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Avaliação espirométrica de pacientes obesos 

submetidos a tratamento cirúrgico para a obesidade mórbida

Evaluación espirométrica de pacientes obesos sometidos a tratamiento quirúrgico para la obesidad mórbida

 

*Professor Mestre do Curso de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo (UPF)

**Fisioterapeuta graduada pela Universidade de Passo Fundo (UPF)

(Brasil)

Alessandro Canavezi*

Mirele Riva**

Quélen Milani Caierão**

acanavezi@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A obesidade consiste na elevação da massa corporal acima de valores considerados normais para a população. Atualmente é vista como um problema de saúde pública e no Brasil acredita-se que 70 milhões de pessoas estejam com o peso acima do ideal. O Índice de Massa Corporal (IMC), peso dividido pela altura ao quadrado, é a melhor forma para diagnosticá–la e quando este estiver ³ 40Kg/m2 indica que o indivíduo apresenta uma obesidade mórbida, ou seja, um excesso de peso de 45Kg ou mais em relação ao peso ideal. Assim, a chance de ocorrer patologias ortopédicas, cardiovasculares, digestivas, respiratórias, entre outras, diminuição da expectativa de vida e problemas de relacionamento social e profissional é maior nestes indivíduos. Levando em consideração estas complicações, o alto índice de massa corporal, e sabendo que estes obesos já utilizaram diversos métodos para emagrecer e todos fracassaram, indica-se a cirurgia para a obesidade mórbida, que é hoje o procedimento mais correto e seguro para reduzir e manter o peso destas pessoas. O estudo foi idealizado com o objetivo de avaliar a função pulmonar (CVF, VEF1 e VEF1/CVF) de 20 pacientes que se submeteram à cirurgia bariátrica através da espirometria simples, no pré e no primeiro dia de pós–operatório. Ao final constatamos que houve diferença estatisticamente significativas (p£0,05) em relação às mulheres, porém o mesmo não ocorreu com os homens; desse modo, conclui-se que a capacidade ventilatória dos pacientes sofre uma perda significativa no pós–operatório imediato.

          Unitermos: Obesidade. Índice de Massa Corporal. Cirurgia. Função pulmonar. Espirometria.

 

Abstract

          The obesity consists in a body mass elevation above normal values considered for population. Nowadays, it is seen as a public health problem and in Brazil it is believed that 70 million people have over weight problems. The Body Mass Index (BMI), weight divided by the height to square and is the best form to diagnose it. When this is 40Kg/m2 that indicates that the person introduces a morbid obesity, or, a weight excess of 45Kg or more regarding the ideal weight. Thus, there is a chance of occurring orthopedic, cardiovascular, digestive, respiratory pathologies, among other, a decreasing expectative and professional life and social problems are larger between these persons. Worrying about this consideration and complications, the height body mass index, and knowing that obese already used several methods to lose weight and all of them failed, it is indicated the surgery for morbid obesity that today, is the most correct procedure to reduce and to keep the weight of this people. The present study has been idealized with the objective of evaluate the pulmonary function (VCF, FEV1and FEV1/VCF) of 20 patient that were submitted to the bariatric surgery through simple spirometry, in the pre and in the first post–operatory day. Finally verifying that there was statistically significant difference (p≤0,05) in relation to women, however the same did not occur with men. Thus, concludes that stressing patients' ventilatory capacity suffers a significant loss in immediate post–operatory.

          Keywords: Obesity. Body Mass Index. Surgery. Pulmonary function. Spirometry.

 

Trabalho apresentado ao Curso de Fisioterapia da UPF como requisito para a obtenção do título de Fisioterapeuta.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 170 - Julio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Objetivos

    Analisar os fluxos pulmonares: VEF1, CVF e VEF1/CVF; relacionar os valores espirométricos obtidos no pré-operatório em relação aos obtidos no pós-operatório de acordo com o sexo de cada paciente; quantificar o grau de alteração do pré-operatório em relação ao pós-operatório, considerando sexo; investigar a incidência familiar de obesos mórbidos;

Amostra

    No estudo foram analisados um número total de 20 pacientes de ambos os sexos, sendo 15 mulheres (75%) e 5 homens (25%) com idade média de 43,47 ± 11,06 anos, apresentando um IMC médio de 42,94 ± 2,48, não fumantes e sem história de doença pulmonar e/ou neuromuscular prévia.

Material

    Para a realização deste trabalho foi utilizado um espirômetro portátil computadorizado da marca Jaeger, modelo Flowscreen Pro.

Coleta de dados

    A coleta dos dados foi desenvolvida com pacientes submetidos à cirurgia bariátrica internados no Hospital São Vicente de Paulo, localizado na cidade de Passo Fundo, no período de Julho a Setembro.

Análise dos dados

    O critério escolhido para a análise dos dados foram os procedimentos de estatística descritiva (média e desvio padrão) e um teste t de Student para amostras independentes considerando um p ≤ 0,05.

