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Níveis de autodeterminação em atletas de vôlei 

masculino: um estudo com praticantes em clubes

Niveles de autodeterminación en jugadores de voleibol masculino: un estudio con practicantes en clubes

 

*Graduada em Psicologia pela Universidade Feevale

**Graduado em Psicologia pela PUC-RS

Especialista em Ciências do Esporte pela UFRGS

Mestre em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS

Doutor em Esporte e Rendimento pela Universidade de Cadiz

***Graduado em Psicologia pela Unisinos

Mestre em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS

Doutor em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS

Psic. Renata Cristina de Oliveira*

Dr. Márcio Geller Marques**

Dr. Marcus Levi Lopes Barbosa***

marcus_barbosa@yahoo.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Tomando como base os pressupostos da Teoria da Autodeterminação de Deci e Ryan (1985) o tema deste estudo é a autodeterminação na prática de atividades esportivas em atletas praticantes de voleibol de clube. O objetivo é identificar semelhanças e diferenças estatísticas (p< 0,05) nos escores médios obtidos com atletas de vôlei, sendo todos do sexo masculino e com idades de 14 a 33 anos. Os instrumentos utilizado um Questionário Bio-Sócio-Demográfico (apenas para controle das variáveis dependentes: sexo, idade) e o “Inventário de Autodeterminação à Prática Esportiva” (BALBINOTTI; BARBOSA, 2009). Os resultados indicaram uma predominância da motivação mais autodeterminada, sendo que os níveis de autodeterminação decrescem significativamente (p < 0,05) da motivação intrínseca até a regulação externa. Entretanto, a regulação externa apresenta níveis estatisticamente semelhantes (p > 0,05) aos da amotivação.

          Unitermos: Motivação. Autodeterminação. Voleibol.

 

Abstract

          Based on the assumptions of Determination Theory of Deci and Ryan (1985) the subject of this study is the self-determination in sports activities in athletes practicing volleyball clubs. The goal is to identify similarities and differences (p < 0.05) in mean scores obtained with volleyball athletes, all male and aged 14-33 years. The instruments used a questionnaire Bio-Socio-Demographic (only for control of the dependent variables: gender, age) and the "Inventário de Autodeterminação à Prática Esportiva" (BALBINOTTI; BARBOSA, 2009). The results showed a predominance of more self-determined motivation, and the levels of self-determination decreases significantly (p < 0.05) of intrinsic motivation by external regulation. However, external regulation had levels statistically similar (p > 0.05) to the amotivation.

          Keywords: Motivation. Self-Determination. Volleyball.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 170 - Julio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O propósito deste estudo foi o de descrever o perfil motivacional de um grupo de praticantes de voleibol. Para tanto foram explorados os níveis de autodeterminação destes atletas, logo após se verificou a existência de diferenças e semelhanças estatísticas (p < 0,05) entre os níveis de seis dimensões motivacionais medidas neste grupo.

    Os motivos que determinam a prática esportiva tem sido um dos temas mais estudados na área da Psicologia do Esporte, desde o início da década de 1980 (HARWOOD; PACHECO, 2009). Sendo assim, a análise da motivação torna-se um fator importante para o entendimento das diferenças individuais no esporte, já que alguns atletas persistem na prática esportiva enquanto outros desistem nas primeiras ocasiões de insucesso, mostrando que há padrões motivacionais adaptáveis para alguns indivíduos (FERNANDES; RAPOSO, 2005).

    Quando um indivíduo executa uma ação ou algum comportamento dizemos que ele tem algum nível motivacional para isso. A motivação é responsável por regular, determinar e dirigir o comportamento das pessoas. Assim, com o intuito de explicar a motivação, Deci e Ryan (1985) criaram a Teoria da Autodeterminação, a fim de tornar claro os níveis de motivação e os fatores que interferem no comportamento humano (PACHECO, 2009). Esta teoria determina que os comportamentos, bem como as ações, podem ser originados tanto pela Motivação Intrínseca quanto pela Motivação Extrínseca, bem como podem ser extintos pela Amotivação (DECI; RYAN, 2000; BARBOSA, 2011).

