Efeitos do treinamento aeróbico no índice de fadiga medido por testes de sprints repetidos Efectos del entrenamiento aeróbico en el índice de fatiga medido por pruebas de sprints repetidos |
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Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) (Brasil) |
Moisés Vieira de Carvalho Guilherme Passos Ramos Matheus Siqueira Andrade |
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Resumo A capacidade de recuperação após a realização de um esforço é fundamental em esportes com características intermitentes. Este estudo tem como objetivo principal verificar os efeitos do treinamento aeróbico no índice de fadiga medido por testes de sprints repetidos. Um estudo de caso foi realizado, no qual um indivíduo do sexo masculino (idade: 24 anos; estatura: 185 cm; massa corporal: 86 kg; consumo máximo de oxigênio (VO2máx): 47,9 mL.kg-1.min-1) foi submetido a testes de sprints repetidos (Rast Test) antes e depois de 18 sessões de treinamento aeróbico. O treinamento aeróbico promoveu o aumento de 9,4% no VO2máx, redução de 19,2% no índice de fadiga e de 6,6% no tempo total dos sprints após o período de treinamento. Podemos concluir que atletas praticantes de modalidades, nas quais esforços máximos são requeridos após um curto intervalo de recuperação, seriam beneficiados com o treinamento aeróbico. Unitermos: Recuperação. Treinamento aeróbico. Sprints repetidos.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A capacidade para recuperar rapidamente após a realização de um esforço é fundamental em esportes com características intermitentes, onde esforços subseqüentes são requeridos após pequenos intervalos de recuperação. Evidências científicas sugerem que as adaptações induzidas pelo treinamento aeróbico podem melhorar essa recuperação em exercícios intermitentes subseqüentes de alta intensidade (THODEN, 1991; RHODES e TWIST, 1990; TOMLIN e WENGER, 2001). Tais adaptações melhorariam a capacidade de fornecimento e utilização de oxigênio e de remoção de co-produtos do metabolismo anaeróbio.
Hamilton et al.(1991) compararam o desempenho de dois grupos de capacidade aeróbica diferentes, medidos através do consumo máximo de oxigênio (VO2máx), sendo o primeiro formado por corredores treinados em endurance e o segundo por jogadores, através de 10 sprints máximos de 6 segundos. Os autores verificaram que os atletas de endurance consumiram mais oxigênio durante os intervalos e demonstraram um menor percentual de decréscimo na potência comparado ao grupo de jogadores.
A contribuição dos sistemas de fornecimento de energia durante sprints repetidos parece ser influenciada pela duração dos sprints, número de sprints e por fim, a duração da recuperação entre os sprints (SPENCER, 2005). Balsom et al. (1992) investigaram as respostas fisiológicas de repetidos sprints de 15, 30 e 40 m com 30 seg de recuperação passiva. Os autores reportaram que o consumo de oxigênio (VO2) pós-teste foi maior após os sprints de 30 e 40 m comparado aos de 15 m. Além disso, a concentração de lactato sanguíneo pós-teste foi menor para o ensaio de 15 m. Esses achados demonstram claramente os efeitos da duração dos sprints na contribuição dos sistemas energéticos.
Em outro trabalho, Balsom et al. (1992) testaram os efeitos da duração da recuperação (30, 60 e 120 seg) entre os 15 sprints máximos de 40 m. Os tempos totais dos sprints aumentaram nas situações de 30 e 60 seg de recuperação após o quinto e décimo primeiro sprint, enquanto que nenhum decréscimo significativo foi observado para os intervalos de recuperação de 120 seg. Como esperado, o VO2 mensurado durante os períodos de recuperação manteve-se mais alto nos ensaios de recuperações mais curtas, assim como as concentrações de lactato sanguíneo pós-teste.
Diante dos achados acima, o presente estudo tem como objetivo principal verificar o efeito do treinamento aeróbio na capacidade de recuperação (índice de fadiga) em sprints intermitentes.
Materiais e métodos
Amostra
O estudo de caso foi caracterizado pela participação voluntária de um indivíduo do sexo masculino (Idade: 24 anos; Estatura: 185 cm, Massa Corporal: 86 kg e VO2máx: 47,9 mL.kg-1.min-1). Para estimativa do VO2máx utilizou-se o Yo Yo Endurance Test proposto por Bangsbo (1996).
Procedimentos preliminares
Após a determinação do VO2máx, o voluntário foi submetido a um teste de sprints repetidos (Rast Test). O Rast Test (Running Anaerobic Sprints Test) consistiu em 6 corridas de 35 m em velocidade máxima, com intervalo de recuperação de 10 seg entre as mesmas. Após 18 sessões de treinamento aeróbico tanto o Yo Yo Endurance Test quanto o Rast Test foram repetidos para estimar o Índice de Fadiga, dado pela equação: Índice de Fadiga (W/s) = Potência Máxima (W) – Potência Mínima (W)/Tempo Total das 6 corridas, onde, Potência (W)=Peso (kg) x Distância2 (m)/Tempo da corrida3 (s).
