Efeito do método pilates na flexibilidade dos músculos isquiotibiais: relato de caso El efecto del método pilates en la flexibilidad de los músculos isquiotibiales: informe de un caso |
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*Fisioterapeuta **Docente do Curso de Fisioterapia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim (Brasil) |
Daniela Adelina Riquetti* Caroline Dallazen Lavratti* Janesca Mansur Guedes** |
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Resumo Pilates é um método de condicionamento físico que trabalha o corpo como um todo, integrando o corpo e a mente, proporcionando bem-estar físico e mental. Os exercícios buscam o desenvolvimento muscular uniforme, fortalecendo, melhorando a flexibilidade e o alinhamento corporal, de forma mais controlada e equilibrada. Este estudo teve como objetivo conhecer os efeitos do método Pilates na flexibilidade dos músculos isquiotibiais. Foram realizadas 24 sessões do método Pilates, duas vezes por semana, na Clínica Sculptor, com uma paciente do sexo feminino. A paciente foi avaliada por meio do teste do terceiro dedo ao chão, mensuração do ângulo poplíteo e escala de dor para diferentes partes do corpo. Houve normalização bilateral da flexibilidade na 8ª sessão de tratamento pelo teste do terceiro dedo ao chão, melhora na mensuração do ângulo poplíteo de 10° no MIE e 20° no MID, redução da dor na região cervical e torácica alta e ausência de quadro álgico nas demais regiões corporais. Para esta paciente o método Pilates teve efeito positivo na flexibilidade dos músculos isquiotibiais e na dor relatada pela paciente. Unitermos: Pilates. Flexibilidade. Isquiotibiais. Dor.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 170 - Julio de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Atualmente há uma grande procura por atividades que melhoram a qualidade de vida, e da mesma forma, há um grande número de técnicas utilizadas para proporcionar bem-estar aos pacientes, dentre elas o método Pilates. Segundo Gallagher; Kryzanowska (2000) e Camarão (2005) o método Pilates proporciona equilíbrio físico e mental, melhora da flexibilidade muscular, da mobilidade articular, redução do desconforto, da dor e da fadiga e ainda promove o fortalecimento muscular. Apesar da popularidade dessa modalidade terapêutica na prática clínica, há uma grande carência de estudos científicos com aplicação fisioterapêutica, cinesiológica, fisiológica e biomecânica (SILVA, 2010; SILVA et al., 2009; BERTOLLA, 2007; SACCO, 2005).
Joseph Pilates, fundador do método, baseou-se em diversas culturas, dentre elas a oriental, que utiliza a meditação como forma de exercitar a mente. O método consiste em seis princípios: respiração, concentração, centralização, precisão, fluidez e controle, fundamentais para a execução dos exercícios. O método busca o desenvolvimento muscular uniforme, fortalecendo, melhorando a flexibilidade e o alinhamento corporal, de forma mais controlada e equilibrada (CAMARÃO, 2004; GALLAGHER; KRYZANOWSKA, 2000; SELBY; HERDMAN, 2000). Os desalinhamentos posturais e desconfortos musculares podem ser provocados pela redução de flexibilidade dos isquiotibiais (ALTER, 1999, RIESTRA; FLIX, 2003).
Nesse sentido, o objetivo geral deste estudo é conhecer os efeitos do método Pilates na flexibilidade dos músculos isquiotibiais, como objetivo específico, avaliar a dor musculoesquelética relatada pelo paciente antes e após um programa de treinamento através do método Pilates.
Materiais e métodos
Esta pesquisa caracteriza-se como um relato de caso, de caráter longitudinal, com abordagem quantitativa. A amostra foi composta por uma participante, sexo feminino, 23 anos, solteira, com 50,4 Kg, técnica em enfermagem, sedentária, com queixa de dor especialmente na região do tronco, que relatou não ter realizado qualquer tipo de atendimento fisioterapêutico. A paciente foi selecionada de forma intencional pela pesquisadora, dentre os pacientes que realizavam Pilates na Clínica Sculptor. Os critérios de inclusão foram queixa de dor em uma ou mais regiões corporais; encurtamento muscular da cadeia posterior; não realizar outra atividade física além da proposta pela pesquisa; apresentar 90% de freqüência nas aulas; concordar em participar do estudo assinando Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos da pesquisa os que fizeram uso de analgésicos, anti-inflamatórios, relaxantes musculares nos 30 dias anteriores ao início da pesquisa e durante o período do estudo.
