializado. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 16, n. 2, p. 197-202, 2. sem. 2005.

  • GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte Editora, 2003.

  • GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. 3. ed. São Paulo: Phorte Editora, 2005.

  • ISAYAMA, H. F.; GALLARDO, J. S. P. Desenvolvimento motor: análise dos estudos brasileiros sobre habilidades motoras fundamentais. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 9(1), p. 75-82, 1998.

  • KIRSCH, A.; KOCH, K.; ORO, U. Antologia do Atletismo. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1984.

  • MARQUES, C. L. da S.; IORA, J. A. Atletismo Escolar: possibilidades e estratégias de objetivo, conteúdo e método em aulas de Educação Física. Movimento, Porto Alegre, v. 15, n. 02, p. 103-118, abril/junho de 2009.

  • MATTHIESEN, S. Q. Educação física no ensino superior: atletismo teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.

  • MATTHIESEN, S. Q. et al. Atletismo para crianças e jovens: vivência e conhecimento. Motriz, Rio Claro, v.14, n.3, p. 354-360, jul/set, 2008.

  • MATTHIESEN, S. Q.; FIORAVANTI, C. A. A. Atletismo para crianças e jovens: extensão, educação e ensino. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, v. 7, n. 2, p. 103-108, 2008.

  • MATTHIESEN, S. Q.; SILVA, M. F. G. da; SILVA, A. C. L. e. Atletismo na escola. Motriz, Rio Claro, v.14, n.1, p. 96-104, jan/mar, 2008.

  • MENDES, P. B.; MELO, S. R. de. Origem e desenvolvimento da mielina no sistema nervoso central - um estudo de revisão. Revista Saúde e Pesquisa, v. 4, n. 1, p. 93-99, 2011.

  • MEURER, S. T.; SCHAEFER, R. J.; MIOTTI, I. M. L. Atletismo na escola: uma possibilidade de ensino. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 13, n. 120, 2008. http://www.efdeportes.com/efd120/atletismo-na-escola.htm

  • MEZZAROBA, C. et al. A visão dos acadêmicos de Educação Física quanto ao ensino do atletismo na escola. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 10, n. 93, fev, 2006. http://www.efdeportes.com/efd93/atlet.htm

  • OLIVEIRA, J. A. de. Padrões motores fundamentais: Implicações e aplicações na educação física infantil. Revista Interação, Varginha, v.6, n. 6, p. 37-42, Dez 2002.

  • OLIVEIRA, M. C. M. de. Atletismo escolar: uma proposta de ensino na educação infantil. Rio de Janeiro: Sprint, 2006.

  • SILVA, S. B. da. Iniciação ao atletismo e a habilidade motora de arremessar por cima do ombro. 2007. 106 f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) – Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba, 2007. Disponível em: http://www.unimep.br/phpg/bibdig/pdfs/2006/CHFAKHIHVOUG.pdf. Acesso em: 26 abr. 2011.

  • SIMONI, C. R.; TEIXEIRA, W. M. Atletismo em quadrinhos: história, regras, técnicas e glossário. Editora Rigel: Porto Alegre, 2009.

  • SOUZA, P. D. et al. Atletismo nos jogos internos da Educação Física: compreendendo os motivos do desinteresse de sua prática. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 11, n. 103, Dez. de 2006. http://www.efdeportes.com/efd103/atletismo-educacao-fisica.htm

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 171 | Buenos Aires, Agosto de 2012  
© 1997-2012 Derechos reservados