efdeportes.com

Níveis de obesidade, hábitos alimentares e prática de 

atividades físicas desportivas em escolares do 6º ano 

de uma escola estadual do interior de Minas Gerais

Niveles de obesidad, hábitos alimenticios y práctica de actividades físicas y deportivas 

en escolares de sexto grado de una escuela estatal del interior de Minas Gerais

 

*Mestrado em Pedagogia da Educação Física

Professor do Departamento de Educação Física da FAGAMMON

**Graduando em Educação Física

***Mestrado em Bioética, Saúde e Pesquisa com Seres Humanos

Professor do Departamento de Educação Física da FAGAMMON

(Brasil)

Arryson Magalhães Zenith*

arryson.zenith@hotmail.com

Éderson Nunes Silva**

edinhoedfisica@hotmail.com

Thalles Magalhães Ferreira**

thallesmagalhaes_@hotmail.com

Tomaz Edson de Abreu***

tomaz_edson@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do estudo é descrever e analisar os níveis de obesidade, hábitos alimentares e prática de atividades físicas desportivas em 55 alunos, pertencentes a ambos os gêneros, na faixa etária de 11 e 12 anos da rede estadual de ensino. Foram mensurados estatura, peso corporal para o índice de massa corporal por idade e percentual de gordura de duas dobras cutânea. Feito um estudo descritivo da media, desvio padrão e teste t Student não encontrado diferenças ao nível de significância 5%. Houve maior incidência e elevado percentual de gordura corporal no gênero masculino, enquanto o feminino manteve-se dentro da faixa adequada. Verificou-se pouca prática de atividades físicas desportivas acompanhadas de uma alimentação desregrada em ambos os gêneros com grande dedicação às atividades diárias com baixo consumo energético. O gênero masculino foi mais acometido pela alteração da composição corporal nos aspectos de percentual de gordura.

          Unitermos: Obesidade. Gênero. Composição corporal. Educação Física.

 

Abstract

          The aim of this study is to describe and analyze the levels of obesity, eating habits and physical activities in 55 sports students, belonging to both genders, aged between 11 and 12 years of state schools. We measured height, weight for body mass index by age and body fat of two skin folds. Is a descriptive study of the mean, standard deviation and Student t test found no differences at 5% significance level. There was a higher incidence and higher percentage of body fat in males, while females remained within the proper range. There was little physical activity accompanied by sporting a riotous power in both sexes with great dedication to their daily activities with low power consumption. The males were more affected by the change in body composition in the aspects of body fat percentage.

          Keywords: Obesity. Gender. Body composition. Physical Education.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 170 - Julio de 2012. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Atribuído de maneira direta à Revolução Industrial, seguida de alterações drásticas nos hábitos de vida (redução da prática de atividades físicas, sendo elas orientadas ou não e uma alimentação de alta concentração energética), o índice de peso corporal da população mundial vem aumentando de forma contínua (BARBOSA, 2004).

    A obesidade ultrapassou, em número de casos, alguns antigos agravos à saúde como a desnutrição e as doenças infectocontagiosas, independentemente do gênero, raça, idade, condição socioeconômica ou qualquer outro fator (OLIVEIRA e MARCHINI, 2008).

    É sabido que a obesidade é multifatorial, onde destacamos aspectos bioquímicos, genéticos, psicológicos, fisiológicos e ambientais (MONTOANELLI et al, 1997). A manutenção do peso corporal e, por conseqüência da composição corporal no decorrer da vida é produto de um balanço adequado entre a ingesta calórica e o consumo energético (SCHUTZ, 1995). Portanto, a ausência ou pouca prática de atividades físico-esportivas e os maus hábitos alimentares são, indubitavelmente, os principais fatores predisponentes para o surgimento da obesidade (MONTOANELLI et al, 1997; USA-PHS, 1980; RUIZ e RUIZ, 1993).

    Os componentes de uma família expõem-se mutuamente aos hábitos tanto culturais quanto alimentares que, de uma maneira ou outra influenciam consideravelmente o aumento de massa corpórea, principalmente no que diz respeito à massa gorda, ou seja, gordura propriamente dita (NEGRÃO et al, 2000). Somando-se a esses fatores a pouca ou nenhuma prática de atividades físico-esportivas, temos então, os principais fatores etiológicos responsáveis tanto pelo surgimento quanto pelo crescimento da prevalência da obesidade nas populações urbanas do ocidente (AXELRUD, GLEISER, FISCHMANN, 1999)

