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As contribuições do profissional de Educação Física 

no atendimento à saúde mental no âmbito do PSF

Los aportes del profesional de la Educación Física en la atención de la salud mental en el ámbito del Programa de Salud de Familia

 

Licenciada em Educação Física (FASB) e pós-graduanda em Saúde Coletiva

com Ênfase em PSF (FG). Integrante do corpo docente

da Faculdade São Francisco de Barreiras (FASB)

Deise Bastos de Araújo

deisetkd@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Através de pesquisas bibliográficas, o presente estudo aborda as contribuições do profissional de educação física no atendimento à saúde mental no âmbito do Programa de Saúde da Família (PSF), objetivando apontar os benefícios que estes profissionais podem proporcionar a este público, baseando nas políticas da atualidade e na realidade dos postos de atendimento, com ênfase na saúde primária e no setor do PSF. Além disso, este artigo visa aumentar a discussões a cerca desta temática, para que haja mais investimentos nesta área de atuação e reconhecimento deste profissional no cuidado à Saúde Mental.

          Unitermos: Educação Física. Saúde mental. Programa de Saúde da Família.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 170 - Julio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Após a Reforma Psiquiátrica no Brasil, “movimento histórico de caráter político, social e econômico influenciado pela ideologia de grupos dominantes” (GONÇALVES e SENA, 2001, p. 49), mudou-se o perfil do atendimento/acolhimento à Saúde Mental do país, através de movimentos, como o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), que contribuíram no processo de:

    Denúncia da violência dos manicômios, da mercantilização da loucura, da hegemonia de uma rede privada de assistência e a construir coletivamente uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos mentais (BRASIL, 2005, p. 6).

    Dessa forma, muitos foram os benefícios advindos deste acontecimento, um deles é o surgimento do Centro de Atenção Psicossocial - CAPS, “intervenção, com repercussão nacional, que demonstrou de forma inequívoca a possibilidade de construção de uma rede de cuidados efetivamente substitutiva ao hospital psiquiátrico” (BRASIL, 2005, p. 6), uma vez que este atua com o intuito de:

    Acolher os pacientes com transtornos mentais, estimular sua integração social e familiar, apoiá-los em suas iniciativas de busca da autonomia, oferecer-lhes atendimento médico e psicológico. Sua característica principal é buscar integrá-los a um ambiente social e cultural concreto, designado como seu “território”, o espaço da cidade onde se desenvolve a vida quotidiana de usuários e familiares. Os CAPS constituem a principal estratégia do processo de reforma psiquiátrica (BRASIL, 2004, p. 9).

    Nestes atributos, é preciso elucidar que “a atenção em saúde mental deve ser feita dentro de uma rede de cuidados. Estão incluídos nesta rede: a atenção básica, as residências terapêuticas, os ambulatórios, os centros de convivência, os clubes de lazer, entre outros” (BRASIL, S/D, p. 2), assim não sendo o CAPS o único tipo de serviço que promove a atenção em saúde mental. Com isso, podendo contar com o Programa de Saúde da Família – PSF, um:

    Importante articulador da rede de saúde mental, no intuito de superar o modelo hospitalocêntrico, centrar o cuidado na família, e não no indivíduo doente, trabalhar com os conceitos de vigilância à saúde e no enfoque sobre o risco, desenvolver atividades que incluam a prevenção e a promoção da saúde mental e, politizando as ações de saúde de modo a lidar com os determinantes sociais do adoecimento, realizar práticas intersetoriais e desenvolver o exercício da cidadania e os mecanismos de emporwement (NUNES et al, 2007, p. 2377).

    Mediante as propostas supracitadas, o PSF por oferecer a atenção primária de saúde, pode contar com uma equipe multiprofissional, que incluem profissionais de diversas áreas de atuação em educação, reeducação e reabilitação, neste enfoque podendo contar com a intervenção de Profissionais de Educação Física, pois:

    É através de um viés crítico que visa à transformação social dos sujeitos em sofrimento psíquico que podemos inserir a Educação Física através dos diversos elementos da cultura corporal que busquem integrar os sujeitos com o meio, valorizando uma visão integral de ser humano e possibilitando o exercício de seus direitos de cidadãos, tão negados em instituições manicomiais e hospitalocêntricas como no passado (ABIB e ALVES, 2009, p. 5).

