efdeportes.com

Treinamento psicológico: perfil de conhecimento 

de treinadores de basquetebol cearenses

Entrenamiento psicológico: perfil de conocimiento de entrenadores de baloncesto de Ceará

 

*Acadêmicos do curso de Educação Física **Docente universitário

Núcleo de estudos e pesquisa nos esportes (NEPE)

Instituto de Educação Física e Esportes

Universidade Federal do Ceará IEFES/UFC

(Brasil)

Neila Nogueira Da Silva*

Davi Moreira Lima Romcy*

Ricardo Hugo Gonzalez**

daviromcy@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo se propõe a refletir sobre o treinamento psicológico no contexto esportivo, mais especificamente na modalidade basquetebol. Tem com objetivo central verificar o conhecimento da preparação psicológica em técnicos de basquetebol na cidade Fortaleza, estado do Ceará (Brasil). A pesquisa caracteriza-se por ser do tipo descritivo exploratória de cunho qualitativo. A amostra foi de dez técnicos de basquete escolhido de forma não aleatória segundo a disponibilidade. Foi utilizado um questionário semi-estruturado com questões abertas. Constatou-se que os treinadores possuem pouco conhecimento sobre a preparação psicológica. Verificou-se também que 60% dos entrevistados possuem somente a graduação embora tenham muito tempo de experiência como atleta e/ou treinador. Concluímos também que o conhecimento sobre o processo de preparação psicológica dos entrevistados provém basicamente de opiniões formadas durante a experiência como atleta e/ou treinador. Recomenda-se outros estudos relacionando a preparação psicológica com técnicos e atletas tendo em vista a relevância do assunto na periodização do treinamento.

          Unitermos: Treinamento esportivo. Psicologia. Basquetebol.

 

Resumen

          El siguiente estudio se propone reflexionar sobre el entrenamiento psicológico en el ámbito deportivo, mas específicamente en el basquetbol. Tiene como objetivo central verificar el conocimiento de la preparación psicológica en técnicos de basquetbol de la ciudad de Fortaleza, en el estado de Ceará, Brasil. La investigación se caracteriza por ser descriptiva exploratoria de carácter cualitativo. La muestra utilizada fue de diez técnicos de basquetbol elegidos de forma no aleatória según su disponibilidad. Fue utilizado un cuestionario semi-estructurado con preguntas abiertas. Se constató que los técnicos poseen poco conocimiento sobre la preparación psicológica. También se observo que el 60 % de los entrevistados poseen solamente la habilitación, a la vez que tenían mucho tiempo de experiencia como jugador y/p entrenador. Se recomienda realizar otros estudios relacionando la preparación psicológica con técnicos y jugadores considerando la importancia del tema en la periodización del entrenamiento.

          Palabras clave: Entrenamiento deportivo. Psicología. Basquetbol.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    A ausência da preparação psicológica na periodização do treinamento é um problema constante em equipes esportivas. Este problema acontece principalmente devido ao pouco conhecimento dos treinadores sobre o assunto e o descaso com a inclusão deste conteúdo na periodização do treinamento. Assim sendo, este estudo pretende verificar o conhecimento acerca da preparação psicológica nos treinadores de basquetebol de Fortaleza.

    Foi observado, que nem sempre, o time melhor preparado nos aspectos físicos, técnicos e táticos obtêm a vitória. Assim despertou-se o interesse em saber o porquê desses times tão qualificados nos elementos da periodização do treinamento não conseguirem chegar ao máximo de seu rendimento nas competições.

    Chegamos assim na falha que acontece no planejamento da periodização, que diz respeito à preparação psicológica e a sua importância no desempenho dos atletas. Apesar dos treinadores passarem várias horas buscando novos exercícios e desenvolvendo as capacidades físicas de seus atletas, muitas vezes negligenciam os aspectos relacionados ao treinamento psicológico. (MARLIANI, 1990)

    Para jogarmos basquetebol é preciso que tenhamos o domínio dos aspectos físicos, técnicos, tático-cognitivos e psicológicos que o jogo pede, para que assim possamos enfrentar as tarefas solicitadas durante os treinamentos e as competições. O treinamento psicológico é necessário para assegurar um desempenho físico elevado, melhorando a disciplina, a perseverança, a força de vontade, a confiança e a coragem nos atletas.

