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Aspectos epidemiológicos da população
atendida em clínica de fisioterapia

Aspectos epidemiológicos de la población atendida en una clínica de fisioterapia

Epidemiological aspects of population attended in physiotherapy clinic

 

*Fisioterapeuta, Aluna Especial do Mestrado

em Ciências do Movimento Humano, CEFID/UDESC, Florianópolis-SC

**Mestranda em Ciências do Movimento Humano, CEFID/UDESC, Florianópolis-SC

***Fisioterapeuta

****Mestre em Ciências do Movimento Humano, CEFID/UDESC, Florianópolis-SC

*****Docente do Curso de Fisioterapia

da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Itajaí-SC

(Brasil)

Ana Inês Gonzáles*

Sabrina Weiss Sties**

Daiana Palaoro***

Renato Claudino****

Simone Beatriz Pedroso Viana*****

a_i_g20@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: A Fisioterapia vem vivenciando um momento de mudança no seu perfil de atuação, anteriormente reduzido apenas ao caráter reabilitatório. Objetivo: identificar o perfil epidemiológico dos pacientes atendidos na Clínica de Fisioterapia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) Materiais e métodos: Foram utilizados prontuários dos pacientes atendidos na instituição, no período de março a dezembro de 2005 e análise estatística através do software SPSS 15.0. Resultados: Idade dos pacientes encontra-se entre 46 a 55 anos, sendo a população feminina é a maior freqüentadora, com maior parte dos atendimentos ocorrendo nas áreas de Ortopedia, Neurologia e Cardiorrespiratória. As patologias de maior incidência foram as Doenças Crônico-Degenerativas, principalmente as que afetam a coluna, o Acidente Vascular Cerebral e Doenças Pulmonares Obstrutivas Crônicas. Conclusão: Os resultados apontam para a formulação de estratégias de promoção e educação em saúde, de forma intersetorial e multiprofissional.

          Unitermos: Epidemiologia. Fisioterapia. Atenção em saúde. Promoção e educação em saúde.

 

Abstract

          Introduction: Epidemiological data guides public health decisions. Physiotherapy, as many other health field professions, is living a moment of changing in its profile of operation, previously reduced to the rehabilitatory character and now to a human being integral view. Objective: identify UNIVALI Physioteraphy Clinic’s patients’ epidemiological profile, distinguishing through age, gender, ethnic group, profession, marital status, origin and main incidence pathologies. Materials and methods: sample was composed by all records of the Institution’s patients. Between March and December 2005, 2382 records were analysed. The data’s statistical analysis was performed through software SPSS 15.0 Patch (Statistical Package for the Social Sciences). Results: Patients served at the Physiotherapy Clinic are between 0 and 90 years old, average age is situated between 46 and 55 years old. About the gender: female population is the majority of our patients at the Physiotherapy Clinic, and most of the visits are related to orthopaedics, neurology and cardio-respiratory matters. Between most frequent pathologies, Chronic-Degenerative diseases, mainly those which affect the spinal column, stroke and Pulmonar Obstructive Chronic diseases stand out. Conclusion: Results are alarming, and point in direction of urgent planning of education and promotion strategies able to contribute to the improvement of population’s standards of living by intersectorial and multiprofessional means.

          Keywords: Epidemiology. Physiotherapy. Health attention. Health education and promotion.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 170 - Julio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Fisioterapia, como as demais profissões da área da saúde, vive um momento de mudança no perfil de formação e atuação, ampliando o seu horizonte de ação, anteriormente reduzido ao caráter reabilitatório para uma visão mais integral do ser humano (1). Este novo modelo de atenção em saúde inclui cinco níveis de prevenção: promoção da saúde, proteção específica, diagnóstico precoce, tratamento imediato e reabilitação (2). Em adendo, o Sistema Único de Saúde (SUS) aponta para a necessidade de ações de saúde que não se restrinjam apenas às enfermidades, mas que sejam continuadas e apresentem impacto para melhorar efetivamente a saúde das populações (3).