    Em fim, partindo destes argumentos, esta pesquisa bibliográfica visa apontar às contribuições do Profissional de Educação Física no atendimento a saúde mental no âmbito do PSF, partindo do que os autores apontam como propostas e com o que encontram na realidade. Espera-se que através deste artigo, reflexões e discussões, sejam colocados em prática, para que haja mais investimentos nesta área de atuação, uma vez que “o campo da saúde mental é pouco estudado pelos estudantes e professores de educação física” (ABIB e ALVES, 2009, p. 5).

2.     Referencial teórico

2.1.     A saúde mental no contexto das políticas públicas

    Antes de tudo, é preciso estabelecer qual a verdadeira essência do que podemos chamar de saúde mental, neste caso podemos encontrar na literatura alguns apontamentos:

    A Organização Mundial de Saúde afirma que não existe definição "oficial" de saúde mental. Diferenças culturais, julgamentos subjetivos, e teorias relacionadas concorrentes afetam o modo como a "saúde mental" é definida. Saúde mental é um termo usado para descrever o nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional. A saúde Mental pode incluir a capacidade de um indivíduo de apreciar a vida e procurar um equilíbrio entre as atividades e os esforços para atingir a resiliência psicológica. Admite-se, entretanto, que o conceito de Saúde Mental é mais amplo que a ausência de transtornos mentais (BRASIL, S/D, p. 1).

    Em outras palavras, empregadas pela Cartilha de Orientação em Saúde Mental apontam que:

    Para ter saúde não basta o sujeito sozinho, mas é preciso uma série de fatores externos que vão contribuir para o seu bem estar geral. É preciso olhar para o sujeito como um todo: seu corpo, sua mente e o contexto onde vive e considerar suas necessidades integrais (BRASIL, 2009, p. 11).

    Diante disso, é necessário pontuar que ao lidar com a saúde de pessoas em sofrimento mental é preciso entender:

    A importância de se respeitar os modos diferentes de ser e de viver que cada pessoa tem, seu jeito de ver o mundo e de se relacionar com ele e com as pessoas. Alguns são mais coração, outros razão; alguns são mais calmos, outros mais agitados; alguns gostam de certas coisas, outros desgostam, e assim vai (BRASIL, 2009, p. 12).

    No que diz respeito ao acesso à saúde, esta é estabelecida por lei no Art. 196 da Constituição - 1988, como “direito de todos e dever do Estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 2005, p. 55).

    Com este parecer, torna-se evidente que a saúde mental não deve ficar alheia às políticas públicas nacionais, por ser a saúde direito de todos, pessoas em sofrimento por transtornos mentais, também se enquadram neste critério, para tanto:

    A Política Nacional de Saúde Mental, apoiada na lei 10.216/02, busca consolidar um modelo de atenção à saúde mental aberto e de base comunitária. Isto é, que garante a livre circulação das pessoas com transtornos mentais pelos serviços, comunidade e cidade, e oferece cuidados com base nos recursos que a comunidade oferece (BRASIL, S/D, p. 1).

    Neste ensejo, é de fundamental relevância destacar que:

    A legislação pode desempenhar um papel importante na melhoria do acesso à atenção à saúde mental (...). Melhoria do acesso significa aumento na disponibilidade dos serviços, melhoria da acessibilidade financeira e geográfica e fornecimento de serviços que sejam aceitáveis e de qualidade adequada. Esta seção discute um marco para tratar essas questões com vistas a reduzir as barreiras ao acesso em muitos países (OMS, 2005, p. 35).

    Entretanto, “a presença de legislação de saúde mental em si mesma não garante respeito e proteção dos direitos humanos” (OMS, 2005, p. 1) e estas determinações, na prática ainda não conseguem efetivar-se em sua totalidade, pois muitas são as dificuldades políticas, econômicas, sociais e culturais, que influenciam diretamente neste contexto, fato é que:

    Até recentemente, a lacuna existente no setor público favoreceu a criação e o fortalecimento de instituições totais, cujo modelo de atenção não focaliza ações e propostas terapêuticas que visem a uma atenção integral, voltada para a reinserção familiar, social e cultural (BRASIL, 2005, p. 10).

