Terapia nutricional no envelhecimento e câncer Terapia nutricional en envejecimiento y cáncer |
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*Nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo. Nutricionista da Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal de Viana **Nutricionista pelo Centro Universitário São Camilo. Nutricionista aprimorada em Nutrição Hospitalar ***Nutricionista, formada pelo Centro Universitário São Camilo. Mestre em Epidemiologia e Especialista em Nutrição em Saúde Pública pela UNIFESP e Especialista em Gerontologia pelo Centro Universitário São Camilo ****Fisioterapeuta pela EMESCAM. Professor Mestre de Anatômia do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) Doutorando Pela Faculdade de Medicina da USP |
Eloah da Silva Prado* Natália Fernandes da Silva** Fernanda Salzani Mendes*** Josemberg da Silva Baptista**** (Brasil) |
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Resumo A estrutura etária mundial vem sofrendo mudanças demonstrando um aumento no número de idosos, alterando o perfil morbi-mortalidade. Mais da metade dos idosos apresentam algum problema de saúde, sendo o câncer a moléstia que mais incide sobre esta população. O seu desenvolvimento no organismo compromete o estado nutricional seja pela localização do câncer, ou por efeitos colaterais de fármacos que alteram o metabolismo, apetite e/ou ingestão alimentar do paciente, corroborando com depleção nutricional. Desta maneira, foi realizada uma revisão da literatura entre os anos de 2000 e 2008 a partir das principais bases de dados (BIREME, SCIELO) em saúde pública, no âmbito nacional e internacional, para verificar como o envelhecimento pode ser um fator de risco para o desenvolvimento do câncer e como a nutrição auxilia no tratamento e prevenção dessa doença. Concluiu-se que a intervenção nutricional com oferta adequada de nutrientes e calorias é parte fundamental do tratamento, diminuindo sinais e sintomas, promovendo melhora na qualidade de vida, determinando que o estado nutricional é significativamente importante na recuperação do paciente oncológico. A diminuição dos riscos do organismo em desenvolver uma doença crônica, principalmente o câncer, deve-se a ingestão de nutrientes antioxidantes a médio e longo prazo, além de uma dieta balanceada. Unitermos: Câncer. Subnutrição protéica. Envelhecimento. Antioxidantes. Idosos.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Durante as últimas décadas a estrutura etária mundial vem sofrendo mudanças, caracterizadas por envelhecimento da população com queda de natalidade e aumento da expectativa de vida. Outro fator associado é a causa de morte, que deixa de ser por doenças infecciosas, e passa a ser por doenças crônicas, alterando assim o perfil morbi-mortalidade da população1;2. Em 2030 a expectativa de vida chegará a 78,3 anos, podendo ultrapassar o número de 30 milhões de idosos no Brasil3;4.
Mesmo com o aumento na expectativa de vida os idosos ainda representam uma população frágil, portando alterações morfológicas, biomoleculares e funcionais no organismo2. Essa fragilidade indica que a idade é um determinante importante para o aparecimento de doenças, principalmente em relação as crônico-degenerativas5;6. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 20013, mais da metade dos idosos (cerca de 68.073.205) apresentaram algum problema de saúde, sendo 23,1% portadores de doenças crônicas 2.
Dentre as doenças crônicas o câncer ocupa lugar de destaque devido a sua alta incidência e letalidade, que em 2007 foi responsável por 130 mil óbitos, ficando entre as três primeiras causas de morte. Na maioria dos casos (70%) seu diagnóstico é feito em estágio avançado6;7.
O comprometimento do estado nutricional dos pacientes com câncer é uma condição freqüente, e está associado com os índices de morbi-mortalidade que podem ter duas origens: processo cancerígeno (dimensão do tumor, ou localização deste) e/ou tratamento farmacológico. Em casos onde há disseminação das células cancerígenas no trato gastrointestinal (TGI), a gravidade da doença é maior. Por outro lado, a ação dos fármacos pode afetar diretamente o metabolismo, ou causar efeitos adversos sobre o TGI8. Estes agentes farmacológicos podem comprometer o funcionamento físico, cognitivo, social e emocional decorrente do desconforto causado pelas sensações alteradas, como o paladar, o mal-estar e mudança no sabor do alimento. Que podem causar deficiências nutricionais, alterações de peso, desidratação e desequilíbrio eletrolítico, diminuindo a qualidade de vida destes pacientes9; 10.
Outro sintoma comum é a anorexia. Geralmente associada com mal-estar, fraqueza, ansiedade ou até mesmo depressão, esta reduz enormemente a qualidade de vida10;11. É comum também a perda de peso, pois há freqüente inapetência e baixa ingestão alimentar, mesmo durante o tratamento. Que pode culminar em níveis de subnutrição agravando as condições clínicas e comprometendo quase todas as funções orgânicas.
