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Biomecânica da base baixa do karatê shotokan

Biomecánica de la base baja en el karate shotokan

Biomechanics of the low base of the shotokan karate

 

Mestre em Ciência da Motricidade Humana (CMH)

pela UCB do RJ

(Brasil)

Nelson Kautzner Marques Junior

nk-junior@uol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O karateca realiza algum ataque ou faz uma defesa estando posicionado na base. As bases mais utilizadas no karatê shotokan são a zenkutsu dachi, kiba dachi, kokutsu dachi e base livre. O objetivo do estudo foi explicar o motivo de usar uma base baixa. A base precisa ser praticada com um baixo centro de gravidade porque gera velocidade no golpe. No kata o posicionamento dos pés é grande para aumentar o equilíbrio. No kumitê (luta) a distância do afastamento dos pés merece ser mediana para ocasionar velocidade do golpe. Em conclusão, a base merece ser com um baixo centro de gravidade, mas a distância dos pés na sustentação do karateca difere no kata e no kumitê.

          Unitermos: Karatê. Base. Biomecânica.

 

Abstract

          The karate athlete practices attack and defense with use of the base. The base more uses in shotokan karate are zenkutsu dachi, kiba dachi, kokutsu dachi e kumite base. The objective of the study was to explicate the motive of use a low base. The practice of the base is with low gravity center because cause a fast attack. In kata the position of the foot is grand for cause more equilibrium. In kumite (fight) the position of the foot is mean for cause a fast attack. In conclusion, the base is with low gravity center, but the distance of the foot is different of the kata and of the kumite.

          Keywords: Karate. Base. Biomechanics.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 170 - Julio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O karatê-dô shotokan (shotokan: estilo de karatê elaborado por Funakoshi, dô: caminho a ser seguido, ou seja, o aperfeiçoamento constante da arte marcial) é uma arte marcial composta por socos, chutes, cotoveladas, joelhadas e defesas1. Essa atividade pode ser utilizada como defesa pessoal ou como esporte. Os golpes mais praticados durante o kumitê2 e que estão presentes em diversos katas3 (luta imaginária onde o karateca realiza movimento de defesa e de ataque) são constituídos pelo kizami zuki, pelo gyaku zuki, pelo oi zuki, pelo ashi barai seguido do gyaku zuki, pelo mawashi geri e pelo mae geri. Também, existem algumas defesas que são muito executadas no kumitê, no kihon ippon kumitê (luta combinada com um ataque e uma defesa) e no kata, sendo o gedan barai uke, o jodan age uke (defesa alta do rosto), o soto uke (defesa de fora para dentro) e o uchi uke (defesa de dentro para fora). Porém, para o karateca efetuar algum tipo de ataque e de defesa, ele precisa estar na base (posicionamento das pernas durante a luta que permite execução dos golpes e ocasiona firmeza dos pés do karateca no solo.)4.

    As bases mais utilizadas no karatê shotokan são a zenkutsu dachi, kiba dachi, kokutsu dachi e a base livre, utilizada no kumitê5. A base zenkutsu dachi consiste de 60% do peso na perna da frente e 40% na perna de trás, já a base kiba dachi, 50% do peso fica localizada nas duas pernas e a base kokutsu dachi, 70% do peso no membro inferior de trás e 30% no membro inferior da frente. A base livre, utilizada no kumitê, geralmente é a base que o lutador se sente mais confortável, costuma ser mesclada da base zenkutsu dachi e da kokutsu dachi.

    A base é uma posição fundamental para a prática do karatê shotokan, sendo indicado que ela seja realizada o mais baixo possível porque é melhor para o karateca. Contudo, quando são consultados artigos científicos do karatê6-8, a explicação da execução de uma base baixa não é informada. Sabendo dessa lacuna do karatê shotokan, o objetivo foi explicar o motivo de usar uma base baixa.

Base baixa do karatê

    A base do karatê shotokan é importante para o praticante fazer as atividades ofensivas e defensivas, merecendo que o lutador faça esse fundamento o mais baixo possível9. Qual é a explicação biomecânica para essa recomendação?

    Segundo Hay10, para a base possuir um bom equilíbrio e tornar-se mais estável, necessita que o karateca esteja atento na altura do seu centro de gravidade em relação ao chão e no tamanho da base de sustentação (Obs.: A distância que se encontram os pés). Hall11 define equilíbrio como a capacidade do karateca controlar a estabilidade, enquanto que estabilidade é a resistência do atleta do karatê shotokan para romper o equilíbrio.

    Consultando Hay e Reid12, toda partícula recebe a ação de uma força vertical puxando para baixo, ou seja, a gravidade. Sendo mais fácil manter o equilíbrio quando o lutador abaixa o seu centro de gravidade flexionando ao máximo os joelhos e o quadril da base13. Quanto mais baixo for o seu centro de gravidade, maior é a estabilidade14. Outra iniciativa que aumenta o equilíbrio do atleta de karatê é efetuar uma base com os pés bem afastados, acarretando aumento da estabilidade10. Portanto, mais firme fica a base do karateca, ficando difícil derrubá-lo.

