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Implicações do gênero na adesão a prática de corridas de rua

Implicaciones de género en la adhesión a la práctica de las carreras de calle

Gender implications in the adherence to the outdoor running

 

*ULBRA – Educação Física/LAFIMED, Canoas, RS

**Veloz Assessoria Esportiva, Porto Alegre, RS

***UERGS - Coordenadora Unidade Alegrete, RS

****UFRGS - LAPEX, Porto Alegre, RS

(Brasil)

Andréa de Carvalho Alves* | Eduardo Campelo**

Daniel Fortes** | Adriana Barni Truccolo***

Marcelo Cardoso**** | Luiz Crescente*

Osvaldo Donizete Siqueira*

odonizete@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo teve por objetivo identificar se há diferença nas razões para homens e mulheres aderirem à prática de corrida de rua. A amostra foi composta por 25 mulheres e 25 homens, faixa etária entre 24 e 55 anos de idade, participantes de uma prova de corrida de rua realizada na cidade de Porto Alegre, no ano de 2011. O instrumento utilizado na coleta dos dados foi um questionário elaborado por Truccolo (1996), constituído e validado para avaliar motivos de adesão à prática de exercício. Os resultados foram analisados através do teste t de student, teste de Mann-Whitney e teste Qui quadrado a um nível de significância de 5%. Embora o estudo não tenha mostrado diferença significativa nas razões para homens e mulheres exercitarem, um maior percentual de homens aderem à corrida pelas razões: distração, saúde, alívio do estresse e apreciar estar ao ar livre. Para as mulheres as principais razões foram: Saúde, melhora da autoestima e distração. O conhecimento dos motivos que levam homens e mulheres a aderirem à prática da corrida de rua instrumentaliza o educador físico para que possa elaborar programas que sejam atrativos e com uma maior perspectiva de retenção do aluno.

          Unitermos: Corrida. Motivação. Exercício físico. Gênero.

 

Abstract

          The purpose of this study was to identify whether there are differences in reasons for men and women join the practice of outdoor running. The sample was comprised by 25 women and 25 men, aged between 24 and 55 years of age, participants of a road race held in the city of Porto Alegre, in the year 2011. The instrument used in the data collection was a questionnaire drawn up by Truccolo (1996), established and validated to evaluate reasons for exercise adherence. The results were analyzed using student's t-test, Mann-Whitney and Chi square test to a significance level of 5%. Although the study has not shown significant differences in reasons for men and women exercise, a greater percentage of men join outdoor running for the reasons: distraction, health, relief of stress and enjoy being outdoors. For women the main reasons were: health, improves the self-esteem and distraction. The knowledge of why men and women adhere to the practice of outdoor running provides to the physical educator the tools to develop programs that are attractive and with a greater prospect of student retention.

          Keywords: Running. Motivation. Exercise. Gender identity.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 170 - Julio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) a inatividade física é considerada o quarto principal fator de risco para a mortalidade global ficando atrás somente da hipertensão arterial, tabagismo e intolerância à glicose, e causando um número estimado de 3,2 milhões de mortes no mundo. No Brasil, de acordo com a pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), realizada anualmente, pelo Ministério da Saúde, 14,2% dos adultos são sedentários. Além disso, apenas 14,9% dos adultos são ativos no tempo livre, com maior proporção nos homens (18,6%) em relação às mulheres (11,7%). Salienta-se que a OMS recomenda a prática de 30 minutos de atividade física, em cinco ou mais dias por semana.

    A prática regular de atividade física auxilia no tratamento de condições crônico degenerativas como obesidade, diabetes tipo 2, osteoporose e hipertensão arterial, é fundamental na reabilitação cardíaca, promove bem-estar, reduz o estresse, a ansiedade e a depressão, independente da intensidade com que é realizada (OMS, 2011). Dentre as diversas modalidades de atividade física a corrida é uma prática esportiva que cresce a cada ano em todo o mundo, em especial a corrida de rua (MATTHIESEN, 2007). De acordo com a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt/2009) as distâncias oficiais das corridas de rua variam entre 10 a 100 km, sempre em percursos pavimentados e somente a Federação Internacional de Atletismo (IAAF) pode vir a alterar regras e reconhecer resultados. A CBAt foi uma das primeiras confederações no mundo a garantir a distância física entre os pelotões líderes, feminino e masculino assegurando que os cortejos das provas ocorram sem interferência entre si e com isso evitando a ajuda de ritmo comum alguns anos atrás.