As avaliações foram realizadas em quatro momentos: antes do início do tratamento, na 4ª semana (após a oitava sessão), na 8ª semana (após a décima sexta sessão) e na 12ª semana (após a vigésima quarta sessão), sendo a última, período de encerramento da pesquisa. Foram totalizadas 24 sessões, realizadas duas vezes por semana, e cada uma com duração de uma hora.
A avaliação foi realizada através da escala de desconforto para diferentes partes do corpo, o teste do terceiro dedo ao chão e mensuração do ângulo poplíteo.
A escala de dor para diferentes partes do corpo, adaptada de Corlett, Bishop (1976 apud WERNER, LINDEN; RIBEIRO, 2003) tem como objetivo avaliar o local e a intensidade da dor nas diferentes regiões corporais. A escala é representada por números de 0 a 10 e divide o corpo em segmentos (lado direito, lado esquerdo e tronco) e para cada um deles é graduado o nível de dor ou desconforto, de forma subjetiva. O paciente deverá graduar sua experiência álgica em todos os segmentos corporais, marcando um X na numeração correspondente e, na ausência de sintomatologia dolorosa deverá assinalar o número zero (0). Abaixo está descrita a representação numérica de acordo com graduação de dor:
Zero (0) = Ausência de Dor
Um a Três (1 a 3) = Dor de fraca intensidade;
Quatro a Seis (4 a 6) = Dor de intensidade moderada;
Sete a Nove (7 a 9) = Dor de forte intensidade;
Dez (10) = Dor de intensidade insuportável (GUIMARÃES et al, 2001; MORAES, MORO, 2002).
O teste do terceiro dedo ao chão é realizado com o paciente na posição ortostática, com os joelhos completamente estendidos e os pés unidos, mantendo o alinhamento. Então é solicitado que o mesmo faça uma flexão do tronco, permanecendo com os braços e a cabeça relaxados. O paciente deverá atingir o limite de dor de tensão muscular. Nesse momento é realizada a mensuração da distância entre a ponta do dedo médio e o chão, de forma perpendicular ao solo, utilizando uma fita métrica. (MAGNUSSON et al, 1997; HOPPENFELD, HUTTON, 1999).
A mensuração do ângulo poplíteo tem como objetivo avaliar o grau de flexibilidade dos músculos isquiotibiais. O paciente é posicionado em decúbito dorsal, com o quadril fletido a 90° e estabilizados os segmentos que não serão avaliados, para evitar compensações. Então, o eixo do goniômetro é fixado na região do côndilo lateral do fêmur, o braço fixo colocado sobre a superfície lateral do fêmur em direção ao trocânter maior do fêmur e o braço móvel em paralelo com a face lateral da fíbula em direção ao maléolo lateral. O paciente realiza a extensão do joelho, até sentir um desconforto nos músculos isquiotibiais. O teste foi realizado três vezes consecutivas, e a maior amplitude atingida, sem compensações, foi a utilizada como referência (NEVES et al., 2006; BRASILEIRO; FARIA; QUEIROZ, 2007).
Após realizada a avaliação inicial a fisioterapeuta responsável pela clínica Sculptor iniciou o programa de exercícios utilizando o método Pilates. Os exercícios foram escolhidos aleatoriamente pela fisioterapeuta, de acordo com as necessidades e capacidades físicas da paciente, com abordagem global. Durante o tratamento foi priorizada a diversificação de exercícios, utilizando exercícios diferentes a cada aula.
Para análise dos dados foi utilizada à análise descritiva simples.
Esta pesquisa está em observância às diretrizes da Resolução 196/1996 do Conselho Nacional da Saúde de Ministério da Saúde e foi encaminhada ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim, para apreciação e aprovação. O projeto foi aprovado em dezembro de 2010, sob o número 109/TCH/10.
Resultados
A tabela 1 mostra a redução da distância em centímetros (cm) entre o terceiro dedo e o chão durante as quatro avaliações. Tal teste tem como objetivo mensurar o encurtamento muscular da cadeia posterior. Observou-se que a partir da 3ª avaliação, no 16° dia de intervenção, a participante já encostava o 3º dedo no chão, com uma distância zero. Nesse sentido nota-se uma melhora neste teste, tanto para o lado esquerdo como para o direito.
Tabela 1. Valores referentes ao teste do terceiro dedo ao chão, em cm, obtidos nas 4 avaliações, no membro inferior esquerdo e membro inferior direito
A tabela 2 mostra a evolução dos resultados do teste de mensuração do ângulo poplíteo. Comparando os valores em antes e depois da intervenção, observa-se que houve melhora de 10° no MIE. Já no MID obteve-se, ao final do tratamento, aumento de 20° no ângulo poplíteo. Os valores obtidos neste teste apontam para melhora da flexibilidade dos isquiotibiais.
