Introdução
A observação sistemática constitui um método científico para chegar a
obtenção de dados significativos, quando se pretende analisar os fenômenos
tais como se apresentam no contexto desportivo real, sem modifica-los nem atuar
sobre eles. Através da metodologia observacional, é possível registrar e
analisar a atuação desportiva ou o comportamento de jogadores e equipes desde
uma avaliação que combina aspectos qualitativos e quantitativos (Aragundi,
2002).
O processo de tratamento e análise dos dados obtidos a partir da observação
de jogo é cada vez mais um elemento determinante na busca de aperfeiçoar o
rendimento dos jogadores e da equipe, fazendo com que os especialistas busquem
desenvolver instrumentos e métodos que permitam obter conclusões relevantes
para os treinadores e investigadores (Garganta, 1997). A análise de jogo
possibilita interpretar a organização das equipes e das ações na
competição, planificar e planejar os treinamentos e as estratégias de
trabalho de maneira eficaz, estabelecer planos táticos adequados e específicos
em função dos adversários e, regular os processos de
ensino-aprendizagem-treinamento (Gutierrez, 2009; Piltz, 2004; Lago e cols.,
2010).
Através de uma análise tática, se pode modelar o treinamento de uma equipe
específica. Até agora, tem sido um meio para se obter acesso aos conhecimentos
de jogo (Mombaerts, 2000).
A análise tática aplicada ao futebol se torna totalmente relevante, uma vez
que o fator tático incide diretamente no rendimento de uma equipe (Bueno,
2007). Isto faz com que seja importante analisar este fator em relação com o
êxito de uma equipe em uma partida ou competição. Assim entendem numerosos
autores que tem feito de estudos da tática grupal e coletiva uma de suas
principais linhas de investigação com o intuito avaliar o rendimento das
equipes de futebol (Grehaigne, e cols., 2002; Castellano, 2008).
Objetivo
Este estudo tem como objetivos identificar e interpretar
os padrões de jogo e comportamento tático das equipes de futebol brasileiro
vinculando a frequência e eficácia das ações de pressing e
seus setores de ocorrência.
Método
Amostra: Foram analisadas 251 ações de
pressing, nas 12 partidas observadas, correspondentes ao Campeonato
Brasileiro de Futebol do ano de 2008.
Para os fins deste trabalho, foram conceituadas as situações de pressing
como ação conjunta de dois ou mais jogadores, reduzindo os espaços e
possibilidades de jogo do adversário de posse de bola, não cedendo a
iniciativa do mesmo, com o propósito de recuperar a mesma, impedindo a
progressão da equipe adversária.
Uma vez definido o conceito de pressing, se definiram os seguintes
níveis de resposta para o presente estudo:
-
Equipe: que executou a situação (local ou visitante).
-
Zona de campo: Setor do campo onde se iniciou ou ocorreu à ação.
-
Resultado da ação - analisada de acordo com os seguintes níveis de
resposta do menor para o maior nível de eficácia:
-
Provocação de situação de impedimento.
-
Progressão de bola de forma ofensiva pela equipe pressionada até outro
setor do campo (Defesa / Meio Campo / Ataque).
-
Falta cometida pela equipe no momento em que realiza o pressing.
-
Provocação de recuo de bola.
-
Roubo ou recuperação da posse de bola (através de desarme ou
interceptação de passe).
Eleição
de técnicas e instrumento de registro: Para
o registro das ações, foi utilizada uma planilha de observação direta
(Figura 1), contendo o desenho de um campo de jogo dividido em 9 setores, com a
finalidade de aportar com exatidão os dados observados (podendo-se desta forma,
verificar a localização exata em que ocorre a ação).
Figura
1. Proposta de campograma para a análise das ações de pressing
A
divisão do campo nestes 9 setores, pode ser justificada pela ocupação dos
mesmos pelos jogadores das equipes em: Goleiros, zagueiros, laterais (um em cada
lado, atuando pelos campos defensivos e ofensivos) volantes, meias e atacantes.
Além de uma zona de ataque mais próxima da meta adversaria, que pode ser
ocupada no transcorrer do jogo por numerosos jogadores, de diversas posições,
desde que de forma taticamente organizada (Metral, 2007).
Para
facilitar o recolhimento de dados, as partidas (transmitidas através de sinal
de dois canais de TV brasileiros) foram gravadas em DVD, através de uma
gravadora Philips DVDR 3355. Uma vez gravadas, o grupo de trabalho tem a
possibilidade de visualizar repetidas vezes as ações e sequências de jogo,
reduzindo a possibilidade de erros durante o registro de dados. Durante a fase
ativa deste estudo a ferramenta de vídeo-análise “VA-SPORTS: Futebol”
foi utilizada para registrar os diferentes níveis de resposta definidos, com
suas correspondentes categorias, materializando-se assim um instrumento ad
hoc para o registro e recolhimento de informação específica para o estudo
das situações de pressing. Os dados requeridos das situações do
estudo foram extraídos da dita ferramenta, e exportados diretamente em uma das
planilhas do software Microsoft Excel® 2007 para o posterior tratamento e
análise dos dados.
