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O tratamento fisioterapêutico em uma 

criança com queimadura: um relato de caso

El tratamiento fisioterapéutico en un niño con quemaduras: reporte de un caso

 

*Graduação em Fisioterapia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Pós Graduação

em Fisioterapia Hospitalar pelo Hospital Universitário do Oeste do Paraná HUOP/UNIOESTE

**Graduação em Fisioterapia pela Universidade Federal de Santa Maria

Atualmente é efetivo da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste)

Atua no Centro de Reabilitação Física da Unioeste.

***Graduação em Fisioterapia pela universidade Paulista. Pós graduação em Intervenção

em Neuropediatria pela Universidade Federal de São Carlos

****Graduação em Fisioterapia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná

*****Possui graduação em Fisioterapia pela Universidade Paranaense (UNIPAR)

Pós Graduação (Especialização) em Fisioterapia Hospitalar

pelo Hospital Universitário do Oeste de Paraná HUOP/UNIOESTE

Janaina Cristina Scalco*

Maria Goreti Weiand Bertoldo**

Sheila Cristina da Silva Pacheco***

Daiane Lazzeri de Medeiros****

Marina Palú*****

janaina.scalco@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A queimadura é uma lesão dos tecidos orgânicos em decorrência de um trauma de origem térmica. As queimaduras estão entre os principais tipos de acidentes infantis, sendo a quarta causa de morte. Objetivos: apresentar aspectos sobre queimaduras e suas conseqüências em uma paciente pediátrico bem como discorrer sobre a atuação da fisioterapia neste quadro. Metodologia: Estudo retrospectivo, baseado em análise de prontuário e observações feitas em atendimentos de fisioterapia realizado no setor de Pediatria do Centro de Reabilitação Física (CRF) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Relato de caso: paciente do sexo masculino, 3 anos, sofreu queimaduras de segundo e terceiro graus por escaldamento com água fervente em ambiente doméstico, necessitando enxerto epitelial. Durante cada sessão, as condutas eram baseadas no estado clínico e a avaliação fisioterapêutica do paciente. Foram realizadas, durante o período intervenção do estudo, condutas de cinesioterapia. Conclusão: Conclui-se que o paciente evoluiu de forma satisfatória e que, portanto, a fisioterapia através de suas técnicas, ofereceu grande benefício no processo de cicatrização epitelial, reduzindo aderências cicatriciais a fim gerar maior independência do paciente.

          Unitermos: Queimadura. Fisioterapia. Pediatria.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 170 - Julio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    As queimaduras estão entre os principais tipos de acidentes infantis e são responsáveis são responsáveis por graves seqüelas psicológicas e sociais ao acidentado bem como à sua família. No Brasil, o trauma por queimadura contribui com 57% do total de mortalidade na faixa etária de 0 a 19 anos e corresponde a 38% dos principais agravos atendidos no sistema de saúde (BRASIL, 2008). Constituem importante causa de atendimento hospitalar e exigem vários dias de internação e acompanhamento terapêutico após a alta hospitalar (MARTINS, ANDRADE 2007; PICKETT et al, 2003).

    A lesão provocada pela queimadura pode ser descrita com base na sua profundidade, sendo classificada como de primeiro grau, quando é comprometida apenas a epiderme, apresentando eritema e dor; de segundo grau, quando atinge a epiderme e parte da derme, provocando a formação de flictenas; e de terceiro grau, quando envolve todas as estruturas da pele e em alguns casos, se estende ao tecido subcutâneo, músculo e osso. (FERREIRA et al, 2003).

    As lesões resultantes das queimaduras são isquêmicas como conseqüência da trombose causada pelo trauma. As queimaduras profundas apresentam trombose em todas as camadas da pele atingidas e a diminuição da oxigenação nesses tecidos dificulta o crescimento dos capilares e a cicatrização da ferida, pois todos os tecidos humanos requerem oxigênio para que se mantenham viáveis. Nas queimaduras profundas há uma grande quantidade de tecidos necróticos, o que facilita o desenvolvimento de infecção, pois esses tecidos fornecem nutrientes para as bactérias que requerem pouco oxigênio para a sobrevivência (FERREIRA et al, 2003).

    O tratamento de queimaduras é um desafio, tanto pela sua gravidade, como pela multiplicidade de complicações que normalmente ocorrem. A cura da queimadura implica não somente em cirurgias de enxertia de pele precoces, mas também em controlar e orientar a regeneração cicatricial, que tende a ocorrer de forma anárquica e com potencial de seqüelas e infecções (FERREIRA, 2003).

    O tratamento fisioterapêutico intra-hospitalar e após alta hospitalar tem se mostrado eficaz, evitando complicações e diminuindo as seqüelas funcionais e estéticas nos pacientes queimados (ALBUQUERQUE et al, 2010).

