Prática de rapel em graduandos de Educação Física: análises e reflexões La práctica de rapel en estudiantes de Educación Física: análisis y reflexiones Practice rapel graduates in Physical Education: analysis and reflections |
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*Graduando em Ciências da Atividade Física pela USP Mestrando em mudança social e participação política pela USP **Graduando em Ciências da Atividade Física pela USP ***Profº Drº em Ciências da Atividade Física pela USP (Brasil) |
Eduardo Mosna Xavier* William Cloudes Galhardo** Marco Antonio Bettine de Almeida*** |
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Resumo O Rapel constitui um dos esportes radicais que mais propiciam a manifestação de sentimentos básicos inerentes ás sensações humanas mais rudimentares (ansiedade, tensão satisfação, medo, etc.) Foi realizado um estudo com 48 (quarenta e oito) alunos da Universidade São Judas, localizada na cidade de São Paulo. Durante a atividade prática foi perceptível que o primeiro grupo apresentou uma satisfação e uma desenvoltura melhor em relação ao primeiro grupo. Pelo rigor metodológico aplicado, foi constatados que a diferença de performance se justificou por um fator externo, qual seja, a postura do grupo perante a exposição de cada aluno durante a atividade: a disseminação de palavras que reforçavam a dúvida e a ansiedade pelo segundo grupo resultou num desempenho inferior, com uma menor satisfação por aqueles que participaram da aula. Dessa forma, o controle e, principalmente, a utilização de recursos que possibilitem um ambiente satisfatório para o grupo antes da descida são fundamentais para o desempenho de rapel para iniciantes. Unitermos: Esportes radicais. Rapel. Percepção subjetiva.
Resumen Palabras clave: Deportes extremos. Percepción Rapel. Subjetividad.
Abstract Keywords: Extreme Sports, Abseiling, Subjective Perception.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Considerações iniciais
Os esportes de aventura, comumentemente nomeados como modalidades radicais, permite não apenas a superação de limites e desafios que expõem seu praticante à um ambiente diferente daquele apresentado em seu cotidiano. Essas práticas também favorecem a formação de laços sociais diferenciados, em virtude das interações entre os praticantes ocorrem em ambientes inóspitos, que exigem uma especificidade típica nas interações, com fulcro na realização dessas atividades, incomuns na maioria dos contextos apresentados em nossa contemporaneidade.
Segundo PEREIRA et al (2008), a potencialização dessas modalidades esportivas, que exigem uma diferenciada forma de relação entre o praticante e o ambiente e, sobretudo, entre os próprios executantes da atividade, irrompe com o tradicional paradigma esportivo, baseado na excessiva competição, almejando inextricavelmente o resultado. O despertar das ações humanas mais rudimentares, baseadas na intuição, como fator determinante na tomada de decisão num ambiente diferente do contemporâneo, constitui um dos principais elementos propiciados pela radicalidade na prática de atividades físicas, permitindo um corporeidade singular em relação a outros esportes convencionais
A lógica racional que orientou muitas práticas esportivas até o fim do século, caracterizada pelas regras institucionalizadas dos jogos e atividades motoras com busca de recordes, está recebendo influências de outros sentidos humanos como: as sensações que o movimento proporciona, os sentimentos com os quais os praticantes devem se confrontar para experimentar a atividade e a intuição agora é valida como elemento essencial na tomada de decisão. Há sem dúvida uma porta aberta para a descoberta de um novo significado para o esporte (pág. 37)
Assim, os esportes radicais possibilitam um terreno fértil para avaliação e a reflexão sobre as interações humanas mais singelas existentes como, por exemplo, o estabelecimento de vínculos de confiança (relação de segurança entre o praticante e o instrutor, por exemplo), a sensação de medo, a interação entre o ser humano e o ambiente, a percepção de êxtase na prática da atividade, entre outros. A possibilidade de inserir o ser humano nesse contexto, completamente antagônico com a realidade social apresentada em seu cotidiano, pode trazer à tona uma série de reações humanas singelas, porém, importante para nossa própria auto conceituação como espécime humana.
O Rapel, uma das principais e mais disseminadas modalidades de esporte radical praticadas no Brasil1, apresenta um amplo cenário de possibilidades para conjecturar acerca da percepção sensorial básica dos indivíduos inserido num condição extrema e não rotineira, sobretudo, quando o público alvo são principiantes na realização dessa modalidade.