Tabela 2. Valores (em graus) referentes ao teste de mensuração do ângulo poplíteo obtidos nas 4 avaliações, no membro inferior esquerdo e membro inferior direito
Na primeira avaliação pode-se observar diferença de 15° entre o MIE e o MID. Já nas avaliações seguintes a diferença reduz para 10° e 5°, respectivamente, inferindo melhor equilíbrio entre a amplitude de extensão dos joelhos.
A tabela 3 permite visualizar a evolução da dor em ambos hemicorpos durante o tratamento. Em ambos os hemicorpos foi relatada dor de fraca intensidade na avaliação inicial nos ombros, braços, antebraços, punho direito, mãos, coxas, pernas, tornozelos e pés; contudo a mesma estava ausente na avaliação final em todos os segmentos dolorosos.
Tabela 3. Valores referentes a Escala de dor para diferentes partes do corpo obtidos nas 4 avaliações, no hemicorpo esquerdo e hemicorpo direito
A tabela 4 demonstra a dor referida pela paciente na região do tronco nas quatro avaliações. Na região cervical e torácica alta houve redução gradual da dor no decorrer das sessões, sendo que ao início o escore de dor foi 4, que indica intensidade moderada de dor, porém passou a fraca intensidade, com o grau 1 ao final do tratamento. Já nas regiões da torácica média e baixa a dor também foi de moderada intensidade ao início do programa, com queixa e dor grau 5, e na pelve grau 4, que passou a grau 0 ao final do tratamento
Tabela 4. Valores referentes à escala de dor para diferentes partes do corpo obtidos nas 4 avaliações, na região do tronco
Os resultados da escala de dor para diferentes partes do corpo demonstram que houve alívio da dor em todos os membros. Na região do tronco houve melhora da dor em todos os segmentos, ainda que não foi normalizada na região cervical e torácica alta, apesar de ser considerada de fraca intensidade ao final do tratamento.
Discussão
Este estudo foi realizado com a finalidade de verificar se o método Pilates influencia na flexibilidade dos músculos isquiotibiais e na dor após 24 sessões. Ao final do tratamento obteve-se como resultados a melhora da flexibilidade da musculatura posterior da coxa e a redução do quadro álgico.
Essa pesquisa corrobora os resultados encontrados na pesquisa de Trevisol e Silva (2009), que teve como objetivo verificar o efeito agudo do método Pilates sobre o alongamento da musculatura isquiotibial. O efeito agudo refere-se ao resultado da flexibilidade em apenas uma sessão de Pilates, verificado logo após o término da mesma. Os voluntários foram submetidos a uma avaliação da amplitude de movimento do quadril, pré e pós-realização da aula de Pilates, através do equipamento flexímetro. Os resultados mostraram que houve aumento significativo (p ≤ 0,05) para ambos os membros inferiores analisados. O método Pilates mostrou-se eficaz, promovendo aumento da amplitude de movimento da musculatura isquiotibial de forma aguda.
Da mesma forma, o estudo de Bertolla, et al. (2007) teve como objetivo verificar o efeito de um programa de quatro semanas com o método Pilates sobre a flexibilidade em uma equipe de futsal da categoria juvenil (17-20 anos). A flexibilidade foi avaliada através do banco de Wells e flexímetro. Os resultados obtidos comprovam que o protocolo com o método Pilates utilizado pelos pesquisadores incrementou a flexibilidade dos atletas juvenis de futsal. Contudo, o programa apresentou resultados estatisticamente significativos apenas nos efeitos agudos, representados pelo aumento da flexibilidade no pós-imediato (p ≤ 0,05). Já os efeitos crônicos não foram estatisticamente significativos (p ≥ 0,05), observados no ligeiro declínio no período pós-tardio para ambos os métodos.
Segal; Hein; Basford (2004) observaram o incremento de flexibilidade utilizando o método Pilates, por meio do teste de distância dedo-chão. A amostra foi composta por 47 indivíduos, dos quais 45 eram do sexo feminino e 2 eram do sexo masculino, que realizavam uma sessão semanal do método durante um período de 6 meses. Em um semestre de programa, a distância diminuiu 4,3 cm, sendo que houve diminuição de 3,4cm em apenas dois meses, o que demonstrou uma diferença estatística significante (p < 0,01) no aumento de flexibilidade com a utilização do método Pilates.
Carregaro; Silva; Coury (2007) esclarece que os isquiotibiais estão diretamente envolvidos com as articulações do quadril e do joelho e qualquer alteração da flexibilidade dessas articulações pode acarretar alterações biomecânicas que prejudicarão a funcionalidade da coluna e dos membros inferiores.
