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Transtorno do estresse pós-traumático relacionado ao trabalho

Trastorno por estrés postraumático relacionado con el trabajo

 

*Enfermeiro pós-graduando em Saúde da Família pela Universidade Estadual

de Montes Claros (UNIMONTES). Atua na Estratégia Saúde da Família

pela Secretaria Municipal de Saúde de Espinosa/MG

**Enfermeira especialista em Enfermagem do Trabalho pela FATEC/FACINTER

Docente das Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE)

***Enfermeiro especialista em Saúde da Família pela FUNORTE. Docente da FUNORTE

Atua na Estratégia Saúde da Família pela Secretaria Municipal de Montes Claros/MG

****Enfermeira especialista em Saúde da Família pela FUNORTE. Referência

Técnica em Vigilância Epidemiológica pela Secretaria Municipal de Montes Claros/MG

*****Geólogo graduado pela Sociedade Educativa do Brasil (SOEBRAS)

Patrick Leonardo Nogueira da Silva*

Valessa Gizele Ramos de Oliveira**

José Ronivon Fonseca***

Ludmila Pereira Macedo****

Alisson Pereira Veiga*****

patrick_mocesp70@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT) é caracterizado por uma série de respostas adversas desencadeadas após os eventos traumáticos. Pode ser desenvolvido a partir de condições vivenciadas no ambiente laboral, como graves acidentes ocupacionais ou assaltos, configurando-se, neste caso, como uma doença do trabalho. É um transtorno prevalente, capaz de ocasionar vários prejuízos para o indivíduo e a sociedade em geral, entre eles o isolamento social, o desânimo, o aumento do absenteísmo e de aposentadorias prematuras. O estudo objetiva discutir o Transtorno do Estresse Pós-Traumático relacionado ao trabalho através das fontes literárias. O presente estudo consistiu em uma pesquisa de revisão bibliográfica na qual foi realizado sob levantamento literário abrangendo artigos retirados da base de dados do SCIELO, LILACS e BIREME. É um estudo teórico sobre as características do TEPT na são discutidos o conceito, a epidemiologia, os agentes desencadeadores, as implicações, o diagnóstico, o tratamento e a prevenção desta alteração. Contudo, acredita-se que atuar na profilaxia e no estabelecimento de intervenções precoces seja fundamental para minimizar os danos decorrentes deste transtorno psíquico. Salienta-se a importância de mais estudos sobre o tema, já que foram encontradas poucas produções científicas específicas acerca do TEPT relacionado ao trabalho.

          Unitermos: Transtorno do estresse pós-traumático. Doença ocupacional. Saúde do trabalhador.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O trabalho não é apenas uma parte da atividade psíquica do indivíduo, ao contrário, ele convoca toda sua totalidade e produz relações efetivas capazes de afetar sensivelmente a saúde física e mental, caracterizando-se como uma atividade concreta e simbólica que inscreve cada ser em um coletivo social e no próprio gênero humano (CLOT, 2006).

    A contribuição do trabalho para o adoecimento dá-se a partir de uma ampla gama de aspectos: desde fatores pontuais, como a exposição a agentes tóxicos, até a complexa articulação de fatores relativos à organização do trabalho, como a divisão e parcelamento das tarefas, as políticas de gerenciamento dos recursos humanos e a estrutura hierárquica organizacional. Os transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho resultam, assim, não de fatores isolados, mas de contextos ocupacionais em interação com o corpo e aparato psíquico dos trabalhadores (BRASIL, 2001).

    Segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), os transtornos mentais menores acometem cerca de 30% dos trabalhadores em exercício, e os transtornos mentais graves, aproximadamente 5 a 10% dos empregados. No Brasil, dados do INSS sobre a concessão de benefícios previdenciários de auxílio-doença, por incapacidade para o trabalho superior a 15 dias e de aposentadoria por invalidez, por incapacidade definitiva para o trabalho, mostram que os transtornos mentais, com destaque para o alcoolismo crônico, ocupam o terceiro lugar entre as causas dessas ocorrências (BRASIL, 2001).