    Sendo assim, torna-se de fundamental importância elevar o nível de prática de atividades físico-esportivas para crianças e adolescentes, bem como incentivar a formação de hábitos nutricionais saudáveis, proporcionando condições efetivas para sua realização. Esses aspectos, teoricamente simples, são as maiores armas para uma política de vida saudável entre crianças e adolescentes (NEGRÃO et al, 2000). As instituições educacionais têm como um dos principais objetivos fazer com que o aluno conheça e cuide do próprio corpo valorizando e adotando hábitos de vida saudáveis como um dos aspectos básicos de saúde e qualidade de vida (PCN, 1997). A escola deve ser um ambiente mais favorável para a promoção das atividades físicas em crianças e adolescentes, principalmente por permitir a realização de intervenções interdisciplinares e multiprofissionais

    Os adolescentes passam grande tempo do seu dia dentro das escolas, fazendo com que, está tenha uma grande influência no seu modo de vida. Visando com base no contexto da obesidade em adolescentes a escola juntamente com o profissional de Educação Física, devem buscar algumas soluções praticas para minimizar e esclarecer a incidência da obesidade em adolescentes. As Orientações Curriculares para a Educação Física (2006) reiteram a necessidade de uma aproximação das abordagens biológicas com as socioculturais, quando consideram como grande desafio dos educadores a compreensão de que a cultura é algo que se move, que se transforma, tanto dentro quanto fora da escola, pela ação de sujeitos concretos (professores e alunos): pessoas de carne e osso que constroem seu dia-a-dia e interferem na vida social a partir do seu cotidiano.

    Portanto, essa pesquisa em escolares de ambos os gêneros, na faixa etária entre 10 anos e 12 anos, integrantes do 6o ano do Ensino Fundamental II de uma Escola Estadual do interior de MG, é de fundamental importância para que, possa identificar os quadros de sobrepeso e obesidade nessa população específica visando uma intervenção mais precoce, por este motivo a escolha desta faixa etária e também relacionar os diversos fatores que levam ao surgimento destes distúrbios metabólico, tendo condições de indicar estratégias de intervenção cabíveis e promover uma diminuição do ambiente obesogênico na escola, na família e, por conseqüência na sociedade em geral. Para isso temos também o objetivo de descrever e comparar os hábitos alimentares dos alunos, suas práticas físicas e desportivas dentro e fora do ambiente escolar, avaliar comparar e descrever a composição corporal dos objetos da pesquisa.

Materiais e métodos

Delineamento do estudo

    O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa de natureza aplicada, com abordagem quantitativa, utilizando procedimentos técnicos de um estudo descritivo. A pesquisa foi encaminhada ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências da Saúde Dr. Antônio Garcia Coutinho da Universidade do Vale do Sapucaí UNIVÁS - Pouso Alegre MG, datado de 09 de novembro de 2011 tendo sido aprovado pelo processo (protocolo) de no: 1791/11. Autorizado pelo diretor da escola e também com a assinatura e autorização dos pais dos alunos por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

População e amostra

    A população do estudo foi constituída por 147 escolares, de ambos os sexos, matriculados e freqüentando regularmente o 6º ano de uma escola do município do interior de MG.

    A escolha da amostra foi realizada por meio de sorteio, em que foram selecionados 40% dos escolares pertencentes ao contingente total de cada sexo. Desse modo, do universo de cinqüenta meninos foram selecionados vinte escolares, já no total de oitenta e sete meninas foram sorteadas trinta e cinco para fazer parte da pesquisa.

    Foi realizado um pré-teste dos instrumentos com um grupo de dez escolares da mesma instituição de ensino e da mesma idade, de forma a captar possíveis falhas e incongruências.

Instrumentos

    Para obter a massa corporal dos escolares utilizou-se uma balança antropométrica mecânica (Indústrias Fillizola S.A.) com capacidade de 0-150 kg e precisão de 100 g. Para verificar a estatura foi utilizada a haste específica da balança (estadiômetro), com precisão de 0,1 cm. O índice de massa corporal (IMC) foi computado utilizando a fórmula: IMC (kg/m2) = massa corporal (kg) /estatura2 (m2).

    As dobras cutâneas (tricipital e subescapular) foram aferidas com o adipômetro CESCORF Innovare com precisão de 0,5 mm. O percentual de gordura corporal (% GC) foi estimado a partir da somatória das dobras tricipital e subescapular usando-se a equação preditiva de Slaughter et al (1988) que, considera as variações sexuais nos seus cálculos. Para o a análise estatística dos dados foi utilizado o Microsoft Office Excel 2003.

    A classificação seguida foi normal, sobrepeso ou obesidade, de acordo com IMC/idade, segundo os limites propostos por Viuniski (2001).