Os dados do estudo revelam que houve um ganho progressivo na amplitude de movimento do joelho após as sessões. Esses resultados podem ser explicados pelas propriedades viscoelásticas do músculo, pois, o mesmo necessita de um tempo para voltar ao tamanho original após a aplicação de uma força externa. Segundo Magnusson, et al. (1996) as propriedades viscoelásticas do músculo retornam aos seus valores basais em uma hora. Considerando que avaliações eram realizadas em aproximadamente 15 minutos, a medida pós-intervenção era realizada em tempo hábil. Contudo, outros autores sugerem que o ganho imediato na amplitude de movimento de uma articulação após o alongamento deve-se mais ao aumento na tolerância do indivíduo ao alongamento de que às alterações na elasticidade dos músculos (HALBERTSMA, GOEKEN, 1994; HALBERTSMA, et al. 1999). Esse fato pode ser explicado por Halbertsma e Goeken (1994), que encontraram em um estudo aumento significativo da amplitude de movimento articular sem mudanças na curva de rigidez passiva do músculo, concluindo, dessa forma, que o aumento da extensibilidade resultou de aumento na tolerância ao alongamento.
A literatura relaciona o número de sessões de alongamento com os resultados obtidos. O estudo clínico de Gama (2007) baseou-se em um programa de flexibilidade dos músculos isquiotibiais, consistindo de 10 sessões de alongamento e cuja distinção entre os grupos se dava apenas no intervalo de 24 ou 48 horas entre as sessões. Para participar do estudo foram selecionados 36 participantes, todos do sexo feminino e com limitação de flexibilidade dos músculos isquiotibiais. Os resultados indicaram que ambos os protocolos, dentro das condições deste estudo, são efetivos para o treino de flexibilidade e não determinam diferenças no ganho total de flexibilidade após essas 10 sessões do programa. A variável intervalo entre sessões não determinou diferenças significativas no ganho total de flexibilidade, diferenciando apenas na velocidade de ganho, o que indica que o ganho total de flexibilidade dentro deste programa de alongamento foi sessão-dependente. Nossa pesquisa obteve incremento da flexibilidade com a freqüência de duas sessões semanais, reforçando a teoria de que a melhora da flexibilidade depende do número de sessões e não do intervalo entre elas, já que foram totalizadas 24 sessões.
Thacker, et al. (2004) sugerem que aumentos duráveis no comprimento muscular irão resultar de remodelamento adaptativo e não simplesmente da deformação viscoelástica. Morgan e Proske (2004) citam que mudanças no comprimento do músculo com o exercício em poucos dias são designadas por mudanças no número de sarcômeros em série. Relatam ainda que o ótimo comprimento muscular seja dado pelo comprimento dos tendões, pelo número de sarcômeros em série e pelo ótimo comprimento do sarcômero.
Kisner e Colby (1998) citam que a cápsula articular é responsável por 47%, o músculo por 41%, o tendão por 10% e a pele por 2% da flexibilidade, uma vez que outros tecidos, além do muscular, exercem influência sobre essa propriedade. A tensão passiva influencia a deformação do comprimento dos tecidos conjuntivos endomísio, perimísio e epimísio do ventre muscular, sendo o perimísio o maior contribuidor da resistência extracelular para o alongamento passivo. Essa pode ser a justificativa para a durabilidade dos efeitos após as 24 sessões de tratamento.
Em relação a dor, o nosso trabalho teve resultados positivos no decorrer das sessões, com redução significativa do quadro álgico durante o tratamento.
Almeida e Jabur (2006) afirmam que há necessidade de praticar exercício físico quando há presença de dor crônica, já que ocorre a melhora de encurtamentos musculares e da perda de mobilidade articular, uma vez que estes são fatores que contribuem para a sintomatologia dolorosa. Além disso, a prática de exercício físico previne complicações musculoesqueléticas secundárias ao quadro álgico, dentre elas a fraqueza muscular.
Segal, Hein e Basford (2004) explicam que, no método Pilates, os exercícios foram projetados de forma que os executantes mantenham a posição neutra da coluna vertebral, minimizando o recrutamento muscular desnecessário, prevenindo a fadiga precoce e a diminuição da estabilidade corporal. O treinamento tem ainda como objetivos aumentar a flexibilidade, promover o fortalecimento muscular, melhorar a postura e a coordenação da respiração, sendo estes fundamentais no processo de reabilitação postural. Ainda de acordo com o autor, a propriocepção forma o elo entre os sistemas músculo-esquelético e nervoso, que é essencial para a estabilidade da coluna vertebral. Para eles, a inibição da propriocepção, causada por dor ou hábito, pode levar ao desenvolvimento de padrões de movimento compensatórios, que prolongam o processo de reabilitação devido à biomecânica ineficiente após a lesão. Através da reeducação dos estabilizadores do tronco, os exercícios de Pilates podem contribuir para melhorar os padrões de movimento, atenuando a predisposição à dor músculo-esquelética crônica axial causada pela instabilidade da coluna vertebral.
