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Rotatividade de beneficiados em projeto 

social de esporte: assegurando o atendimento

Cantidad de beneficiarios en un proyecto social de deporte: garantizando la atención

 

*Aluna de graduação em Educação Física da Universidade Federal de Ouro Preto

**Professora Doutora da Universidade Federal de Ouro Preto

Grupo de Estudos das Capacidades de Rendimento dos Esportes Coletivos

***Professora Mestre da Universidade Federal de Ouro Preto

(Brasil)

Gabriela Faria Soares*

Siomara Aparecida da Silva**

siomarasilva@cedufop.ufop.br

Ida Berenice Heuser do Prado***

gabyspacenet@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo é avaliar o processo de evasão de crianças e jovens, que participam do PST - UFOP, em um período de um ano. O programa, uma parceria com o Ministério do Esporte, proporciona práticas esportivas e de lazer. A amostra foi de 349 crianças e jovens que entraram no PST-UFOP. O índice de evasão demonstra uma alternância entre os primeiros beneficiados de 2009 e os novos integrantes. As causas de desistências mais frequentes são a não adaptação ao projeto e transferência para outros projetos. Percebemos que a saída dos beneficiados representa a oportunidade de outros serem incluídos no programa. Mas, entendemos que a evasão não pode ser ignorada e precisamos de estratégias para a manutenção do pactuado. Novos estudos devem ser realizados objetivando garantir a permanência dos beneficiados através da análise das causas da evasão.

          Unitermos: Evasão. Crianças. Praticas esportivas.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 170 - Julio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O Programa Segundo Tempo (PST) organizado pelo Ministério do Esporte (ME), é destinado a democratizar a prática e o acesso a cultura do esporte e do lazer, contribuindo na formação cidadã e no desenvolvimento integral de crianças e jovens brasileiros. O ME estabelece parceria/termo de cooperação entre entidades sem fins lucrativos que organizam o desenvolvimento do programa no contraturno escolar de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social.

    O PST na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) recebe o nome de Movimentação UFOP e configura para o ME como projeto piloto destinado as Instituições de Ensino Superior (IES). O PST na UFOP desenvolve atividades esportivas, pedagógicas, artísticas e de lazer com crianças e jovens da comunidade ouro-pretana. O PST Movimentação UFOP também objetiva integrar os conhecimentos e pesquisas realizadas na UFOP à comunidade em geral além de realizar novas pesquisas sobre a população beneficiada. Paralelo a formação de novos profissionais de educação física o atendimento das crianças e jovens, gera práticas pedagógicas esportivas que são pesquisadas fomentando o planejamento semanal das atividades esportivas e de lazer. Desde agosto de 2009 acontece no Centro Desportivo da UFOP (CEDUFOP) o atendimento por duas horas e trinta minutos de 200 crianças e jovens de 07 até 17 anos de idade, três vezes por semana.

    Quando observamos o avanço tecnológico da ciência, o aumento da expectativa e a melhoria da qualidade de vida percebemos as mudanças sofridas pela sociedade ao longo do processo de globalização. No Brasil as desigualdades sociais e econômicas configuram como um problema a ser superado, aponta Gaya (2008). Os indicadores positivos advindos da economia trazem melhorias “financeiras” para o país, mas também podem acarretar uma desigualdade social, onde boa parte da população não consegue acompanhar todos esses avanços (Melo e Dias; 2009). Esses avanços podem indicar que os riscos sociais aumentam gradativamente.

    Quando relacionamos esses processos com as crianças e jovens, as evidências são mais trágicas. Elas sofrem com o acesso restrito a escolaridade, com a falta de atendimento médico e ainda muito novas algumas já são obrigadas a enfrentar o mundo como adultos, e não com a sua devida idade, muitas então se veem obrigadas a trabalhar (GAYA, 2008). Ocupando seu tempo com encargos dos adultos as crianças não desenvolvem capacidades em idades propícias, comprometendo seu rendimento integral quando adulto.

    Assegurar o direito a prática esportiva, contribuindo para a mudança da sociedade perpassa por alterações na cultura familiar, e consequentemente da sociedade, de acreditar no processo contínuo e de longo prazo. O processo de ensino do PST tem:

    “suas ações pautadas na concepção de uma sociedade igualitária, onde todas as pessoas tenham o direito de acesso aos elementos fundamentais para o desenvolvimento humano, utilizando o esporte como um desses elementos, na constituição de suas intervenções com foco para crianças e jovens que vivem em situação de risco social” (Melo e Dias, 2009, p.21).

    Assim, por meio de práticas esportivas e de lazer o PST realiza uma intervenção na vida de crianças e jovens que vivem em situação de risco social. Objetivos como proporcionar aos beneficiados a universalização da prática esportiva e a inclusão social; contribuir com o desenvolvimento de uma visão critica do mundo, proporcionando vivências motoras, culturais são alcances do programa (MELO, DIAS; 2009).