Objetivos

    Este estudo de caso tem como objetivos apresentar aspectos sobre queimaduras e suas conseqüências em uma paciente pediátrico bem como discorrer sobre a atuação da fisioterapia neste quadro.

Metodologia

    Estudo realizado no setor de Pediatria do Centro de Reabilitação Física (CRF) da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. A coleta de dados foi efetuada pela autora por meio de análise do prontuário do paciente e também por observações feitas durante as sessões de fisioterapia.

    As sessões de fisioterapia foram realizadas duas vezes por semana, totalizando 10 sessões com duração de 40 minutos cada uma. Vale ressaltar que o paciente continua em tratamento fisioterapêutico no CRF da UNIOESTE.

Relato do caso

    Paciente do sexo masculino, 3 anos e 4 meses, sofreu queimadura por escaldamento com água fervente em ambiente doméstico, derrubou uma chaleira com água fervente que estava no fogão no dia 23/04/2010. Paciente foi encaminhado com urgência ao Hospital de Queimados. Apresentou queimaduras de segundo e terceiro grau em região posterior e lateral de tronco até inicio de glúteo esquerdo, região anterior de coxa direita, ombro, braço, antebraço e mão direita, região de peitoral direito. Permaneceu um mês internado para realizar cirurgia de enxerto cutâneo, sendo retirada pele de membros inferiores das regiões não atingidas. Após um mês do enxerto foi encaminhado para atendimento fisioterapêutico.

    Paciente apresenta retração cicatricial em peitoral e ombro direito o que limita a amplitude de movimento de ombro (ADM) em flexão anterior e abdução associado a déficit de dissociação de cintura escapular e pélvica. Durante cada sessão de fisioterapia, as condutas eram baseadas no estado clínico e na avaliação fisioterapêutica do paciente, a partir do exame físico foram adotadas as seguintes condutas fisioterapêuticas: Laser pontual em região axilar e peitoral direito; alongamento de cadeia posterior e anterior de tronco e membro superior direito; massagem cicatricial profunda em toda região de cicatriz; mobilização passiva de membro superior direito (MSD), tronco e membros inferiores; exercícios para dissociação de cintura pélvica e escapular e atividades lúdicas para flexão e abdução de MSD e rotações de tronco.

Discussão

    Em estudo realizado com 138 pacientes atendidos em uma unidade de queimados, Rossi et al (1998) observaram que 69 (50%) tinham entre 0 e 11 anos. Dentre todos os pacientes pediátricos, os meninos entre 7 e 11 anos foram os mais atingidos (67%). Todos estes pacientes foram vítimas de queimaduras por acidentes domésticos, causadas por agente térmico. Constata-se que, entre as crianças de 0 a 11 anos, a água fervente foi o agente responsável por 33% dos acidentes, atingindo principalmente as crianças menores de 3 anos, como observado em neste caso clinico.

    Estudos realizados por Harada et al (2000) e Goldman et al (2006) também indicam que os meninos são mais acometidos por queimaduras, o que pode estar relacionado, provavelmente, com as diferenças de comportamento de cada sexo e com fatores culturais, que determinam maior liberdade aos meninos e, em contrapartida, maior vigilância das meninas. As diferentes atividades desenvolvidas também justificam os percentuais encontrados, estando os meninos mais expostos por exercerem atividades de maior risco, como no caso aqui relatado.

    As crianças menores de três anos são mais suscetíveis às queimaduras térmicas e às escaldaduras, devido à curiosidade natural, à impulsividade e à falta de experiência para avaliar os perigos. Na maioria das vezes, se queimam na cozinha, por contato direto com fontes de calor e líquidos superaquecidos (DRAGO, 2005) justificando assim, o que foi encontrado neste caso clínico.

    As crianças menores de 11 anos apresentaram queimaduras de segundo grau em 39% dos casos; de segundo e terceiro graus, em diferentes áreas do corpo, em 40% dos casos; e de terceiro grau em 8% dos casos. Como no caso a cima relatado, as regiões do tórax anterior e membros superiores são as mais atingidas nas crianças até 11 anos de idade, seguidas pela cabeça, pescoço, tórax posterior e coxas (ROSSI et al, 1998).

    A intervenção fisioterapêutica exerce um papel primordialmente preventivo, caso seja iniciada precocemente. Caso contrário, o paciente poderá desenvolver seqüelas, principalmente pela imobilização ou pela posição antálgica que exerce. Quanto mais precoce for iniciada a fisioterapia, melhores serão os resultados futuros (GOMES et al, 2001 apud Sara Ferreira 2003).