    Com isso, observa-se que as adequações pertinentes a este contexto, precisam ser analisadas por todos os envolvidos com a saúde de um modo geral, desde o usuário e família, aos gestores e profissionais, para que de uma maneira ampliada possam fazer uma atuação mais consciente, já que:

    As políticas de saúde revestem-se de grande complexidade na sua trajetória e as propostas de reforma dessas políticas encontram um processo lento e entrelaçado por uma diversidade de interesses e conseqüentes avanços e recuos, em virtude das diferentes forças que se apresentam em cada conjuntura e dos vários projetos diversificados para superar a lógica perversa do capitalismo (SILVA et al, 2002, p. 6).

    Para tanto, considerando que todos possuem direitos e deveres sobre aquilo que se relaciona com os interesses individuais e coletivos, em prol de um bem comum: a melhoria do atendimento a saúde mental, nestes aspectos:

    Isto denota a necessidade de acompanhamento da aplicação da Lei, porque as mudanças dependem também da participação da sociedade, do interesse dos profissionais em mudar, das reivindicações sociais e da avaliação das transformações operadas. A Lei é condição necessária, mas não suficiente para a mudança. Urge a efetivação dessa intenção pelo gesto: pela municipalização das ações de saúde mental, como política do SUS (SILVA et al, 2002, p. 9).

    Neste caso, o que se espera é que as mudanças, para melhor, sejam estabelecidas com mais eficácia e responsabilidade, pois mesmo que a reforma psiquiátrica tenha contribuído, e muito, no cenário da saúde mental, há muitas divergências na realidade encontrada no Brasil, pois ao tratar destes aspectos de melhoria:

    Não é simplesmente a transferência do doente mental para fora dos muros do hospital, “confinando-o” à vida em casa, aos cuidados de quem puder assisti-lo ou entregue à própria sorte. Espera-se, muito mais, o resgate ou o estabelecimento da cidadania do doente mental, o respeito a sua singularidade e subjetividade, tornando-o sujeito de seu próprio tratamento sem a idéia de cura como o único horizonte. Espera-se, assim, a autonomia e a reintegração do sujeito à família e à sociedade” (GONÇALVES e SENA, 2001, p. 51).

2.2.     A saúde mental no contexto do PSF

    Atualmente, se tem falado a respeito da prevenção enquanto componente indispensável no cenário da saúde, com isso muito se tem investido nos setores que se associam a ela, estes podem ser classificados como:

    Em três níveis: primário, secundário e terciário. A prevenção primária corresponde às medidas que interrompem o início da condição. A prevenção secundária diz respeito à detecção precoce de pessoas com determinadas condições, geralmente por mapeamento, em que o tratamento precoce pode melhorar significativamente o curso da doença ou suas conseqüências. A prevenção terciária inclui medidas para reduzir as conseqüentes perdas causadas por uma condição já instalada (THORNICROFT e TANSELLA, 2010, p. 13).

    Diante disso, “a estratégia de saúde da família é a porta de entrada dos serviços de saúde, ela trabalha diretamente voltada e integrada com a Atenção Primária à Saúde, sendo assim, ela pode ser uma das principais parcerias para a integração das ações de saúde mental” (COIMBRA et al, 2005, p. 114). Partindo desta afirmação, o que se entende é que há uma ordem cronológica de atendimento na saúde, inclusive na saúde mental, que precisa ser respeitada e validada, garantindo melhor atendimento aos cidadãos.

    Assim, o PSF enquanto integrante da rede de serviços da saúde mental, pode trabalhar na lógica que se estabelece a seguir:

    A identificação de problemas de saúde mental deve ocorrer no âmbito da atenção primária. Mapear os problemas de saúde mental nas comunidades de usuários, assim como as condições associadas a esses problemas, constitui uma etapa necessária ao planejamento de ações voltadas para a saúde da população (FERRIOLLI et al, 2007, p. 252).

