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Percepções das crianças de 7 a 10 anos sobre a ‘Oficina

pedagógica de jogos/brincadeiras’ em um projeto esportivo

Las percepciones de los niños de 7 a 10 años sobre el ‘Taller pedagógico de recreación y juegos’ en un proyecto deportivo

 

*Licenciado em Educação Física. Mestre e Doutor em Educação pela USP

Atualmente é professor Adjunto I do Departamento de Educação Física

da Universidade Federal de Lavras, UFLA

**Graduando do 8° período em Educação Física Licenciatura

Universidade Federal de Lavras, UFLA

Prof. Dr. Fabio Pinto Gonçalves dos Reis*

fabioreis@def.ufla.br

Lucas José Ribeiro**

lucaskuka86@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Ao considerar as dificuldades que a pedagogia tradicional encontra para ensinar os conteúdos básicos aos alunos nos diferentes segmentos etários, defendemos que vivências de propostas pedagógicas envolvendo Jogos/Brincadeiras podem favorecer um processo de aprendizagem mais significativo. Como a assimilação de toda a rede de conhecimento cultural produzido pela humanidade passa pela dimensão corporal, incluindo a leitura e interpretação do mundo, propomos como alternativa educacional em um projeto esportivo a “Oficina Pedagógica de Jogos/Brincadeiras”. Sendo assim, o objetivo dessa pesquisa foi o de verificar a percepção das crianças de 7 a 10 anos em relação às atividades propostas no projeto. Foram desenvolvidas algumas temáticas de jogos com a devida sistematização e freqüência contínua de duas vezes por semana, ao longo de 1 ano. Elaboramos uma pauta de observação e registro no caderno de campo das diversas experiências desenvolvidas, para uma posterior avaliação do processo. Para a coleta de dados utilizamos um questionário fechado com cinco questões, procurando levantar os pontos fundamentais da vivência dos jogos em relação às atividades que gostaram mais, o que aprenderam no projeto e o que modificariam nas aulas. Concluímos de forma bastante positiva, pois as crianças afirmaram que gostaram de diferentes temas envolvendo jogos e brincadeiras, que aprenderam a respeitar os colegas e a modificar brincadeiras, bem como desejam participar do projeto por mais tempo.

          Unitermos: Jogos. Percepções. Crianças.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 170 - Julio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Esta pesquisa partiu da intenção de oferecer vivências pedagógicas envolvendo Jogos/Brincadeiras para crianças de 7 a 10 anos inseridas no projeto esportivo do Centro Regional de Iniciação ao Atletismo (CRIA/LAVRAS), desenvolvido no Departamento de Educação Física (DEF/UFLA). Defendemos que o contexto desta proposta poderia proporcionar às crianças envolvidas um processo de aprendizagem mais significativo em torno dos saberes conceituais, procedimentais e atitudinais projetados no âmbito da formação humana e inerente às manifestações culturais esportivas. Nesse sentido, o projeto focalizou o campo da Educação Física e da Educação Esportiva, mas permitiu a sedimentação das bases do conhecimento e influencia outras aprendizagens formais e sistematizadas.

    Nesta etapa do processo, as aulas aconteceram duas vezes por semana e os jogos/brincadeiras trabalhados foram os seguintes: folclóricos, simbólicos, de regra, com bola, tradicionais, cooperativos, de lutas, bem como os relacionados às artes circenses.

    O planejamento das ações foi elaborado a partir de projetos bimestrais, a fim de possibilitar a apropriação do conhecimento sobre os temas tratados, e a organização do tempo de aplicação das aulas estruturou-se em conversa inicial, desenvolvimento da atividade relacionada à experiência anterior, inserção de um novo conhecimento e tomada de consciência.