    As contraturas são comumente observadas após queimaduras graves e podem comprometer o movimento das articulações. A amplitude dos movimentos pode se perder muito rapidamente, devido à tendência do colágeno de contrair-se e reter seu menor comprimento possível. Em conseqüência, facilmente ocorrem contraturas, podendo resultar não só em limitações na amplitude dos movimentos existente, mas na degeneração desta camada de tecido, e na interrupção do processo de cicatrização. (SULLIVAN & SCHMITZ, 1993)

    Concordando com as condutas fisioterapêuticas adotadas para o tratamento do paciente estudado Andrade et al (2010) observou que o laser terapêutico é capaz de promover um processo cicatricial mais rápido e de melhor qualidade para pacientes com queimadura. A maioria dos estudos revela que a laserterapia acelerou a proliferação de células, aumentou a vascularização e melhorou a organização do colágeno.

    A massagem é um estimulo benéfico quando corretamente aplicado e pode atuar nos sistemas através de vários caminhos: pelas vias linfáticas e nervosas, sobre a fibra muscular, os tendões e através das peridromias, onde se situam os dermátomos. Atua também, eliminando uma parte de material nocivo que o traumatismo determina na área lesionada. Os principais efeitos produzidos pela massagem são a recomposição do tecido em menor espaço de tempo, a distribuição e a destinação dos líquidos para o sistema linfático e a diminuição das aderências em cicatrizes hipertróficas e quelóide. (Dourado, 1994).

    A mobilização das articulações, para evitar aderências de fáscias, músculos e tendões. Na medida das possibilidades do quadro clínico, as massagens, mobilizações, exercícios passivos e ativos devem ser iniciados precocemente, ainda na fase aguda da queimadura (TILLEY, MCMAHON, SHUKALAK, 2000). Apesar de todos os avanços, a cinesioterapia continua sendo a técnica primordial em um plano de tratamento para os queimados (RICHARD et al, 2000).

Conclusão

    Conclui-se com esse trabalho que o paciente evoluiu de forma satisfatória e, por conseguinte, a fisioterapia através de suas técnicas auxiliou o processo de cicatrização e reduziu a aderência cicatricial no paciente estudado.

Bibliografia

  • Albuquerque, MLL, Silva, GPF; Diniz, DMSM, Figueiredo, AMF, Câmara, TMS, Bastos, VPD. Análise dos pacientes queimados com seqüelas motoras em um hospital de referência na cidade de Fortaleza-CE. Ver Bras Queimaduras 2010; 9(3): 89-94.

  • Martins, CBG, Andrade, SM. Queimaduras em crianças e adolescentes: analise da morbidade hospitalar e mortalidade. Acta Paul Enferm 2007; 20(4): 464-9.

  • Brasil. Ministério da Saúde. Seminário discute uso do álcool gel para prevenir queimaduras. Disponível em: http://www.portal.saude.gov.br/ portal/aplicações/noticias/noticias_detalhe.cfm?co_seq_noticia=7032 Acesso em 6 de maio de 2008

  • Ferreira, E; Lucas, R; Rossi, LA; Andrade, D. Curativo do paciente queimado: uma revisão de literatura. Rev Esc Enferm USP 2003; 37(1): 44-51.

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  • Goldman, S; Aharonson-Daniel, L; Peleg, K; Israel Trauma Group (ITG). Childhood burns in Israel: a 7-year epidemiological review. Burns 2006; 32:467-72.

  • Harada MJCS, Botta MLG, Kobata CM, Szauter IH, Dutra G, Dias EC. Epidemiologia em crianças hospitalizadas por acidentes. Folha Méd 2000;119:43-7.

  • Ferreira SR. O grande queimado: uma abordagem fisioterapêutica [Monografia]. Goiânia: Graduação em Fisioterapia, Universidade Católica de Goiás; p.162, 2003.

  • Pickett W, Streight S, Simpson K, Brison RJ. Injuries experienced by infant children: a population-based epidemiological analysis. Pediatrics 2003;111: e365-70.

  • Richard, R.; Miller, S.; Staley M.; Jonhson R.M. Multimodal versus Progressive Treatment Tcheniques to correct Burn Scar Contractures. J Burn Care Rehabil. v. 21, n. 6, p.506-12, nov-dec 2000.

  • Rossi LA, Barruffini RCP, Garcia TR, Chianca TCM. Queimaduras: características dos casos tratados em um hospital escola em Ribeirão Preto (SP), Brasil. Rev Panam Salud Publica/Pan Am J Public Health 4(6), 1998.

  • Tilley W, McMahon S, Shukalak B- Rehabilitation of the burned upper extremity. Hand Clin 2000;16(2):303-18.

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