Procedimento

    Todos os pacientes da amostra leram e assinaram um termo de consentimento informado e realizaram no período pré–operatório, avaliação clínica constando de uma ficha de avaliação padronizada para dados de identificação e história clínica. Ainda, realizou-se o estudo da função pulmonar pré - operatória, através da espirometria simples. As variáveis medidas foram: CVF, VEF1 e VEF1/CVF.

    O período entre a avaliação espirométrica pré-operatória e o dia da cirurgia variou de sete a 14 dias. Sendo assim, logo após a cirurgia, os pacientes foram acompanhados clinicamente e realizou-se a segunda avaliação espirométrica, ou seja, no primeiro dia de pós-operatório. As duas medidas espirométricas foram realizadas com o paciente na posição sentada.

Procedimento para a realização da espirometria

    1º - respirar em volume corrente pelo menos em três ciclos respiratórios. Pede-se então ao paciente para respirar normalmente. 2º - inspiração máxima até o nível da capacidade pulmonar total (CPT) e em seguida proceder a uma expiração tão rápida e tão forte quanto possível até o nível de volume residual. Pede-se ao paciente que encha o peito de ar ao máximo. 3º - prolongar o tempo de expiração forçada de forma que este não seja inferior a seis segundos. Pede-se então ao paciente para soprar todo o ar possível. 4º - no final da expiração, proceder a uma inspiração máxima tão rápida quanto possível até a CPT, após o que volta a respirar em volume corrente. Pede-se ao paciente para encher o peito de ar ao máximo e em seguida retirar o bocal.

Resultados

    Vinte pacientes foram incluídos no estudo, assim distribuídos: 15 mulheres e 5 homens. A média e desvio padrão da idade, peso, altura e IMC dos pacientes do sexo feminino e masculino estão expressos na tabela 1.

Tabela 1. Características dos indivíduos estudados do sexo feminino e masculino com relação à idade, peso, altura e IMC

    Segundo Pereira (1996), o peso afeta uma grande parte das medidas funcionais devido a um aumento da função, ou seja, um efeito de musculatura fazendo com que ocorra uma diminuição desta função à medida que o peso se torna excessivo. Diversos autores concordam quando dizem que o peso não contribui para explicar as variáveis espirométricas ou só o faz em caso de obesidade acentuada. No Brasil, os valores espirométricos para adultos não se relacionam com o peso.

    Outro fato importante é com relação ao IMC, pois à medida que este aumenta a complacência respiratória total bem como a complacência pulmonar sofrem uma diminuição, caindo a 30% do previsto em casos mais graves. Por sua vez ocorre um aumento na resistência respiratória total e na resistência pulmonar. Todas estas alterações acarretam um padrão respiratório rápido e de baixa amplitude, limitação da capacidade ventilatória máxima e aumento do trabalho respiratório (MANCINI, 2001).

Tabela 2. Comparativo dos valores espirométricos, considerando valores previstos para os grupos e valores obtidos no pré-operatório

    A CVF é a manobra mais usada para avaliar a capacidade ventilatória e o VEF1, por sua vez, quando dentro dos parâmetros previstos, indica normalidade da função ventilatória. (BARRETO, 1998). No grupo dos homens (tabela 2), as variáveis espirométricas encontraram-se abaixo do previsto no pré-operatório, ou seja, houve uma diminuição de 9,56% para a CVF e 5,58% para o VEF1. As mulheres tiveram um percentual de variação acima dos valores previstos quando realizada a espirometria no pré-operatório (Tabela 2).

Tabela 3. Comparativo dos valores espirométricos, considerando valores previstos para os grupos e valores obtidos no pós-operatório

    Conforme a tabela 3, tanto para as mulheres quanto para os homens, ocorreu uma perda da capacidade ventilatória uma vez que a CVF e o VEF1 encontraram-se diminuídos no pós-operatório. Ambos os grupos obtiveram um índice de Tiffeneau, no pós-operatório, acima dos valores previstos que conforme Silva, Luiz; Rubin; Silva, Luciano (2000) uma redução favorece um componente obstrutivo e o aumento, um componente restritivo.

Tabela 4. Características dos valores de VEF1, CVF e VEF1/CVF obtidos no pré-operatório para o sexo feminino e masculino

 

Tabela 5. Características dos valores de VEF1, CVF e VEF1/CVF obtidos no pós–operatório para o sexo feminino e masculino.

