efdeportes.com

Mecanismos de controle das modificações estruturais do sistema 

locomotor. Revisitando os estudos pioneiros da área postural

Los mecanismos de control de los cambios estructurales del sistema locomotor. Repasando los estudios pioneros del área postural

Control mechanisms of structural modifications in locomotor system. Revisiting the classical studies about posture

 

*Doutor em Biologia Funcional e Molécula, Departamento de Bioquímica

Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP

**Professor Doutor da Faculdade de Educação Física

da Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP

Joaquim Maria Ferreira Antunes Neto*

Roberto Vilarta**

joaquim_netho@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O tecido músculo-esquelético é caracterizado por sua grande capacidade de adaptação, sobretudo de alterações no comprimento das fibras musculares e número de sarcômeros. Restrições de amplitude movimento, tal como observado nas condições de encurtamento e alongamento do sistema músculo-esquelético, desencadeiam modificações importantes nas estratégias posturais. O objetivo deste estudo foi enfocar os trabalhos pioneiros sobre a temática da adaptação postural, o que nos revelou que, praticamente, todos os conhecimentos disponíveis nesta área já foram contemplados entre as décadas de 1970-1980.

          Unitermos: Músculo. Tecido conjuntivo. Alongamento. Encurtamento. Imobilização. Postura.

 

Abstract

          The skeletal muscle tissue is characterized by its great adaptability, especially in muscle fiber length and number of sarcomere changes. Restrictions on range of movement, as observed in the shortening and lengthening conditions, triggering major changes in postural strategies. The aim of this study was to emphasize on the early works on the theme of postural adaptation, which revealed that nearly all available knowledge in this area have been included among the decades of 1970-1980.

          Keywords: Muscle. Connective tissue. Stretching. Shortening. Immobilization. Posture.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 170 - Julio de 2012. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Modificações das condições funcionais do sistema músculo-esquelético promovem alterações bioquímicas, morfológicas e fisiológicas, envolvendo não apenas o tecido muscular propriamente dito, como também alterando as propriedades estruturais e biofísicas dos demais tecidos, principalmente conjuntivo e nervoso (Williams, Goldspink, 1978; Loughna et al., 1986; Weeks, 1989; Williams, 1990). As alterações nas atividades funcionais normais do organismo causam mudanças teciduais que podem ser descritas por “regras de adaptação funcional” (Carter et al., 1991), regras estas advindas de estímulos modificadores, de origem externa ou interna, que produzem pressão de deformação de células e da matriz extracelular.

    Weeks (1989), ao estudar os estados situacionais que originavam transformações nas propriedades morfo-funcionais, relatou que há aumento da atividade muscular em condições de estimulação elétrica crônica, sobrecarga muscular, treinamento físico intenso e por forças de interação físico-químicas durante estágios do desenvolvimento normal, enquanto que se observa diminuição de atividade muscular como resultado de denervação, imobilização, hipogravidade, condições patológicas e no envelhecimento. Considerando a situação postural, mudanças no número de sarcômeros ocorrerão em resposta À posição imobilizada em alongamento ou encurtamento das fibras musculares, promovendo um ajustamento no comprimento do sarcômero para um novo comprimento que permita sobreposição ótima entre os filamentos de actina e miosina. Como estes filamentos são de um comprimento constante, a adaptação dos músculos adultos, presumivelmente, deve envolver produção ou remoção de um certo número de sarcômeros em série, em ordem para manter o correto comprimento do sarcômero em relação ao comprimento muscular como um todo (Tabary et al., 1972).