2. Objetivo do estudo
Avaliar a percepção subjetiva de graduandos de Educação Física da Universidade São Judas Tadeu (São Paulo / SP) na realização de rapel nas modalidades convencional, invertida e frontal.
3. Metodologia aplicada
Forma realizadas 02 (duas) sessões de aulas para a realização do presente estudo, totalizando 48 (quarenta) e oito estudantes universitários na área de Educação Física sem experiência anterior na prática do Rapel, á saber:
Sessão 01 – Aula Teórico – Expositiva: Realizada em 08/05/2012, no Campus da Universidade são Judas Tadeu, em sala de aula. Foi realizada uma apresentação do histórico, da escolha do local, do planejamento e de prática de Rapel, com ênfase na gestão de marketing e de gerenciamento técnico administrativo na oferta dessa modalidade de esporte radical.
Sessão 02 – Aula Prática: Realizada em 15/05/2012, no Campus da Universidade São Judas Tadeu, num “paredão” interno da faculdade, com um descida aproximada de 08 (oito) metros de altura, com superfície “limpa”, sem irregularidades, além de ponto de saída sem obstáculos. Foi realizada ancoragem no padrão NFPA2, e descida da linha pelos monitores por 02 (duas) vezes, equipagem, orientações para a descida, condicionamento na rampa de abordagem e a realização da descida. Para os discentes com maior confiança e controle motor, foi ofertada a possibilidade de realizar o Rapel invertido.
As observações sobre o desempenho das práticas foram colhidas através da aplicação de um caderno de campo, com escrituração realizada pelo autores desse artigo, com frutos em avaliações individuais das salas de aula, como desempenho médio. A percepção da professora (Profº Isabel Mola, da disciplina de esportes radicais) também forma colhidas em caderno de campo para análise e reflexão
4. Análise e reflexões sobre a prática
Apesar da padronização dos procedimentos realizados tanto na aula teórica como na prática em ambas as turmas, foi perceptível algumas diferenças na cognição sensório motora, na aprendizagem motora e, sobretudo, no grau de satisfação e de manifestação de sensações primárias (medo, raiva, ansiedade, etc.) quando realizada uma comparação entre os dois grupos de graduandos.
O primeiro grupo, composto por 22 alunos, realizou a descida das 19h00 às 20h45. Os alunos visualizaram a descida dos instrutores e, segundo as anotações no caderno de campo, Todos os graduando realizaram a descida de Rapel, não correndo desistências. Não ocorreu a necessidade de intervenção do professor para readaptação dos iniciante na rampa de saída, demonstrando confiança nas instruções passadas. A maioria dos alunos (18 – dezoito) deram retorno sobre o apreço e sobre a satisfação na realização das atividades. A maioria dos alunos (16 – dezesseis) realizou o rapel invertido, uma das formas de execução mais difíceis nesse contexto, demonstrando confiança no material.
O segundo grupo, composto por 26 (vinte e seis) alunos, apresentou um comportamento (em sua maioria) complemente antagônico. Apenas 10 (dez) graduandos conseguiram descer de Rapel sem a intervenção direta do professor. Ocorreu 03 (três) desistências de iniciantes durante a visualização da rampa de abordagem. Apenas 05 (cinco) graduando retornaram positivamente sobre a satisfação em realizar a modalidade. Apenas 05 (cinco) alunos realizaram o rapel invertido. 05 (cinco) alunos demonstraram um tempo maior do que o padrão estabelecido para realizar a descida de rapel (em torno de 05 – cinco – minutos no máximo).
Devido ao rigor metodológico na aplicação das aulas teórica e prática para as duas turmas, procurando um nivelamento nas condições ofertadas, não foi encontrada justificativas sobre o processo e sobre os procedimentos aplicados na execução das atividades. Os grupos apresentavam composição de gênero e idades similares. As condições climáticas erma as mesmas para ambos os grupos.
Entretanto, diversas anotações em caderno de campo trouxeram à tona uma importante interferência externa dos iniciantes que aguardavam a sua oportunidade na realização de Rapel. O primeiro grupo apresentou pouca interferência externa dos participantes que aguardavam para executar as atividades. Sem a pressão externa para a realização do rapel, o estabelecimento do “rapport3” entre professor e praticante ocorria mais facilmente, possibilitando uma atividade mais prazerosa e, dessa forma, com um maior aprendizado e desenvolvimento de habilidades motoras.