    Este estudo apóia-se na premissa de que dados epidemiológicos orientam decisões de saúde pública. Em razão desses aspectos, buscou-se por objetivo, traçar o perfil epidemiológico da clientela atendida na Clínica de Fisioterapia da UNIVALI. Localizada na cidade de Itajaí, a Clínica de Fisioterapia caracteriza-se como um importante espaço de ensino e de desenvolvimento das habilidades fisioterapêuticas necessárias para a formação profissional. Grande parte da informação necessária para uma melhor definição da atuação fisioterapêutica, no planejamento de ações de promoção e educação em saúde, depende de uma sistematização estatística sobre as pessoas que frequentam este espaço.

Casuística e métodos

    Trata-se de estudo descritivo, quantitativo, o objeto deste, constituiu-se de todos os prontuários dos pacientes atendidos na instituição, nas áreas de Ortopedia, Traumatologia e Reumatologia; Neurologia; Pediatria; Ginecologia e Obstetrícia e Cardiorrespiratória. Durante os meses de março a dezembro de 2005 foram analisados 2382 prontuários referente ao período de janeiro de 2000 a dezembro de 2004. Ressalta-se que deste número 2082 foram incluídos na população em estudo e 300 prontuários foram desprezados por não estarem arquivados na Clínica de Fisioterapia da Univali durante o período da pesquisa ou apresentarem dados insuficientes para sua inclusão no estudo. Foi analisado quando possível: o gênero, idade, etnia, estado civil, profissão, procedência, diagnóstico médico e fisioterapêutico e setor de atendimento, correspondendo à área de atuação fisioterapêutica. Foi estabelecido como critério de inclusão prontuários que apresentassem no mínimo um dos quatro principais itens preenchidos, entre eles: procedência, diagnóstico médico e fisioterapêutico, gênero e idade, visto que a ausência destas informações traria prejuízo para a análise do perfil da população e distribuição das doenças.

    As informações foram analisadas através de distribuição de freqüência relativa. Os dados foram armazenados em forma de planilha eletrônica, e para a análise estatística foi utilizado o software SPSS 15.0. Patch (Statistical Package for the Social Sciences). Todos os princípios éticos previstos pela Resolução CNS 196/96 foram respeitados a partir da autorização de acesso e manuseio do material de estudo, preenchimento do termo de utilização dos dados, bem como o termo de responsabilidade e sigilo pelos indivíduos que participaram da pesquisa. O estudo foi aprovado pela comissão de Ética em Pesquisa da Univali sob parecer n° 59/2004.

Resultados e discussão

    Foi possível determinar o gênero e a idade de 2046 (98,3%) pacientes, sendo 1096 (52,6%) do gênero feminino e 950 (45,6%) do gênero masculino. Em ambos os casos a idade de menor incidência foi de 11 a 15 anos e a maior acima de 55 anos. A faixa etária observada obedeceu a seguinte distribuição: 568 (27,3%) tinham idade superior a 55 anos, 387 (18,6%) tinham entre 46 e 55 anos, 280 (113,5%) entre 36 e 45 anos, 231 (11,1%) entre 26 e 35 anos, 175 (8,4%) entre 21 e 25 anos, 113 (5,4%) entre 16 e 20 anos, 77 (3,7%) entre 11 e 15 anos, 112 (5,4%) entre 6 e 10 anos e 103 (4,9%) entre 0 e 5 anos (Tabela 1).

Tabela 1. Distribuição dos pacientes atendidos por gênero e faixa etária, em números absolutos e porcentagem

    Percebe-se que apesar do índice percentual ser bastante próximo, na idade acima de 55 anos, para ambos os sexos, o número absoluto de mulheres é superior ao dos homens. Este resultado pode ser reflexo do modo diferenciado como homens e mulheres cuidam da sua saúde bem como consequência de situações externas. A maior sobrevida de mulheres, em idades avançadas, poderia ser decorrente: das diferenças na exposição aos riscos ocupacionais; das maiores taxas de mortalidade por causas externas entre os homens; das diferenças no consumo de tabaco e álcool bem como diferenças de atitudes em relação às doenças (4,5,6). Além da taxa de mortalidade masculina ser maior em praticamente todas as idades e para quase totalidade de causas, igualmente as esperanças de vida ao nascer são menores em homens. No Brasil essas diferenças, que eram de aproximadamente 5 anos, durante as décadas anteriores a 1980, elevaram-se nas décadas seguintes. Este índice é mais elevado na região sudeste, especialmente no Rio de Janeiro onde a diferença atinge 12 anos (respectivamente 74 e 62 anos) (7,8). O envelhecimento relacionado a idade observado no Brasil, segue o mesmo padrão visto em países desenvolvidos e os dados demográficos, deste e de outros países, demonstram que a proporção de idosas de uma população aumenta conforme aumenta a idade (9,10).