À medida que o grau de subnutrição avança, pode surgir fadiga progressiva, fraqueza muscular, comprometimento das funções imunológicas e intolerância terapêutica12. Isso amplia o risco de retardo na recuperação do paciente através do declínio funcional, pode complicar o quadro clínico - e conseqüentemente ter maior custo hospitalar, pois aumenta o tempo de hospitalização;13;14. Nesse nível de agravamento do quadro, pode ocorrer um estado de caquexia, podendo levar a morte por inanição13;14. O que alarma os profissionais da saúde, é que esta condição é encontrada em mais de 80% dos pacientes com câncer 15.
A nutrição é parte fundamental no auxílio aos pacientes, particularmente quando se tratando de sinais e sintomas como diminuição do apetite e redução da ingestão alimentar. Essas condições têm forte importância nutricional, pois a ausência de alguns alimentos compromete o estado nutricional e diminui a qualidade de vida16.
Segundo TRINTIN (2003)17, a escolha da intervenção e acompanhamento nutricional adequados é necessária para evitar a depleção nutricional, pois o câncer já conduz o paciente à classificação de risco nutricional.
Sendo assim, o presente artigo objetiva revisar os estudos que verificam:
Como o envelhecimento pode ser um fator de risco para o desenvolvimento do câncer;
O quão impactante pode ser o câncer na qualidade de vida destes pacientes;
Como a terapia nutricional pode auxiliar na prevenção e no tratamento dessa doença.
Metodologia
Foi realizada uma revisão da literatura dos anos de 2000 a 2008 nas principais bases de dados em saúde pública: MEDLINE (base de dados de literatura internacional, produzida pela U.S. National Library of Medicine – NLM), LILACS (Literatura Latino – Americana y del Caribe em Ciencias de la Salud).
Foram consultados também os bancos de dados eletrônicos de confiabilidade científica (Scielo, Bireme, Pubmed), livros publicados a partir do ano 2000 nos idiomas português, inglês e espanhol, além de sites da Internet para a busca de documentos, da Organização Mundial da Saúde (OMS), e Organização Pan Americana de Saúde (OPAS). Esta metodologia foi realizada utilizando as Bibliotecas São Camilo Padre Inocente Radrizzani e Bireme (UNIFESP/EPM).
O envelhecimento e o câncer
Segundo a Organização Mundial da Saúde, é considerado idoso a pessoa com idade igual ou superior a 60 anos18;19. Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, torna-se imprescindível conhecer as características do envelhecimento, para que se possa atuar prevenindo doenças, promovendo saúde, e contribuindo para a melhor qualidade de vida3;20.
O envelhecimento é um processo dinâmico e progressivo, a pessoa idosa tem maior risco de ter doenças crônicas, que nem sempre se iniciam nesta fase como: o diabetes mellitus, a hipertensão, as cardiopatias, o câncer, as doenças músculo-esqueléticas e a obesidade, todas com clara evidência de fatores dietéticos implicados2. No Brasil, desde 1930 o câncer é considerado um problema de saúde pública por se destacar entre as doenças crônicas. Estima-se ainda que até o final do ano de 2009 haverá quase um milhão de novos casos desta doença no país21;22;23.
A etiologia dos cânceres é desconhecida. Contudo, fatores desencadeantes como vírus, substâncias químicas ou irradiação, podem provocar seu desenvolvimento24. O desenvolvimento de câncer resulta da interação entre fatores endógenos e ambientais, sendo o mais notável desses fatores à dieta. Acredita-se que cerca de 35% dos diversos tipos de câncer ocorrem em razão de dietas inadequadas. É possível identificar, associações relevantes entre padrões alimentares em diferentes partes do globo, e a prevalência de câncer. Outros fatores tais como o tabagismo, a obesidade, a atividade física e a exposição a tipos específicos de vírus, bactérias, parasitas, além do contato freqüente com algumas substâncias carcinogênicas como carvão e amianto25.
Tratamento: a importância da intervenção nutricional
As formas mais comuns de tratamento contra o câncer incluem quimioterapia, radioterapia, imunoterapia, hormonioterapia, cirurgia e transplante de medula óssea. O tratamento, assim como a doença, é agressivo, pode deixar o organismo vulnerável e debilitado e aumentar o risco de comprometimento nutricional. Este pode levar à subnutrição, agrava o quadro clínico e prejudica a resposta terapêutica25;26;27.
Durante o tratamento, o paciente deve receber uma dieta que supra todas as suas necessidades nutricionais, e satisfaça a demanda energética de uma taxa metabólica alta, prevenindo a perda de peso, reconstituindo os tecidos do corpo, e promovendo a sensação de bem estar durante o tratamento28. A intervenção nutricional é um fator essencial do tratamento, pois é um instrumento para o controle da caquexia, prevenindo ou revertendo os sintomas adversos à terapia29.
