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4Play: recursos tecnológicos nas aulas
de Educação Física no ensino médio

4Play: recursos tecnológicos en las clases de Educación Física en escuela media

 

Faculdade Integrado de Campo Mourão

(Brasil)

Rodrigo Corrêa da Silva

edfrodrigo@gmail.com

Joel Oliveira de Souza

coord.educacaofisica@grupointegrado.br

 

 

 

 

Resumo

          Diversos autores apontam que as aulas de Educação Física perdem o significado no Ensino Médio, pois são percebidas pelos alunos como simples atividades recreativas e de lazer; são consideradas como uma prática específica de atividade esportiva. De outro lado, aparelhos eletrônicos predominam no cotidiano destes alunos, chegando a serem considerados por muitos como “extensão de seus corpos”. A partir desse pressuposto, nos propusemos a estudar a utilização de recursos tecnológicos nas aulas de Educação Física no Ensino Médio, essencialmente por meio de uma pesquisa com característica bibliográfica. Para nortear o presente trabalho, tivemos como objetivos específicos avaliar sugestões e críticas de diversos autores acerca do tema. Também buscamos discutir propostas de intervenção na práxis do professor de educação física no Ensino Médio, com base nas publicações encontradas na literatura específica. Com a pesquisa foi possível verificar que os recursos tecnológicos são instrumentos com grande aplicabilidade pelo professor de Educação Física. Necessitam, no entanto, serem utilizados de maneira crítica e consciente pelo professor. Além disso, verificou-se que tais recursos são mais um recurso pedagógico que deve ser aproveitado, somando-se a outros elementos educacionais, de forma a tornar eficiente e produtivo o aprendizado nas aulas de educação física.

          Unitermos: Educação Física. Educação Física Escolar. Recursos tecnológicos.

 

Abstract

          Several authors point out that physical education classes lose their meaning in high school because they are perceived by students as mere recreation and leisure; are regarded as a specific practice of sports. On the other hand, consumer electronics dominate the daily life of these students, coming to be regarded by many as an "extension of their bodies." From this, we set out to investigate the use of technological resources in physical education classes in high school, mainly through a survey of literature feature. To guide this work, we had specific objectives to evaluate suggestions and criticisms of various authors on the subject. We also seek to discuss proposals for intervention in the practice of physical education teacher in high school, based on publications found in the literature. With the research we observed that technological resources are tools with wide applicability for physical education teacher. Need, however, use of a critical and conscious by the teacher. Furthermore, it was found that such resources are an educational resource that should be used, adding to other educational elements, in order to make efficient and productive learning in physical education classes.

          Keywords: Physical Education. Physical Education in School. Technology resources.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Atualmente um dos debates da área da educação física é o grande desinteresse dos alunos pela participação efetiva nas aulas, fato que ocorre, em especial, no Ensino Médio. Em contrapartida, nos percebemos cada vez mais “conectados” com os diversos recursos tecnológicos presentes em nosso cotidiano.

    Neste contexto, convém pontuar que consideramos recursos tecnológicos (RT's) as invenções, em especial as eletrônicas, desde as mais simples até as mais complexas, que temos a nossa disposição para execução de diversas tarefas. Muitas destas inovações foram criadas para facilitar a nossa vida e sua aplicabilidade depende do propósito do usuário. Como exemplos de RT's podemos citar o computador pessoal, a TV, o celular, o tablet, a internet, entre outros.

    Uma pesquisa realizada no Departamento de Educação da PUC-RIO, ouviu quase mil jovens do terceiro ano do ensino médio, 51% mulheres e 49% homens, com idades entre 17 e 19 anos, provenientes de diversos bairros do Rio de Janeiro e com diferenças significativas de classe. O tema em estudo era a relação desses jovens com as Tecnologias da Informação e Comunicação e, em particular, as representações que faziam da internet. O estudo constatou, entre outras coisas, que esses jovens elegem a internet como o espaço privilegiado de construção de conhecimentos, de possibilidades de encontro, de comunicação e de lazer, pelas múltiplas possibilidades que ele oferece ao articular imagem e texto, de forma indissociável. O contato com a internet é uma unanimidade entre os jovens: 98% dos entrevistados na pesquisa informaram que navegam na internet diariamente ou, no mínimo, 2 a 3 vezes por semana. (MAMEDE-NEVES, 2008, apud BARRETO, 2003)

    A pesquisa realizada tem característica bibliográfica. No presente trabalho foi feita uma revisão bibliográfica, buscando identificar os conceitos e as características das aulas de educação física no ensino médio e as críticas à utilização de recursos tecnológicos pelo professor.