    A menor procura do sexo masculino pelos atendimentos de saúde também foi relatado por outros estudos, sendo muitas as suposições e/ou justificativas: desvalorização do auto-cuidado e à preocupação incipiente com a saúde; preferência por serviços de saúde que correspondam mais objetivamente as suas demandas (como farmácias e prontos-socorros); por considerarem as unidades de saúde freqüentadas principalmente por mulheres e compostas por uma equipe de profissionais formada em sua maioria pelo sexo feminino (11). Sendo assim, as transformações nos padrões saúde-doença constituem-se em uma das características do século 20, estando associadas às mudanças na estrutura etária populacional (12).

    Em 1862 prontuários foi possível identificar a etnia dos pacientes, 1735 (93,2%) representaram a raça branca, 101 (5,4%) a raça negra e 17 (0,9%) a raça amarela.

    Os avanços ocorridos na biologia molecular têm afastado a idéia de que as desigualdades raciais em saúde sejam devido a especificidades genéticas. Apesar da negação de uma categoria fundamentada biologicamente, raça-etnia vem sendo estudada como fenômeno social e confirmada como importante marcador para explicitar as iniqüidades em saúde (13). No ano de 2000, através das declarações fornecidas pela população do País, 53,7% consideraram-se brancos, 6,2% negros e 0,5% amarelos (14). No Brasil, pesquisas que analisam os indicadores de saúde segundo raça-cor confirmam que as categorias raciais predizem importantes variações na morbi mortalidade (15). Estudo realizado na cidade de São Paulo permitiu caracterizar os óbitos de cada raça-cor segundo a causa, de forma que os indivíduos brancos vieram a óbito principalmente em decorrência de neoplasias, distúrbios do aparelho circulatório, aparelho respiratório, sistema nervoso, de causas congênitas, eventos perinatais, aparelho geniturinário, aparelho digestivo, causas endócrinas e nutricionais, doenças nos ossos, pele e doenças do sangue. Na raça negra tiveram maior incidência: causas externas, infecciosas, transtornos mentais, gravidez e parto, endócrinas e nutricionais. Os pardos igualmente de causas externas, infecciosas, transtornos mentais, gravidez e parto, perinatal (16).

    Pôde-se observar a presença de grande número de pacientes solteiros 460 (43,6%) assim como casados 454 (43,1%). Os pacientes viúvos representaram 91 (8,6%), os separados 41 (3,9%) e os amasiados 7 (0,7%). Estes dados estavam disponíveis em 1054 prontuários.

    Em 1911 prontuários foi possível identificar a ocupação dos pacientes, sendo estas agrupadas e classificadas segundo características comuns. As profissões de maior ocorrência foram: domésticas (do lar, donas de casa) 328 (17,2%), serventes 54 (2,8%), motoristas 48 (2,5%), costureiras 47 (2,5%), professores 47 (2,5%), auxiliares administrativos 41 (2,1%) e comerciários 40 (2,1%). Foram igualmente significativos os índices de: aposentados 262 (13,7%), estudantes 239 (12,5%) e pacientes sem profissão 173 (9,1%). As ocupações com índice abaixo de 2,1% representaram denominação - outras profissões 632 (33%) (Tabela 2).