A Preparação Psicológica

    Os termos “treinamento de habilidades psicológicas”, “treinamento mental” e “preparação mental” são equivalentes. Referem-se ao treinamento cujo objetivo é permitir que o esportista atinja regularmente as condições ideais para que possa desempenhar seu rendimento máximo, através da aprendizagem e do desenvolvimento de habilidades mentais. (PINESCHI, 2010)

    O treinamento psicológico também pode ser definido como a aplicação de uma série de teorias e técnicas vindas da psicologia, que tem como objetivo a aquisição ou melhora das habilidades psicológicas necessárias para a prática do desporto competitivo, de forma que permita melhorar ou manter o rendimento esportivo, assim como ajudar no crescimento e bem-estar pessoal dos esportistas. (FLEURY, 2001)

    A psicologia do desporto se torna importante, pois ela tem como função ajudar o atleta a controlar seu comportamento, não deixando este influir positiva ou negativamente no funcionamento físico, técnico e tático, assim não interferindo de forma decisiva no rendimento desportivo. De acordo com Ramirez (1999) a psicologia nos dá ferramentas (avaliações e estudos sobre os comportamentos) para que possamos compreender e modificar os atletas a fim de otimizá-los.

    Ocorrendo de forma bem programada e bem administrada a preparação psicológica tende a trazer benefícios para todos os envolvidos. (MACHADO, 2002). É importante salientar que os aspectos da preparação psicológica devem estar presentes em todos os conteúdos do treinamento esportivo (treinamento físico, técnico e tático) e que cada conteúdo tem seus próprios requisitos psicológicos. Assim como é preciso a utilização de métodos que desenvolvam as capacidades físicas e as habilidades técnico-táticas, e que se estimule o aprimoramento das habilidades psicológicas inerentes ao processo de treinamento e competição, a fim de melhorar o rendimento dos jogadores. Com o intuito de ajudar o esportista a conseguir o melhor rendimento a partir do que é capaz, ou seja, o que o treinamento psicológico pode oferecer é uma melhora da consistência e do controle desse rendimento por parte do atleta. (KORSAKAS; MARQUES, 2005)

    Os elementos psicológicos são importantíssimos para a manutenção do equilíbrio emocional necessário a um bom desempenho esportivo. Podemos citar, entre tantos fatores, a motivação, a competitividade, a ansiedade, a agressividade e o estresse. O estresse ocupa um lugar de destaque e saber lidar com as situações causadoras de estresse, comuns a uma competição, pode ser determinante na qualidade do desempenho esportivo. (ROSE JR; DESCHAMPS; KORSAKAS; 2001b)

    A preparação psicológica conta com uma série de habilidades que são essenciais para que os atletas possam conseguir um bom rendimento. Segundo Rose Jr, Deschamps e Korsakas (2001a) o basquetebol exige três fatores básicos para a sua prática: concentração, controle e confiança. O atleta precisa estar focalizado na tarefa, controlando suas emoções e confiando na sua capacidade de realizá-la. Ainda tem que ter autocontrole e não deixar que as emoções influenciem nas decisões a serem tomadas.

    A concentração é o autodomínio do corpo que produz uma redução do esforço (MARLIANI, 1990). Sendo assim, pode ser definida como uma capacidade difícil de entender, mas cuja importância se torna bem mais visível precisamente quando está ausente. Desta maneira, o atleta deve bloquear as distrações, onde ele deve controlar a mente, focar-se na tarefa a realizar e não deixar que nada perturbe.

    A atividade do técnico abrange um conjunto de conhecimentos que se referem a áreas bastante diversificadas. É imprescindível que o técnico esportivo tenha uma formação de qualidade que possa garantir a organização e o conteúdo no processo de treinamento, e ainda que ele seja capaz de estimular no atleta o desenvolvimento motor e intelectual. (BALBINO, 2005)

Metodologia

    A pesquisa caracteriza-se por ser do tipo descritivo exploratória de corte transversal de cunho qualitativo. A amostra foi composta por dez professores graduados em Educação Física que treinam equipes de basquetebol na cidade de Fortaleza-Ceará escolhidos de forma não aleatória e intencional. Para a coleta de dados foi utilizado um questionários semi-estruturado com três questões abertas com o intuito de verificar como os treinadores percebem a liderança em seu esporte, identificar o nível de conhecimento sobre a preparação psicológica dos treinadores e verificar os métodos utilizados para o controle do estresse gerado pelas partidas nos atletas.

