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O Zouk como estratégia para a mediação 

da dança no ensino formal e não formal

El Zouk como estrategia para la aplicación de la danza en la educación formal y no formal

 

*Faculdade Ingá. Programa de Pós Graduação em Educação – PPE UEM

**Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mandaguari – FAFIMAN

(Brasil)

Paula Carolina Teixeira Marroni*

paulamarroni@gmail.com

Marisa Feijó**

feijomarisa@ibest.com

 

 

 

 

Resumo

          Considerando a dança como manifestação da cultura corporal de movimento permeada por justificativas para a educação, a criatividade, a exteriorização de sentimentos, ritmo, coordenação e outras infinitas, toma-se para objeto de estudo a dança de salão. Sendo esta composta por elementos realizados aos pares que dançam como um só corpo, permite a busca pela harmonia, a linguagem corporal e não-verbal, a compreensão da condução que permitem integração social, compreensão e confiança mútua, valores inerentes ao processo educativo, tanto formal quanto não formal. Dentre as diversas modalidades de dança de salão, este relato de experiência objetiva apresentar a modalidade de dança de salão Zouk como mediador da dança no ensino formal e não formal. Por se tratar de um ritmo alegre e jovial, pautado em musicas conhecidas além das próprias criações, quebra paradigmas de que a dança de salão seria destinada a terceira idade e sugere uma proximidade grande com o publico jovem, em especial o adolescente. Sendo assim, este relato de experiência em um primeiro momento justifica da dança, a dança de salão como conteúdos a serem abordados em educação física escolar, apresentando por meio de um relato de experiência o zouk como estratégia mediadora para o início deste conteúdo.

          Unitermos: Dança de salão. Zouk. Educação.

 

Abstract

          Considering dance as a body movement manifestation of culture wich reveals several reasons to be considered in education wich include creativity, feelings, rhythm, coordination and many others, it has been considered, for this paper, the ballroom dance. The balroom dance is composed by elements performed in pairs dancing as just one body, allows the seek of harmony, body language and non-verbal understanding of conduction that allows social integration, mutual understanding and confidence, values included in the educational process, both formal and non formal. Among the various forms of balroom dancing this experience report aims to present the zouk dance in formal and non formal teaching. Because it is a light-hearted pace, based on well known songs and on own creations, a changing of the Idea that ballroom dance is just for elderly people, suggesting a great closeness to Young people, mainly adolescents. Thus, this experience report justifies the dance, balroom dance as contents to be included in physical educations by presenting a report of an experience with zouk dance as a mediator.

          Keywords: Ballroom dance. Zouk dance. Education.

 

          Trabalho apresentado no evento III Engrupe Dança – Dilemas e Desafios. Universidade Estadual de Maringá, 18 a 20 de outubro de 2011.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 170 - Julio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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A dança de salão na educação

    Este estudo tem por objetivo apresentar o Zouk, modalidade da dança de salão que ganha mais adeptos a cada dia, como elemento mediador da dança de salão para instituições de ensino formal (escolas e instituições de ensino superior) e ensino não formal (academias e projetos sociais).

    A Dança, como linguagem corporal reconhecida pela área da Educação Física como uma manifestação da cultura corporal de movimento inerente ao homem, participante e constituinte da história humana em diversos momentos (PIEREZAN et al), é importante veículo de educação. Como conteúdo da Educação Física escolar ela toma espaço cada vez maior e reconhecimento por suas possibilidades educativas. Após a inclusão da mesma nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs – BRASIL, 1997), Marques (2003) sugere que a mesma tomou força como importante veículo de educação, tomando como fundamentação autores como Nanni (1998), para quem a criatividade possibilita a independência a liberdade do ser pela autonomia e emancipação. Neste sentido, Pierezan e colaboradores salientam que “a dança na disciplina de Educação Física favorece a possibilidade de se elaborar um currículo que não se restrinja ao ensino do desporto abrindo espaço para se trabalhar a dança em suas diferentes abordagens” (PIEREZAN et al)