Tabela 2. Distribuição percentual dos pacientes quanto à profissão

    Em 1997 prontuários, foi possível identificar a procedência dos pacientes, prevalecendo os residentes da cidade de Itajaí com 73,8% (1473), na seqüência vieram os pacientes das cidades de Balneário Camboriú 8,6% (172), Camboriú 7,3% (145), Navegantes 4,5% (90), Brusque 1,6% (31), Penha 1,3% (26), Piçarras 0,4% (7), Luis Alves 0,3% (5), Ilhota 0,3% (5), Bombinhas 0,2% (3), Porto Belo 0,1% (2) e os procedentes de outros municípios da região representaram 1,9% (38) (Tabela 3).

Tabela 3. Perfil em percentual dos pacientes atendidos na Clínica de Fisioterapia em relação à procedência.

    Itajaí foi o município mais beneficiado pelos serviços prestados, visto a clínica estar situada nesta cidade. Porém nota-se que há diversos moradores de outros municípios que foram atendidos na clínica. Este fato deve-se a proximidade, a facilidade de linhas de transporte coletivo entre estas cidades, e ainda ao corpo médico, muitas vezes comum. Dos 2082 prontuários analisados, 2078 continham a área de atuação da fisioterapia. Desses, 1160 (55,8%) foram atendidos na área de Ortopedia, 477 (23%) na Neurologia, 345 (16,6%) na Cardiorrespiratória, 45 (2,2%) na Ginecologia e Obstetrícia e 51 (2,5%) na área de Pediatria.

    Nota-se, que decorridos 36 anos de reconhecimento da fisioterapia no Brasil, ainda predomina a procura pelas áreas de ortopedia e neurologia, com enfoque reabilitador. Esta supremacia deve-se, certamente a origem da profissão. Nesse contexto, tendo como objetivo maior reintegrar o indivíduo à sociedade como ser produtivo e independente nas atividades da vida diária (17,18). Através da Resolução 259, de 18 de dezembro de 2003, foram definidas as atribuições do fisioterapeuta cuja autarquia levou em conta a qualificação e habilitação legal, para contribuir ainda, na prevenção e promoção da saúde (19).

    No setor de Ortopedia, foram identificados 250 diagnósticos, as doenças de maior ocorrência, foram: algias da coluna com 98 (8%) casos, fratura de membros inferiores 62 (5%), artrose 49 (4%) e hérnia discal 48 (4%) casos.

    A dor lombar é uma das alterações musculoesqueléticas mais comuns nas sociedades industrializadas, afetando 70 a 80% da população adulta em algum momento da vida, tendo predileção por adultos jovens, em fase economicamente ativa, sendo uma das razões mais comuns para aposentadoria por incapacidade total ou parcial. A lombalgia representa, no entanto, grande parte das algias de coluna referidas pela população (20).

    Os acidentes de trânsito passaram a ter relativa importância na gama de traumatismos na população mundial e, especialmente, na brasileira. Dados divulgados pelo Sistema Nacional de Estatísticas de Trânsito - SINET relatam que em Santa Catarina os acidentes acabam resultando, na maioria das vezes em fraturas, visto que 57,82% dos indivíduos não utilizam cinto de segurança (21). A orientação correta ao paciente, estimulação à prática de exercícios diários e atenção global e não apenas do segmento corporal afetado são os princípios básicos que regem a reabilitação nas fraturas (22).

    O terceiro diagnóstico de maior freqüência foi a artrose, esta doença reumática é prevalente entre indivíduos com mais de 65 anos de idade (23). Segundo dados do Ministério da Saúde, esta afecção dolorosa das articulações representou no Brasil 72.263 internações no período de 2000 a 2004. Estudos americanos apontam que mais de 50 milhões de pessoas apresentam hoje esta enfermidade sendo uma das causas mais freqüentes de dor do sistema músculo-esquelético e de incapacidade para o trabalho (23,24).

    Igualmente, a hérnia de disco é uma freqüente desordem músculo-esquelética, a maior incidência é em pacientes entre 30 e 50 anos. Esta, é considerada uma patologia que causa séria inabilidade em seus portadores e em vista disso, constitui um problema de saúde pública mundial. Estima-se que 2 a 3 % da população seja acometida por esse processo. Neste estudo, 68,75 % dos pacientes são homens e 31,25% mulheres, o intervalo de idade de maior incidência se deu entre 46 a 55 anos, outras pesquisas também comprovam a prevalência do sexo masculino na qual este representa 4,8% seguido por 2,5% do sexo feminino, sendo que em 76% dos casos há antecedente de uma crise lombar, uma década antes (25).