Resultados e discussões

    Ao analisarmos os dados gerais do professores entrevistados temos que 90% são do sexo masculino e apenas 10% do sexo feminino. Os treinadores têm idade média de 36 anos, onde o mínimo é de 24 anos e o máximo de 54 anos. Quanto à formação acadêmica, 60% dos entrevistados afirmam ter completado somente a graduação, 30% afirmam ter grau de especialista e apenas 10% disse ter concluído o mestrado. O próximo item se referia a tempo de atuação profissional, onde tivemos uma média de 15 anos, com o mínimo de 4 anos e o máximo de 30 anos. Quanto ao nível das competições que os professores participam, 10% afirmaram ter participado apenas de competições a nível municipal, 20% a nível estadual, 20% a nível regional, 40% a nível nacional e 10% a nível internacional. Quando questionados sobre o tempo de experiência como atletas na modalidade esportiva temos como média 14 anos, com o mínimo de 4 anos e o máximo de 30 anos. A última questão da parte de dados gerais falava sobre as fontes de pesquisa dos professores, onde tivemos como resposta mais expressiva dos entrevistados a utilização de artigos científicos e livros.

Tabela 1. Dados da questão 02

    Como podemos observar na tabela 1, 50% dos entrevistados afirmou possuir conhecimentos razoáveis acerca da preparação psicológica e 40% afirmou possuir sim conhecimento sobre o assunto.

    A questão 03 falava sobre o estresse e perguntou aos professores: “Como você lida com o estresse da partida gerado em seus atletas?”. Por ser uma questão aberta abrimos margem para respostas divergentes, onde podemos citar como expressões importantes coletadas dos questionários: “lido com o estresse de forma racional”; “de forma calma e com liderança”; “superando e acolhendo os atletas estressados”; “adaptando o estresse a realidade dos objetivos do time”; “dividindo experiências, conversando, usando vídeos e textos motivacionais”; “treinando com realidade de jogo”.

    Podemos notar que os entrevistados possuem e utilizam vários recursos para lidar com o estresse em seus atletas e que todas as expressões citadas acima são ferramentas importantes no controle do estresse.

Conclusões

    Os resultados obtidos nessa pesquisa indicam que os professores possuem pouco conhecimento sobre a preparação psicológica, conhecimento este que, em sua maioria é superficial e parte de princípios ligados ao censo comum proveniente de experiências anteriores no esporte. No geral os professores possuem algum conhecimento sobre o assunto, sendo esse conhecimento proveniente da prática como atleta, da experiência como treinador ou sejam conhecimentos adquiridos no curso de graduação/especialização.

    Quanto às limitações desse estudo, podemos citar a dificuldade em conversar com os professores e aplicar o questionário, pois eles a principio se mostravam impacientes com a abordagem do pesquisador. Citamos também a dificuldade de locomoção, já que cada professor foi procurado individualmente em seu local de trabalho. Outra limitação foi a dificuldade em instruir os entrevistados a responderem as perguntas abertas de forma uniforme, pois alguns não entendiam realmente o que a questão perguntava ou não sabiam que tipo de resposta o entrevistador estava querendo obter.

    Sugerimos um estudo relacionando a preparação psicológica dos atletas. Onde os sejam analisados previamente, depois ocorra um período de aplicação das etapas e dos elementos da preparação psicológica, para então realizar outra analise e comparar os resultados. A fim de identificar melhoras tanto no aspecto pessoal do atleta, quanto no rendimento deste em quadra.

    Por fim, esperamos que este estudo motivem aos professores a procurar conhecimentos mais específicos acerca da preparação psicológica e que eles insiram este recurso na periodização do treinamento de seus atletas.

Referências

  • ANDRADE, R. Importância atribuída, auto-percepção e necessidades de formação do treinador de Basquetebol sobre os conhecimentos e competências profissionais. 2009. Monografia (Graduação em desporto e educação física) – Universidade do Porto, Porto.

