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Análise do percentual de gordura, potência 

anaeróbia e VO2máx de atletas de futebol feminino

Analysis of the percentage of fat, VO2max and anaerobic power of female soccer players

 

*Faculdade de Educação e Artes, Curso de Educação Física

**Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento

Laboratório de Farmacologia e Fisiologia

Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP

(Brasil)

Luciano Dias Pires*

lpires@vivo.com.br

Paulo César Caetano Júnior* **

paulocaetanoj@hotmail.com

Jefferson Martins Vilela de Oliveira*

jeffersonmvo@hotmail.com

Rodolfo Almeida da Cruz*

rodolfocruz66@ig.com.br

Silvia Regina Ribeiro* **

sribeiro@univap.br

Fabiano de Barros Souza*

fabiano@univap.br

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: A carência de estudos envolvendo o futebol feminino dificulta a formação de valores referenciais e o aperfeiçoamento do rendimento físico e técnico de praticantes desta modalidade, desencadeando um deficit no desenvolvimento profissional e competitivo. Objetivo: Analisar o percentual de gordura (%G), consumo máximo de oxigênio (VO2máx.) e potência anaeróbia, de um grupo de atletas de futebol, do sexo feminino. Metodologia: 19 atletas de futebol feminino, com idade entre 19 e 34 anos. As variáveis analisadas foram divididas em antropométricas (peso, estatura, percentual de gordura, massa corporal e magra) e fisiológicas (VO2máx, potencia máxima, potencia média, potencia mínima e índice de fadiga). Conclusão: Apesar da dificuldade em comparar os resultados, em virtude dos poucos estudos encontrados, sugere-se que valores de %G de jogadoras de futebol encontram-se entre 17 e 23% e de VO2máx. entre 41 a 47 ml/kg/min. Novos estudos são necessários para elucidar valores referenciais de variáveis antropométricas e fisiológicas de atletas de futebol feminino, principalmente de potência anaeróbia, através de testes indiretos.

          Unitermos: Antropometria. VO2máx. Potência anaeróbia. Atletas. Futebol feminino.

 

Abstract

          Introduction: The lack of studies involving women's football hinders the formation of reference values ​​and improvement of physical performance and technical practitioners of this modality, triggering a shortfall in professional development and competitive. Objective: Analyzing the Body Fat percentage (%BF), maximal oxygen consumption (VO2máx.) and anaerobic potential for a female group of football players. Methods: 19 female soccer players, aged between 19 and 34 years. The variables were divided into anthropometric (weight, height, body fat percentage, and lean body mass) and physiological (VO2máx., maximum power, average power, minimum power and fatigue index). Conclusion: Despite the difficulty in comparing the results, as a result of the few studies found, it is suggested that values ​​of G% of female football players varies between 17 and 23%, and VO2máx. from 41-47 ml / kg / min. Further studies are necessary to elucidate reference values ​​for anthropometric and physiological characteristics of female soccer players, mainly anaerobic potential, through indirect tests.

          Keywords: Anthropometry. VO2máx. Anaerobic power. Players. Soccer female.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Indiscutivelmente, o esporte de alto nível exige constantemente de seus atletas a superação da performance física de modo a obter resultados positivos (NOBRE; FERNANDES; AMORIM et al., 2009; VIEIRA; FERNANDES; VIEIRA et al., 2008).

    O futebol feminino, além de não apresentar a mesma popularidade que o masculino, onde preconceitos e ausencia de patrocinios são os principais contribuintes para tal fato (WEINECK, 2005), apresenta algumas limitações relacionadas a compreenssão das necessidades funcionais e elaboração de treinamentos específicos de seus praticantes, em virtude da escassez de estudos envolvendo atletas desta modalidade (QUEIROGA; FERREIRA; ROMANZINI, 2005; SILVA; ROMANO; ROXO et al., 1999).

    Para entendimento das necessidades de um atleta, areas como, nutrição, fisiologia do exercício e planejmaneto e organização das cargas (intensidade, freqüência, duração) bem como os períodos de recuperação, são indispensáveis para o aperfeiçoamento das capacidades físicas (QUEIROGA; FERREIRA; ROMANZINI, 2005).

    De acordo com Weineck (1991), a performance física é um produto composto de aspectos morfológico, funcional-motor, psicológico, genético e ambiental. Onde acredita-se que a determinação do perfil físico de esportistas, reside no fato da existência de uma relação entre forma corporal e desempenho físico (SLAUGHTER M. H.; LOHMAN T. G.; MISNER, 1977).