    Não é tarefa fácil comprovar o nexo causal entre o adoecimento psíquico e o trabalho. O Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), no entanto, é o único distúrbio mental cuja relação direta e causal com o trabalho é admitida por vários pesquisadores e correntes teóricas do campo da Saúde Mental e do Trabalhador (DORIGO & LIMA, 2007).

    O TEPT é definido no DSM-IV como uma resposta sintomática envolvendo revivência (critério B), esquiva de estímulos associados ao trauma e entorpecimento da responsividade geral (critério C) e excitabilidade aumentada (critério D) a um evento estressor (critério A). É um transtorno que acarreta sofrimento clinicamente significativo e/ou prejuízo social ou ocupacional (critério F), com presença de sintomas por tempo superior a 1 mês (critério E) (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002).

    Ele está relacionado a um evento traumático, que no caso do trabalho, podem ser dificuldades físicas e mentais associadas à atividade laboral, reação após acidente ocupacional grave ou catastrófico ou após assalto no serviço ou circunstâncias relativas às condições de trabalho (BRASIL, 2001).

    As conseqüências do TEPT são bastante prejudiciais e incluem: diminuição da habilidade de relacionamento interpessoal em ambientes sociais e familiares (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002), alterações no estado de ânimo, isolamento social, abuso de substâncias psicoativas (KESSLER, 2000), menores índices de satisfação no trabalho, aumento do absenteísmo e da aposentadoria precoce (WAGNER, HEINRICHS & EHLERT, 1998).

    Tendo em vista a importância do tema, este artigo teve como objetivo discutir sobre o Transtorno do Estresse Pós-traumático relacionado ao trabalho. Será apresentada a seguir sua definição, epidemiologia, etiologia, conseqüências, quadro clínico, diagnóstico, tratamento, prevenção e, posteriormente, serão feitas as considerações finais sobre o estudo.

Metodologia

    Este estudo teve como suporte a Revisão Bibliográfica, sendo a mesma feita de forma sistemática.

    A revisão de artigos foi realizada através da consulta ao SCIELO (Scientific Eletronic Library Online), LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e BIREME (Biblioteca Regional de Medicina) considerado como critério inicial para seleção.

    Optou-se por estas bases de dados por serem as mesmas uma das principais fontes de publicações científicas na atualidade e, a partir de seu sistema de busca, utilizaram-se as seguintes palavras-chave: “Transtorno do Estresse Pós-Traumático”, “Doença Ocupacional” e “Saúde do Trabalhador”.

    A coleta de dados pela base de dados eletrônica ocorreu no 1º semestre de 2011, entre os meses de março e abril do respectivo ano pelos próprios pesquisadores do trabalho. Para o mesmo, utilizou-se um formulário estruturado para a captação dos artigos científicos.

    A busca resultou em 39 artigos publicados sobre a respectiva temática. Dentre esses, foram selecionados 17 utilizando como critério de inclusão apenas os artigos que estiverem na língua portuguesa. Foi realizada uma leitura cuidadosa de todos os artigos selecionados, incluindo, neste estudo, aqueles que utilizaram métodos epidemiológicos na abordagem do transtorno do estresse pós-traumático no país.

    Foram também incluídas publicações de órgãos oficiais sobre distribuição e freqüência desta doença ocupacional no âmbito nacional e internacional, assim como outros artigos originais restritos ou não ao intervalo pré-estabelecido de seleção dos demais, em decorrência de seu valor como referência histórica e/ou sua relevância no contexto apresentado.

Desenvolvimento

    Para o desenvolvimento deste artigo foram buscados artigos em sites científicos, manuais do Ministério da Saúde e livros que versavam sobre o TEPT relacionado ao trabalho. Após o levantamento inicial, os textos selecionados serviram de subsídios para esta revisão.

Conceitos e contextualização acerca do TEPT

    O termo "stress" foi introduzido na área da saúde por Selye, em 1936, para designar a resposta geral e inespecífica do organismo frente a um estressor ou situação estressante. Posteriormente o termo passou a ser utilizado tanto para designar esta resposta do organismo como a situação que o desencadeia (LABRADOR & CRESPO, 1994).