Atualmente, a terapia nutricional (TN) tem papel essencial no tratamento do paciente com câncer, tendo em vista a interferência direta desta doença no estado nutricional. Tem como objetivos25;30: oferecer condições favoráveis para o estabelecimento do plano terapêutico, oferecer energia, fluidos e nutrientes em quantidades adequadas para manter as funções vitais e a homeostase orgânica, recuperar a atividade do sistema imune, reduzir os riscos de hiperalimentação e garantir a oferta protéica adequada para minimizar o catabolismo protéico e a perda nitrogenada.
A via oral é preferida, muito embora os pacientes experimentem sintomas como náusea, anorexia, saciedade precoce e disfagia, que causam inapetência. Para esses casos é fundamental modificar a consistência e apresentação do alimento, com intuito de encorajar a ingestão pela via oral31;32.
Para beneficiar doentes subnutridos, ou com efeitos colaterais pode ser utilizada a nutrição enteral. Já a Nutrição parenteral (NP) é indicado para pessoas que tem restrição no uso do sistema digestório31;33.Os pacientes paliativos, para manutenção das funções comuns, podem necessitar receber alimentação por sondas ou cateteres, adicionando-se a hidratação12.
A nutrição como prevenção do câncer
Segundo Garófolo et al (2004)34, há evidências de que os padrões alimentares têm importante papel na iniciação, promoção e desenvolvimento do câncer. O consumo excessivo de alimentos ricos em gordura, e a redução no consumo de fibras estão associados ao risco de câncer de estômago, cólon e reto. Já a ingestão energética excessiva está relacionada ao risco de câncer de cólon, esôfago e pulmão35;36.
Sabe-se, no entanto, que existem componentes da dieta que podem oferecer possibilidades de proteção ao organismo contra o desenvolvimento do câncer e outras doenças crônicas. Entre os componentes responsáveis por essa proteção estão os carotenóides, as vitaminas antioxidantes, os compostos fenólicos, os terpenóides, os esteróides, os índoles, e as fibras. Estes nutrientes promotores de boa saúde podem ser encontrados em alimentos funcionais37;38.
Entre os alimentos funcionais, a utilização de compostos quimiopreventivos vem sendo cada vez mais estudada, visando reduzir a incidência e mortalidade por câncer. Esses compostos exercem uma ação protetora contra o desenvolvimento do câncer. Além de ser sintetizados em laboratórios a maioria encontra-se disponível nos alimentos como as isoflavonas presentes na soja, a luteína no espinafre, entre outros40. Estes podem interferir diretamente (redutores da proliferação de células cancerígenas) ou indiretamente (como antioxidante) na prevenção do câncer, pois participam de diversas etapas do metabolismo35.
De acordo com Angelis (2001)37, alguns alimentos podem ser promotores ou inibidores de câncer. Os alimentos salgados, álcool, frituras e gorduras, podem aumentar o risco de desenvolvimento de cânceres no esôfago, fígado, cólon e mama. Em contrapartida, as frutas e hortaliças são alimentos em destaque por possuírem valioso papel na prevenção do câncer. Em uma estimativa de prevenção global, pode-se argumentar que o aumento no consumo de frutas e hortaliças reduz a incidência de câncer de 7 a 31%34.
Os efeitos protetores observados têm sido atribuídos em grande parte ao conteúdo de vitaminas A, incluindo os carotenóides, e as vitaminas C e E desses alimentos, que funcionam como antioxidades no organismo. Acredita-se que estes nutrientes podem reduzir o risco de câncer inibindo danos oxidativos no DNA, podendo agir na neutralização dos radicais livres, ou participar indiretamente de sistemas enzimáticos com essa função39. Ainda é cedo para concluir que qualquer alimento isoladamente pode prevenir o aparecimento do câncer. No entanto, as pesquisas sobre antioxidantes e câncer realizadas até o momento são animadoras, devido aos resultados promissores de estudos precursores experimentais in vitro.
Considerações finais
As alterações fisiológicas normais ligadas ao envelhecimento incluem desde as alterações funcionais, até diminuição do sistema imunológico. Este aspecto culmina na maior probabilidade de contrair doenças, que em geral são crônicas, recebendo destaque o câncer. Fatores como fumo, má alimentação e sedentarismo podem também aumentar enormemente as chances do desenvolvimento desta doença. Quando ocorre o diagnóstico, principalmente precoce, a intervenção nutricional se torna fundamental no auxílio do tratamento dos pacientes oncológicos, minimizando os efeitos colaterais ao tratamento, que podem causar inapetência e redução da ingestão alimentar.
A dieta via oral deve ser sempre a primeira opção quando possível e deve estar de acordo com as necessidades individuais, pois a terapia nutricional pode oferecer condições favoráveis para a continuação do tratamento oncológico. A nutrição é uma importante aliada na prevenção do câncer por possuir desde componentes na dieta que podem funcionar como preventivos, até componentes essenciais ao tratamento, oferecendo proteção ao organismo contra o desenvolvimento do câncer e outras doenças crônicas, e de tratamento destas moléstias.
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