    A falta de conhecimento e de crença em um sistema de longo prazo somados as dificuldades de manter uma prática esportiva motivante e interessante frente às inovações tecnológicas, dentre outras, causam o problema da evasão. Assunto este presente na realidade de programas sociais e que o PST Movimentação – UFOP tem enfrentado. Mas com objetivo de assegurar o atendimento aos 200 beneficiados pactuados e acreditando em uma sociedade melhor no futuro o PST - UFOP estabeleceu normas para assegurar o número de beneficiados contendo a rotatividade de atendimento.

    A rotatividade assemelha-se a evasão que é mais vivenciada no ambiente da escola. Atualmente não é um assunto somente discutido por “pequenas” entidades, mas sim como um problema de “política pública” que já se tornou tema discutido pelas secretarias de educação e outros órgãos públicos voltados para essa área. Percebemos que os aspectos discutidos sobre evasão no contexto escolar podem também se manifestar em um projeto social como o PST – UFOP. Mesmo existindo poucos estudos na área há apontamentos que dizem que:

    “aspectos sociais considerados como determinantes da evasão escolar, dentre eles, a desestruturação familiar, as políticas de governo, o desemprego, a desnutrição, a escola e a própria criança, sem que, com isto, eximam a responsabilidade da escola no processo de exclusão das crianças do sistema educacional (QUEIROZ, 2001, p.1).”

    O PST – UFOP é um codependente da escola, pois seus beneficiados devem estar frequentes no sistema público escolar. Nesse sentido o PST - UFOP pode contribuir para que crianças e jovens que participam desse programa permaneçam na escola. A evasão que afeta a escola atinge os programas sociais e:

    “revela uma realidade bastante preocupante e que atinge desde o nível micro (a escola) até o nível macro (o Estado e o País). Inúmeras medidas governamentais têm sido tomadas para erradicar a evasão escolar, tendo como exemplos, a criação do programa bolsa-escola, a implantação do Plano de Desenvolvimento Escolar (PDE), mas que não têm sido suficientes para garantir a permanência da criança e a sua promoção na escola (QUEIROZ (2001. p.2)”

    Na realidade da evasão/rotatividade esse trabalho tem como objetivo demonstrar uma estratégia para conter essa realidade e avaliar o índice de evasão ocorrido no PST em um período de um ano.

Metodologia

    O número amostral neste estudo consistiu de 349 crianças e jovens que entraram e se desligaram do PST - UFOP ao longo do período de um ano (inicio de agosto de 2009 até agosto de 2010).

    Os nomes dos beneficiados foram organizados em uma planilha do Microsoft Office Excel 2007, conforme a listagem de chamada diária e a data de entrada. Após um período de aproximadamente quarenta e cinco dias os beneficiados que faltavam seguidamente por mais de duas semanas eram avisados por telefone de seu desligamento e um novo nome da lista de espera era convidado a entrar no programa. A lista de espera do PST-UFOP foi criada para suprir a constante busca de pais para matricularem seus filhos no programa. Assim, em outra planilha foi organizada a data de saída das crianças e jovens. O controle das planilhas de entrada e saída dos beneficiados demonstra o árduo processo administrativo dos coordenadores deste programa para manter o número de beneficiados em 200 atendidos. Número base para o andamento das atividades que foi estipulado pelo termo de cooperação firmado entre a entidade UFOP e o Órgão orçamentário ME. Depois de todos os dados organizados foram feitas tabelas que mostram o índice de rotatividade/evasão dos beneficiados ao longo do período de um ano do programa. Assim foi possível analisar o número de atendidos que permaneceram (ou permanecem), os que entraram e os que saíram do programa provocando a rotatividade no atendimento.

Resultado e discussão

    Na primeira entrada de beneficiados no programa que aconteceu em agosto de 2009, um total de 210 crianças e jovens foram selecionados entre 1200 inscritos para participarem do PST UFOP. A coordenação optou por chamar um número de 10 alunos a mais (5%) visando uma suposta desistência. Os demais inscritos e que não foram selecionados pelos critérios estabelecidos na inscrição compuseram a lista de espera. Quando da desistência ou falta excessiva no programa os demais eram chamados para manter o número de beneficiados em 200. No final do ano de 2009 foi realizada uma reunião com os pais ou responsáveis das crianças e jovens para informar sobre o início das atividades no ano de 2010 e como manter os filhos matriculados.

    No final do ano de 2009, 117 beneficiados encerraram o ano com frequência regular no programa. Em fevereiro de 2010, 93 crianças e jovens que estavam na primeira lista de chamada de agosto de 2009 não se rematricularam e para completar os 200 beneficiados, foram abertas 82 vagas para novos beneficiados. Assim no inicio de 2010 iniciaram as atividades no PST Movimentação – UFOP, 199 atendidos, sendo 82 novos somados aos 117 “antigos” beneficiados.