    Para coleta de dados foram utilizados 04 instrumentos, sendo:

  • Questionários para levantamento dos hábitos alimentares: numero de refeições/dia, tipos de alimentos preferidos, freqüências semanal de ingestão de determinados alimentos. - Prática de atividades físicas no dia-a-dia: como se desloca até a escola, tempo de percurso, freqüência de brincadeiras na rua, tipos de brinquedos que possui, horas/dia destinadas a atividades diversas (GODIN e SHEPHARD, 1985).

  • Prática de exercícios físicos/atividades esportivas no dia-a-dia: número de aulas de educação física escolar/semana; número de profissionais de educação física da escola, frequência da participação nas aulas de educação física escolar; estrutura física da escola para as aulas de educação física, materiais e equipamentos específicos disponíveis para as aulas de educação física, classificação subjetiva do nível de esforço nas aulas de educação física, prática esportiva e/ou recreativa fora do ambiente escolar; frequência dessas atividades; duração dessas atividades, percepção subjetiva do aluno relacionado às aulas de educação física escolar. (GODIN e SHEPHARD, 1985),

  • Formulário para registro de dados relativos á composição corporal: estatura, peso corporal, dobras cutâneas e IMC.

Resultado

    Após analise descritiva média, desvio padrão e erro padrão do IMC e %GC das amostras (meninos e meninas), Aplicou-se o teste t entre as duas amostras não encontrando diferenças ao nível de significância de p<0,05 (dados paramétricos), conforme Tabelas 1 e 2.

Tabela 1. Analise descritiva dos dados: meninos (n=20)

 

Tabela 2. Analise descritiva dos dados: meninas (n=35)

    A característica da faixa etária, independente do gênero, houve equilíbrio entre indivíduos de 11 anos com 27 representantes (49,09%) e 12 anos com 28 (50,90%), apresentando média geral de idade de 11,5 anos.

    A Tabela 3 nos mostra, que a grande ingestão de alimentos hipercalóricos é à base da alimentação dos integrantes do estudo, principalmente no gênero masculino, tendo como carro chefe, alimentos industrializados.

Tabela 3. Caracterização quanto aos hábitos alimentares (n =55)

    Outro aspecto a ser destacado, de acordo com a Tabela 4, é a grande dedicação de horas/dia a atividades lúdico-intelectuais, que têm por característica um baixo consumo energético. Tais procedimentos proporcionam grande possibilidade do aumento do peso corporal associado à elevação do % de gordura.

Tabela 4. Caracterização quanto à prática de atividades lúdico-intelectuais (n =55)

    Esses dados nos remetem ao estudo de Claudino e Zanella (2005) onde os autores afirmam que, a partir da seleção natural e com o surgimento de organismos humanos altamente capacitados em armazenamento de energia e uma vida mais sedentária, fruto dos avanços científicos e tecnológicos (automóvel, televisão, computador e outros), viabilizou, como consequência da evolução da sociedade, o surgimento da obesidade como um sério problema de saúde pública.

Discussão

    Identificou-se que 48 (87,27%) participantes do estudo fazem o percurso de casa/escola e vice-versa, comumente, a pé, fato este por ser uma escola do interior, enquanto 07 (12,72%) participantes deslocam-se de carro ou ônibus. Ressalta-se ainda que, 35 (63,63%) alunos possuem bicicletas, porém, não as utilizam para fins de deslocamento.

    No que diz respeito ao tempo destinado ao deslocamento até a escola, encontrou-se que 48 (87,27%) alunos perfazem este trajeto a pé. Esses dados representam que 23 (47,91%) participantes gastam de 11 a 20 minutos; 14 (29,16%) gastam até 10 minutos; 09 (18,75%) gastam de 21 a 30 minutos e, apenas 02 (4,16%) gastam mais de 30 minutos.

    Relacionado aos hábitos de brincadeiras de rua apurou-se que 15 (27,27%) estudantes brincam na rua no mínimo 05 vezes/semana; 13 (23,63%) brincam de 01 a 02 vezes/semana. Identificou-se também que 11 (20,00%) crianças não se utilizam de brincadeiras de rua.

    Sobre as práticas de atividades esportivas fora do ambiente escolar, houve um equilíbrio entre os que fazem e os que não fazem, respectivamente, 27 (49,09%) e 28 (50,90%) de acordo com, fato este que, pode estar relacionado com a preferência de jogos eletrônicos, computador e assistir TV, onde a média diária para essas atividades foi de 2 a 3 horas/dia. Entre os que praticam atividades esportivas fora do ambiente escolar, a freqüência de participação nessas atividades é de 2 vezes/semana, com duração média de 1 hora/dia.