    Durante o kata é interessante o lutador realizar a base com um centro de gravidade bem baixo e os pés bem afastados, gerando maior estabilidade da base e as ações da luta imaginária tornam-se mais bonitas15.

    As bases mais utilizadas no kata são compostas pela zenkutsu dachi, kokutsu dachi e kiba dachi. A figura 1 mostra essas bases:

Figura 1. Base zenkutsu dachi (A), base kokutsu dachi (B) e base kiba dachi (C)

    No kumitê, onde ocorre à luta, são desferidos socos e chutes, podendo acontecer algumas defesas16, indica-se uma base com apoio nem muito amplo e nem muito pequeno porque essa distância dos pés permite uma boa estabilidade e ao mesmo tempo os golpes, principalmente os chutes, podem ser efetuados com velocidade por causa da facilidade de romper a estabilidade11.

    Então, uma base com apoio muito amplo dificulta o karateca em executar o golpe com velocidade na luta, o motivo é a alta estabilidade, ou seja, a resistência para romper o equilíbrio é lenta. O centro de gravidade da base merece ser o mais próximo possível do chão porque esse posicionamento do joelho e do quadril proporciona menor força do karateca para sair dessa posição e ocasiona numa ação ofensiva mais rápida9,11. A figura 2 mostra a base livre utilizada no kumitê:

Figura 2. Base livre utilizada no kumitê

    Apesar de ser indicada uma base com centro de gravidade mais baixo possível na prática do kata e do kumitê, deve-se lembrar que uma flexão do joelho mais de 90º pode acarretar uma contusão nessa região anatômica17,18. Contudo, até a data presente não foi pesquisado se a base baixa causa dano no joelho do karateca, merecendo estudo num futuro próximo.

    Através desse artigo o professor conheceu os benefícios da base baixa do karatê shotokan para o kata e para o kumitê.

Conclusão

    O karateca deve ser orientado em utilizar uma base com o centro de gravidade bem baixo em relação ao chão porque proporciona velocidade na execução do golpe. No kata, o tamanho da base de sustentação deve ser bem amplo para aumentar o equilíbrio, mas no kumitê esse afastamento dos pés merece ser numa distância mediana para não prejudicar na velocidade do golpe. Porém, torna-se necessário investigar se uma base com um centro de gravidade bem baixo causa lesão no joelho.

    Em conclusão, a base merece ser realizada com um baixo centro de gravidade, mas a distância dos pés na sustentação do karateca deve diferir no kata e no kumitê.

Referências

  1. Milanez V et alii (2009). Avaliação e comparação das respostas do esforço percebido e concentração de lactato durante uma sessão de treinamento de caratê. Rev Educ Fís/UEM 20(4):607-13.

  2. Marques Junior N (2011). Karatê shotokan: biomecânica dos golpes do kumitê de competição. Rev Dig Educ Fís Deportes 16(158):1-28. http://www.efdeportes.com/efd158/karate-biomecanica-dos-golpes-do-kumite.htm

  3. Nakayama M (2011). O melhor do karatê – heian, tekki. vol. 5. São Paulo: Cultrix.

  4. Noriega H (2004). Análisis técnico, biomecánico y kinesiológico del gyako tsuki. Rev Dig Educ Fís Deportes 10(74):1-5. http://www.efdeportes.com/efd74/karate.htm

  5. D’Elia R (1984). Defesas. Karatê –(2):10-13.

  6. Camomilla V et alii (2009). Comparison of two variants of a kata technique (Unsu): the neuromechanical point of view. J Sports Sci 8(3):20-4.

  7. Beneke R et alii (2004). Energetics of karate kumite. Eur J Appl Physiol 92(4-5):518-23.

  8. Halabbchi F, Ziaee V, Lotfian S (2007). Injury profile in women Shotokan Karate Championships in Iran (2004-2005). J Sports Sci 6(1):52-7.

  9. Nakayama M (2010). Karatê dinâmico. 10ª ed. São Paulo: Cultrix.

  10. Hay J (1981). Biomecânica das técnicas desportivas. 2ª ed. Rio de Janeiro: Interamericana.

  11. Hall S (1993). Biomecânica básica. Rio de Janeiro: Guanabara.

  12. Hay J, Reid J (1985). As bases anatômicas e mecânicas do movimento humano. Rio de Janeiro: Prentice-Hall do Brasil.

  13. Rasch P (1991). Cinesiologia e anatomia aplicada. 7ª e d. Rio de Janeiro: Guanabara, 1991.

  14. Okuno E, Fratin L (2003). Desvendando a física do corpo humano: biomecânica. Barueri: Manole, 2003.

  15. Nakayama M (2009). O melhor do karatê – visão abrangente, práticas. 12ª ed. São Paulo: Cultrix.

  16. Koropanovski N, Dopsaj M, Jovanovic S (2008). Characteristics of pointing actions of top male competitors in karate at World and European level. Braz J Biomotr 2(4):241-51.

  17. Chiappa G (2001). Fisioterapia nas lesões do voleibol. São Paulo: Robe.

  18. Costa M (1996). Ginástica localizada. Rio de Janeiro: Sprint, 1996.

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