O que anima e o que desanima na
docência em situação de estágio curricular supervisionado na Licenciatura em
Educação Física do CEFD/UFSM: registro dos fatores geradores Lo que anima o desanima en la docencia en situación de pasantía curricular supervisada en la Licenciatura en Educación Física del CEFD/UFSM: un registro de los factores que generan satisfacción e insatisfacción |
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*Doutor em Educação Doutor em Ciência do Movimento Humano Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação (CE/UFSM) Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (CEFD/UFSM) Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (UFSM) **Mestranda/o em Educação (CE/UFSM) Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (UFSM) ***Mestranda em Educação (CE/UFSM) Especializanda em Educação Física Escolar (CEFD/UFSM) Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (UFSM) ****Especializanda/o em Educação Física Escolar (CEFD/UFSM) Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (UFSM) (Brasil) |
Hugo Norberto Krug* Fabiana Ritter Antunes** Haury Temp** Ana Paula Facco Mazzocato*** Aline de Souza Caramês** Cassiano Telles**** Verônica Jocasta Casarotto**** |
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Resumo Este estudo objetivou analisar o que anima e o que desanima na docência em situação de Estágio Curricular Supervisionado (ECS) na Licenciatura em Educação Física do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) na percepção do estagiário. A metodologia empregada nesta investigação caracterizou-se pelo enfoque fenomenológico sob a forma de estudo de caso com abordagem qualitativa. O instrumento utilizado para a coleta de informações foi um questionário com perguntas abertas. A interpretação das informações foi à análise de conteúdo. Os participantes foram dezesseis (16) acadêmicos do 7º semestre do curso de Licenciatura em Educação Física (Currículo 2005) do CEFD/UFSM, matriculados na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental), no 1º semestre letivo de 2012. Concluiu-se pela existência de acontecimentos que animam e que desanimam os acadêmicos na docência em situação de ECS na Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM e que estes foram fontes geradoras da satisfação e/ou insatisfação docente em Educação Física. Unitermos: Educação Física. Formação de professores. Formação inicial. Estágio curricular supervisionado. (In)satisfação.
Artigo elaborado a partir do projeto de pesquisa denominado “O Estágio Curricular Supervisionado na formação inicial de professores de Educação Física: um estudo de caso na Licenciatura do CEFD/UFSM”.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 170 - Julio de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introduzindo a investigação
De acordo com Marques e Krug (2010), o meio educacional, bem como o contexto da formação de professores e as diversas peculiaridades que compõem os cursos de Licenciatura nos permitem e nos instigam desenvolver diversos estudos e pesquisas a fim de contribuir com a nossa própria formação, assim como fomentar questionamentos e trocas com os demais profissionais da educação e em especial da Educação Física. Assim, neste amplo cenário de possibilidades de investigação no âmbito da formação de professores, aparece o Estágio Curricular Supervisionado como um importante componente curricular de indispensável relevância para a formação profissional dos licenciandos (KRUG, 2010b), pois, conforme Garcia (1999), o estágio representa uma oportunidade privilegiada para aprender a ensinar na medida em que se integrem as diferentes dimensões que envolvem a atuação docente, ou seja, o conhecimento psicopedagógico, o conhecimento do conteúdo e o conhecimento didático do conteúdo.
Desta forma, considerando o amplo cenário da formação de professores e da disciplina de Estágio Curricular Supervisionado (ECS) focou-se o interesse investigativo na formação de professores de Educação Física e, particularmente, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mais precisamente no ECS do curso de Licenciatura do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD), pois concordamos com Ivo e Krug (2008), de que estudar o quê acontece e quem envolve esta disciplina é tarefa daqueles que se preocupam com uma formação de qualidade para os futuros docentes.
Convém salientar que a atual matriz curricular (CEFD, 2005) do curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM proporciona o Estágio Curricular Supervisionado I, II e III nos 5º, 6º e 7º semestres do mesmo, realizados respectivamente no Ensino Médio, nas Séries/Anos Finais do Ensino Fundamental e nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental, com carga horária de 120 horas destinada a cada estágio, somando-se a estas 360 horas, mais 45 horas de Seminário em Estágio Curricular Supervisionado, no 8º semestre do curso, totalizando então 405 horas.