    Salgado et al. (2006) especulam que o aumento no número de adeptos às corridas de rua se deve a algumas peculiaridades, como ser acessível a todas as pessoas, ser uma prática de lazer, e ter o intuito mais participativo do que competitivo. Nesse cenário, Pimentel (2009) aponta o rápido e expressivo aparecimento das mulheres nas corridas por ser um esporte praticado em qualquer lugar, e com benefícios físicos, sociais e psicológicos.

    Para Adelman (2003) o esporte minimiza as diferenças socialmente construídas entre os sexos e até mesmo promove a igualdade das relações entre homens e mulheres.

    Segundo Rubio et al (1999) a transformação do papel feminino presente no meio social, econômico e político também ganhou espaço no ambiente esportivo. O modelo de sociedade patriarcal vivido há décadas atrás se transformou ao longo da história. A chefia da família deixou de ser exclusividade do homem e a mulher conquistou o seu espaço nos diversos segmentos da sociedade (DUNNING et al. 1997).

    Em 1987, Park sabiamente disse que o esporte pertence a todos, sendo parte da criação humana e que o mesmo deve ser praticado por homens e mulheres para que se desenvolva plenamente.

    A partir do acima o presente artigo teve como objetivo identificar se homens e mulheres exercitam pelas mesmas razões e quais as principais razões apontadas pelos homens e mulheres para adesão a prática de corrida de rua.

Material e método

Resultados

    A tabela 1 mostra as características sócio-demográficas da amostra. Como pode ser observado para um α de 5% não foi observada diferença significativa entre homens e mulheres com relação à idade (p=0,89). Embora a proporção de mulheres solteiras tenha sido maior, não foi suficiente para atestar significância estatística. O grupo divergiu somente no nível educacional onde as mulheres apresentaram maior grau de escolaridade do que os homens.

Tabela 1. Características sócio-demográficas da amostra

    A tabela 2 mostra o número e percentual de mulheres e homens que classificaram de acordo com o grau de importância as razões citadas para a adesão à corrida de rua.

    Não houve diferença significativa nas razões para adesão à prática de corrida de rua entre homens e mulheres. O estudo mostrou que as principais razões para os homens aderirem à corrida foram: distração (um fator de ordem social), seguida de saúde (fator fisiológico), alívio do estresse (fator psicológico) e apreciar estar ao ar livre (fator social). Para as mulheres as principais razões foram: Saúde, melhora da autoestima (fator psicológico), e distração.

    A tabela 3 mostra que homens e mulheres começaram a correr em épocas bastante variadas sendo que 75% dos homens aderiram à corrida em um período de tempo que varia entre 15 meses a 5 anos e 75% das mulheres em um período de tempo que varia entre um a quatro anos. Em comum observamos que 50% dos homens e mulheres já possuem o hábito da corrida há pelo menos dois anos com uma frequência média de 3 vezes por semana por aproximadamente 60 minutos.

Tabela 2. Razões para Homens e Mulheres Aderirem à corrida de rua

Tabela 3. Características de adesão

Discussão

    O principal achado desse estudo foi de que as razões para homens e mulheres praticarem a corrida de rua não diferem significativamente, sugerindo que as mulheres estão cada vez mais inseridas nos esportes.

    Consideramos um ponto forte deste trabalho a homogeneidade do grupo estudado tanto no perfil sócio demográfico, quanto à periodicidade da prática e tempo por sessão. Interessante de se observar é que o maior nível de escolaridade das mulheres não foi um fator determinante que diferenciasse as razões para que homens e mulheres aderissem à corrida, talvez pelo fato de que os homens na sua maioria possuíam nível superior mesmo que incompleto. Nossos achados estão de acordo com os de Florindo et al (2001) que estudaram o comportamento de 326 homens com 50 ou mais anos de idade frente ao exercício físico e encontraram correlação direta entre prática de exercícios físicos e escolaridade.

    Verificou-se que distração (um fator de ordem social), seguida de saúde (fator fisiológico), alívio do estresse (fator psicológico) e apreciar estar ao ar livre (fator social) foram, nessa ordem, razões mais pontuadas pelos homens aderirem à corrida enquanto que saúde, melhora da autoestima (fator psicológico), e distração foram as razões mais pontuadas pelas mulheres.

    A razão distração foi considerada a principal razão para os homens e a terceira razão mais importante para mulheres aderirem à prática de corrida de rua. Os achados estão de acordo com Deschamps et al. (2005) que identificaram os motivos para homens e mulheres praticarem o ciclismo indoor. Deschamps apontou que a distração foi considerada importante apenas para os homens e para as mulheres a realização pessoal foi mais evidente.