    A palavra motivação tem sua origem no verbo latino “movere” que significa mover. Deste modo, a motivação implica em movimento, ativação, sendo a causa de termos como: excitação,energia, intensidade e ativação serem utilizados para descrever um estado altamente motivado (HERNANDEZ; VOSER; LYKAWKA, 2004).

    A motivação é referida como uma das variáveis que desperta ou dirige uma pessoa para a atividade física e, em última análise, rumo a uma determinada meta. Certas situações tendem a motivar a maioria das pessoas, enquanto outras provocam respostas específicas e compatíveis com personalidades individuais (MACHADO, 1997).

    Sendo produto de um conjunto de variáveis sociais, ambientais e individuais, a motivação tende a determinar a eleição de uma modalidade física ou esportiva, e a intensidade da prática dessa modalidade é o que determinará o rendimento (HERNANDEZ; et al., 2004).

    As pessoas se motivam para realizar aquelas atividades que lhes permite executar as suas necessidades. Assim, a questão é descobrir essas necessidades, uma vez que podem variar de pessoa para pessoa. Portanto, para uma compreensão total da motivação é preciso ponderar as características singulares e o ambiente individual de cada atleta (SARMENTO, 2007).

    Com o intuito de explicar a motivação que influencia o comportamento humano, Deci e Ryan (1985) criaram a Teoria da Autodeterminação que dá suporte aos estudos sobre o assunto. De acordo com a Teoria da Autodeterminação, o comportamento é regulado por três necessidades psicológicas básicas, que atuam de forma interdependente: competência, autonomia e relacionamento. Sendo que a competência se refere à “capacidade do indivíduo de interagir de maneira eficaz com o seu ambiente enquanto realiza tarefas desafiadoras”; a autonomia diz respeito “ao nível de independência e controle das escolhas percebidas pelo indivíduo”; e o relacionamento é relativo a “quanto alguém percebe um senso de conectividade com outras pessoas do ambiente” (VISSOCI; F. VIEIRA; OLIVEIRA; L. VIEIRA, 2008).

    Deste modo, o comportamento se articula em função do contentamento dessas necessidades, facilitando ou dificultando a motivação, e assim, resultando em dois comportamentos reguladores: “um comportamento percebido como independente e próprio do indivíduo, com ações iniciadas e reguladas pelo sujeito (Motivação Intrínseca)”; e outro comportamento norteado intensamente por mecanismos externos (Motivação Extrínseca) (RAYN; DECI, 2000).

    A Motivação Extrínseca está ramificada em quatro grupos diferentes de regulação, indo do menos ao mais autodeterminado. No primeiro nível (menos autodeterminado) está a regulação externa, no qual o causador da ação é um estímulo externo, estando a ação do indivíduo diretamente ligada a prêmios, imposições de outras pessoas, castigos, punições... Em seguida vem a introjeção na qual o indivíduo realiza a atividade pela vontade de outros, estando presente o agente social (professor, amigo, chefe) que contribui na regulação da ação. Já a regulação identificada acontece quando a pessoa vai ficando mais integrada a atividade, aumentando a sua consciência sobre valor e importância e conseqüentemente, identificando-se com a atividade. E por último e num nível mais autodeterminado está a regulação integrada que é quando o indivíduo incorpora comportamentos de outros como parte de seus valores pessoais.(BARBOSA, 2011).

    Ainda dentro desta perspectiva, aparece a Amotivação que é uma “construção motivacional percebida em indivíduos que ainda não estão adequadamente aptos para identificar um bom motivo para realizarem alguma atividade física”. Assim, estes indivíduos pensam que a atividade ou não lhes trará algum benefício, ou eles não conseguirão realizá-la de modo satisfatório (BRIÈRE et al., 1995).