    Este programa ganha destaque por ter a família como principal aliada e isto para os serviços de saúde mental influencia positivamente, pois:

    É comum que familiares e atendentes assumam muitas responsabilidades para cuidar de pessoas com transtornos mentais. Entre essas se incluem as de abrigá-las, vesti-las e alimentá-las, e assegurar que elas se lembrem de fazer seu tratamento. Eles também asseguram que essas pessoas se utilizem de programas de atenção e reabilitação e as ajudam a levá-los a cabo (OMS, 2005, p. 49).

    Um exemplo concreto de que esta proposta tende a dar certo, é da análise feita com o público infantil por FERRIOLLI et al, em que constataram que:

    A implantação de serviços de prevenção de desordens mentais infantis, além de aliviar o sofrimento da própria criança e seus familiares, reduz a sobrecarga dos serviços especializados, por meio de um atendimento mais simples e efetivo, como o proposto pelo PSF (FERRIOLLI et al, 2007, p. 258).

    O PSF, além de proporcionar a participação da família e da comunidade em geral, este pode incluir em sua prática a escuta do público-alvo, para tanto é que “a ética da psicanálise situa-se numa perspectiva inteiramente diversa. Funda-se na singularidade da relação do sujeito com o seu desejo e seu gozo” (BARRETO, S/D, p. 17), neste caso, podendo aperfeiçoar o cuidado aos usuários, pois ao considerar relevante:

    Suas ações quanto à manifestação de seus interesses e exposição de suas necessidades, que devem ser investigadas, refletidas e retribuídas. Dessa forma, podendo inicialmente projetar este programa de forma adequada, para que em sua execução haja coerência com as classes gestoras, interventoras e atendidas (ARAÚJO, 2012, p. 1).

    Ou seja, “as intervenções de saúde, nesse sentido devem se pautar em uma atitude terapêutica que privilegie o cuidado, o vínculo, o acolhimento e a co-responsabilização do sujeito por sua saúde” (MUNARI et al, 2008, p. 786).

    E no que tange às propostas do PSF, a integração entre os profissionais, também é uma alternativa que tende a dar certo, como cita Drummond:

    No dia a dia de nosso trabalho buscamos sempre garantir a acessibilidade e o diálogo constante entre essas equipes de Estratégia de Saúde da Família e Equipe de Saúde Mental. Como resultado dessa estratégia, são criados os laços de responsabilidade e confiança entre os profissionais envolvidos. Isso possibilita o aumento da competência da Atenção Primária, da comunidade e da atenção especializada nos cuidados em Saúde Mental (DRUMMOND, 2009, p. 10).

    Apesar de tudo isso, ao:

    Propor um modelo de assistência em Saúde Mental na Atenção Primária, tendo como objetivo principal a Promoção de Saúde de cidadãos em sofrimento psíquico grave e persistente, não é tarefa simples! Sair dos limites do ambulatorial é, para a gestão, para a comunidade e para os profissionais da rede de atenção à Saúde um desafio, pois trata-se de efetivar um conceito ampliado de Saúde e de romper com o modelo de assistência ambulatorial, intrinsecamente centrado na atenção ao agravo e facilitador da cronificação (DRUMMOND, 2009, p. 17).

    E assim, compreende-se que as estratégias do PSF aumentam as possibilidades de melhoria na Saúde Mental, por possuir como uma de suas principais características a investigação dos interesses e necessidades da comunidade em geral e não esperando que a comunidade chegue até os postos de atendimento, mas indo a encontro da população.

2.3.     O profissional de Educação Física e o cuidado à saúde mental no PSF

    Baseando-se nas teses supracitadas, pode-se identificar uma importante relação dos profissionais de educação física com as estratégias do PSF, pois a inserção deste profissional “na equipe multiprofissional vem enriquecer os projetos e almejar o sucesso através de planejamentos de atividades físicas visando à prevenção, reabilitação e promoção da saúde como um todo” (JULIO e PINTO, 2011, p. 1) quando estes, enquanto agentes de saúde, podem:

    Atuar avaliando o estado funcional e morfológico dos sujeitos acompanhados, estratificando e diagnosticando fatores de risco à saúde; prescrevendo, orientando e acompanhando atividades físicas, tanto para as pessoas ditas "saudáveis", objetivando a prevenção e a promoção da saúde, como para grupos portadores de doenças e agravos, utilizando-a como tratamento não farmacológico, e intervindo nos fatores de risco; socializando junto à comunidade a importância da atividade física com base em conhecimentos científicos e desmistificando as concepções equivocadas acerca de sua prática (COQUEIRO et al, 2006, p. 1).