    Nossos achados mostraram que o fator saúde é o mais importante para as mulheres aderirem à corrida concordando com Oliveira (2006) que diz não ser apenas nos esportes competitivos que se observa a inserção de mulheres, e que as mesmas aderem à prática para melhorar a saúde e manter qualidade de vida. Nossos achados também concordam, em parte, com os achados de Nunomura (1998) que encontrou como sendo as principais razões de adesão à prática de exercícios físicos o aumento do condicionamento físico, a saúde e a forma física ou estética.

    Para Matthiesen (2007) a iniciação na corrida é motivada por diversos fatores, seja para melhorar o condicionamento físico, ter mais saúde, por recomendações médicas, por fazer novos amigos ou por lazer.

    De acordo com os resultados, podemos observar que o alívio do estresse foi razão importante para homens aderirem à prática da corrida. Os resultados estão de acordo com Lilliefors (1987) que afirma que o estresse, está presente em nosso cotidiano, e ocorre por diversos fatores, e que para muitas pessoas correr é um meio de aliviar a tensão do dia a dia. Em estudo comparativo entre praticantes regulares e ingressantes sedentários em um programa de atividade física, Nunomura et al (1999) constataram que a atividade física pode contribuir positivamente nos níveis de estresse para os praticantes de exercícios físicos. Segundo Tucker (2010) o alívio do estresse promovido pela prática da corrida independe do tempo e da intensidade da mesma.

    Conforme mostraram os resultados dessa pesquisa o exercício físico está diretamente relacionado à melhora e/ou aumento da autoestima das mulheres. Um estudo realizado por Macedo et al. (2003) para determinar a influência do exercício físico na qualidade de vida de universitários mostrou que pessoas que praticam exercício físico apresentam maior autoestima do que as pouco ativas. Os resultados são semelhantes aos de Truccolo et al. (2007) que encontraram como a razão mais importante para homens e mulheres aderirem ao exercício físico a melhora da autoestima. Para Matthiesen (2007) a iniciação em um programa de corrida é motivada por diversos fatores, seja para melhorar o condicionamento físico, ter mais saúde, por recomendações médicas, por fazer novos amigos ou por lazer. Em estudo realizado por Mazo et al. (2006) para avaliar a autoestima de idosos, verificou-se que a participação em programa regular de hidroginástica contribuiu de forma significativa para a melhoria da autoestima dos mesmos.

    Dentro desse contexto podemos citar como outro fator motivador para os homens praticarem exercícios físicos estar ao ar livre. Estar em contato com a natureza teve 64% de respostas como fator decisivo à prática de corrida de aventura em estudo realizado por Muradás et al (2008). Segundo estudo recente de Balmbim et al (2011) a prática de exercícios físicos ao ar livre proporciona sensações de bem estar, satisfação, é um meio de superar limites.

Conclusão

    As mulheres, ao longo do tempo, têm buscado pelas mesmas oportunidades que os homens de mostrar suas habilidades, seus talentos. A prática do exercício, do esporte, sinaliza para uma mulher contemporânea, segura, perseverante e com uma capacidade de superação de limites que altera antigos padrões e papéis sociais.

    As mulheres, biologicamente, são diferentes dos homens e isso é irrefutável. Homens são mais fortes, mais velozes e o presente trabalho mostrou que essas características não os distinguiram das mulheres significativamente nas razões que os impelem a correr.

    As mulheres não esperam um tratamento igual ao tratamento que é dispensado aos homens, são diferentes como já mencionado. As mulheres esperam por iguais oportunidades de mostrar seu talento, tanto nos esportes quanto na vida em geral.

    Através do grupo estudado, verificou-se que os fatores social, psicológico e fisiológico foram importantes tanto para os homens quanto para as mulheres aderirem à prática da corrida de rua não havendo diferenças significativas entre os grupos.

    A fim de assegurar a validade interna dos resultados foram evitados todos os potenciais vieses; por outro lado citamos como limitação do estudo a não generalização dos resultados à medida que a coleta da amostra foi realizada somente em um evento esportivo e em uma cidade do Rio Grande do Sul comprometendo, assim, a validade externa. Dessa forma sugerimos que outros estudos sejam realizados em outras cidades para que possamos cada vez mais elucidar questões relativas à adesão à prática regular de atividade física. O conhecimento das razões que levam homens e mulheres a exercitarem ou a praticarem atividades físicas é poderosa ferramenta ao educador físico que poderá elaborar programas que além de eficientes sejam eficazes propiciando a adesão e a manutenção do indivíduo no programa.

Referências

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