    Os fatores que levam ao estresse são sempre indesejáveis, incontroláveis, súbitos e, muitas vezes, imprevisíveis e difíceis de adaptação. Desencadeiam reações severas, intensas e negativas, diferentes do comportamento habitual, pois elas são influenciadas pelo eixo hipotalâmico – hipofisário – adrenal com a liberação de vários hormônios e neurotransmissores (dopamina, serotonina, acetilcolina, noradrenalina e adrenalina) capazes de ativar os mecanismos de adaptação corporal para a sobrevivência. Portanto, ocorre um desequilíbrio da homeostase corporal, levando a uma cascata de reações sistêmicas nos órgãos‐alvo frente às alterações do sistema autonômico periférico (CHROUSOS & GOLD, 1995).

    A resposta ao estresse é a somatória da interação entre as características da pessoa e as demandas do meio, ou seja, as discrepâncias entre o meio externo e interno e a percepção do indivíduo quanto a sua capacidade responsiva. Essa resposta ao estresse compreende aspectos cognitivos, comportamentais e fisiológicos. Nesses três níveis, ela é necessária até certo limite, que quando ultrapassado, pode levar a um efeito desorganizador – propiciando o surgimento de transtornos psiquiátricos (MARGIS, 2011).

    O Transtorno de Estresse Pós-Traumático é desenvolvido após a exposição a um evento traumático grave, no qual o indivíduo apresenta, principalmente, sintomas de revivescência do evento traumático, fuga de estímulos associados ao evento e hiperexcitabilidade. A pessoa pode agir ou sentir como se o evento estivesse ocorrendo novamente, os flashbacks são um exemplo da revivescência. O indivíduo também pode evitar situações ou conversas associadas ao trauma ou ter dificuldade para lembrar-se de aspectos importantes relacionados ao evento, ou ainda, ter menor interesse em participar de atividades significativas, podendo surgir uma sensação de isolamento. Também estão presentes sintomas de hiperexcitabilidade autonômica, como alterações do sono, surtos de raiva, dificuldade de concentração, hipervigilância e propensão para "assustar-se" de forma exagerada (MARGIS, 2011).

    O estado de estresse pós-traumático ou TEPT caracteriza-se como uma resposta tardia e/ou protraída a um evento ou situação estressante (de curta ou longa duração) de natureza excepcionalmente ameaçadora ou catastrófica, que causaria extrema angústia em qualquer pessoa, como os desastres naturais ou produzidos pelo homem, acidentes graves, testemunho de morte violenta ou ser vítima de tortura, estupro, terrorismo ou qualquer outro crime. O paciente experimenta, testemunha ou é confrontado com um evento ou eventos que implicam em morte ou ameaça de morte, lesão grave ou ameaça da integridade física a si ou a outros. Fatores predisponentes, como traços de personalidade ou história prévia de doença neurótica, podem baixar o limiar para o desenvolvimento da síndrome ou agravar seu curso, mas não são necessários nem suficientes para explicar sua ocorrência (BRASIL, 2001).

    De acordo com Dorigo e Lima (2007), o TEPT não é uma afecção recente, ela era estudada por Freud, que analisou as neuroses de guerra. Ao final da primeira guerra mundial, muitos combatentes retornaram às suas casas apresentando quadros cujas origens eram desconhecidas. Os médicos militares os tratavam como alterações no sistema nervoso, porém os exames não revelavam modificações físicas. Ao analisar os soldados afastados, Freud percebeu relutância em retornar às funções militares e interpretou isso como uma defesa, ou seja, como uma forma de se resguardar das conseqüências de suas condições de trabalho, medo de perder a própria vida, oposição à ordem de matar outras pessoas, rebeldia contra a supressão implacável da própria personalidade pelos seus superiores.

    Para tal transtorno, Freud chegou a sugerir um tratamento com eletrochoque. Entretanto, após sua aplicação, ao tentar-se fazer com que os combatentes retornassem para a guerra, os sintomas iniciais reapareciam, sugerindo que a realidade de trabalho era o fator principal responsável pela origem do quadro. Ressalta-se que esse tipo de transtorno não foi detectado apenas em pacientes que tinham vivido a experiência da guerra, mas em pessoas vítimas de acidentes nas ferrovias, por exemplo (DORIGO & LIMA, 2007).