    A mudança em comprimento ressaltada induz alteração de tensão passiva, que será detectada por receptores do músculo, e isso pode resultar em modificações estruturais mediadas por algum tipo de influência neural ou, então, miogênica. A influência neural desencadeará, direta ou indiretamente, uma adaptação mediada por uma via reflexa. Só que, mais precisamente, o processo adaptativo parece ser um resultado do padrão da atividade muscular, sendo um efeito direto de tensão passiva nas fibras musculares e estruturas dos tecidos conjuntivos. A teoria proposta por Herring e colaboradores (1984) considera que o número de sarcômeros é regulado de maneira que o comprimento do sarcômero torna-se ótimo para o comprimento muscular no qual os mais altos níveis de tensão sejam exercidos no tensão, preferivelmente, do que na posição articular habitual ou postural. Portanto, pode-se propor que as funções musculares são normais em diferentes comprimentos funcionais, mas o comprimento do sarcômero é ótimo apenas em um deles, na perspectiva de que a sobrecarga mecânica maior sempre seja exercida em condição morfológica Idea.

Processo adaptativo muscular em posição imobilizada de encurtamento

    Quando um músculo é imobilizado na posição encurtada, o seu comprimento funcional diminui, pois os sarcômeros encontram-se completamente encurtados e a força contrátil máxima não pode ser desenvolvida. Esta situação ocorre pelo fato de não haver uma sobreposição ótima entre filamentos de actina e miosina, o que gera também um decréscimo na adição de sarcômeros em tecido muscular jovem, mostrando que a imobilização altera o crescimento funcional do tecido muscular (Williams, Goldspink, 1973). O efeito da imobilização durante o período de crescimento é a redução na proporção de adição de sarcômeros, indicando que músculos de cobaias imobilizados na posição em encurtamento possuem aproximadamente a metade do número de fibras quando comparados com grupos musculares de controle. Como estratégia adaptativa visando a melhor acomodação das estruturas musculares, observa-se um aumento no comprimento dos sarcômeros (como há decréscimo na adição de novos sarcômeros, o comprimento destes aumenta na tentativa de propiciar a mínima sobreposição entre os filamentos protéicos). Também vale ressaltar que uma possível influência do crescimento do tendão pode atuar para que haja ajustamento da produção de sarcômeros em músculos jovens: um crescimento do tensão, anteriormente ao aumento em número de fibras musculares, pressupõe acomodar tanto o crescimento ósseo de cobaias imobilizadas, quanto gerar diminuição do crescimento longitudinal das fibras musculares (Williams, Goldspink, 1978).

    Em relação às mudanças ocorrentes em tecido muscular adulto imobilizado na posição encurtada, nota-se que há uma redução em comprimento das fibras musculares devido a perdas de sarcômeros em série e uma remodelação da conexão dos tecidos conjuntivos intramusculares, que assim propicia um aumento na rigidez muscular (Williams, 1990). A redução no comprimento das fibras segue-se com diminuição de capacidade do músculo, em decorrência da nova configuração tecidual conjuntiva que favorece um aumento na proporção de colágeno. Esta redução de comprimento não é exclusiva somente quando os músculos são imobilizados em uma posição encurtada; um trabalho excessivo em amplitude limitada de movimento também poderá levar a uma diminuição do número total de sarcômeros em série (Williams et al., 1988), tal como se observa em sujeitos que trabalham por muito tempo sentados e com musculaturas posturais encurtadas. A capacidade de produzir tensão máxima sofrerá, desta forma, uma alteração, haja visto que esta é uma adaptação para modificar o comprimento funcional do músculo: em uma posição completamente contraída, pouca tensão ativa pode ser desenvolvida (Williams, Goldspink, 1984). Praticantes de musculação, que não incorporam o alongamento em suas sessões de treinamento, tendem a sofrer encurtamento muscular e diminuição funcional quanto à amplitude de movimento articular (Figura 1).

Figura 1. Representação de uma fibra muscular adulta submetida à condição de encurtamento crônico. Fibras jovens não têm aumento em número 

de sarcômero. Note que há uma sobreposição excessiva entre os filamentos de actina e miosina, o que não permite produção de força otimizada

    A notável capacidade adaptativa do tecido muscular fica evidente ao constatar-se que todas as mudanças apresentadas em músculos jovens e adultos ocorrem em relativo curto período de tempo. Com a remoção da restrição de encurtamento muscular, observa-se que, já em quatro semanas, o músculo tende a reajustar-se para seu comprimento original.