    Dos 477 pacientes atendidos na Neurologia, foram categorizados 84 diagnósticos, sendo as patologias com maior incidência: Acidente Vascular Cerebral (AVC) 204 (43%), Paralisia Cerebral (PC) 70 (15%), Trauma Raqui-Medular (TRM) 22 (5%) Traumatismo Crânio-Encefálico (TCE) 19 (4%). Ressalta-se que todos os prontuários da neurologia são referentes à pacientes adultos.

    O número de internações de pacientes com AVC no Brasil no período de 2000 a 2004 foi de 540.015. Esta doença constitui a terceira causa de morte no Ocidente, é também a segunda causa de perdas cognitivas. A mortalidade na fase aguda, nos primeiros 30 dias, oscila entre 8 a 20%. O risco acumulado de mortalidade no final do primeiro ano é de 22% (24,26). A reabilitação após o AVC tem como objetivo restaurar habilidades prévias e tornar o indivíduo o mais independente possível além de aumentar sua qualidade de vida (27). Entretanto, para que o paciente possa ter uma melhor recuperação é fundamental que ele seja analisado e tratado por uma equipe multidisciplinar de profissionais da saúde (28).

    O segundo diagnóstico de maior incidência foi o de paralisia cerebral (PC), a qual no Brasil durante o ano de 2000 a 2004 representou 54.288 internações juntamente com outras síndromes paralíticas. Estima-se que 764.000 crianças e adultos nos Estados Unidos manifestam um ou mais dos sintomas de PC (24,29).

    As lesões medulares também são responsáveis por grande incapacidade devida perda das funções motoras e reflexas acarretando em complicações clínicas sérias, custosas e ainda mais incapacitantes (22). Atualmente, em razão da recrudescência de episódios associados à violência urbana, um expressivo número de cidadãos em todo o mundo enfrenta as limitações provocadas pela lesão medular traumática (30). No ano 2000, na rede SARAH, 57,5% dos pacientes que sofreram lesão medular evoluíram com seqüela de traumatismo medular. Em 31%, a causa foi acidente de trânsito, em 30% agressão com arma de fogo, em 21% quedas e, em 6, 5%, mergulho (26). A mortalidade e a morbidade aumentam significativamente quando ocorre retardo no atendimento e dificuldades na elaboração diagnóstica, e se acentuam quando o paciente apresenta outros traumas associados (31). Contudo, ao acreditar no desenvolvimento de terapias eficazes, o papel da reabilitação é, mais do que melhorar a qualidade de vida, é preservar as funções restantes e aumentar a chance da recuperação dos movimentos (32).

    O trauma, principalmente aquele que afeta o crânio, é uma das maiores causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo. Há grandes gastos hospitalares, ocorre ainda a perda de anos laborais que representam, provavelmente, a maior repercussão socioeconômica do acidente de trânsito. Estes acidentes e suas lesões conseqüentes têm sido alvo de vários estudos epidemiológicos, principalmente na análise da freqüência do traumatismo cranioncefálico - TCE, devido ser este o principal agravo e causa de óbitos (33). A incidência das lesões cerebrais é três a quatro vezes maior nos homens do que nas mulheres e ocorrem em todas as faixas etárias, sendo mais comuns em adultos jovens, na faixa entre 15 e 24 anos (26). Devida maior incidência na população jovem, é responsável por uma grande redução na expectativa de vida da população brasileira (31). O TCE é importante causa de morte e de deficiência física e mental, superado apenas pelo AVC como patologia neurológica com maior impacto na qualidade de vida. Na Rede SARAH de Hospitais foram atendidos, em 2001, 344 pacientes com TCE e 1419 pacientes com AVC (26). Neste estudo igualmente percebeu-se a relação de freqüência entre o aparecimento (manifestação) do AVC e do TCE, em consonância com as pesquisas anteriormente apresentadas.