    Com bases nessa teoria, fica determinado que a motivação é contínua e caracterizada por níveis de autodeterminação que podem variar do menos autodeterminado (amotivado), passando pelo motivado extrinsecamente e chegando ao mais autodeterminado (motivação intrínseca). Sendo assim, é preciso que a atividade desempenhada pelo indivíduo seja “realizada com autonomia e determinação, onde o indivíduo sinta-se capaz e busque esforços para ser o agente de suas próprias ações determinando assim o seu próprio comportamento” para que possamos dizer que ele está realmente autodeterminado (motivado intrinsecamente) (BARBOSA, 2011).

    Portanto, a teoria da Autodeterminação tem como objetivo o entendimento da energia e direção do comportamento motivado, postulando a existência de necessidades psicológicas básicas e inatas que movimentam os indivíduos, sendo determinadas como os nutrientes essenciais para uma relação efetiva e saudável com o meio. Quando satisfeita a necessidade psicológica, ela promove sensação de bem-estar e um efetivo funcionamento do organismo (SARMENTO, 2007).

Método

Amostra

    Para esta pesquisa foi utilizada uma amostra de 35 praticantes gaúchos de voleibol em clubes, com idades variando de 14 a 33 anos, todos do sexos masculino. A amostra foi escolhida pelos critérios de disponibilidade e acessibilidade (MAGUIRRE; ROGERS, 1989).

Instrumento

    Foram utilizados dois instrumentos: um Questionário Bio-Sócio-Demográfico (apenas para controle das variáveis dependentes: sexo, idade) e o “Inventário de Autodeterminação à Prática Esportiva” (BALBINOTTI e BARBOSA, 2009). Trata-se de um inventário que avalia 5 níveis de autodeterminação (Motivação Intrínseca, Regulação Identificada, Regulação Internalizada, Regulação externa e Amotivação), com 5 itens por dimensão. As respostas aos itens do inventário são dadas conforme uma escala bidirecional, de tipo Likert, graduada em 5 pontos, indo de “discordo totalmente” (1) a “concordo totalmente” (5).

Procedimentos

    Os dados foram colhidos em pequenos grupos, no clube onde praticam o esporte. Todos os participantes assinaram o Consentimento Livre e Esclarecido para participação em pesquisa. Procedimentos de coleta dos dados foram planejados para atender o que preconiza a Resolução 196/96 e complementar do Conselho Nacional de Saúde O Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul analisou e aprovou o projeto, sob o número 2008055.

Apresentação dos resultados

    Para responder ao objetivo desta pesquisa, procedeu-se à exploração dos escores obtidos segundo princípios norteadores comumente aceitos na literatura especializada (Pestana e Gageiro, 2003; Reis, 2000). Segue-se a apresentação dos das estatísticas descritivas gerais, e, das comparações das médias.

Estatísticas descritivas gerais

    A fim de descrever os resultados obtidos, apresentam-se às estatísticas de tendência central (média); de dispersão (desvio-padrão e amplitude total). Como se pode observar na Tabela 1, os índices obtidos nas médias das dimensões motivacionais dos praticantes de esporte variaram consideravelmente (de 8,28 a 21,88). Em valores nominais o nível de autodeterminação mais elevado foi a Motivação Intrínseca. No outro extremo, a Regulação Externa apresentou os níveis mais baixos. O Gráfico 1 permite melhor visualizar estas variações.

Gráfico 1. Variação dos níveis de autodeterminação

    Quanto ao desvio-padrão (ver Tabela 1), não ocorreram grandes variações entre as diferentes dimensões. Em nenhuma dimensão os valores dos desvios-padrão ultrapassaram a metade do valor nominal das médias, indicando que a variabilidade dos dados é satisfatória. No que diz respeito aos valores referentes à amplitude total, houve bastante variação entre as dimensões (de 10 a 16 pontos). Ainda, apenas as dimensões Motivação Intrínseca e Regulação Identificada apresentaram valor máximo coincidente com os valores máximos esperados para a distribuição (25). As demais dimensões apresentaram valores máximos que se situaram relativamente próximos a este valor. Quanto aos valores mínimos, a variabilidade observada é relativamente alta (de 5 a 15 pontos), considerando o valor nominal expresso. Esta variabilidade encontrada (10 pontos) indica certa dispersão nos casos extremos à esquerda da curva.