    Dentre as várias modalidades de dança, a dança de salão se destaca como possibilidade de atuação cada vez maior no âmbito do ensino formal e não formal, com importante destaque à condução, equilíbrio, técnica, ritmo e harmonia de duas ou mais pessoas dançando juntas. O dançar junto é apontado por Tolocka e colaboradores (2005) como uma situação de contato corporal onde um dá suporte ao outro. Friedlander (2006) vai mais além e aponta que são duas pessoas unidas formando apenas um corpo em movimento. Neste sentido, evoca também a harmonia da linguagem não verbal proposta pelo ato de conduzir e de compreender a condução, trazendo à tona o cavalheirismo, a gentileza, a educação. Neste sentido, para Barbosa (2010) a dança de salão propicia ao diálogo tanto o corporal quanto o verbal permitindo um melhor convívio social.

    Este ultimo foco tem sido comumente usado como a fundamentação principal nas argumentações de que a dança de salão é importante para a educação física escolar. Volp et al (1995) aponta que a dança de salão, por ser realizada aos pares, é uma atividade acessível a ambos os sexos, ser uma dança que promove a sociabilidade, o respeito e a disciplina, e se adaptar às habilidades individuais de qualquer pessoa.

A barreira da dança de salão para jovens e o Zouk

    Observa-se que em geral o conteúdo Dança de Salão acaba por ser recebido com receio, recusas ou barreiras impostas pelos alunos. Diversas são as justificativas apresentadas pelos alunos – Dança de salão seria algo exclusivamente para idosos, “exclusivo de gente velha” (DOMINCIANO et al, 2008), para famosos, para quem já sabe dançar, ou trariam feminilidade para o menino. Comprovando a afirmação de Dominciano (2008) cita-se aqui Volp et al (1995) que afirma que os ritmos típicos da dança de salão são bolero, tango, valsa e rumba.

    Dominciano e Marcel (2009) em um estudo a respeito dos motivos que levam os alunos ao desinteresse sobre o tema dança de salão, com 81 indivíduos de 10 a 14 anos sugerem que na adolescência há um período de inibição que pode se cristalizar quando adultos, no sentido de reprimir impulsos de ritmo, restringindo-os a batidas dos pés ou pontas dos dedos. Considerada por estas autoras como uma manifestação artística, baseada nos preceitos de Laban (1990) a respeito da constituição social e histórica da manifestação artística, a dança é vista com preconceito pelos adolescentes, e, por conseqüência, causam dificuldades na formação docente para futuros educadores físicos.

    Diversas são as estratégias apresentadas para o convencimento dos alunos a fazer parte da mesma. Programas como Reality Shows apresentados em emissoras de televisão ajudam a divulgar a manifestação; a difusão de ritmos alegres, tais como forró, lambada, zouk e samba-rock (STRAZZACAPA, 2001) auxiliam na quebra de tabus relacionados à dança de salão como algo sério e formal; a característica da difusão do ritmo sertanejo na região noroeste do Paraná também ajuda na difusão desta manifestação; a difusão do forró nos centros urbanos e universitários; alguns filmes são também objeto de veiculação da idéia de gosto, prazer e interação possíveis pela dança.

    Dentre as diversas modalidades de dança de salão, destaca-se para este estudo o Zouk. Originário das Antilhas, dançado difusamente no norte do Brasil, o Zouk foi incorporando elementos da Lambada e de floreios de outras modalidades, constituindo o Zouk Brasileiro. As musicas para se dança a modalidade de dança Zouk vão desde o ritmo musical Zouk propriamente dito como também o Reggaeton, o R & B e outras musicas comumente difundidas na mídia, o que atrai a atenção do público mais jovem, que vê na modalidade a possibilidade de dançar músicas do seu interesse, quebrando a idéia de que dança de salão é apenas exclusiva para a terceira idade.