    Segundo Gil (2007, p.44) a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos.

    Aprendemos com Paul Ricoeur que criticar não é "falar mal", mas apontar acertos e estabelecer limites. Nenhuma teorização consegue recobrir toda a complexidade, incertezas e contradições da realidade humana. Assim também é com as teorias apresentadas nesta pesquisa. Elas devem, pois, ser objeto de reflexão crítica. (BETTI, 1997)

    Desde o momento que acorda (muitas vezes pelo despertador, televisão ou até mesmo pelo celular), durante todo o dia o aluno interage com diversas invenções que não estavam presentes em nosso dia-a-dia tempos atrás. Na contramão desta evolução, percebemos a escola, muitas vezes “fechada” às diversas possibilidades pedagógicas criadas por estes aparelhos.

    Durante a graduação, ficou evidente a diferença entre o método de ensino da faculdade e dos Ensinos Médio (EM) e Fundamental (EF). Quadro negro e giz deram lugar a notebooks e projetores multimídias. Receber os slides juntamente com os textos em seu e-mail, podendo integrá-los às suas anotações pertinentes é muito mais proveitoso do que copiar toda a matéria do quadro. Neste sentido, acreditamos ser estimulante para o aluno estudar em apostilas ilustradas, com indicações de sites onde se pode descobrir mais sobre o tema. Por que, então, não utilizar estes e diversos outros recursos educacionais com os alunos quando de nossa práxis como professores nas escolas da educação básica?

    Norteado pela indagação supracitada, pelas situações vivenciadas nos estágios e por meio de uma revisão bibliográfica acerca do tema, nos propusemos a analisar a utilização de recursos tecnológicos nas aulas de educação física, em especial no Ensino Médio.

2.     Referencial teórico

    Possebon e Cauduro (2001), assim como outros autores, dizem que a Educação Física enfrenta uma situação de falta de identidade como disciplina dentro da escola, pois ela não apresenta um corpo de conhecimento teórico favorável fazendo com que os conteúdos das aulas não apresentem nem significado ou importância para os alunos.

    Para Lorenz e Tibeau (2003), as aulas de Educação Física estão perdendo o significado, pois há falta de contextualização dos conteúdos transmitidos. Os alunos consideram a Educação Física como prática específica de modalidades esportivas e as frequentam apenas como forma de entretenimento, distração e descontração.

    Atualmente a Educação Física, em especial a direcionada ao Ensino Médio, é uma disciplina que, muitas vezes, é marginalizada, discriminada, desconsiderada, e em alguns casos, chega a ser excluída dos Projetos Políticos Pedagógicos em determinadas escolas. (BARNI E SCHNEIDER, 2003 apud SANTOS e SILVA, 2011)

    Uma das dificuldades encontradas pelo professor de Educação Física no Ensino Médio é a falta de participação dos alunos nas atividades propostas, sendo comuns os pedidos de “dispensas”. Mesmo quando o aluno participa, muitas vezes percebe-se não o fazer pelo fato de considerar importante aprender determinado conteúdo de maneira a contribuir para a sua formação integral, mas sim encara a aula como forma de recreação ou como mero requisito para obtenção de “nota”.

    Para Kunz (2002, apud SANTOS e SILVA, 2011), a desvalorização da Educação Física somente será resolvida quando forem transformadas suas especificidades práticas em tarefas pedagógicas desejáveis, mudando o modo de vista das pessoas e desenvolvendo a ação pedagógica através da prática e da teoria do esporte, na qual são de extrema importância.

    Mattos e Neira (2000) afirmam que a Educação Física é mais do que reprodução de movimentos e frequências nas aulas. O professor precisa atentar para o desenvolvimento do pensamento e aplicação dos conceitos adquiridos durante as aulas para solucionar problemas apresentados pelo cotidiano.