Diante deste cenário em particular do CEFD/UFSM e considerando que o ofício da docência, mesmo o pré-profissional (ECS), é fonte de satisfação e/ou de insatisfação (SILVA; KRUG, 2004) e que estes sentimentos assumem uma importância impar, pois, o estudo dos mesmos, permite o conhecimento dos aspectos peculiares à escola e aos docentes (ou futuros docentes) que podem interferir direta ou indiretamente no ensino (SORIANO; WINTERSTEIN apud KRUG, 2010c), foi que surgiu a questão problemática norteadora desta investigação, ou seja, “o que anima e o que desanima na docência em situação de Estágio Curricular Supervisionado na Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM na percepção do estagiário”?
Assim, partiu-se do pressuposto destacado por Pimenta e Lima (2004) de que o ECS é um retrato vivo da prática docente e de que o professor-aluno (estagiário) tem muito a dizer, a ensinar, expressando sua realidade, a de seus colegas de profissão e de seus alunos, que no mesmo tempo histórico vivenciam os mesmos desafios e as mesmas crises na escola e na universidade.
Neste sentido, o objetivo geral desta investigação foi analisar o que anima e o que desanima na docência em situação de Estágio Curricular Supervisionado na Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM na percepção do estagiário.
Em decorrência deste objetivo geral, buscamos atingir os seguintes objetivos específicos: 1) Analisar o que anima na docência em situação de ECS na Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM na percepção do estagiário; e, 2) Analisar o que desanima na docência em situação de ECS na Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM na percepção do estagiário.
A realização deste estudo se justificou pela tentativa de compreender os desafios inerentes à docência dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM em situação de ECS. A expectativa foi de que o estudo trouxesse significativas contribuições para a compreensão do fenômeno ECS, e que favorecesse a concretização da melhoria da qualidade da formação inicial de professores de Educação Física.
A metodologia da investigação
A metodologia empregada nesta investigação caracterizou-se pelo enfoque fenomenológico sob a forma de estudo de caso com abordagem qualitativa.
Conforme Triviños (1987, p.125), a pesquisa qualitativa de natureza fenomenológica “surge como forte reação contrária ao enfoque positivista nas ciências sociais”, privilegiando a consciência do sujeito e entendendo a realidade social como uma construção humana. O autor explica que na concepção fenomenológica da pesquisa qualitativa, a preocupação fundamental é com a caracterização do fenômeno, com as formas que se apresenta e com as variações, já que o seu principal objetivo é a descrição.
Para Joel Martins (apud FAZENDA, 1989, p.58) “a descrição não se fundamenta em idealizações, imaginações, desejos e nem num trabalho que se realiza na subestrutura dos objetos descritos; é, sim, um trabalho descritivo de situações, pessoas ou acontecimentos em que todos os aspectos da realidade são considerados importantes”.
Já, segundo Lüdke e André (1986, p.18) o estudo de caso enfatiza “a interpretação em contexto”. Godoy (1995, p.35) coloca que:
o estudo de caso tem se tornado na estratégia preferida quando os pesquisadores procuram responder às questões “como” e “por que” certos fenômenos ocorrem, quando há pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de um contexto de vida real.
De acordo com Goode e Hatt (1968, p.17): “o caso se destaca por se constituir numa unidade dentro de um sistema mais amplo”. O interesse incide naquilo que ele tem de único, de particular, mesmo que posteriormente fiquem evidentes estas semelhanças com outros casos ou situações.
O instrumento utilizado para coletar as informações foi um questionário com duas perguntas abertas, que foi respondido por dezesseis (16) acadêmicos do 7º semestre do curso de Licenciatura em Educação Física (Currículo 2005) do CEFD/UFSM, matriculados na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado III (Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental), no 1º semestre letivo de 2012. Optamos pelo ECS III por este ser o último estágio dos acadêmicos e, portanto, significando a última experiência com a escola na grade curricular do curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM. A escolha dos participantes aconteceu de forma espontânea, em que a disponibilidade dos mesmos foi o fator determinante. A fim de preservar as identidades dos participantes, estes receberam uma numeração (1 a 16).
A cerca do questionário Triviños (1987, p.137) afirma que “sem dúvida alguma, o questionário (...), de emprego usual no trabalho positivista, também o podemos utilizar na pesquisa qualitativa”. Já Cervo e Bervian (1996) relatam que o questionário representa a forma mais usada para coletar dados, pois possibilita buscar de forma mais objetiva o que realmente se deseja atingir. Consideram ainda o questionário um meio de obter respostas por uma fórmula que o próprio informante preenche.