    E dessa forma, trabalhando “diretamente com o ser humano em todo o aspecto do movimento (...) influenciando ativamente na parte física, mental e social, e como qualquer outra profissão tem suas competências perante a sociedade” (JULIO e PINTO, 2011, p. 1) e assim, no âmbito do PSF este pode:

    Elaborar um programa de atividade física adequado para o público específico; auxiliar no processo de tratamento, reabilitação e inclusão do portador de transtorno mental na sociedade; buscar a melhora dos domínios cognitivo, motor e social dos participantes; permitir a integração e um convívio melhor entre os participantes do serviço (SOARES e PEREIRA, 2010, p. 1).

    De forma ampla, as intervenções deste profissional:

    Promove inúmeros benefícios como: redução do risco de desenvolver doenças cardíacas coronárias e o risco do indivíduo morrer da mesma; redução da incidência de infarto; diminuição do colesterol; diminuição dos problemas de pressão arterial; redução da hipertensão e do risco de desenvolver diabetes, além de promover o bem estar psicológico, evitando os sentimentos de estresse do cotidiano e elevando a auto-estima (OLIVEIRA et al, 2011, p. 1).

    Já que, este profissional, segundo a lei nº 9696/98 de 1 de setembro de 1998:

    É especialista em atividades físicas, nas suas diversas manifestações - ginásticas, exercícios físicos, desportos, jogos, lutas, capoeira, artes marciais, danças, atividades rítmicas, expressivas e acrobáticas, musculação, lazer, recreação, reabilitação, ergonomia, relaxamento corporal, ioga, exercícios compensatórios à atividade laboral e do cotidiano e outras práticas corporais, tendo como propósito prestar serviços que favoreçam o desenvolvimento da educação e da saúde, contribuindo para a capacitação e/ou restabelecimento de níveis adequados de desempenho e condicionamento fisiocorporal dos seus beneficiários, visando à consecução do bem-estar e da qualidade de vida, da consciência, da expressão e estética do movimento, da prevenção de doenças, de acidentes, de problemas posturais, da compensação de distúrbios funcionais, contribuindo ainda, para consecução da autonomia, da auto-estima, da cooperação, da solidariedade, da integração, da cidadania, das relações sociais e a preservação do meio ambiente, observados os preceitos de responsabilidade, segurança, qualidade técnica e ética no atendimento individual e coletivo (CONFEF, Art. 1º, 2002).

    E com base nestas colocações, em que consideram as práticas corporais importantes no setor da saúde pública e no atendimento a Saúde Mental, faz compreender que a “Educação Física é necessária, pois a grande população atendida pelos PSF são pessoas que não possuem conhecimento ou recursos para ter uma prática de atividades físicas direcionadas aos seus objetivos, que são saúde e qualidade de vida” (SILVA e BARROS, 2010, p. 1).

    Tratando-se da prática de Atividade Física - AF, “muitas publicações recentes apontam os benefícios (...) para a saúde no contexto físico e psicológico” (FORONI et al, 2001, p. 1), logo, “o reconhecimento da importância da atividade física para a saúde e para a qualidade de vida é fundamental” (ZAMAI, S/D, p. 180), no entanto:

    Para os professores de educação física a atividade física concentra-se na capacidade exercer "moderados" e "totais" efeitos sobre o tratamento da depressão. Observa-se que para os professores das clínicas a atividade física proporciona "total efeito" sobre a imagem corporal, positividade psicológica, diminuição de tensão e interação social; e "muito efeito" sobre a melhora do humor e sentimento de auto-eficácia para a realização de tarefas diárias (MATTOS et al, 2004, p. 1).

    Um exemplo que pode ser colocado em pauta, em relação à eficácia da AF, parte de uma pesquisa feita com Idosos, constando que “uma vida ativa melhora a saúde mental e contribui na gerência de desordens como a depressão e a demência. Existe evidência de que idosos fisicamente ativos apresentam menor prevalência de doenças mentais do que os não-ativos” (BENEDETTI et al, 2008, p. 303).