A literatura pesquisada mostra que o método Pilates possui benefícios que ajudam a prevenir lesões e proporcionar alívio de dores crônicas. Dentre os benefícios estão o estímulo da circulação, a melhora do condicionamento físico, da flexibilidade e da amplitude muscular, além de aumentar a coordenação motora e os níveis de consciência corporal, assim como o alinhamento postural (SACCO et al., 2005).
Em nosso estudo a paciente relatou, ao início do tratamento, queixas de dores com intensidade maior na região da coluna, que foram aliviadas durante o tratamento. Possivelmente, houve estimulação dos músculos estabilizadores da coluna com os exercícios realizados, resultando dessa forma, na melhora do controle postural. A pesquisa de Endleman e Critchley (2008) elucida melhor a afirmação, a qual foi realizada com a proposta de avaliar a atividade dos músculos transversos e oblíquos internos abdominais após 6 meses de Pilates clássico. A amostra foi composta por 18 mulheres e 8 homens, submetidos a ultrassonografia pré e pós tratamento. Ao final da pesquisa, os participantes apresentaram maior espessura dos músculos transversos e oblíquos internos abdominais. Estes músculos, junto com os multífidos, são estabilizadores da coluna vertebral. Há também outro ponto importante que pode estar associado com a redução do quadro álgico na coluna vertebral. Kolyniak, Cavalcanti e Aoki (2004) afirmam que, devido a maioria dos exercícios do método Pilates serem realizados na posição deitada, há diminuição dos impactos nas articulações de sustentação do corpo na posição ortostática e, sobretudo, na coluna vertebral, permitindo, portanto, a recuperação das estruturas musculares, articulares e ligamentares.
Os resultados de nosso estudo inferiram que o tratamento com Pilates promove a redução dos sintomas dolorosos, já que dezesseis semanas com o programa foram suficientes para reduzir significativamente o quadro álgico. Os resultados vem ao encontro do pressuposto por Donzelli et al. (2006). Os autores observaram que um protocolo baseado no método Pilates CovaTech, realizado com 43 pacientes, por um período de seis meses. O método Pilates foi comparado com a Escola de Postura, um método amplamente aceito pela comunidade científica para o tratamento da lombalgia. O estudo concluiu que o Pilates é uma alternativa eficiente no tratamento de lombalgias e os resultados esperados foram semelhantes aos da Escola de Postura, já que em ambos houve redução significativa do quadro álgico. Todavia houve uma diferença quanto a satisfação com o tratamento. No grupo com Pilates a maioria dos participantes se declarou muito satisfeito (61% versus 4,5% no grupo da Escola da Postura), esta diferença pode ter ocorrido porque os exercícios de Pilates são mais simples e adaptáveis aos pacientes.
Conclusão
O programa de treinamento utilizado exerceu influência positiva sobre a musculatura isquiotibial da paciente estudada. Após 24 sessões utilizando o método Pilates verificou-se que houve melhora na flexibilidade dos músculos isquiotibiais. Contudo, essa melhora pode ser atribuída à melhora da tolerância ao alongamento e a realização das reavaliações logo após a realização dos exercícios, em menos de uma hora, quando as propriedades viscoelásticas do músculo ainda não retornaram aos valores basais. Talvez os resultados obtidos pudessem ser diferentes se as reavaliações fossem realizadas antes da sessão fisioterapêutica, assim como a avaliação inicial ou, esta realizada após o final da primeira aula, tornando os resultados da flexibilidade mais fidedignos.
Houve também redução significativa da intensidade de dor na região cervical e torácica alta e normalização do quadro álgico nos demais segmentos corporais. Acredita-se que esta avaliação global a dor tenha sido a maior contribuição deste estudo, já que não foram encontradas pesquisas sobre a influência do método Pilates em dores crônicas, que não relacionadas à lombalgia. Porém a reavaliação também deveria ter seguido o sugerido nas avaliações da flexibilidade.
Ainda, sugere-se a realização de mais estudos sobre o método Pilates, enfatizando a análise de outros grupamentos musculares, pois pode haver diferença na resposta a flexibilidade devido às particularidades da unidade musculotendínea. Sugere-se também uma pesquisa com uma amostra maior, possibilitando uma análise estatística específica.
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