    Souza e Lima (s/d) apontam que o surgimento da Lambada, apontada por muitos como a precursora do Zouk, já impulsionou esta difusão para os jovens na dança de salão. Corroborando com estes autores, Barbosa (2010) afirma que “podemos dizer que quem proporcionou ou facilitou esse retorno foi a famosa lambada que no final dos anos 80 no atingiu o Brasil como uma febre passageira, mas intensa, que acometeu jovens, crianças e adultos”, citando Perna (2005): “a dança de salão desapareceu de vez da classe média, só retornando com a explosão da lambada, em 1988, e novamente com o forró 1997, que trouxeram de novo os jovens aos bailes de dança de par”.

    Destaca-se que ao incorporar ritmos próprios de danças brasileiras, tais como floreios de forró e soltinho e passos básicos, giros, movimentos de cabeça, cambrés e até constituição de casais (casal, cavalheiro com duas damas, cavalheiro com mais damas) próprios da lambada, o Zouk Brasileiro se consolida como um ritmo dançado específico e característico de nosso país. Observa-se também que o Zouk enquanto estilo de dança de salão é um tema com escassa produção científica.

O Zouk como estratégia mediadora para a dança de salão. Projetos de dança de salão em universidades, academias e projetos sociais

    A princípio o desafio se apresentava em trazer para a dança de salão jovens acostumados com funk, axé, rock pesado. O contato com o zouk, por parte das pesquisadoras, aconteceu em dois momentos, um em 2004 e outro em 2005, e ambas perceberam nele uma característica peculiar na qual poderia residir estímulo necessário para atrair os jovens para dança de salão.

    Depois da primeira tentativa na criação de um grupo de dança de salão no ensino não formal, uma academia, que não resultou em sua constituição, a segunda foi caracterizada pela manifestação da aceitação adolescente e masculina: os rapazes principalmente, tiveram uma grande resistência, entretanto, um dos garotos que aceitou de logo no primeiro convite, era muito popular entre os outros e isso influenciou outros rapazes até um total de 26 adolescentes e jovens de ambos os sexos, reunidos para uma aula em um horário alternativo: 6h da manhã. Raramente faltavam ou chegavam atrasados.

    No início houve a tentativa de abordar outros ritmos, mas a aceitação do zouk foi unânime. Desta forma, para que a base da dança zouk fosse compreendida, era necessário a passagem por outros ritmos básicos e comuns da dança de salão, que auxiliariam na compreensão do ritmo, musicalidade, transferência de peso, condução. Desta forma, este primeiro grupo de ensino não formal passou por todos os ritmos, com o respeito pela dança de salão se fortalecendo. Desse grupo surgiu a companhia de dança e os primeiros trabalhos sociais com novos grupos de bolsistas, onde nesse momento o foco seriam adolescentes carentes. O grupo foi aumentando, chegando ao numero de aproximadamente oitenta bolsistas.

    É importante ressaltar que a maioria vinha em busca do zouk, depois de assistir a apresentações em inúmeros locais e eventos. Mas antes de iniciar o zouk, iniciava-se por outros ritmos, que eles também passavam a se interessar até chegar ao zouk. Ao mesmo tempo outras portas foram se abrindo e juntamente com esse trabalho social, foi desenvolvido um projeto de dança de salão em uma faculdade na cidade de Mandaguari (PR) para o curso de educação física. Além deste ensino formal, workshops, curso e aulas em outras faculdades, em cursos de extensão, hotéis, foram ambientes para apresentações e participações da companhia de dança e do projeto social, construída no ambiente de ensino não formal.