    A avaliação das práticas pautou-se na observação simples e sistemática das relações estabelecidas pelos alunos na decorrência dos jogos, sendo subsidiada pelo registro escrito ao longo de todo o processo. No que tange aos resultados do projeto, foi notado que, ao jogarem, as crianças tiveram a possibilidade de testar suas habilidades, de desenvolver a criatividade, a imaginação, a troca de conhecimentos nas interações sociais, aperfeiçoar estratégias para a superação de desafios, além de verbalizar suas experiências corporais e construir coletivamente novas regras para os jogos já conhecidos. O objetivo desse trabalho, então, foi o de verificar a percepção das crianças envolvidas no projeto sobre os aspectos e características das propostas de atividades.

Proposta de participação no Centro Regional de Iniciação ao Atletismo, CRIA, Lavras, MG

    Ao considerarmos as dificuldades que a pedagogia tradicional encontra para ensinar os conteúdos básicos aos alunos nos diferentes segmentos etários, defendemos que vivências de propostas pedagógicas envolvendo Jogos/Brincadeiras podem favorecer um processo de aprendizagem mais significativo. Como a assimilação de toda a rede de conhecimento cultural produzido pela humanidade passa pela dimensão corporal, incluindo a leitura e interpretação do mundo, propomos como alternativa educacional a “Oficina Pedagógica de Jogos/Brincadeiras”.

Características da faixa etária de 7 a 10 anos

    Este projeto focaliza o componente curricular da Educação Física, mas permite a sedimentação das bases do conhecimento e influencia outras aprendizagens formais e sistematizadas. Centramos o nosso público alvo no projeto de Atletismo, coordenado pelo professor Fernando de Oliveira, possuindo cerca de cinqüenta crianças de 7 a 10 anos na fase de iniciação esportiva.

    Qualquer trabalho com crianças, para que possa dar certo, deve considerar as características gerais e específicas da faixa etária em questão. Pontuamos os aspectos principais da seguinte forma:

Aspectos metodológicos

Estrutura das aulas

    Sugerimos que as aulas sejam organizadas de acordo com uma estrutura composta de três partes, vinculada entre si.

Temáticas abordadas

    Jogos/Brincadeiras

Organização das ações pedagógicas

Avaliação

    Sobre a avaliação é importante lembrar que se deve pensar em como, o que, quando e quem pode avaliar. Avaliamos os alunos utilizando vários instrumentos, tais como a observação simples e sistemática utilizando o registro escrito, filmagens, pequenos seminários, exposição coletiva de pesquisas, criação de jogos e propostas temáticas, portifólios, entre outros.

Percepções das crianças do Centro Regional de Iniciação ao Atletismo. CRIA sobre a “Oficina Pedagógica de Jogos/ Brincadeiras”

    Depois de apresentar a estrutura do projeto, agora iremos expor na forma de gráficos quais foram as impressões dos envolvidos diretamente com o projeto. Utilizamos um questionário com questões fechadas devido a faixa etária das crianças que, como qualquer instrumento de coleta de dados, pode influenciar diretamente nos resultados. Tomamos muito cuidado com isso.

Gráfico 1

    No Gráfico 1, podemos observar que das 17 crianças que responderam ao questionário, 5 delas gostaram mais dos Jogos Pré-desportivos, e isso corresponde a 29,81%. Tal fato pode ter aconteci pela proximidade dessas atividades com os esportes mais tradicionais, segundo os quais são mais divulgados pela mídia.

    Já 4 delas gostaram mais dos Jogos Cooperativos que corresponde a 23,52%, pois observamos que o grupo possuía uma característica diferente no que tange a relação com o outro. Afirmamos isso, porque grande parte das crianças envolvidas em projetos esportivos são inseridas nas propostas com o objetivo de competição de alto rendimento, podendo assim melhorar a vida por intermédio do esporte.

    Outras 4 gostaram dos Jogos com bola (pés) que correspondem também a 23,52%, 3 delas gostaram mais dos Jogos com Bola (mãos), correspondendo a 17,6% e apenas uma gostou dos Jogos Circenses correspondendo a apenas 5,88%. No que se refere aos Jogos Tradicionais e Jogos com Regras as crianças não optaram.