  • BALBINO, H. F. Pedagogia do treinamento: método, procedimentos pedagógicos e as múltiplas competências do técnico nos jogos desportivos coletivos. Campinas, SP: 2005.

  • CATANEO, I.S. Avaliação da flexibilidade de um grupo de bailarinos da Cia de Ballet Laura Macedo através de testes lineares, angulares e adimensionais. Projeto Puic. Educação Física – Licenciatura- Campus de Tubarão – Universidade do sul de Santa Catarina. Disponível em: http://www.rexlab.unisul.br. Acesso em: 13/05/2010

  • FLEURY, S. Concentração. Disponível em: http://www.suzyfleury.com.br. Acesso em: 13/05/2010a

  • FLEURY, S. Controle Emocional. Disponível em: http://www.suzyfleury.com.br, Acesso em: 13/05/2010b

  • FLEURY. S. Treinamento Psicológico de Equipes Profissionais. São Paulo, 2001.

  • FONTELES, M.G.S.R. A Mulher e o Sagrado: discutindo uma proposta metodológica. Âncora – Revista digital de estudos em religião.

  • GAYA, A. A ciência do movimento humano. Artmed: Porto Alegre, 2006.

  • GOLDEMBERG, R.; OTUTUMI, C. Análise de conteúdo segundo Bardin: procedimento metodológico utilizado na pesquisa sobre a situação atual da Percepção Musical nos cursos de graduação em música do Brasil. Anais do SIMCAM4 – IV Simpósio de Cognição e Artes Musicais, maio, 2008.

  • GOTZE, M. M. A comunicação entre crianças, pais e treinadores na escolinha esportiva de basquetebol, em aulas e eventos esportivos. 2002. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento Humano). Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 2002. 175p.

  • KORSAKAS. P.; MARQUES. J. A. A. Basquetebol: uma visão integrada entre ciência e prática. A preparação psicológica como componente do treinamento esportivo no basquetebol. 2005.

  • MACHADO, C. G. Sucesso e insucesso no basquetebol feminino adulto de Santa Catarina: Percepção dos atletas e treinadores. 2002. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Federal Santa Catarina, Florianópolis. 2002. 126p.

  • MARLIANI, B. Preparação psicológica para os resultados do mais alto nível. Grandes treinadores falam sobre motivação. Lisboa: Direção Geral dos Desportos, 1990.

  • OGILVIE, B. Confiança: o critério de base mais importante. Grandes treinadores falam sobre motivação. Lisboa: Direção Geral dos Desportos, 1990.

  • PINESCHI, G. Treinamento mental e visualização no esporte. Laboratório Olímpico – Informativo técnico-científico do COB, v. 3, n. 15, 2010.

  • RAMIREZ, F. A. Uma perspectiva psicanalítica para o treinamento em equipes de base de basquetebol. 1999. Monografia (Graduação) - Curso de Educação Física, Faculdade de Educação Física – UNICAMP 1999.

  • ROSE JR. D.; DESCHAMPS. S. R.; KORSAKAS. P. O jogo como fonte de stress no basquetebol infanto-juvenil. Revista portuguesa de ciências do desporto, v. 1, n. 2, p. 36–44, 2001a.

  • ROSE JÚNIOR, D.; DESCHAMPS, S.; KORSAKAS, P. Situações causadoras de stress no basquetebol de alto rendimento: fatores extracompetitivos. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 9, n. 1, p. 25-30, jan, 2001b.

  • SANTOS. S. G.; SHIGUNOV. V. Suporte psicológico ao atleta: uma necessidade “teórica” que precisa ser aplicada. Revista Treinamento Desportivo, Curitiba, v. 5, n. 2, p. 74-83, 2000.

  • VENTURA, R.L. Habilidades psicológicas, traço e estado de ansiedade competitiva e orientação para os objetivos em atletas de modalidades individuais e coletivas. 2007. Seminário (Licenciatura em Ciências do Desporto e Educação Física) - Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física de Coimbra.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 169 | Buenos Aires, Junio de 2012  
© 1997-2012 Derechos reservados