    A Educação Física como disciplina deve possibilitar ao aluno explorar e analisar o mundo motor por meio das manifestações da cultura corporal, visando o entendimento e a autonomia frente aos conhecimentos relativos à prática da atividade física permanente. Ela possibilita uma maior integração na cultura corporal do movimento de uma forma completa, transmitindo conhecimentos sobre a saúde, esporte, cultura, entre outros, introduzindo e integrando os alunos com a sociedade. (COLETIVO DE AUTORES, 1992)

    Marques e Krug (2008) afirmam ser a Educação Física um espaço educativo privilegiado, pois se podem promover as relações interpessoais, a autoestima e a autoconfiança dos estudantes, valorizando-se aquilo que cada indivíduo é capaz de fazer em função de suas possibilidades, do desenvolvimento e limitações pessoais.

    Betti (1997) relata que é tarefa da Educação Física preparar o aluno para ser um praticante lúcido e ativo, que incorpore o esporte, o jogo, a dança e as ginásticas em sua vida, para deles tirar o melhor proveito possível. É preciso preparar o cidadão que vai aderir aos programas de ginástica aeróbica, musculação, natação, etc., em instituições públicas e privadas, para que possa avaliar a qualidade do que é oferecido, e identificar as práticas que melhor promovam sua saúde e bem-estar. É preciso preparar o leitor/espectador para analisar criticamente as informações que recebe dos meios de comunicação sobre a cultura corporal de movimento.

    Assim, entende Betti (1997) que a principal tarefa da Educação Física na Escola é introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do esporte, da dança e das ginásticas em benefício de sua qualidade de vida. Isto implica também compreender a organização institucional da cultura corporal em nossa sociedade; é preciso prepará-lo para ser um consumidor do esporte espetáculo, para o que deve possuir uma visão crítica do sistema esportivo profissional, e instrumentos conceituais e perceptivos para uma apreciação estética e técnica do esporte.

    A Educação Física como disciplina implica na promoção da reflexão através do conhecimento sistematizado, pois nela existe um corpo de conhecimento, um conjunto de práticas corporais e uma série de conceitos desenvolvidos por ela e que devem ser assegurados. No Ensino Médio, deve promover discussão e reflexão sobre as manifestações dessas práticas corporais como reflexo da sociedade em que vive, pensando criticamente seus valores, o que levará os alunos a compreenderem as possibilidades e necessidades de transformar ou não esses valores. (DARIDO et al, 1999)

    A Educação Física é, sem dúvida, um espaço privilegiado para o desenvolvimento integral do educando. Temos capacidade de conduzir nossas aulas de modo a propiciar o desenvolvimento de diversas capacidades, podendo integrar as esferas motoras e psicossociais. Cabe ao professor, considerando a realidade, as especificidades e as necessidades de sua turma, planejar as aulas de maneira a tornar o conteúdo interessante de ser aprendido, de fazer da cultura corporal um tema recorrente na vida dos alunos.

    Neste sentido, Calegari (2004) vem apontar que o profissional de Educação Física tem a responsabilidade de desenvolver uma cultura corporal que não esteja vinculada somente a padrões estéticos, rendimentos e performance, mas sim, uma cultura capaz de respeitar a diversidade em nome da unidade, uma complexidade do movimento humano.

    De acordo com Barni e Schneider (2003), o papel do professor de Educação Física é de estimular os conteúdos que ajudam aos alunos pensar suas habilidades motoras e a importância que a mesma tem sobre o contexto social, desenvolvendo os conhecimentos que possam servir para vida social dos alunos.

    Segundo Neira (2006), a interação entre professores e alunos facilita a organização das propostas de diferentes níveis, estimulando o desenvolvimento de uma proposta de ensino aberta decorrente das experiências e opiniões obtidas pelos alunos.

    Um bom professor deve conseguir enquanto fala, trazer o aluno próximo a si. Sua aula deve ser um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas. (FREIRE, 1996)

    É pacífico que não é fácil o papel do professor no Ensino Médio, em especial do professor de Educação Física. As adversidades são diversas, porém cabe ao professor comprometido com a formação de seus alunos buscar formas de “driblar” estas dificuldades.

    Neste sentido, os recursos tecnológicos surgem como uma ferramenta para despertar no aluno o interesse pelo conteúdo a ser estudado.