    Em resumo, temos a crença de que o jogo pré-desportivo foi o mais escolhido também por influência do momento de aplicação do questionário às crianças do projeto. Momento esse que correspondia ao trabalho com o respectivo conteúdo. Os Jogos com Bolas utilizando os pés junto com os Jogos Cooperativos também foram bastante apontados pelas crianças, uma vez que os com bola talvez tenha sido destacado por aqueles meninos que gostam de jogar bola, pois esses tipos de proposta se assemelham ao futebol.

Gráfico 2

    No Gráfico 2, observamos o porquê as crianças gostaram mais dos jogos evidenciados no gráfico anterior. Com isso 7 delas responderam por que aprendem muitas coisas, correspondendo a 41,17%, 3 delas por que tem desafios, correspondendo a 17,64%. Realmente no jogo se aprende muito e as crianças são extremamente carentes de propostas ativas de ensino, ou seja, de aprender agindo sobre o objeto de conhecimento. Dessa forma, as escolas deveriam adotar a pedagogia do jogo para as demais áreas de conhecimento.

    Já 2 delas responderam porque tem regras, correspondendo a 11,76%, assim como também outras duas duplas escolheram por se sentirem felizes e poderem criar e imaginar, correspondendo cada uma a 11,76%. Esses resultados se tornam interessantes na medida em que o prazer e as representações (inclusive como fuga da realidade) são constantes no ato de jogar, além de aparecem como características fundamentais dos jogos.

    Apenas uma gostou mais desses Jogos por conta da questão da liberdade quando jogam, o que corresponde a 5,88% da amostra.

Gráfico 3

    No Gráfico 3, pretendíamos trazer a tona o que as crianças aprenderam de novidade nas aulas. Com isso 11 delas escolheram o tópico referente às brincadeiras diferentes, correspondendo a mais da metade em relação as outras opções com 64,70%. Ou seja, como um dos propósitos do projeto era ampliar o repertório de jogos e brincadeiras das crianças, representando o enriquecimento da cultura lúdica, o projeto cumpriu a sua tarefa principal.

    Podemos notar também que 3 delas escolheram a opção relativa a utilização de outros matérias para brincar, correspondendo a 17,64%, o que significa termos rompido com a idéia de ações restritas aos materiais mais comuns (não menos importantes) como a bola, o bambolê e a corda.

    No que tange a criação de novas brincadeiras, 2 delas fizeram a opção correspondendo a 11,76%, e apenas 1 delas respondeu que aprendeu a brincar de circo como novidade, significando 5,88% da amostragem. Vale dizer que a opção modificar brincadeiras conhecidas não foi escolhida por nenhuma das crianças.

Gráfico 4

    O Gráfico 4 ressalta as questões sobre o que as crianças aprendem no “Ato de Jogar”. Nessa perspectiva, 4 crianças escolheram que aprendem respeitar os colegas, indicando 23,52%. Esta escolha pode representar a ênfase do trabalho com as dimensões atitudinais dos conteúdos, independente dos conteúdos. Qualquer projeto que se quer educacional necessita de um planejamento específico concernente aos valores, crenças e atitudes desenvolvidas por meio do esporte, como é o caso. Nesse sentido, fica registrado e evidenciado o propósito da oficina pedagógica.

    Seguindo na análise, podemos perceber que 3 delas optaram que aprendem a criar movimentos corporais, o que permite inferir sobre a importância das tomadas de consciência que aconteciam, quase sempre, na última parte da aula, correspondendo a 17,64% da amostra.

    Assim como outras duas duplas escolheram que aprender a ter que perder faz parte do jogo, além das suas regras, correspondendo cada uma a 23,52%. Outras duas crianças fizeram a opção de que ao jogar acabam comparando suas habilidades com as dos colegas, fato importante de ser considerado no que se refere ao papel do jogo na construção da imagem corporal e da formação para a diversidade.