Pergunta aberta “destina-se a obter uma resposta livre” (CERVO; BERVIAN, 1996, p.138).
As questões norteadoras que compuseram o questionário estavam relacionadas com os objetivos específicos desta investigação e foram as seguintes: 1) O que o animou na docência no Estágio Curricular Supervisionado? e, 2) O que o desanimou na docência no Estágio Curricular Supervisionado?
A interpretação das informações coletadas pelo questionário foi realizada através da análise de conteúdo, que é definida por Bardin (1977, p.42) como um:
conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.
Godoy (1995, p.23) diz que a pesquisa que opta pela análise de conteúdo tem como meta “entender o sentido da comunicação, como se fosse um receptor normal e, principalmente, desviar o olhar, buscando outra significação, outra mensagem, passível de se enxergar por meio ou ao lado da primeira”.
Para Bardin (1977) a utilização da análise de conteúdo prevê três etapas principais: 1ª) A pré-análise – que trata do esquema de trabalho, envolve os primeiros contatos com os documentos de análise, a formulação de objetivos, a definição dos procedimentos a serem seguidos e a preparação formal do material; 2ª) A exploração do material – que corresponde ao cumprimento das decisões anteriormente tomadas, isto é, a leitura de documentos, a caracterização, entre outros; e, 3ª) O tratamento dos resultados – onde os dados são lapidados, tornando-os significativos, sendo que a interpretação deve ir além dos conteúdos manifestos nos documentos, buscando descobrir o que está por trás do imediatamente aprendido.
Deste modo, é procurado obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos das descrições do conteúdo das mensagens, pontos indicadores que propiciam uma conclusão de conhecimentos referentes às condições de produção/recepção que estão inseridas nas mensagens. E assim, a interpretação permite enriquecer o conhecimento por meio da tentativa exploratória que aumenta a propensão da descoberta.
Os resultados e as discussões da investigação
Os resultados e as discussões desta investigação foram explicitados e orientados pelos objetivos específicos.
O que anima, isto é, o que produz satisfação no exercício da docência em situação de Estágio Curricular Supervisionado do Curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM
Segundo Barreto (2007) o ofício docente também comporta sentimentos de realização profissional. Conseqüentemente também consideramos que no exercício da docência pré-profissional, isto é no ECS, aconteça o mesmo preconizado pela autora referida.
Assim, buscou-se explorar o que animou os acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM no exercício da docência em situação de ECS.
Da análise das informações coletadas emergiram as seguintes categorias:
1. O reconhecimento profissional pelos alunos e/ou escola (Doze citações – Acadêmicos: 2; 4; 5; 6; 7; 8; 9; 10; 11; 12; 13 e 14) – Esta categoria foi embasada em Barreto (2007) que afirma que o reconhecimento pelo trabalho, embora não ocorra freqüentemente, muito contribui para a satisfação e realização do professor (ou futuro professor). A autora destaca que qualquer ser humano experimenta alegria quando tem suas ações reconhecidas e bem apreciadas. Saber que seu trabalho está produzindo frutos, que o sorriso estampado na cara dos alunos é uma avaliação positiva do trabalho que desenvolve confere muito prazer ao professor (ou futuro professor). Funciona como elemento que contribui para mantê-lo motivado a desenvolver um bom trabalho;
2. A aprendizagem dos alunos (Oito citações – Acadêmicos: 1; 2; 3; 5; 6; 7; 14 e 15) – Relativamente a esta categoria reportou-se a Barreto (2007) que diz que a aprendizagem dos alunos é um dos itens que suscita o orgulho e o prazer de ser professor, pois vemos estampada a satisfação do professor (ou futuro professor) que se projeta e se realiza no sucesso alcançado pelos alunos. Já Silva e Krug (2004) destacam que o aprendizado do aluno é uma das essências do sentimento de satisfação dos professores de Educação Física Escolar;