    Desta forma, pesquisas voltadas as especificidades de cada modalidade esportiva, podem auxiliar na formação de parâmetros fisiológicos e antropométricos, promovendo melhora do rendimento físico e técnico e, otimização dos métodos de treinamento (SILVA; PEDRINELLI; TEIXEIRA et al., 2002).

    Com base no pressuposto e na carência de estudos envolvendo jogadoras de futebol feminino, o presente estudo objetivou analisar o %G, potencia anaeróbia e VO2máx. de um grupo de atletas de futebol, do sexo feminino.

Metodologia

    O trabalho foi aprovado pelo Comite de Ética e Pesquisa da Universidade do Vale do Paraíba, cujo protocolo de nº H041/CEP/2009.

Amostra

    Participaram da pesquisa 19 atletas de futebol feminino, com faixa etária entre 19 e 34 anos, da cidade de São José dos Campos - SP. Todas assinaram voluntariamente um termo de consentimento livre e esclarecido, conforme determinações das resoluções nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.

Antropometria

    Para mensuração da massa corpórea e estatura do grupo amostral, utilizou-se uma balança com estadiômetro acoplado (Escala de 0,5 cm e resolução de 100g).

    Para as medidas de sete dobras cutâneas (Tríceps + Subescapular + Supra-Ilíaca + Axilar Média + Torácica + Abdominal + Coxa) as atletas respeitaram um período de vinte quatro horas antes da tomada das medidas, abstendo-se de atividades físicas, utilizando um compasso (Sanny Brasil) com leitura de 1mm. Adotou-se o valor mediano – intermediário, como sendo a medida da dobra cutânea (BUSCARIOLO; CATALANI; DIAS et al., 2008; SILVA; AÑEZ, 2006).

    Para o cálculo de densidade corporal (7DC - mulheres) foram utilizadas as fórmulas propostas por Jackson, Pollock e Ward (1980) e para de G% proposta por Siri (1961).

Teste de consumo máximo de oxigênio (VO2máx)

    Para avaliação do VO2máx. foi utulizado o teste indireto de 3.000ms, numa pista de atletismo demaracada. O tempo em minutos e fração decimal (tempo corrigido) foram registrados através de um cronometro - Technos, onde permitiu calcular o VO2máx. por meio da seguinte fórmula:

VO2máx (ml/kg/min) = 118,4 – 4,774 (Tempo)

Teste de potência anaeróbia

    A análise anaeróbia foi realizada através do teste indireto RAST de 35m (Running Anaerobic Sprint Test) proposto por Zacharogiannis, Paradisis, Tziortzis, 2004 apud Cancian, Fuke, Moro et al. (2010), procedendo como segue:

    As atletas executaram seis corridas em campo de futebol, na maior velocidade possível, na distância de 35m, usando chuteiras. Entre cada corrida, houve recuperação de 10 segundos, o tempo das corridas foi registrado em cronômetros - TECHNOS.

    As variáveis obtidas foram: potência máxima (W e W/kg), potência média (W e W/kg), potência mínima (W e W/kg) e Índice de fadiga (% e W/seg).

    Antes de iniciar os testes de VO2máx. e potencia anaeróbia, as atletas realizaram aquecimento composto por alongamentos e corrida. A temperatura ambiente e umidade relativa do ar foram mensuradas através do relógio Termo - Higrômetro (Minipa MT - 242).

Análise estatística

    A análise estatística foi descrita através de média, desvio padrão (DP) e coeficiente de variação (CV), utilizando o programa estatístico Origin 8.5.

Resultados

    A Tabela 1 apresenta os dados antropométricos das atletas com valores de idade, peso, estatura, sete dobras cutâneas, somatória de sete dobras cutâneas, percentual de gordura, massa gorda e massa magra. Observa-se que na massa gorda o grupo apresentou grande variação.

    Os valores de VO2máx., potência máxima média e mínima e índice de fadiga, são apresentados na tabela 2. Denota-se que as atletas apresentaram maior dispersão na variável, índice de fadiga (W/seg).

Discussão

    O estudo objetivou analisar o %G, potencia anaeróbia e VO2máx. de um grupo de atletas de futebol, do sexo feminino, de modo a fornecer novos valores que contribuirão para a formação de parâmetros, ainda inexistentes, para esta população.