Para
desenvolver a fase de registro de dados, foram selecionados dois observadores
"experts" em futebol, com titulação académica, e experiência
profissional tanto em âmbito nacional como internacional.
Analise
da qualidade de dados:
Com o fim de
verificar a validez interna deste trabalho foram realizados procedimentos de
análise da qualidade de dados (Castellano e cols., 2000), para determinar a
concordância intra-observador (nível de variação de um mesmo
observador que registra a mesma sessão de observação em dois momentos
distintos), e inter-observador (grau de acordo entre os dois observadores
que registram a mesma sessão de observação de forma separada), utilizando o
índice Kappa de Cohen, como ferramenta estatística mais significativa
reconhecida por “experts” para este tipo de validação (Anguera, 1986;
Anguera e cols., 2000). A avaliação média de
concordância final do presente estudo de pressing
foi de 0,917, o que garante um alto grau de
fiabilidade do instrumento de registro elaborado, sendo os níveis de resposta
“Zona” e “Resultado” os que apresentaram índice de concordância menor
de 1,000, com valores de 0,897 e 0,916 respectivamente.
Resultados
e discussão
Das
251 ações de pressing observadas, 35,48% obtiveram a efetividade
máxima estabelecida para este estudo (roubo de bola por desarme/interceptação
de passe). A maior eficácia das ações de pressing quando são
executadas pelas equipes locais, ocorrem em seus próprios setores defensivos,
central e laterais (setores 2, 3 e 4) (ver Figura 2), e os dados do setor 3
coincidem com os do estudo de Fidelis (2012). Estes dados podem ser atribuídos
ao tipo de estratégia utilizada pelas equipes (aguardar em seu campo defensivo
para pressionar, na tentativa de recuperar a posse de bola e, assim,
aproveitando-se de uma possível desorganização numérica ou posicional da
equipe adversaria, tentar efetuar um contra-ataque).
A
grande eficácia de pressing no setor central defensivo pode ser
atribuída ainda à necessidade de se recuperar a posse de bola antes que o
adversário entre com a mesma em sua área de meta, além da maior
concentração de jogadores no corredor central do campo de jogo, o que facilita
a aproximação dos demais defensores para a execução do pressing
(Drubsky, 2003). Além disto, o setor central defensivo é onde jogam os
defensores centrais, jogadores que percorrem uma distância significativamente
menor em relação aos demais jogadores, com a única exceção sendo quando os
mesmos executam ações de recomposição defensiva ou de pressing,
percebendo-se assim, aumento da intensidade de corrida (Metral, 2007).
Já
nos corredores laterais defensivos do campo, se pode atribuir a quantidade e
eficácia de pressings, à maior segurança de execução dos mesmos,
devido a localização do espaço em campo, estando mais próximo das
limitações de área do campo e mais distantes da meta adversaria, prejudicando
assim uma possível conclusão a meta da equipe que pressiona em caso de erro,
além do fato de que a proximidade com as linhas de delimitação do campo
reduzem o terreno de jogo, facilitando desta maneira a execução de ações
defensivas (Costa e cols., 2011).
Figura
2. Eficácia de pressings executados pelas equipes locais
A
Figura 3 confirma a preferência que tem as equipes em pressionar de forma
segura (pelas laterais defensivas do campo - Setores 2 e 4) e a grande
necessidade em se pressionar logo a frente de sua área de meta (Setor 3).
Nota-se que as equipes, quando sofrem situações de pressing, optam pelo
jogo seguro, preferindo retardar o jogo, retrocedendo a bola até outro
companheiro, do que perder a posse da mesma, já que para progredir com a bola,
sendo pressionadas nas laterais do campo, os jogadores de posse da mesma teriam
de arriscar um drible para o centro do campo de jogo, sem a garantia de êxito
(Zeeb, 2004). A este fato, atribuísse à diminuição da eficácia de pressings
quando realizados por equipes visitantes.
Figura
3. Eficácia de pressings executados pelas equipes visitantes
A
Figura 4 representa o agrupamento dos dados coletados das equipes locais e
visitantes.
Figura
4. Eficácia total de pressings
Conclusões
Ao
analisar os resultados das situações de pressing das equipes brasileiras em
relação a sua localização em campo, conclui-se que:
-
Tanto as equipes locais, como as equipes visitantes, executam mais pressings
em seus setores defensivos.
-
A maior efetividade encontrada é a de roubo de bola
(desarme/interceptação de passe), seguida pela provocação de recuo da
bola por parte da equipe pressionada.
-
As equipes brasileiras analisadas, quando recebem o pressing em seus
setores laterais, optam pelo jogo seguro, retrocedendo a bola até um setor
de campo mais retrocedido.
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