Ainda na primeira semana, um teste de campo de 3000 m (LÉGER e MERCIER, 1986) foi realizado para estimar a velocidade correspondente ao VO2máx (vVO2máx) e consequentemente, para servir de parâmetro de intensidade do treinamento. Este teste foi escolhido pela facilidade de aplicação e por apresentar uma alta correlação (r=0,98) com a vVO2máx medida em laboratório. Na quarta semana de treinamento esse teste foi replicado para se obter um feedback em relação à carga de treino proposta, e também para estimar uma nova vVO2máx. Os ajustes contribuíram para configurar a intensidade das sessões subseqüentes de treinamento.
Para o controle da intensidade, representada em termos percentuais da vVO2máx, foi montado um circuito de 100 m, no qual o indivíduo deveria completá-lo no tempo pré-estabelecido. Desse modo, baseado no percentual almejado da vVO2máx e na distância então conhecida (100 m), o tempo para completar esta metragem foi calculado por meio de um cronômetro manual.
Planejamento do treinamento
O período de treinamento iniciou-se na semana seguinte à aplicação dos testes preliminares. Em cada semana foram realizadas 3 sessões de treino, totalizando assim 18 sessões, conforme especificado no quadro abaixo.
Quadro 1. Planejamento das sessões de treinamento
Resultados
Os resultados das variáveis medidas (VO2máx, Índice de Fadiga e tempo total dos sprints) estão apresentados na Tabela 1.
Discussão
Em termos percentuais, observou-se um aumento de 9,4% no VO2máx, uma redução de 19,2% no índice de fadiga e de 6,6% no tempo total dos seis sprints, após o período de treinamento. Esses resultados estão de acordo com o que tem sido proposto na literatura, de que adaptações associadas ao treinamento aeróbico melhorariam a capacidade de recuperação em exercícios subseqüentes intermitentes de alta intensidade (THODEN, 1991; TWIST e RHODES, 1990; TOMLIN e WENGER, 2001). Sabe-se que o treinamento aeróbico induz adaptações significativas nas capacidades funcionais relacionadas ao transporte e à utilização do oxigênio via processos aeróbicos como, o aumento no volume de sangue circulante, aumento da capilarização em torno do músculo exercitado, aumento do número e tamanho das mitocôndrias, bem com no aumento da capacidade das enzimas oxidativas (McARDLE, KATCH e KATCH, 2003). Especula-se assim que, isso possibilitaria um melhor desempenho em esportes com características intermitentes, onde esforços de alta intensidade e curta duração são requeridos após pequenos intervalos de tempo. Dessa forma, podemos concluir que atletas praticantes de modalidades intermitentes seriam beneficiados com o treinamento aeróbico. Para pesquisas posteriores, sugere-se a utilização de uma maior amostra, permitindo um caráter inferencial dos dados e não apenas descritivo.
Referências bibliográficas
Balsom P.D.; Seger J.Y.; Sjödin B.; Ekblom B. Maximal-intensity intermittent exercise: effect of recovery duration. International Journal of Sports Medicine. 1992; Oct; 13(7): p.528-33.
Balsom P.D.; Seger J.Y.; Sjödin B.; Ekblom B. Physiological responses to maximal intensity intermittent exercise. European Journal of Applied Physiology and Occupational Physiology. 1992; 65(2): p.144-9.
BANGSBO J. Yo-Yo Test. Ancona, Italy: Kells, 1996
Hamilton A.L.; Nevill M.E.; Brooks S.; Williams C. Physiological responses to maximal intermittent exercise: differences between endurance-trained runners and games players. Journal of Sports Sciences. 1991; 9(4): p.371-82.
LÉGER L.; MERCIER D. The relationship between % VO, and running performance time. In Landers (Ed.), The 1984 Olympic Scientific Congress Proceedings: 1986. Vol.13. Sport and Elite Performers. Champaign: Human Kinetics. p.113-119
MCARDLE W.D.; KATCH F.I.; KATCH V.L. Fisiologia do Exercício: Energia, Nutrição e Desempenho Humano. 2003; Rio de Janeiro, 5ª ed.: Ed. Guanabara Koogan.
Spencer M.; Bishop D.; Goodmann C. Physiological and metabolic responses of repeated sprint activities. Specific to field-based team sport. Journal of Sports Medicine and Physical Fitness. 2005; 35, p.1025-44.
THODEN J.S. Testing aerobic power. In: MACDOUGALL, J.D.; WENGER, H.A.; GREEN, H.J. (editors). Physiological testing of the high-performance athlete. Champaign (IL): Human Kinetics, 1991. p. 107-74.
Tomlin D.L.; Wenger H.A. The relationship between aerobic fitness and recovery from high intensity intermittent exercise. Sports Medicine. 2001; 31(1): p.1-11.
Twist P.; Rhodes T. The Bioenergetic and Physiological Demands of Ice Hockey. National Strength and Conditioning Journal. 1993; 15(5): p.68-70.
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