    De acordo com alguns estudos, o %G de jogadoras de futebol e futsal varia entre 21 a 23% (DAVIS; BREWER, 1992; QUEIROGA, FERREIRA E ROMANZINI, 2005; WITHERS; WHITTINGHAM; NORTON et al., 1987), no entanto Silva, Romano, Roxo et al. (1999) verificou em 15 atletas de futebol %G de 17± 2,3 % e Buscariolo, Catalani, Dias et al. (2008), valores de 19,03 ± 3,80 %, aproximando da média de %G encontrada (Tabela1).

    Apesar do presente estudo não ter comparado as variáveis das atletas por posição de jogo, vale destacar que o %G de goleiras (Oliveira, 2004), foi superior ao grupo amostral. Queiroga, Ferreira e Romanzini (2005), encontraram em goleiras maior massa corporal em relação às jogadoras de linha, proveniente de uma maior concentração de gordura e não massa muscular.

    O futebol por ser uma modalidade caracterizada de longa duração com ações intermitentes, evidencia a importância da avaliação para formação de valores referencias de VO2max., considerado indispensável para a realização de esforços prolongados, pois está relacionado à resistência cardiovascular e respiratória (SILVA, ROMANO, ROXO et al. 1999).

    A escassez de valores de VO2máx. na literatura, envolvendo a população e modalidade em questão, dificulta a formação de valores referenciais e ainda, prejuízos e atrasos no desenvolvimento profissional e competitivo.

    O valor médio de VO2máx. encontrado neste estudo, 41,2 ± 3,5 ml/kg/min (Tabela 2), aproximou-se ao de Oliveira (2004), 42,69 do VO2máx. em goleiras. Autores utilizando diferentes metodologias, encontraram valores superiores de VO2máx., 47,4 ± 4,1 ml/kg/min em futebolistas (Silva, Andrade, Riça et al., 1998) e 46,0 ± 5,4 ml/kg/min na seleção feminina de futebol dos Estados Unidos (Stuhr, Chiaia, Maschi et al., 2004).

    O grupo apresentou um comportamento homogêneo evidenciado pelo CV de 8,5%, acredita-se, que os resultados podem ser melhorados desenvolvendo um trabalho direcionado a capacidade aeróbia da equipe.

    A capacidade anaeróbia é outra vertente importante para o futebolista, valores padronizados possibilitarão detectar deficiências, melhorias e comparativos do efeito do treinamento específico sobre a performance anaeróbia (SILVA, 1999). Entretanto, assim como, as variáveis supracitadas são escassas, valores do sistema alático e lático de jogadoras de futebol, também são principalmente através de testes indiretos.

    Os escores encontrados relacionados ao sistema anaeróbio foram: potência máxima 6,4 ± 0,8 w/kg; potência média 5,2 ± 0,6 w/kg e; índice de fadiga 33,5 ± 6,1 %. O coeficiente de variação, respectivamente foi de, 12,9%, 12,6% e 18,2%, representando homogeneidade do grupo, no entanto, os valores médios do grupo ficaram abaixo aos de Silva, Romano, Roxo et al. (1999), que após avaliar jogadoras de futebol de elite, encontraram valores relativos de 9,5 ± 0,9 w/kg - potência máxima, 7,5 ± 0,5 w/kg - potência média e 56,7 ± 7,3 % - índice de fadiga.

    A visão limitada, decorrente da falta de estudos, não permite contribuir de forma relevante para descobrir quais variáveis influenciam, direta ou indiretamente, com o sucesso desse esporte (OLIVEIRA, SERASSUELO, MANSANO et al., 2006). A preocupação com pesquisas voltadas a esta população é o primeiro passo para o seu desenvolvimento, conhecimento das características específicas, necessidades funcionais e repercussão orgânica sobre as mulheres que praticam futebol.

Conclusão

    Os parâmetros fisiológicos e antropométricos por modalidades fazem-se necessários, pois variáveis como, índice de fadiga, percentual de gordura, potência anaeróbia e VO2máx., podem direcionar e orientar o treinamento, promovendo aumento do rendimento físico das atletas.

    A carência de estudos envolvendo esta população dificultou à comparação dos valores, concomitante, as diferentes metodologias utilizadas nas pesquisas encontradas, no entanto, os valores mostraram que o %G de jogadoras de futebol encontram-se entre 17 e 23% e VO2máx. entre 41 a 47 ml/kg/min. Novos estudos são necessários para elucidar valores referenciais de variáveis antropométricas e fisiológicas, principalmente de potência anaeróbia, através de testes indiretos.

Referências

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