    Além disso, mais duas crianças responderam que tem que trabalhar em grupo para conseguir um determinado objetivo, no qual cada uma delas corresponde a 11,76%. Podemos levantar a hipótese de que isso se deve ao fato de grande parte das atividades tenham sido desenvolvidas na coletividade, isto é, uma proposta para todo o grupo ao mesmo tempo, sem muita fila ou execução de tarefas individuais.

Gráfico 5

    No gráfico 5, talvez o que permite uma intervenção mais ativa da criança, para além do “ser aluno”, foi perguntado o que elas mudariam nas aulas. De forma pontual, 35,29% da amostra respondeu que ampliaria o tempo de duração da aula, sendo que 4 delas escolheram mudar a quantidade de vezes oferecida por semana, o que corresponde a 23,52% do total de sujeitos pesquisados.

    Nessa direção, 2 crianças optaram por querer brincar mais vezes do mesmo jogo, assim como outras duas preferiram sugerir brincar de outras coisas, correspondendo cada uma a 11,76%. É interessante perceber que enquanto a brincadeira não se esgota do ponto de vista da exploração e dos desafios oferecidos às crianças, elas precisam repeti-la quantas vezes for necessária.

    Além disso, 3 crianças diferentes umas das outras, mudariam a variação dos materiais, as rodas de conversa e ter mais liberdade para brincar com autonomia, correspondendo cada uma delas 5,88%. Isso mostra que a proposta de estrutura de aula com conversa inicial, desenvolvimento e conversa final foi bem aceita e compreendida, uma vez que, geralmente, as crianças não querem perder tempo com conversas sobre a prática, querem mesmo é brincar.

    O item referente ao tempo das atividades não foi escolhido. A opção “outras coisas”, caso a criança escolhesse ela teria que escrever no próprio questionário o que mudariam, com isso uma delas escreveu que desejava ter “Mais Brincadeiras” e a outra “Mais outras brincadeiras”.

Considerações finais

    O projeto de extensão de Oficina Pedagógica de Jogos e Brincadeiras em contextos Educativos focalizou o componente curricular da Educação Física, mas permitiu a sedimentação das bases do conhecimento e influencia outras aprendizagens formais e sistematizadas, nas quais as crianças experimentaram situações de cooperação e de desafio.

    Colocamos no inicio do projeto, uma proposta com cartolina em que dividimos pequenos grupos de crianças para que elas nos trouxessem informações a respeito do que sabiam sobre brincadeiras. Com isso foi feito um levantamento e observado que as crianças sabiam algumas brincadeiras mais tradicionais, ou seja, que jogam no seu dia-a-dia e que fazem parte da sua cultura. Aprendera que esses tipos de jogos variam de região para região, porém, não muda a característica de jogo em si, só a forma que se adaptam a ela.

    Nessa direção, desenvolvemos atividades dinâmicas de jogos com bola, tanto utilizando as mãos quanto os pés que conservavam as características de algumas manifestações esportivas.

    De outro modo, desenvolveram brincadeiras nas quais realizavam representações em pequenos grupos ou individualmente como imitações de animais.

    Realizaram também atividades circenses nunca brincadas por elas, como jogos os malabarísticos, clownescos, funambulescos e acrobáticos. Nessas propostas, elas tinham que manipular objetos como fundamento básico do circo, além de interpretar e expressar conteúdos relacionados à expressão corporal, assim como o controle e equilíbrio do próprio corpo.

    Percebemos que ao jogarem, as crianças tiveram a possibilidade de testar suas habilidades, desenvolver a criatividade e a imaginação, a trocar conhecimento nas interações sociais, de superar desafios, verbalizar suas experiências corporais, seguir e construir as novas regras dos jogos.

    No que se refere ao questionário aplicado, concluímos que as crianças aprenderam várias coisas jogando: como respeitar os colegas; que o jogo tem regras; que podem criar movimentos corporais; podem comparar suas habilidades com as dos outros colegas, sobretudo, que o trabalho em grupo é fundamental para que o jogo aconteça.

Referências

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