A humanização no cuidado de enfermagem aos pacientes com feridas La humanización en el cuidado de enfermería a los pacientes con heridas |
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*Acadêmico de Enfermagem da
Universidade Estadual de Montes Claros, UNIMONTES (Brasil) |
Rayde Luiz Fonseca* Leandro Mendes Pinheiro da Silva* Caroline Veloso Pereira** Izabella de Oliveira Antunes** Edilene Oliveira Amaral*** |
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Resumo O objetivo deste trabalho foi conhecer a percepção dos usuários portadores de lesões cutâneas sobre a humanização dos cuidados de enfermagem recebidos ao procurar as Unidades Básicas de Saúde (UBS) para curativo. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa, realizada através de uma entrevista semi-estruturada própria, efetuada com usuários portadores de lesões cutâneas atendidos em 08 Unidades Básicas de Saúde de Montes Claros. A amostragem se deu por ponto de saturação e a técnica utilizada na discussão dos resultados foi análise de conteúdo. Houve uma preocupação com a avaliação e controle da dor como forma de contribuir para uma assistência voltada para a integridade física, emocional e social do cliente. Foi abordada a questão do envolvimento emocional do enfermeiro com o paciente, o que foi atribuído principalmente à agressividade e longevidade do tratamento que favorecem o estabelecimento de vínculos afetivos. Neste sentido, foi ressaltada a importância do preparo psicológico da enfermagem, entendendo que a conscientização acerca dos aspectos emocionais envolvidos na atuação cotidiana facilita, aprimora e humaniza o cuidado. Os resultados mostraram a conduta de enfermagem como sendo satisfatória caracterizado por profissionais tecnicamente preparados, seguros e comunicativos. Em concordância com estes resultados os autores que tratam da experiência da enfermagem apontam para a importância de um atendimento humanizado onde a técnica seja mais um instrumento para o cuidar e não seu foco principal. Unitermos: Humanização. Feridas. Unidade Básica de Saúde.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 171, Agosto de 2012. http://www.efdeportes.com |
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Introdução
Sob o ideal de “humanização”, observam-se diferentes iniciativas no Brasil, tanto na forma de uma Política Nacional (Humaniza SUS), como de propostas técnicas mais especificas (Humanização do Parto, Maternidade Segura, Método Mãe-Canguru). Sem desconsiderar a centralidade do acesso á atenção à saúde e a qualidade técnica das ações desenvolvidas, a proposta de humanização tem dado especial ênfase a integralidade da atenção, em particular, as interações entre profissionais e usuários, nos serviços de saúde (BRASIL, 2005).
Para conseguir uma humanização dentro das instituições de saúde, primeiro deve humanizar-se a sociedade como um todo pois, vivemos em um país cada vez mais violento injusto e com uma grande desigualdade social. Todos estes aspectos interferem no bom andamento das propostas de humanização da saúde (SIMOES et al, 2007).
A Enfermagem vem progredindo na humanização através dos séculos, mantendo sempre relação com a história da civilização da sociedade. Tem, portanto, um papel predominante por ser uma profissão que busca promover o bem estar dos seres humanos, considerando sua liberdade, qualidade única e nobreza, trabalhando na promoção da saúde, prevenção de enfermidades, no transcurso de doenças e danos, nas incapacidades e no processo de falecer.
Quando o cuidado de enfermagem se direciona ao tratamento de lesões cutâneas, defende que o papel do enfermeiro não é somente a execução do curativo. O profissional de enfermagem preenche uma lacuna importante no tratamento de feridas; sua figura é preponderante, é ele quem executa o curativo diariamente e está em maior contato com o cliente. Por essa razão, em muitos aspectos sua atuação se sobreporá à dos outros componentes da equipe como examinar a ferida, indicar e realizar o curativo, e ainda orientar na prevenção de complicações, podendo ainda incentivar a modificação dos comportamentos de risco para lesões cutâneas.
Segundo Kantorski et al. (2006) as diferentes formas de se entender o cuidado interfere na vida prática da profissão de enfermagem. O cuidado é a maior responsabilidade que devemos ter para com o outro, principalmente nos momentos de sofrimento. É no estado de sofrimento em que se evidenciam as diferentes dificuldades e possibilidades de se promover o cuidado, entre elas os instrumentos necessários tanto para o preparo pessoal como para o preparo profissional do enfermeiro.
O profissional de saúde (enfermeiro) por ser o membro (juntamente com a sua equipe) mais próximo do paciente deve saber avaliar os aspectos morfológicos deferida, a fisiologia da pele e do processo cicatricial, bem como o aspecto nutricional, pois a ma nutrição e outros fatores interferem na cicatrização da ferida, possibilitam a ocorrência de infecção, aumentam o repouso no leito e o tempo de hospitalização. Muitas vezes o aspecto morfológico é avaliado separadamente do nutricional, perdendo-se a visão do portador da ferida como um todo.