Epidemiologia e fatores de risco para o desenvolvimento do TEPT

    Estima-se que a prevalência do Transtorno de Estresse Pós-Traumático na população geral seja de 01 a 03%. Já nos grupos nos grupos de risco (por exemplo, combatentes), essas taxas sobrem para 5 a 75% (BRASIL, 2001).

    Vários fatores são considerados importantes para o desenvolvimento do TEPT, incluindo características do meio, do estressor (sua natureza e intensidade) e da pessoa (sua vulnerabilidade e habilidade para modular uma reação inicial frente ao evento traumático). Além disso, outras respostas podem ser produzidas frente aos eventos estressores como a Reação Aguda ao Estresse, crises de pânico ou depressão (MARGIS, 2011).

    O risco de desenvolvimento do TEPT associado ao trabalho relaciona-se a atividades perigosas que envolvem responsabilidade com vidas humanas, com risco de grandes acidentes, como o trabalho nos sistemas de transporte ferroviário, metroviário e aéreo ou dos bombeiros. Pode acometer ainda empregados após assaltos em serviço ou graves acidentes ocupacionais. É mais prevalente em adultos e jovens, mas pode surgir em qualquer idade devido à natureza das situações desencadeadoras. O transtorno acomete mais solteiros, divorciados, viúvos e pessoas prejudicadas social ou economicamente (BRASIL, 2001).

    Estudos demonstram elevadas taxas de comorbidade nas pessoas com Transtorno do Estresse Pós-traumático. São sugeridos diferentes motivos para este fato, entre eles, destaca-se que a história prévia de outra doença mental pode aumentar o risco do TEPT (DAVIDSON, SWARTZ & STORCK, 1985). Freud já havia percebido que nem todos os combatentes se tornavam neuróticos de guerra, apontando para as vulnerabilidades pessoais que também participam da gênese desse tipo de transtorno (DORIGO & LIMA, 2007).

Conseqüências do TEPT

    As conseqüências do TEPT para o indivíduo e a sociedade são diversas. Acontecem prejuízos na habilidade de relacionamento interpessoal em ambientes sociais e familiares, como: instabilidade no trabalho, problemas conjugais, divórcio e discussões com familiares e amigos (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002). Além disso, podem ocorrer alterações no estado de ânimo, o isolamento social e o abuso de substâncias psicoativas, lesando ainda mais a saúde e diminuindo o rendimento no trabalho (KESSLER, 2000).

    Pode-se verificar ainda que a persistência dos sintomas de TEPT contribui para menores índices de satisfação no trabalho, aumento do absenteísmo e da aposentadoria precoce (WAGNER, HEINRICHS & EHLERT, 1998).

Quadro clínico do TEPT

    O quadro típico do Estado de Estresse Pós-Traumático inclui episódios de repetidas revivescências do trauma, que se impõem à consciência clara ou através de pesadelos. O paciente apresenta uma sensação persistente de entorpecimento ou embotamento emocional, diminuição do envolvimento ou da reação ao mundo que o cerca, rejeição a atividades e situações que lembram o episódio traumático. Usualmente, observam-se um estado de excitação autonômica aumentada com hipervigilância, reações exacerbadas aos estímulos e insônia. Sintomas ansiosos e depressivos, bem como idéias suicida e abuso de álcool podem ocorrer, assim como episódios dramáticos e agudos de medo, pânico ou agressividade, desencadeados por estímulos que despertam uma recordação e/ou revivescência súbita do trauma ou da reação original a ele (BRASIL, 2001).

    Segundo Brasil (2001), o início do quadro segue-se ao trauma, com um período de latência que pode variar de poucas semanas a meses, raramente excedendo a 6 meses. O curso é flutuante, mas a maior parte dos pacientes se recupera. Em uma pequena proporção dos casos, a condição pode evoluir cronicamente por muitos anos, transformando-se em uma alteração permanente da personalidade.