    No que se refere aos diagnósticos na área de cardiorrespiratória foram classificados 83 patologias. As patologias de maior prevalência são: Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) que representa 100 casos, ou seja, 29%; Asma com 34 (10%) e Cardiopatias com 18 (4%) dos casos.

    A DPOC é hoje um grande desafio para a saúde pública, pois é responsável por alto consumo dos serviços de saúde devido às elevadas taxas de internação. As doenças respiratórias de vias aéreas inferiores, tanto as infecciosas quanto as inflamatórias, têm sido alvo de investigação. Segundo dados estatísticos do DATASUS a DPOC representou no Brasil 1.138.411 das internações (24). Esta enfermidade é atualmente a quarta principal causa de morte no mundo e aumentos na prevalência e mortalidade da doença podem ser previstos nas próximas décadas (34). Mais de 500.000 hospitalizações e mais de 100.000 mortes nos Estados Unidos a cada ano devem-se a DPOC, além disso, milhões de americanos ficam incapacitados em conseqüência desta doença. Muitas pessoas sofrem durante anos e morrem prematuramente ou de suas complicações. A cessação do tabagismo melhora a qualidade de vida, mas nos fumantes excessivos essas taxas são baixas (35). A fisioterapia atua na capacidade aeróbica, motivação, dessensibilização da dispnéia, no aprimoramento das técnicas de desempenho das atividades da vida diária e ainda, melhora os níveis de ansiedade e depressão (36). A mortalidade intra-hospitalar para pacientes que são admitidos com exacerbação aguda de DPOC e hipercapnia é de 11%, enquanto que a mortalidade em um ano após a alta é de 43% (37).

    Dentre as cardiopatias, é relevante ressaltar a doença arterial coronária como a mais freqüente causa de parada cardíaca. Aproximadamente, 220.000 norte americanos morrem por ano de doença arterial coronária. A maioria das vítimas de morte súbita encontra-se em sua idade mais produtiva (38). A reabilitação cardíaca foi definida pela Organização Mundial de Saúde como o “Conjunto de atividades necessárias para assegurar, da melhor maneira possível, as condições físicas, mentais e sociais do paciente com cardiopatia, possibilitando seu retorno à comunidade e proporcionando a ele vida ativa e produtiva”. Na última década, a reabilitação cardíaca tem sido considerada como um processo de desenvolvimento e manutenção de nível desejável de atividade física, social e psicológica após o início da doença cardíaca (39).

    Dos prontuários pertencentes a área de Ginecologia e Obstetrícia (GO) os seguintes diagnósticos tiveram maior incidência: Câncer de mama (resultando em mastectomia) 34 casos (75%), Incontinência Urinária – IU 7 casos (15%) e Gravidez 3 casos (7%). O câncer de mama representa nos países ocidentais uma das principais causas de morte em mulheres. As estatísticas indicam o aumento de sua freqüência e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nas décadas de 60 e 70 registrou-se um aumento de 10 vezes nas taxas de incidência ajustadas por idade em diversos continentes (40). Neste quadro, a Fisioterapia passou a desempenhar um papel fundamental, justamente por representar um conjunto de possibilidades terapêuticas físicas suscetíveis de intervir desde a mais precoce recuperação funcional da cintura escapular e membro superior até a profilaxia de seqüelas como retração e aderência cicatricial, fibrose e linfedema (41).

    Através dos resultados alcançados pelos tratamentos fisioterapêuticos ocorreu uma acentuada diminuição de cirurgias assim como da necessidade de tratamentos farmacológicos, comprovados mediante estudos apresentados em congressos internacionais da IUGA - International UroGynecological Association (42).

    A gestação é um período que envolve grandes mudanças bio-psico-sociais, o papel da fisioterapia é atuar na melhoria da qualidade de vida das gestantes, visando a diminuição do tempo de trabalho de parto (43).

    Na área de Pediatria foram relatados 26 diagnósticos, os de maior ocorrência foram: PC com 21 %, ou seja, 11 ocorrências; Atraso do Desenvolvimento Neuropsicomotor (DNPM) com 14% (7), Fratura de Membro Superior 10% (5) e Escoliose 4% (2).