É neste contexto que Nunes (2006) vê o enfermeiro como um profissional do cuidado, do diálogo, responsável, que visa proteger e salvaguardar a dignidade da pessoa humana, na suas intervenções. Nesse sentido, a prestação e a gestão de cuidados do enfermeiro expande-se a tudo o que diga respeito à situação humana, desde o nascimento, ao envelhecimento ou a doença crônica; esta profissão que toma conta da vida está inserida nos diversos serviços de saúde.
O sucesso da cicatrização de feridas vai depender de cada etapa que são: planejamento, implementação, evolução e registro das condições clinicas das lesões, o processo de enfermagem é um método sistemático de prestação de cuidados humanizá-los que enfoca a obtenção de resultados desejados de maneira eficiente. O enfermeiro deve saber não só a técnica de toda a fisiologia da cicatrização para que se faça o diagnostico correto, como também escolhendo a cobertura adequada (SANTOS et al, 2007).
A deliberação do COREN-MG n°65/00, em 22 de maio de 2000, dispõe sobre as competências dos profissionais de enfermagem na prevenção e tratamento das lesões cutâneas, obedecendo a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), seguindo a seguinte ordem: histórico, diagnostico prescrição, e evolução para melhor desempenho profissional e assistência ao portador de lesões. Conforme a resolução do COFEN N° 272/2002, a Sistematização da Assistência de Enfermagem trata-se de uma atividade privativa do enfermeiro.
Diante da importância do tema, o estudo fornece informações aos profissionais de saúde a partir dos relatos de vivências dos clientes com lesões cutâneas, aspectos que necessitem de mais atenção, procurando melhorar o suporte dado ao cliente. Assim o trabalho conheceu a percepção dos usuários portadores de lesões cutâneas sobre a humanização dos cuidados de enfermagem recebidos ao procurar as Unidades Básicas de Saúde para curativo.
Material e métodos
Tratou-se de uma pesquisa descritiva de natureza qualitativa, realizada através de uma entrevista semi-estruturada, aplicada a usuários portadores de lesões cutâneas atendidos em 08 UBS de Montes Claros. De acordo com Demo (2000), a pesquisa qualitativa fornece os dados básicos para desenvolvimento das relações entre os fatores sociais e sua situação, visando uma compreensão detalhada das crenças, atitudes, valores e emoções em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos e abordagem descritiva que constitui no registro, análise, classificação e interpretação de fatos sem a interferência do pesquisador.
O universo da pesquisa foi constituído pelos clientes portadores de lesões cutâneas que procuraram as 08 Unidades Básicas de Saúde(UBS) para trocar ou fazer curativos.
Os critérios de inclusão foram: Clientes com idade superior a 18 anos de idade, de ambos os sexos e que procuraram as UBS estudadas no período de 10 a 20 de outubro de 2011, para realização de curativos.
A amostragem se deu por ponto de saturação e a técnica utilizada na discussão dos resultados foi análise de conteúdo. Segundo Pollit e Hungler (1995) se chega ao ponto de saturação quando as respostas tornam-se repetitivas, não surgindo novas categorias, essas categorias são definidas na análise de conteúdo pelo pesquisador no qual ele organiza as repostas para um melhor entendimento, organização e apresentação dos resultados.
Os preceitos éticos da Resolução 196/96 do CNS foram respeitados. Foi mantido o anonimato dos entrevistados, apenas identificando-os por letras de alfabeto. As informações obtidas foram transcritas na integra.
Resultados e discussão
A postura da enfermagem no trato ao paciente, seja qual for a necessidade apresentada deve ser cordial, amiga, mostrando sempre atenção as solicitações do cliente quando essas competem ao seu legado profissional. O enfermeiro desenvolve um olhar crítico, mas global que favorece a tomada de decisões para um bom prognóstico, desde que esteja dentro de suas competências.
A atenção e observância as necessidades do cliente e principalmente os carentes de afeto e companhia levam a aproximação de profissional e cliente. Essa relação pode ser o ponto crucial para combinação da melhor forma de atendimento e compartilhamento de necessidades. Por exemplo um paciente com cobertura para sete dias tentar ao máximo cooperar para a permanência e higiene do curativo e da mesma forma o profissional de Enfermagem pode respeitar o credo religioso de um paciente.