    Relacionado à composição corporal encontrou-se que no grupo feminino 20 (57,14%) alunas estavam com % de gordura adequado (15,01 a 25%) de acordo com Bristish Journal of Nutrition, (1990). Já no grupo masculino 08 (40%) alunos estavam com % de gordura moderadamente alto (20,01 a 25%) segundo Gráfico 1

Gráfico 1. Predição do % gordura considerando-se dobras cutâneas triciptal e subescapular (n=55)

    Esse achado diverge com o estudo de Papadimitriou et al (2002), pois, eles afirmam que as diferenças entre os gêneros, relacionado à adiposidade corporal subcutânea, ocorrem naturalmente durante toda a vida, contudo, tais diferenças se acentuam ao longo da puberdade, uma vez que nesse período uma redução nos depósitos de gordura subcutânea tende a ocorrer nos meninos, ao contrário do que é observado nas meninas. Já o IMC normal, de acordo com a tabela proposta por Viunisk (2001) tanto do gênero masculino quanto o feminino, em percentuais relativos, se manteve bem próximos, respectivamente, 65,00% para o masculino e 65,71% para o feminino (Gráfico 2).

Gráfico 2. Predição do IMC relacionado ao peso/estatura (n=55)

    Em estudo realizado por Ferreira (2008) com estudantes do ensino fundamental da cidade satélite de Taguatinga DF, esses dados se assemelham visto que 70,00% dos meninos e 72,00% das meninas foram considerados eutróficos.

    De forma geral, 36 (65,45%) participantes do estudo estavam com o IMC dentro da normalidade e 26 (47,47%) com o % de gordura corporal adequado (Gráfico 3).

Gráfico 3. IMC e % de gordura corporal geral (n=55)

    Sobre os hábitos alimentares, 32 participantes (58,18%) fazem de 3 a 4 refeições/dia, 15 (27,27%) realizam de 5 a 6 refeições/dia e 8 (14,54%) de 1 a 2 refeições/dia, onde a ingestão de refrigerantes, doces e balas, massas, leites e derivados e cereais de milho (tipo cheetos, fandangos...), são a preferência para os participantes do estudo. O estudo teve suas limitações por ter uma amostra pequena, devido o número da população de escolares ser de uma cidade do interior e não ter sido pesquisado o nível sócio econômico e também à etnia dos escolares.

Conclusão

    A Educação Física tem passado por muitas transformações nos últimos anos, deixando de enfatizar apenas o desenvolvimento de aptidão física relacionada ao desempenho para incluir a aptidão física relacionada à saúde. Observa-se que a educação física escolar, apoiada nesta necessidade emergente, está inserindo gradativamente, conteúdos pedagógicos relacionados à atividade física numa perspectiva de promoção de saúde.

    Ao se implementar uma proposta de Educação Física Escolar que possibilite o desenvolvimento de um estilo de vida saudável, faz-se necessário identificar os comportamentos de risco e, assim, estimular e conduzir a alteração de hábitos negativos durante a infância e a adolescência. Neste contexto, a antropometria pode servir como uma valiosa ferramenta prática do professor de Educação Física, provocando e estimulando mudança de comportamento e a aquisição de hábitos positivos à saúde de seus alunos.

    Concluiu-se que a predominância dos participantes do estudo do gênero feminino encontrava-se na classificação de IMC normal e com o % de gordura dentro da faixa adequada. O estudo permitiu ainda concluir que grande parte dos pesquisados, especificamente, pertencentes ao gênero masculino, encontravam-se com o % de gordura moderadamente alto. Aspecto este, possivelmente, relacionado à inadequação do número de refeições/dia e da pouca qualidade dos nutrientes prioritariamente ingeridos (industrializados), somando-se ainda, a preferência por atividades lúdico-intelectuais com baixo dispêndio energético, com o agravante de uma prática semanal de atividades físicas e/ou esportivas com pequeno volume e intensidade, propiciando o surgimento de um ambiente obesogênico.

    Podemos então dizer que, a obesidade afeta a todos, sendo que a melhor forma de combatê-la é buscando melhorar o conhecimento e a divulgação sobre o assunto, um dos objetivos deste estudo, a prevenção através de um trabalho conjunto entre todos aqueles que estão em constante contato com os adolescentes, dando suporte aos mesmos, a suas famílias e a comunidade.

Referências

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 170 | Buenos Aires, Julio de 2012  
© 1997-2012 Derechos reservados