    O lúdico, que pode ser introduzido nas AF, pode ser considerado como uma ferramenta indispensável na execução de muitas atividades desenvolvidas na área da Educação Física. E este, esta presente numa das práticas mais comuns no cotidiano de pólos de assistência à saúde mental, vista como “brincadeira(s)”, valendo enfatizar que:

    Pode-se assumir como posição política que o fazer profissional não é brincadeira, mas que a brincadeira permeia o fazer profissional dos professores de educação física em saúde mental com objetivos (sérios) elaborados para tratar o sofrimento. Ao mesmo tempo, se a brincadeira tem seu desenrolar totalmente protocolado, pouca margem sobra para que ela se constitua como produtora de saúde ou mesmo como brincadeira em si. Cabe ao professor que media a atividade lidar com o inusitado e intervir no sentido de potencializá-la enquanto produtora de saúde (WACHS e FRAGA, 2009, p. 8).

    Partindo desta informação, nota-se que, no atendimento a referida população:

    Os serviços de saúde mental dependem muito mais de recursos humanos do que de equipamentos tecnológicos. Por exemplo, a entrevista clínica permanece como o método mais válido para estabelecer diagnóstico. Em termos de tratamento, esta claro que a relação terapêutica e a habilidade humana dos profissionais são de importância central e influenciam os usuários dos serviços na escolha, adesão e continuidade no tratamento recomendado, e, assim ajudam a melhorar os resultados (THORNICROFT e TANSELLA, 2010, p. 149).

    E dessa forma, conclui-se que é de fundamental importância, que a preparação dos profissionais atuantes seja estabelecida com mais foco a questão da humanização, para que o “Recurso Humano” passe a:

    Ser visto como um componente dinâmico que necessita apoio e investimento permanente. Como fazer a gestão do pessoal na perspectiva da saúde mental comunitária, é um assunto ainda pouco discutido e merece atenção quando se trata de processos formativos. Processos de seleção e de aquisição de competência clínica devem ser pensados de acordo com as novas diretrizes dos serviços e não de forma desvinculada (MÂNGIA, S/D, p. 3).

3.     Considerações finais

    Ao analisar o processo que perpassou a Saúde Mental, ficam evidentes que muitos foram os fatores que influenciaram o perfil que hoje encontramos na atualidade, por mais que ainda se encontra longe do que de fato seria ideal, podemos considerar que esta já se estabelece de forma mais organizada e que tem provocado diferentes olhares sobre as diversas áreas de atuação.

    Este artigo por ter foco na área de Educação Física pôde proporcionar o entendimento de que através deste profissional, muitos fatores, considerados de grande relevância na prevenção e tratamento de transtornos mentais, precisam ser discutidos com mais freqüência no setor primário de atendimento e até mesmo na formação destes profissionais, que precisam cada vez mais estar inseridos neste campo de atuação.

    Este profissional, muito tem a contribuir nas esferas da saúde mental, pois as atividades que cabem a este desempenhar, tendem a proporcionar melhorias nos aspectos psicológicos, físicos e sociais, beneficiando o público atendido e a quem se relaciona com ele. Cabendo a este profissional, estabelecer fortes relações com as outras áreas de conhecimento, para que a eficácia das intervenções direcionadas a melhoria da Qualidade de Vida tenha maior possibilidade de efetivação e assim a “Educação Física deve possuir um papel mais significativo nas equipes multidisciplinares dos Serviços de Atendimento à Saúde Mental” (SOARES E PEREIRA, 2010, p. 1).

    Em suma, lidar com a subjetividade humana não é uma tarefa fácil, pois cada ser humano é portador de um desejo, que o leva a relacionar-se com o meio de forma diferenciada e exclusiva e diante disso, ao pensar sobre os cuidados nos setores de atendimento a saúde mental, que deve se adequar a cada especificidade é de fundamental relevância considerar que “se cada sujeito é diferente do outro, cada caso é diferente do outro, cada tratamento é diferente do outro” (BARRETO, S/D, p. 17).

Referências

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