3. O relacionamento com os alunos (Seis citações – Acadêmicos: 2; 4; 5; 7; 8 e 9) – Sobre esta categoria citou-se Barreto (2007) que salienta que a relação com os alunos parece ser a presença ou a manifestação concreta do amor que brota no cotidiano da aula. Esta relação, permeada de momentos de prazer e desprazer, mantém o professor (ou futuro professor) animado e numa atitude de permanente construção. Já Picado (2005) descreve os desafios que constituem a relação professor e aluno afirmando que ao estabelecer contatos e vinculações satisfatórias, o professor (ou futuro professor) experimenta prazer e satisfação profissional, portanto, quando se diz que esta relação é que motiva o professor (ou futuro professor) a ministrar aula, estamos falando do prazer experenciado nas relações humanas estabelecidas na aula ou fora dela. Tal experiência é capaz de criar um clima salutar, favorável ao sucesso das ações. Ainda de acordo com Silva e Krug (2004) o relacionamento com os alunos é uma das essências do sentimento de satisfação dos professores de Educação Física Escolar;
4. O ato de ensinar (Quatro citações – Acadêmicos: 5; 6; 15 e 16) – Em relação a esta categoria mencionou-se Joyce e Clift (apud GARCIA, 1999, p.81) que dizem que “a capacidade para aprender e o desejo de exercer este conhecimento é o produto mais importante da formação de professores” ou seja, os cursos de formação de professores devem despertar nos seus acadêmicos a motivação para a aprendizagem da docência e a vontade de ensinar; e,
5. O sucesso pedagógico (Três citações – Acadêmicos: 1; 7 e 10) – Esta categoria foi fundamentada com Zacaron et al. (1999) que no estudo intitulado “O sucesso pedagógico em Educação Física na opinião dos futuros professores” constataram que os acadêmicos-estagiários (1º semestre de 1998) da Licenciatura (currículo 1990) do CEFD/UFSM relacionaram o sucesso nas aulas, sobretudo, ao atingir os objetivos propostos, atribuindo o sucesso a fatores relativos às suas capacidades de intervenção pedagógica, e, ainda às condições de trabalho, aos recursos e às condições institucionais. Estes autores destacam que este resultado parece suportar a conclusão de que os acadêmicos-estagiários partilham da idéia de que são os grandes obreiros do sucesso pedagógico de suas aulas, desconsiderando assim, os seus alunos. Já segundo Krug (2010a) o sucesso pedagógico é a principal razão da ocorrência dos melhores momentos na experiência docente nos Estágios Curriculares Supervisionados I-II-III citada pelos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM.
O que desanima, isto é, o que produz insatisfação no exercício da docência em situação de Estágio Curricular Supervisionado do Curso de Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM
Segundo Silva e Krug (2004) o exercício da docência também comporta sentimentos de frustração profissional. Conseqüentemente também consideramos que no exercício da docência pré-profissional, isto é, no ECS, aconteça o mesmo preconizado pelos referidos autores.
Assim, buscou-se explorar o que desanimou os acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM no exercício da docência em situação de ECS.
Da análise das informações coletadas emergiram as seguintes categorias:
1. A indisciplina dos alunos (Doze citações – Acadêmicos: 1; 2; 3; 4; 6; 7; 9; 10; 11; 12; 14 e 15) – Esta categoria foi embasada em Silva e Krug (2004) que afirmam que a indisciplina dos alunos é uma das essências do sentimento de insatisfação dos professores de Educação Física Escolar. Também Krug (2010a) diz que os piores momentos na experiência docente dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM em situação de estágio em sua maioria estão relacionados com os alunos difíceis (indisciplinados) de suas turmas. Já para Garcia (2004) a indisciplina do aluno é apenas um ‘problema comportamental’ que deve ser melhor entendido e estudado no ambiente escolar. A procura da solução deste problema é fundamental já que causa estresse nas relações interpessoais na aula;
2. O insucesso pedagógico (Seis citações – Acadêmicos: 3; 7; 10; 14; 15 e 16) – Relativamente a esta categoria reportou-se a Krug (2010d) que destaca que os acadêmicos em situação de estágio quando obtêm insucesso pedagógico em sua docência, consequentemente passam a ter um sentimento de frustração com o que estão fazendo. Já Zacaron et al. (1999) dizem que o insucesso pedagógico nas aulas de Educação Física está geralmente relacionado ao não atingir os objetivos propostos. Nesta direção, Krug (2008) salienta que, historicamente, a Educação Física apresenta condições de trabalho difíceis que são principalmente representadas pela falta de locais adequados para a prática das aulas, assim como, pela falta de materiais apropriados para o desenvolvimento das atividades;