    Ao analisarmos as variáveis a CVF, VEF1 e VEF1/CVF e compararmos os valores obtidos no pré-operatório com os do pós–operatório (Tabelas 4 e 5), constatamos que os resultados encontrados para VEF1/CVF (índice de Tiffeneau) situam-se dentro dos parâmetros considerados normais de acordo com Pereira (1996) que diz que esta variável é discretamente menor no sexo masculino. A idade também influencia na variação do índice de Tiffeneau em função das propriedades elásticas dos pulmões (BARRETO, 1998),

Tabela 6. VEF1 e percentual de variação de valores do pré para o pós–operatório

 

Tabela 7. CVF e percentual de variação de valores do pré para o pós–operatório

 

Tabela 8. VEF1/CVF (Tiffeneau) e percentual de variação de valores do pré para o pós-operatório

    O percentual de variação observado no VEF1 e na CVF (Tabela 6 e 7) das mulheres e dos homens, porém mais evidenciado nas mulheres ficou dentro dos parâmetros considerados normais, pois, segundo Oliveira et al (2000), esta variação é uma normalidade porque ocorrem alterações funcionais nos músculos respiratórios, principalmente no diafragma. Ocorre uma irritação do centro tendíneo pelo CO2 que provoca disfunção mecânica e gera reflexos inibitórios, com redução da descarga do nervo frênico e conseqüentemente redução da motilidade diafragmática. Outra ocorrência citada por Oliveira que pode estar envolvida é a dor pós-operatória e a lesão da musculatura abdominal.

    A razão VEF1/CVF, assim como o VEF1 são os índices mais usados e melhor padronizados para caracterizar a presença do distúrbio ventilatório obstrutivo. Neste caso quando houver uma redução do VEF1 e da relação VEF1/CVF indica um padrão obstrutivo (PEREIRA, 1996). Neste estudo, quando comparados a variação do VEF1/CVF no pré e no pós-operatório (Tabela 8), percebemos um aumento da mesma que de acordo com Costa e Jamami (2001), estes resultados encontram-se dentro dos parâmetros normais, pois a obesidade é definida como um comprometimento pulmonar restritivo e não há necessariamente diminuição de fluxo, especialmente da razão VEF1/CVF.

Tabela 9. Teste t avaliando valores obtidos no pré-operatório x valores obtidos no pós-operatório

    Em relação aos índices espirométricos, CVF, VEF1 e VEF/CVF (Tabela 9), constatamos que para o grupo das mulheres houve diferenças estatisticamente significativas quando considerado um p≤0,05. No grupo dos homens não foi possível detectar esta diferença, porém observa-se uma tendência de diminuição nos valores de VEF1e CVF no pré em relação aos do pós–operatório. Uma possível explicação para a dificuldade em se estabelecer diferenças esteja no fato da amostra de homens ser relativamente pequena em relação às mulheres ou pela distribuição de massa muscular, pois os homens apresentam uma maior força muscular (PEREIRA, 1996).

    Em um estudo semelhante ao nosso, realizado por Oliveira et al (2000), com homens e mulheres submetidos à colecistectomia videolaparoscópica onde o mesmo avaliou a CVF e o VEF no pré-operatório, no pós-operatório imediato e no sétimo dia de pós-operatório constatou alterações significativas para ambos os sexos e no sétimo dia de pós-operatório houve recuperação dos parâmetros espirométricos para valores próximos aos níveis do pré-operatório.

    Conclui-se, desse modo, que a cirurgia bariátrica, é capaz de alterar a capacidade ventilatória no pós-operatório imediato.

Considerações finais

    Levando em consideração o objetivo geral do trabalho que era analisar os diferentes fluxos pulmonares de pacientes submetidos a tratamento cirúrgico para obesidade mórbida no pré-operatório e relacioná-los com os resultados do pós-operatório verificamos que as variáveis espirométricas, VEF1, CVF e VEF1/CVF, de mulheres e homens respectivamente, tiveram uma perda de 28,57% e 12,63% para o VEF1; 27,70% e 13,10% para CVF e um ganho de 3,18% e 5,09% para a relação VEF1/CVF. Portanto, estatisticamente, considerando um p≤0,05, concluímos que a cirurgia de Gastroplastia Vertical com Bypass Gastrointestinal em Y de Roux, determinou uma alteração significativa na função pulmonar das mulheres, ou seja, elas apresentaram uma perda da capacidade respiratória no primeiro dia de pós–operatório.

    Neste estudo, também foi analisado a incidência familiar de obesos mórbidos, onde pode-se verificar que 65% dos pacientes da amostra, destes 55% eram mulheres e 10% homens, apresentaram a incidência de obesidade mórbida na família.

    Tendo em vista estas alterações da função pulmonar, vemos a importância que a fisioterapia representa no pós–operatório imediato no sentido de evitar ou minimizar complicações como alterações da mecânica pulmonar, do padrão respiratório, das trocas gasosas e dos mecanismos de defesa pulmonar.

    Ao término deste trabalho acreditamos que para obter melhores resultados principalmente em relação à população dos homens, sugerimos que seja feita uma nova pesquisa envolvendo um “n” mais homogêneo de homens e mulheres.

Referências

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