Diagnóstico do TEPT

    O diagnóstico de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (CID-10, F-43.1), não é simples, uma vez que exige do profissional a capacidade de investigar detalhadamente a história pregressa do paciente a fim de desvendar todo o processo de adoecimento, além do momento em que ocorreu o trauma que desencadeou os demais sintomas. Como o TEPT vem acompanhado de diversos sintomas secundários, como depressão, medo exagerado, delírios persecutórios, pode haver a detecção e tratamento de apenas um dos sintomas, descaracterizando o transtorno. É preciso, portanto, que se faça um diagnóstico detalhado, estabelecendo o nexo causal entre o conjunto de sintomas e o evento traumático para o que o problema possa ser tratado em toda sua abrangência (DORIGO & LIMA, 2007).

    Kapczinski e Margis (2003) apontam outros complicadores. O Manual da CID-10 afirma que, para se efetivar esse diagnóstico, a pessoa deve começar a apresentar os sintomas no prazo de seis meses após o evento estressante enquanto Freud, por exemplo, já falava em período de “incubação” mais longos, com duração até de anos. Por assemelhar-se devido à sintomatologia, o TEPT pode ser confundido com a Reação Aguda ao Estresse (CID-10, F-43.0), embora a duração da Reação seja consideravelmente menor, com sintomas que persistem no máximo, quatro semanas.

    Brasil (2001) relata que o diagnóstico de Estado de Estresse Pós-traumático desencadeado pelo trabalho pode ser feito em pacientes que apresentem quadros de início até 6 meses após um evento ou período de estresse traumático vivenciado no trabalho caracterizados por:

  1. Exposição a evento ou situação estressante (de curta ou longa duração) de natureza excepcionalmente ameaçadora ou catastrófica;

  2. Rememorações ou revivescências persistentes e recorrentes do evento estressor em imagens, pensamentos, percepções ou memórias vívidas e/ou pesadelos e/ou agir ou sentir como se o evento traumático estivesse acontecendo de novo (incluindo a sensação de reviver a experiência, ilusões, alucinações e episódios dissociativos de flashback, inclusive aqueles que ocorrem ao despertar ou quando intoxicado e/ou angústia quando da exposição a indícios internos ou externos que lembram ou simbolizam um aspecto do evento traumático e/ou reação fisiológica exacerbada a indícios internos ou externos que simbolizem ou relembrem um aspecto do evento traumático;

  3. Atitude contínua de evitar circunstâncias semelhantes ou associadas ao evento estressor (ausente antes do trauma) indicada por:

    • Esforços para evitar pensamentos, sentimentos ou conversas relacionadas ao trauma;

    • Esforços para evitar atividades, lugares ou pessoas que tragam lembranças do evento traumático;

    • Incapacidade de relembrar, parcial ou completamente, alguns aspectos importantes do período de exposição ao agente estressor;

    • Interesse ou participação significativamente diminuída em atividades relevantes;

    • Sentimentos de distanciamento das pessoas ou estranhamento;

    • Distanciamento afetivo (como incapacidade de ter sentimentos amorosos);

    • Sentimento de futuro curto (por exemplo, perda da expectativa de uma vida normal);

    • Sintomas permanentes de estado de alerta exacerbado;

    • Dificuldade para adormecer ou continuar dormindo;

    • Irritabilidade ou acessos de raiva;

    • Diminuição de concentração;

    • Hipervigilia;

    • Resposta exacerbada a susto.

    Recomenda-se que seja feito um diagnóstico provável se a latência entre o evento e o início da sintomatologia for maior do que 06 meses, já que a literatura especializada informa que a latência pode variar de uma semana até 30 anos (BRASIL, 2001).

Tratamento do TEPT

    Quanto mais precocemente for o início do tratamento melhor, já que sua instalação presume uma modificação progressiva dos sintomas. Além disso, quanto maior o atraso para se iniciá-lo, maior a probabilidade dos sintomas cronificarem, aumentando o sofrimento do paciente (MARGIS, 2011).