3. O desinteresse dos alunos pelas atividades propostas (Cinco citações – Acadêmicos: 2; 6; 7; 8 e 10) – Sobre esta categoria citou-se Krug (2010a) que coloca que a falta de interesse dos alunos pelas atividades propostas é um dos problemas sentidos na experiência docente dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM em situação de estágio. Já Darido et al. (2009) coloca que a falta de interesse dos alunos pode estar ligada à falta de habilidade dos mesmos em determinadas atividades práticas devido às diferenças individuais que cada aluno possui; na ocasião de serem oriundos de diferentes escolas carregam consigo conceitos e vivências em conteúdos distintos uns dos outros, onde aqueles que já dominam uma prática não querem retomá-lo e os que não dominam sentem-se intimidados a desenvolvê-las. Outro ponto salientado pelos autores refere-se às experiências negativas anteriores que afasta o aluno das aulas, pois sua ausência é uma forma de não querer assumir publicamente uma dificuldade pessoal. Entretanto, Ilha e Krug (2008) destacam que por ocasião do ECS um dos aprendizados dos estagiários é o emprego de estratégias para despertar o interesse e o gosto dos alunos pelas aulas de Educação Física e para tal precisam conhecer a realidade escolar e os seus alunos, bem como trabalhar com os mesmos;
4. A falta de condições de trabalho (Três citações – Acadêmicos: 5; 11 e 13) – Em relação a esta categoria referiu-se a Silva e Krug (2004) que dizem que a falta de espaços físicos para desenvolver as aulas é uma das essências do sentimento de insatisfação dos professores de Educação Física Escolar. Santini e Molina Neto (2005) reforçam esta afirmação abordando que a falta e a organização dos espaços físicos fechados para as aulas de Educação Física acarretam vários problemas a serem superados no trabalho docente. Os autores citam como desafios desta carência, por exemplo, as situações climáticas desfavoráveis onde tanto professores como alunos estão expostos ao frio, umidade ou calor excessivo; frequentemente os espaços destinados às aulas não suportam o número de alunos acarretando desordem e atitudes agressivas por parte dos alunos e ainda por se tratar de um ambiente aberto as aulas estão sujeitas a avaliações impróprias de colegas, alunos, pais ou funcionários influenciando desta forma o bom desempenho das atividades. Também Krug (2010a) afirma que os piores momentos na experiência docente dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM em situação de estágio estão relacionados com as condições de trabalho difíceis; e,
5. A interferência de estranhos na aula (Uma citação – Acadêmico: 2) – Esta categoria foi fundamentada em Krug (2011) que destaca que a interferência de estranhos nas aulas de Educação Física é um dos problemas/dificuldades na prática pedagógica dos acadêmicos da Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM em situação de estágio.
Conclusão: uma possível interpretação sobre a investigação
Pela análise das informações obtidas concluiu-se pela existência de acontecimentos que animam e que desanimam os acadêmicos na docência em situação de ECS na Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM.
O que chamou à atenção nos resultados encontrados foi a quantidade equivalente de categorias (cinco) que emergiram das percepções dos acadêmicos sobre o que anima e o que desanima na docência em situação de ECS.
Entretanto, pode-se destacar que a quantidade de citações das categorias do que anima foi maior do que a quantidade de citações das categorias do que desanima na docência em situação de ECS pelos acadêmicos, isto é, trinta e três para o que anima e vinte e sete para o que desanima.
Ainda vale a pena destacar que sete acadêmicos (1; 4; 5; 6; 7; 8 e 9) citaram mais categorias do que anima do que desanima. Seis acadêmicos (2; 12; 13; 14; 15 e 16) citaram em igual número as categorias do que anima e do que desanima. Somente três acadêmicos (3; 10 e 11) citaram mais categorias do que desanima do que anima.
A partir destas constatações inferiu-se que estes acontecimentos que animam e que desanimam os acadêmicos em situação de ECS na Licenciatura em Educação Física do CEFD/UFSM foram fatores geradores de satisfação e de insatisfação docente.