A segunda turma apresentou diversos alunos que realizaram comentário que instigavam a sensação de medo por parte dos participantes (“a corda não vai agüentar seu peso”, “você é muito descoordenado... vai cair!”) que resultaram numa perceptível tensão que o iniciante já apresentava ao se aproximar da rampa de abordagem do rapel: excesso de sudorese, dificuldade na cognição de instruções primárias, lentidão na realização de movimentos simples, entre outros.
Dessa forma, a interação entre o trupe e o praticante resultou no único fator ponderável para diferença tão incongruente entre os grupos de participantes. Nesse diapasão, o cultivo de um ambiente ameno e positivo reforça não apenas a consecução do rapel, como, também, na satisfação manifestada antes, durante e após a realização dessa modalidade de esporte radical.
5. Considerações finais
O ser humano irá apresentar diferentes formas de comportamento em ambientes extremos, incomuns à imposição de seu cotidiano. As constantes exigências da rotina nos conduzem ao estabelecimento de padrões que, se por um lado, permitem uma certa estabilidade na consecução das mais variadas demandas que compõem a vida do homem nessa moderna e evolutiva sociedade, por outro inibem o desenvolvimento de sensações inerentes nos convívios das relações humanas desde sua original concepção. Ensina Pimentel (2006):
Como toda realidade histórica, a forma do ser humano comportar-se diante dos riscos é algo em contínua transformação. Na modernidade, a mudança no papel do ser humano frente ao futuro significou um corte em noções enraizadas nas culturas arcaicas. Certamente, nas sociedades nascentes, soou estranho até mesmo pensar na idéia do indivíduo, como alguém capaz de dirigir seu futuro diante dos riscos de forma independente da vontade dos deuses, da comunidade e do destino. Na atualidade, mesmo que o racionalismo esteja demonstrando ser insuficiente para proteger as pessoas dos riscos globalizados, causaria estranheza que alguém se imaginasse parte de uma civilização baseada no movimento aleatório da sorte (pág. 144)
As aulas expositivas sobre o histórico, a montagem e a execução de Rapel aos Graduando da Universidade São Judas permitiram uma maior confiança e,de certo modo, a construção social e coletiva de uma certa expectativa por parte desses alunos. Esse sentimento de ansiedade foi perceptível em todos os graduando ao vislumbrarem os professores de Rapel realizando as primeiras descidas na parte interna da referida Faculdade.
Apesar da similaridade das 02 turmas que executaram essa atividade anteriormente citada, a postura dos alunos que observavam as práticas acabou sendo decisiva para justificar a diacronia entre a performance das duas salas em questão. A primeira turma apresentou um aprendizado motor nos movimentos do rapel, aliado à uma maior desenvoltura na execução dos movimentos, além de uma superior catarse demonstrada na satisfação na realização das atividades. A segunda turma apresentou uma certa dificuldade em realizar a abordagem no ambiente inóspito, aliado à uma certa desatenção na compreensão das orientação dos professores, aliada à clara percepção por parte de todos que observavam que os alunos realizavam a descida de rapel, com a clarividente exteriorização de uma tensão superior em relação à primeira turma.
A manifestação dos alunos do grupo foi decisiva tanto para a aptidão física na prática da atividade como para a percepção de satisfação entre os praticantes. Dessa forma, a orientação do grupo de iniciantes, aliado à utilização de ferramentas de controle do ambiente antes da realização de descida (uso de música, orientações, vídeos de intervenções exitosas de rapel) podem constituir mecanismos ergogênico que possibilitem a construção de um cenário propício para a realização desse esporte radical.
Notas
Em virtude do baixo custo do equipamento de rapel, em relação ás demais modalidades de esportes radicais, aliado ao fértil terreno de possibilidades de sua aplicação (tanto no terreno urbano como no rural).
North Firework Protection Association: Associação de Bombeiros Norte Americanos – Instituição que regula procedimentos nos esportes realizados nas alturas, bem como normatiza a validade e a qualidade dos materiais empregados.
Oriundo da língua francês, refere-se ao vinculo de confiança entre professor e aluno, necessário para o estabelecimento de um mínimo de confiança para a realização de uma atividade prática num cenário crítico.
Referências bibliográficas
PEREIRA, D.W. ; ARMBRUST, I. ; RICARDO, D. Esportes Radicais de Aventura e Ação, conceitos, classificações e características. Corpoconsciência. Santo André – SP, FEFISA, v. 12, n. 1, 2008, p. 37 – 55.
PIMENTEL, G. G. A. Risco, corpo e socialidade no vôo livre. (Tese de Doutorado). Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, 2006, p. 143 – 144
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