    De acordo com Brasil (2001), o tratamento do Transtorno de Estresse Pós-Traumático envolve:

  1. Psicoterapia: a psicoterapia individual é sempre indicada. Na fase aguda, pode-se seguir o modelo de intervenção em crise com suporte, orientação e desenvolvimento de instrumentos para lidar com o evento traumático. Na fase crônica, a psicoterapia objetiva que o paciente fale livremente, deixando-o rememorar o evento traumático e, quando possível, comece a trabalhar a reconstrução do futuro. A psicoterapia de grupo também pode ser eficaz na elaboração do trauma, especialmente na fase crônica. A psicoterapia de família pode oferecer suporte direto aos membros da família e ao paciente;

  2. Tratamento Farmacológico: os antidepressivos tricíclicos, especialmente a imipramina e a amitriptilina, têm ação comprovada no tratamento do TEPT. A dosagem é igual à do tratamento dos transtornos depressivos, e a duração mínima de uma tentativa terapêutica deve ser de oito semanas. Os pacientes que respondem bem devem manter o curso do antidepressivo por um período mínimo de um ano antes de se tentar a retirada. O uso de antipsicóticos, como o haloperidol, deve ser evitado, exceto em curtos períodos para o controle de crises de agressividade grave ou agitação;

  3. Intervenções Psicossociais: o TEPT relacionado ao trabalho geralmente refere-se a um evento traumático, como o acidente ocupacional, por isso as intervenções psicossociais passam pelo reconhecimento da relação do quadro clínico com o trabalho, pelo acolhimento do sofrimento do trabalhador no local de serviço e pelas orientações e encaminhamentos adequados à situação. Muitas vezes, o desenvolvimento do Transtorno, além do afastamento do trabalho para tratamento, implica um projeto de reabilitação profissional, uma vez que as seqüelas, especialmente os quadros fóbicos persistentes, podem impedir o retorno ao posto de trabalho anterior. O acolhimento do desejo de mudança, o empenho e os esforços da equipe de saúde, no sentido de o paciente retomar uma vida produtiva, são fundamentais para a reconstrução do futuro do indivíduo acometido.

    Mesmo que não haja confirmação do diagnóstico, deve ser dado início ao tratamento de uma pessoa que tenha passado por um evento potencialmente traumático, a partir da oferta imediata de atendimento psicológico a fim de que ela possa iniciar o processo de elaboração da experiência (DORIGO & LIMA, 2007).

Prevenção do TEPT

    Segundo Brasil (2001), a prevenção do Estado de Estresse Pós-Traumático relacionado ao trabalho envolve uma complexa rede de medidas de prevenção de acidentes, segurança e promoção de melhores condições no trabalho, incluindo aspetos organizacionais que respeitem a subjetividade dos empregados. Requer uma ação integrada, articulada entre os setores assistenciais e da vigilância, sendo recomendável que o atendimento seja feito por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, apta a lidar e a dar suporte ao sofrimento psíquico do trabalhador e aos aspectos sociais e de intervenção nos ambientes de trabalho. A intervenção sobre as condições de trabalho é muito importante e se baseia na análise ergonômica do trabalho real ou da atividade, buscando conhecer, entre outros fatores:

  1. Conteúdo das tarefas, das formas de operá-la e dos postos de trabalho;

  2. Ritmo e intensidade das atividades;

  3. Fatores mecânicos e estruturas físicas dos postos de trabalho e das normas de produção;

  4. Sistemas dos turnos;

  5. Mecanismos de premiação e incentivos;

  6. Aspectos psicossociais e individuais;

  7. Relações profissionais entre colegas e chefias;

  8. Medidas de proteção coletiva e individual instituídas pelas empresas;

  9. Estratégias individuais e coletivas adotadas pelos empregados.

    Frente a suspeita ou confirmação da relação da doença com o trabalho, deve-se (BRASIL, 2001):

  1. Informar o fato ao trabalhador;

  2. Examinar os expostos, buscando identificar outros casos;

  3. Notificar o caso aos sistemas de informação em saúde, por meio dos instrumentos próprios, à Delegacia Regional do Trabalho/Ministério do Trabalho e Emprego e ao sindicato da categoria;

  4. Providenciar a emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho, caso o trabalhador seja coberto pelo Seguro de Acidente de Trabalho da Previdência Social;

  5. Orientar o empregador para que adote os recursos técnicos e gerenciais adequados para eliminação ou controle dos fatores de risco;

  6. Indicar investigação do posto de trabalho e intervenções psicossociais de suporte ao grupo de trabalhadores de onde o acometido proveio, já que a ocorrência de um caso do TEPT relacionado ao trabalho deve ser abordada como evento sentinela.