    Desta forma, criavam-se jovens adeptos e amantes da dança de salão, mas principalmente do zouk. Foi este fato que vinculou ambas as pesquisadoras, pois, na busca de uma delas por demonstrar o zouk para os acadêmicos de uma universidade na cidade de Cianorte (PR) com o mesmo propósito, de atrair a atenção dos jovens para a dança de salão pelo zouk, convencendo-os à participação nas aulas e gerando o interesse para que a base de outras danças de salão fosse ensinada. A partir desse trabalho, foi possível convencer os meninos da cidade de Cianorte (PR) a participar de grupos de dança livre, ginástica geral e dança de salão particular. Foi possível convencer também os rapazes da companhia e do projeto social desenvolvidos em Mandaguari (PR) a participarem das aulas de bale e jazz, como forma de aprimorar a sua dança pessoal na dança de salão. Isso teve uma grande repercussão pois em uma cidade pequena, tantos meninos fazendo dança pelo prazer de dançar sempre foi motivo de inúmeras indagações a respeito de como isso acontece, e como vencíamos o preconceito.

    A resposta pode estar em o “como” isso chegou até eles, tornando esse estilo da dança interessante, e até conveniente a adolescentes em seu convívio social, as meninas por já na sua maioria, admirar essa dança, e os meninos, esses aumentavam seu status em relação ao sexo oposto, pois todos eram muito requisitados, justamente por saberem dançar, e esse ciclo vem se perpetuando e aumentando. Por esse motivo, esse trabalho se faz importante, enquanto forma de educar e melhorar a auto-estima de seus praticantes. Na dança de salão, eles aprendem a respeitar os limites um dos outros, e os seus próprios. Quando se dança a dois, ha que se ter tolerância, pratica em desuso em todas as camadas da sociedade atual; desenvolvem as mais variadas capacidades físicas para o desenvolvimento cognitivo e motor;e se envolvem com aspectos culturais relevantes como a arte a sua intensidade através da musica, da interpretação e do intercâmbio de informações que somos privilegiados a encontrar quando nos envolvemos no mundo da dança.

Referências

  • BARBOSA, G. F. A dança de salão como prática educativa na aula de educação física: o ensino médio no contexto. Belo Horizonte; UFMG, 2010. Monografia (Licenciatura em Educação Física) Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais, 2010

  • DOMICIANO, Adriana Nunes de Sá; SILVA, Flávio Henrique da. Projeto Dançando na Escola. Anais do II Seminário de Metodologia de Ensino de Educação Física da Faculdade de Educação da USP. São Paulo, 2008.

  • DOMINCIANO, A. N.; MARCELLI, F. P. R. A inclusão da dança de salão nas auals de Educação Física do Ensino Fundamental II. Revista Interfaces – ensino, pesquisa e extensão. Ano 1, v. 1, 2009

  • FRIEDLANDER, Liz. Vem Dançar. PlayArte, 2006.

  • LABAN, Rudolf. Dança Educativa Moderna (tradução: Maria da Conceição Parayba Campos). São Paulo: Ícone, 1990.

  • MARQUES, I. A. Dançando na escola. São Paulo-SP: Cortez, 2003.

  • NANNI, D. Dança educação, princípios métodos e técnicas. 2. ed. Rio de Janeiro, RJ: SPRINT, 1998.

  • PERNA, M. A. Samba de Gafieira – a História da Dança de Salão Brasileira. Rio de Janeiro: o Autor, 2001

  • PIEREZAN, J. PINTO, K. A. V.; LOPES, K. Dança Escolar. Disponível em: http://www.unimeo.com.br/artigos/artigos_pdf/2008/dezembro/danca+escolar.pdf Acesso em: 28 ago 2011.

  • SOUZA, M. I. G., LIMA E. F. W. Dança de salão: uma experiência de estética popular. Disponível em: http://www.seer.unirio.br/index.php/pesqcenicas/article/viewFile/740/677 Acesso em: 28 ago 2011

  • STRAZZACAPPA, Márcia. A educação e a fábrica de corpos: a dança na escola. Cadernos Cedes, ano XXI, n. 53, 2001.

  • TOLOCKA, Rute Estanislava; VERLENGIA, Rozangela (Orgs.). Dança e Diversidade Humana. Campinas, SP: Papirus, 2006.

  • VOLP, Catia Mary; DEUTSCH, Silvia; SCHWARTZ, Gisele M. Por que dançar? Um estudo comparativo. Motriz, v.1, n.1, 1995.

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