Figura 2. Representação esquemática dos mecanismos adaptativos do tecido muscular submetido à posição imobilizada em encurtamento

Processo adaptativo muscular em posição imobilizada de alongamento

    Durante o crescimento pós-natal de músculos estriados esqueléticos, a maioria dos mamíferos aumenta em comprimento como um resultado do crescimento longitudinal do tecido ósseo acompanhado também pelo crescimento longitudinal das fibras musculares, fato este gerado pelo aumento no número de sarcômeros em série. A incorporação de novos sarcômeros em direção à formação de miofibrilas ocorre por adição em série no final das fibras do músculo, sendo esta relação alterada quando músculos jovens são imobilizados em posição alongada. A expectativa que poderia surgir nesta situação postural seria a promoção de um estímulo bom para o aumento no número de sarcômeros em série, uma vez que o músculo parece ser alongado tanto pela posição do membro como pelo crescimento ósseo. No entanto, o número total de sarcômeros apresenta-se diminuído quando se compara com músculos em estado normal de crescimento. Existem algumas hipóteses que buscam explicar essa situação (Williams, Goldspink, 1971; Williams, Goldspink, 1973; Williams, Goldspink, 1978; Alter, 1988; Williams et al., 1988) (Figura 3):

Figura 3. Representação esquemática dos mecanismos adaptativos do tecido muscular submetido à posição imobilizada em alongamento

    Quando fibras musculares de cobaias adultas são imobilizadas em alongamento, o resultado torna-se contrário em relação aos músculos jovens, pois ocorre o surgimento de uma maior quantidade de sarcômeros em série e também a redução do comprimento destes como efeito da ação postural. Parece que, como durante o crescimento normal, os sarcômeros em série são adicionados principalmente nas localidades distais do músculo, situação esta explicada se considerarmos o rico suprimento sangüíneo existente nesta região e a necessidade de proteção para o desenvolvimento de uma maior tensão por área de secção transversal (Williams, Goldspink, 1978) (Figura 4).

Figura 4. Representação esquemática dos mecanismos adaptativos do tecido muscular submetido à posição

 imobilizada em alongamento. Há aumento no comprimento dos tendões e no tamanho do sarcômero

    O acúmulo de tecido conjuntivo intramuscular relaciona-se como um fator protetor de adaptação, evitando que ocorra um estiramento anormal em fibras musculares que tiveram seu número total de sarcômeros em série reduzidos (Williams, 1988). Contudo, em músculos submetidos à posição alongada esta ação protetora não se manifesta, visto que a adaptação nesta condição não permitirá a ocorrência de um super alongamento (o músculo já está alongado excessivamente pela ação postural e adaptado para a nova situação: o número de sarcômeros está aumentado – o que já é um fator de proteção nas extremidades musculares – e possibilitando a suportar a sobrecarga mecânica elevada).

Considerações finais

    Análises experimentais permitiram a compreensão de que o tecido muscular é muito adaptável, e que o número e comprimento dos sarcômeros, o comprimento das fibras musculares e a proporção de tecido conjuntivo intramuscular ajustam-se de acordo com a situação postural específica e o estágio de desenvolvimento o organismo. Considerando o potencial de lesão, trabalhos revelam que os danos celulares são mais freqüentes em atividades que envolvem alongamento muscular (Faulkner et al., 1989), onde as alterações miofibrilares podem estar relacionadas com ruptura da Banda A e dissolução da Linha Z dos sarcômeros (Ogilvie et al., 1985; Fridén, Lieber, 1992). Contudo, há um mecanismo de recuperação e reparo das fibras musculares: células com algumas características de células embrionários, chamadas de células satélites, surgem como núcleos originários de crescimento muscular logo abaixo da lâmina basal, na região distal do músculo (Russel et al., 1992). Assim, pode-se indicar o método de alongamento como fator preventivo à perda e restabelecimento do número ideal de sarcômeros em série, bem como para manter normais os níveis proporcionais de tecido conjuntivo no músculo.

Referências bibliográficas

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 170 | Buenos Aires, Julio de 2012  
© 1997-2012 Derechos reservados