Considerações finais

    O TEPT é um transtorno com prevalências relativas, dependentes principalmente do tipo de exposição a qual os indivíduos são submetidos. Os trabalhadores na área de segurança, por exemplo, devido à atividade de risco que desempenham, possuem maior chance de desenvolvê-lo. É o único transtorno mental que tem nexo-causal com o trabalho aceito por pesquisadores e estudiosos em saúde mental.

    O TEPT ocupacional pode gerar diversos prejuízos, dentre eles: diminuição na habilidade de relacionamento interpessoal, alterações no estado de ânimo, isolamento social, abuso de substâncias psicoativas, menores índices de satisfação no trabalho, aumento do absenteísmo e de aposentadoria precoce.

    Visto que o TEPT é capaz de influenciar negativamente a qualidade de vida do indivíduo e sua capacidade de produção, é importante que medidas preventivas sejam adotadas pelos diversos seguimentos da sociedade, especialmente pelas unidades empregadoras. Relevante também é o estabelecimento do diagnóstico e do tratamento precoce a fim de se minimizar os danos causados pelo transtorno.

    Foram encontradas poucas produções científicas específicas sobre o TEPT relacionado ao trabalho, constatação que reforça a necessidade de que sejam desenvolvidos mais trabalhos sobre este tema.

Referências

  • AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (4ª edição; Texto Revisado). Porto Alegre: Artmed, 2002.

  • ASSUNÇÃO, A. A. Uma contribuição ao debate sobre as relações saúde e trabalho. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 8, n. 4, p. 1005-1018, 2003.

  • BRASIL. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde Série A. Normas e Manuais Técnicos; n. 114, Brasília, 2001.

  • CHOUSOS, G. P.; GOLD, P. W. Stress, basic mechanisms and clinical implications. Annals of the New York Academy of Sciences, 771, xv‐xvii, 1995.

  • CLOT, Y. A função psicológica do trabalho. São Paulo: Vozes, 2006.

  • DAVIDSON, J. R. T.; SWARTZ, M.; STORCK, M. A diagnostic and family study of postraumatic stress disorder. American Journal Psychiatry, v. 142, p. 90-93, 1985.

  • DORIGO, J. N.; LIMA, M. E. A. O transtorno de estresse pós-traumático nos contextos de trabalho: reflexões em torno de um caso clínico. Caderno de Psicologia Social do Trabalho, São Paulo, v. 10, n. 1, junho, 2007.

  • JACQUES, M. G. C. O nexo causal em saúde/doença mental no trabalho: uma demanda para a psicologia. Psicologia & Sociedade, Florianópolis, v. 19, p. 112-119, 2007. Edição especial 01.

  • KAPCZINSKI, F.; MARGIS, R. Transtorno de estresse pós-traumático: critérios diagnósticos. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 25, supl. 01, p. 3-8, 2003.

  • KESSLER, R. C. Posttraumatic stress disorder: The burden to the individual and to the society. Journal of Clinical Psychiatry, v. 61, Supl. 05, p. 4-12, 2000.

  • LABRADOR, F. J.; CRESPO, M. Evaluación del estrés. In: FERNÁNDEZ-BALLESTEROS, R. Evaluación conductual hoy: un enfoque para el cambio en psicologia clínica y de la salud. Madrid: Ediciones Pirámide; 1994. p. 484-500.

  • MARGIS, R. Comorbidade no transtorno de estresse pós-traumático: regra ou exceção? Revista Brasileira de Psiquiatria, São Paulo, 2011.

  • WAGNER, D.; HEINRICHS, M.; EHLERT, U. Prevalence of Symptoms of Posttraumatic Stress Disorder in German Professional Firefigthers. American Journal of Psychiatry, v.155, p. 1727-1732, 1998.

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