    Ao longo do primeiro semestre de 2010 os coordenadores perceberam que muitos beneficiados estavam faltosos e sem nenhuma justificativa, outros abandonaram o programa e consequentemente surgiu, então, a necessidade de chamar novos alunos para o programa. Houve então o desligamento dos faltosos e, um novo beneficiado da lista de espera era convidado por telefone e sua matricula era formalizada com a assinatura dos pais ou responsável no termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e na matrícula do PST.

    No primeiro semestre de 2010, 56 crianças e jovens foram desligadas e consequentemente, outras 57 foram chamadas para completar as 200 vagas. O número de beneficiados chamados foi de 57, pois no início do semestre um beneficiado estava “faltoso” mas com justificativa, só que posteriormente o mesmo não retornou mais para as atividades do programa sendo então desligado. O mesmo se encontrava em tratamento médico e assim permaneceu.

    No primeiro desligamento de 2010 saíram 24 beneficiados (evadidos) no mês de abril, destes 15 eram beneficiados que estavam no projeto desde agosto de 2009 e nove eram beneficiados que se matricularam no início daquele ano. No segundo desligamento de 2010 mais 32 evadiram do programa, sendo 16 dos que entraram em 2009, 15 que entraram no início de 2010 e um aluno que havia entrado recentemente naquele ano.

    Logo após o segundo desligamento houve uma nova chamada para completar o número de beneficiados. Mas apenas 20 novos foram selecionados restando, então, 12 vagas em aberto. Antes do início do Recreio nas Férias (Uma atividade extra realizada pelo Projeto, no período de férias escolares) que foi realizado no mês de julho de 2010, as vagas remanescentes foram completadas.

    Ao longo do primeiro semestre de 2010 o número de beneficiados que permaneceram foi de 43,5% correspondentes aos 200 beneficiados que foram selecionados no início do programa em 2009. Referente à primeira entrada no reinício das atividades em 2010 dos 82 beneficiados novatos nesta data, 29% permaneceram até o encerramento deste trabalho, agosto de 2010. Ao longo do período de controle deste estudo houve, além da matrícula do início do ano, mais três novos chamamentos seguidos de desligamentos de faltosos. De acordo com as demais entradas que ocorreram ao longo do primeiro semestre de 2010, 27,5% dos beneficiados também estavam frequentes em agosto de 2010. Estes últimos, os mais recentes no programa, somam 19 beneficiados.

    Ao longo de um ano de projeto 159 crianças e jovens foram desligados do PST – UFOP. Esse valor corresponde a 45,55% de um total de 349 beneficiados que entraram no programa no ano 2009 e no primeiro semestre de 2010 e, consequentemente, todas estas vagas foram preenchidas por novos beneficiados.

Considerações finais

    O levantamento de dados realizados no PST – UFOP ao longo de um ano de programa, indicam que o índice de rotatividade encontrado no programa representa a alternância entre os beneficiados inicialmente selecionados em 2009 e as crianças e jovens que compõem a lista de espera.

    O controle da evasão neste programa favoreceu a oportunidade de outras crianças participarem conhecendo o mesmo, e assim permanecendo neste. Com isso foi oportunizada a participação em uma prática esportiva e de lazer sistemática. Buscando contribuir com o desenvolvimento humano, considerando os aspectos relativos à infância e adolescência, o desenvolvimento da convivência social e a promoção da saúde.

    Mas, entendemos que os índices de beneficiados evadidos apresentados neste trabalho não podem ser ignorados e novos estudos devem ser realizados, com o objetivo de diminuir esse fluxo, garantido assim a permanência dos beneficiados no PST Movimentação - UFOP.

Referências

  • GAYA, A. O programa Segundo Tempo - Introdução In: OLIVEIRA, A. A. B.; PERIM, G. L. Fundamentos pedagógicos do programa Segundo Tempo. 2a Ed, 2008. p 9 - 12.

  • MELO, J. P.; DIAS, J. C. N. Fundamentos do programa Segundo Tempo: Entrelaçamentos do esporte, do desenvolvimento humano, da cultura e da educação In: OLIVEIRA, A. A. B.; PERIM, G. L. (Ed.). Fundamentos pedagógicos do programa segundo tempo: da reflexão a prática. Maringá: Eduem, 2009. p. 17-44.

  • Programa Segundo Tempo – Padrão. PST (Padrão) na UFOP/CEDUFOP. Disponível em http://www.ufop.br/downloads/pst_padrao-ufop-cedufopprojetobasico.pdf. Acessado em 15 de maio de 2011 às 19:30.

  • QUEIROZ, L. D. Um estudo sobre a evasão escolar: para se pensar na inclusão escolar. 2001. REUNIÃO ANPED, nº 25. 2002, Caxambu.

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