Na aplicação do nosso questionário observamos que todos os clientes caracterizaram a conduta de enfermagem como boa, ou seja, satisfez a necessidade e atendeu com destreza, firmeza e postura ética. Daí os clientes saem da UBS relatando que os profissionais têm sido calmos, seguros e comunicativos. Ponto positivo para a Enfermagem.
Quando se diz “humanização dos cuidados da enfermagem”, entende-se que o enfermeiro deve tomar-se mais sensível e caridoso, compadecer-se, compreendendo e valorizando o paciente com atendimento digno e de qualidade para todas as pessoas que naquele momento estão necessitando de ajuda. É colocar-se no lugar do paciente e atendê-lo como gostaria que fosse atendido. É oferecer todo apoio humanizado sem nenhuma distinção.
A partir das observações e das entrevistas permitiu-se organizar os dados em categorias distintas, a saber:
Incômodo da ferida
Feridas na pele ocorrem quando o tegumento sofre rupturas estruturais ou fisiológicas, o que incita respostas de reparação pelo organismo, dando início a uma série de reações, que contribuem para eliminação das células lesadas e de outros elementos estranhos com o objetivo de proteger os tecidos visíveis e promover a reconstrução da área dominada (HESS, 2002).
Diante de algumas características da ferida como o incomodo causado foram destacadas das falas argumentos levantados pelos clientes que provam essa sensação de desconforto:
“Incomoda andar, sinto muita dor”. (cliente B)
“Incomoda mais na hora de dormir, no início incomodava mais na hora de tomar banho”. (cliente N)
“O que mais incomoda é a dor que sinto em toda a perna e não só no machucado”. (cliente A)
A maioria dos clientes reclamam que, o que mais incomoda é a dor que sentem quando se locomovem ou até mesmo quando estão em repouso, alguns dizem sentir dor no ferimento e outros relatam dor em todo o membro.
A sensação de dor é considerada por alguns autores como um dos sinais vitais, fisiologicamente funciona como sinal de alerta desencadeando reações de defesa e preservação, no entanto a dor tem como objetivo principal o de proteção e surge quando existe uma lesão de tecido.
O sistema nervoso é composto por dois sistemas funcionais: o sistema nervoso periférico e o sistema nervoso central. É através do sistema nervoso periférico que o estimulo da dor é percebido e captado. Os nervos sensoriais e motores da coluna espinhal conectam nos tecidos e órgãos ao sistema nervoso central, complementa assim o sistema. (GUYTON, 1988)
As feridas causam muita dor e sofrimento ao paciente, principalmente o idoso. Diante desses fatos, um aspecto importante da assistência de enfermagem é garantir a manutenção da integridade da pele observando e utilizando intervenções planejadas para evitar o comprometimento dessa integridade, fundamentando na prevenção e tratamento. A capacidade de avaliar os fatores de riscos ajuda a conter dor e sofrimento para o paciente, além de reduzir os altos custos para a saúde (ALONSO & ASSUNÇÃO, 2006).
Conduta do profissional frente à dor
A enfermagem deve buscar capacitar-se para perceber que os seres humanos são constituídos de energia, experimentando outras formas de cuidar de feridas que não se restrinja simplesmente a técnica de fazer ou trocar curativo. Ele acredita que além de ampliar a compreensão acerca das causas das doenças, essa nova visão também promoverá o desenvolvimento de métodos mais eficazes de cura (TAUBE & SILVA, 2004).
“Doeu muito, então procurei o posto pra realizar higienização.” (Cliente, M).
“Me sinto muito seguro porque durante o procedimento a enfermeira além de me explicar o que esta fazendo ela procura saber como estou, ou seja, conversa comigo. Ela tem que me explicar e ensinar também porque quem realiza o meu curativo durante o final de semana sou eu”. (cliente M)
Há uma preocupação de ambos os sujeitos (enfermeiro e cliente) em restabelecer a integridade da pele, controlando os sinais e sintomas, a qualidade dos cuidados prestados que pode tornar um fator significativo na determinação da qualidade de vida dos pacientes (FIRMINO, 2005).
Continuidade do tratamento
Santos et al. (2007), enfatiza que o enfermeiro deve saber não somente a técnica, mas toda a fisiologia da cicatrização, para que se faça o diagnóstico correto, escolhendo a cobertura adequada, pois é este profissional que faz o acompanhamento diário do paciente que identifica as necessidades individuais, podendo dessa forma chegar a um tratamento adequado suprindo todas as necessidades de cada paciente.
“A enfermeira fala pra mim sobre a importância dos curativos ser realizados diariamente, mesmo porque ajuda muito no processo de cicatrização né. E fala também que sempre devo lavar minha ferida com soro fisiológico, assim como ela faz.” (Cliente, M).