Tabela 1. Estatísticas de Tendência Central, de Dispersão e Distribuição da amostra

Comparações das médias

    Com o objetivo de verificar a adequação do uso de testes paramétricos para a comparação das médias das dimensões motivacionais, primeiramente testou-se a homogeneidade das variâncias entre as dimensões, que foi rejeitada (W = 0, 153; gl = 9; p < 0,01), através do teste de Mauchly. Sendo assim, conduziu-se um Teste t Pareado com o intuito de verificar as dimensões que melhor descrevem a motivação dos praticantes de esportes. O uso de testes paramétricos é adequado porque não há problemas relevantes de distribuição e o “n” da amostra em questão é maior que 30 (PESTANA e GAGEIRO, 2003).

Tabela 2. Comparações entre os níveis de autodeterminação

    Os resultados (ver Tabela 2) indicam não haver diferenças significativas entre as dimensões Regulação Externa e Amotivação. Entre todos os demais níveis de autodeterminação, diferenças altamente significativas foram encontradas. Este resultado indica que há uma queda constante (o que pode ser bem visualizado no Gráfico 1) nos níveis na medida em que a regulação se torna mais externa. Estas quedas nos níveis acontecem até a Regulação Externa, sendo que esta regulação apresenta viveis estatisticamente iguais aos da Amotivação.

Discussões e considerações finais

    O propósito deste estudo foi descrever o perfil motivacional de adolescentes praticantes de voleibol. Para tanto, foram explorados os níveis de autodeterminação destes atletas e, logo após, se verificou a existência de diferenças e semelhanças estatísticas (p < 0,05) entre os níveis de seis dimensões motivacionais medidas. Para tanto foi utilizada uma amostra de 35 sujeitos com idades entre 14 a 33 anos, do sexo masculino.

    Os resultados obtidos revelaram que os atletas avaliados possuem uma motivação bastante autônoma, com predominância da Motivação Intrínseca e Regulação Identificada. Os demais níveis de autodeterminação desempenham papel secundário na composição do perfil motivacional destes atletas.

    Levando em conta os referencias teóricos apresentados deste trabalho (DECI; RYAN, 1985; 2000), pode-se considerar que o fato da motivação intrínseca ser predominante é positivo, pois esses atletas tendem a buscar sua satisfação pessoal, já que a sua atividade física é desempenhada de forma prazerosa. Eles propendem a se sentir capazes de praticar seu esporte, assim sendo, indivíduos mais autodeterminados.

    Na mesma direção, a regulação identificada apresentou escores expressivos no perfil motivacional, de forma que pode-se dizer estes atletas reconhecem e aceitam o valor do esporte nas suas vidas, mesmo ainda sendo propensos a motivar-se por fatores com os quais se identificam, tais como a consciência da importância da atividade física para um estilo de vida saudável e com qualidade. Sendo assim esses atletas aliam na realização de sua atividade o prazer e alguns ganhos externos.

    É positivo o fato da amotinação e da regulação externa não terem desempenhado um papel significativo no perfil motivacional destes atletas, já que seria muito frustrante praticar um esporte sem ter motivação alguma para este. Além disto, praticar apenas motivado por uma “recompensa” externa, tendo pouco interesse pela tarefa, empobrece a própria tarefa.

    Estes resultados trazem informações importantes a psicólogos e treinadores que, ao elaborem seus programas de treinamentos, deveriam levar em consideração estes resultados. Estudos futuros poderiam explorar as diferenças nos perfis motivacionais de praticantes do sexo feminino bem como de outras idades, ou ainda verificar os perfis motivacionais de praticantes de outros contextos da prática esportivas.

Referências

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