    Hoje, aproximadamente 8.000 bebês e infantes são diagnosticados com PC a cada ano. A Associação Unida de Paralisia Cerebral, estima que mais de 500.000 americanos têm estas manifestações clínicas. Em outro estudo, foi verificado que o número de crianças e adultos afetados permaneceu essencialmente inalterado ou talvez ligeiramente aumentado nos últimos 30 anos (29,44). Em relação ao tratamento, este tem como uma de suas metas abordar a criança em todos os seus aspectos deficitários ou não (45). Nesse contexto, a avaliação neurológica de uma criança ao nascer é altamente relevante, pois o resultado dessa verificação leva a uma decisão diagnóstica, que pode delinear uma encefalopatia estática ou progressiva, ou então processo agudo com repercussão no desenvolvimento de atraso no DNPM (45,46). Conforme os dados analisados esta condição patológica ou etiológica deve ser melhor analisada para obter-se um tratamento de excelência.

    Em relação a prevalência de fraturas, resultados similares ao do presente estudo são encontrados em alguns trabalhos que trazem este acometimento como sendo uma das lesões mais freqüentes nas crianças em virtude de acidentes (47). A demanda de atendimentos por trauma evidencia a necessidade de reestruturação dos serviços de saúde para que o atendimento de crianças e adolescentes vítimas de acidente ou violência seja reduzido bom como os serviços terciários e os custos hospitalares.

    Dados epidemiológicos apontam para uma alta prevalência de alterações posturais de coluna entre crianças e adolescentes. Igualmente aos dados deste estudo as prevalências de escolioses encontradas em outras pesquisas, se enquadram nas prevalências esperadas de 1 a 13% em todo o mundo (48). Em contrapartida, outros autores descrevem que a prevalência das escolioses varia de 1% a 21% (49).Contudo, estas alterações devem ser tratadas com cuidado para melhorar a qualidade de vida das crianças, prevenindo sua progressão, pois podem se tornar incapacitantes na fase adulta.

5.     Conclusão

    Os resultados encontrados no nível ambulatorial são preocupantes e coincidem com os índices de morbidade hospitalar registrados pelo DATASUS em todo o Brasil no mesmo período, apontando para o estabelecimento de políticas de saúde que visem à promoção da saúde e prevenção dos seus agravos. Ao término desta pesquisa sugere-se que seja adotada a formulação de estratégias educação em saúde capaz de contribuir com a melhoria da qualidade de vida desta população de forma intersetorial e multiprofissional. Tendo em vista o grande número de informações da pesquisa faz-se necessário que se dê continuidade a análise dos dados, realizando alguns cruzamentos destes para identificar, a relação das patologias que mais incidem em determinadas profissões, analisando os diagnósticos fisioterapêuticos traçando medidas necessárias para a prevenção destas.

    Este estudo nos mostrou, ainda, a importância do fazer epidemiológico mediante a gama de informações obtidas em fontes primárias, contudo nos leva a enfatizar junto as instâncias pertinentes, a importância do adequado preenchimento de tais documentos, para que possam refletir a totalidade da população estudada. A falta de preenchimento completo dos campos da ficha de avaliação influencia diretamente os resultados e a análise dos dados, dificultando a realização da pesquisa visto que alguns prontuários acabam sendo excluídos por estarem incompletos. Finalmente, o presente estudo ilustra o potencial de integração entre os registros epidemiológicos e o serviço de fisioterapia da Univali, evidenciando mais do que um espaço de aprendizagem e assistência, um local atuante no nível local que também tem por finalidade restituir o bem estar da população.

Agradecimentos

    Este artigo refere-se a pesquisa financiada pelo Governo de Estado de Santa Catarina (Artigo 170) em parceira com a Universidade do Vale do Itajaí (SC), realizada pelos acadêmicos do Curso de Fisioterapia, Daiana Palaoro, Sabrina Weiss Sties e Renato Claudino, sob a orientação da Profª Simone Beatriz Pedrozo Viana.

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