“Quando o profissional não pode vir fazer o curativo mando buscar o material no posto e a minha filha faz” (Cliente, B).
“Eles dão os materiais para eu fazer meu próprio curativo em casa, porém não dão informações sobre como fazer. Eu sou acostumada a fazer curativo em outras pessoas, mas em mim é difícil, pois tenho que me abaixar.” (Cliente, C).
“Não.” (Não recebeu informações) (Cliente, D).
“Melhorar a alimentação com frutas e verduras, ficar mais em repouso e as vezes trocar o curativo .” (Cliente, E).
Percebeu-se, no relato dos usuários, uma preocupação de ambos os sujeitos (profissionais de enfermagem e clientes) em restabelecer a integridade da pele, controlando os sinais e sintomas e oferecendo qualidade nas informações oferecidas (FIRMINO, 2005). Porém a relatos como o do entrevistado “D” que ainda chegam a não receberem nenhuma informação sobre a continuidade do tratamento.
O que os profissionais podem fazer para melhorar o atendimento
Deslandes (2004), afirma ainda que a deficiência do diálogo, a debilidade do processo comunicacional entre os profissionais e usuários e entre profissionais e gestores, repercute de forma negativa no cuidado prestado. O respeito á palavra e a falta de troca de informações, a debilidade da escuta e do diálogo promovem comprometimento da qualidade do atendimento.
“Não tem nada a melhorar no atendimento, nem quando vou ao posto nem quando ela vem em casa, só queria que ela viesse todos os dias ou que mandasse os materiais para fazer o curativo quando ela não vier .” (Cliente, J).
“Precisa melhorar um pouco em termo de informação, para melhor continuidade do tratamento.” (Cliente, F).
“Acho que não deve melhorar em nada, pois sempre sou bem recebida é o atendimento é muito bom.” (Cliente, C).
Pelos relatos de alguns clientes que não se precisa melhorar em nada que o atendimento atende as necessidades deles, já em outros demonstram que á ainda a falta de informação conseqüentemente pelos relatos deles observa-se que ainda não se supre todas as necessidades dos clientes.
Conclusão
Voltamos a enfatizar que a enfermagem leva consigo como marca as características de atenção, holística, percepção de necessidades e provisão de cuidados. Assim os profissionais da enfermagem são em suma o alívio da dor e devem agregar a essas características o conhecimento teórico, a prática da atenção e inovação.
Há uma preocupação com a avaliação e controle da dor como forma de contribuir para uma assistência voltada para a integridade física, emocional e social do cliente. Sobre o envolvimento emocional do enfermeiro com o paciente é atribuído principalmente à longevidade do tratamento que favorecem o estabelecimento de vínculos afetivos.
Neste sentido é ressaltada a importância do preparo psicológico da enfermagem, entendendo que a conscientização acerca dos aspectos emocionais envolvidos na atuação cotidiana facilita, aprimora e humaniza o cuidado.
Referências
CANDIDO, L. C. Nova abordagem no tratamento de feridas. São Paulo: SENAC, 2001 apud CUNHA, N.A da. Sistematização da assistência de enfermagem no tratamento de feridas crônicas. 2006. 33 f. Monografia (Bacharel em Enfermagem) - Centro de Ciências da Saúde – CCS, União de Escolas Superiores da Funeso – UNESF, Fundação de Ensino Superior de Olinda – FUNESO, Olinda, 2006.
DEMO, P. Pesquisa qualitativa. In: ______. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas: 2000. cap. 6, p. 145-159.
DESLANDES, S. F. Análise do discurso sobre humanização da assistência hospitalar. Ciência e Saúde Coletiva. [S.l], v.12, 2004.
DUARTE, R. Pesquisa qualitativa: reflexões sobre o trabalho de campo. Caderno de Pesquisa, Rio de Janeiro, n. 115, p. 139-154, Mar. 2002.
FIRMINO, F. Feridas neoplásicas: estadiamento e controle dos sinais e sintomas. Revista Prática Hospitalar, Rio de Janeiro, n.42, nov/dez 2005.
POLLIT, D. F.; HUNGLER, B. P. Métodos de Coleta de Dados. In: ______. Fundamentos de pesquisa em enfermagem. 3 ed. Porta Alegre: Artes médicas, 1995. cap. 8, p. 163-198.
SOUZA, A. C. C. de; MUNIZ, M. J. M. F.; SILVA, L. de F. da; MONTEIRO, A. R. M.; FIALHO, A. V. M. Formação do enfermeiro para o cuidado: reflexões da prática profissional. Revista Brasileira de Enfermagem, [S. l] v. 59, n. 6, p. 805-07, Jan. 2006.
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