Assim, considerou-se que as cinco categorias elencadas sobre o que desanima na docência, isto é, ‘a indisciplina dos alunos’, ‘o insucesso pedagógico’, ‘o desinteresse do aluno pelas atividades propostas’, ‘a falta de condições de trabalho’ e ‘a interferência de estranhos na aula’ foram fatores geradores da INSATISFAÇÃO DOCENTE em Educação Física. Diante desta conjuntura os futuros professores, em atuação na escola (situação de ECS), mostraram-se INSATISFEITOS e conseqüentemente desmotivados com a docência. Este fato torna-se muito ‘pesado’ (crítico), pois pode levar os futuros professores a desistirem da profissão. Segundo Krug e Krug (2012) a não confirmação pela docência está ligada às experiências docentes negativas e desprazerosas efetivadas durante o ECS.
Igualmente, considerou-se que as cinco categorias elencadas sobre o que anima na docência, isto é, ‘o reconhecimento profissional pelos alunos e/ou escola’, ‘a aprendizagem dos alunos’, ‘o relacionamento com os alunos’, ‘o ato de ensinar’ e ‘o sucesso pedagógico’ foram fatores geradores da SATISFAÇÃO DOCENTE em Educação Física. Diante desta conjuntura os futuros professores, em atuação na escola (situação de ECS), mostraram-se SATISFEITOS e conseqüentemente motivados com a docência. Este fato torna-se muito ‘estimulante’, pois leva os futuros professores a confirmarem o desejo de serem professores. Segundo Krug e Krug (2012) a confirmação pela docência está ligada às experiências docentes positivas e prazerosas efetivadas durante o ECS.
Mediante a este cenário foi pertinente citar Barreto (2007) que destaca que o que anima e desanima na docência podem transpassar cada aula ministrada, isto é, existirá o prazer e desprazer. Ainda ressalta que o oficio docente está mesclado dos antagonismos inerentes à condição humana, por exemplo, satisfação e insatisfação, que convivem juntos, dialogam no ato de ensinar e na arte de conviver. É presença constante na vida do professor (ou futuro professor). Já Krüger et al. (2008) coloca que o ECS é um momento dentro da formação inicial em que os estagiários vivenciam e experenciam diferentes situações, as quais podem caracterizar-se ora desprazerosas, ora prazerosas, isto em função da aprendizagem docente e da prática educativa estabelecidas.
Para Folle et al. (2008) a satisfação profissional pode ser compreendida tanto como um conjunto de sentimentos favoráveis em relação ao contexto de atuação, quanto um sentimento positivo dos professores (no caso desta investigação dos futuros professores) perante a sua profissão, originados nos fatores contextuais e/ou pessoais e exteriorizados pela dedicação, defesa e felicidade com o trabalho desenvolvido.
Nesta perspectiva, Maura e Rodrigues (apud FOLLE et al., 2008), afirmam que a tendência do nível de satisfação profissional dos educadores (ou futuros educadores) está relacionada à manifestação de vivências afetivas que o professor (ou futuro professor) experimenta no desenvolvimento de sua atuação. Ele pode se expressar da seguinte forma: satisfação (quando o sujeito se sente satisfeito com o desenvolvimento de sua atividade profissional, independentemente de obstáculos que tenha que enfrentar); contradição/indecisão (quando o sujeito experimenta experiências contraditórias de agrado e desagrado); e, insatisfação (quando o sujeito expressa vivências de desagrado com a atividade profissional).
Desta forma, considerando-se o exposto anteriormente, inferiu-se que possivelmente sete acadêmicos (1; 4; 5; 6; 7; 8 e 9) ficaram satisfeitos com a sua docência no ECS, seis acadêmicos (2; 12; 13; 14; 15 e 16) demonstraram contradição/indecisão e três acadêmicos (3; 10 e 11) ficaram insatisfeitos com a sua docência no ECS.
Resumindo, segundo Ripon (apud RAMOS, 2009), a satisfação é o estado emocional em que o individuo se vê entre o que ele espera do si mesmo e o que ele pode ainda retirar através de seu esforço, então insatisfação e a satisfação são os resultados possíveis do encontro entre o homem e os seus comportamentos, por um lado, e, por outro, são as situações reais e aquelas que ele procura.
Para finalizar, sugere-se a realização de investigações mais aprofundadas sobre a formação inicial dos professores de Educação Física e em particular sobre o Estágio Curricular Supervisionado, pois este momento é muito importante para uma formação de qualidade.
Referências
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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 170 | Buenos Aires,
Julio de 2012 |