    Na área da educação, o uso das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação) tem gerado muita discussão acerca das suas vantagens e desvantagens. De acordo com Belloni (2001, apud BIANCHI e HATJE, 2007), o impacto do avanço tecnológico, entendido como um processo social sobre processos e instituições sociais (educação, comunicação, trabalho, lazer, relações pessoais e familiares, cultura, imaginário e identidade, etc.), tem sido muito forte, embora percebido de modos diversos e estudado a partir de diferentes abordagens.

    Para Barreto (2004), a presença das TIC tem sido investida de sentidos múltiplos, que vão da alternativa de ultrapassagem dos limites postos pelas “velhas tecnologias”, representadas principalmente por quadro-de-giz e materiais impressos, à resposta para os mais diversos problemas educacionais ou até mesmo para questões socioeconômico-políticas.

    O grande avanço eletrônico do século XX permitiu o surgimento de novos meios de comunicação de massa, como o rádio, a televisão e, mais recentemente, a Internet. Estas novas formas de comunicação trouxeram consigo transformações radicais no cotidiano das pessoas, no mundo dos negócios, no acesso às informações, na cultura, enfim, em praticamente todas as atividades humanas. (MENDES e PIRES, 2006)

    Atualmente os meios de comunicação de massa assumem papel significativo no âmbito social, como principais produtores e difusores de informações. Desta forma, tais meios contribuem para a formação da população em geral, especialmente a de jovens e crianças, não podendo ser menosprezados pelas áreas do conhecimento que se fazem presentes na escola, incluindo-se a Educação Física. (ibid.)

    Barreto (2003) aponta que crianças e jovens que chegaram ao mundo após a popularização dos computadores pessoais e a criação da internet, compõem um segmento de usuários de TIC que não só faz uso corrente das mesmas como, também, antecipa o que está por vir, explora de forma criativa e diversificada tudo o que essas tecnologias têm a oferecer, ultrapassando, inclusive, os limites originalmente estabelecidos para o uso regular delas. Diferente, portanto, da imensa maioria dos professores que, pelas suas idades, são, em geral, imigrantes digitais.

    Para Babin e Kouloumdjian (1989), a observação do comportamento e da linguagem das novas gerações atesta o surgimento de uma cultura audiovisual. O meio tecnológico moderno, em particular a invasão da mídia e o emprego de aparelhos eletrônicos na vida cotidiana, modela progressivamente outros comportamentos intelectuais e afetivos, novos modos de ver e compreender. As novas gerações nasceram neste novo meio.

    O audiovisual tornou-se a linguagem dos jovens, mas na forma de um eco que reflete de maneira deteriorada as características da linguagem audiovisual. É uma mixagem de palavras, gestos e onomatopeias, mas que implica em redução e deterioração do vocabulário, desprezo pela escrita, supervalorização do visual, visão do todo em detrimento das ligações entre as partes, predomínio da visão subjetiva e global, na qual "o olho é mais importante que o texto". Entendem que assistimos hoje ao nascimento impuro e desordenado de uma nova linguagem, mas que é também "promessa de uma outra (SIC) coisa que a educação deveria compreender e desenvolver". A nova maneira de falar e escrever não é sem valor para compreender o mundo e comunicar-se com outrem. (Betti, 1997)

    Bianchi e Hatje (2007) ressaltam que as possibilidades de uso das TIC são diversas. As autoras afirmam, ainda, que dependendo da criatividade do usuário e de sua capacidade cognitiva, podemos multiplicar o já elevado número de alternativas de uso.

    Os computadores e os sistemas digitais produziram um salto qualitativo importante no modo de gerar e receber uma informação, garantindo acesso rápido às informações e a uma variedade delas. As ferramentas tecnológicas, com suas cores e sons, podem atenuar as diferenças existentes entre o universo educacional e o mundo externo. (BIANCHI e HATJE, 2007)

    O uso das TICs, quando bem conduzido, pode promover a interação entre professores e alunos, intercâmbio de informações e experiências, agindo como uma “janela para o mundo”, isto é, permite que o educando conquiste outros espaços (BIANCHI e HATJE, 2007). Segundo Breton (2000, apud MAMEDE-NEVES e DUARTE, 2008), a maioria dos docentes avalia como positiva a possibilidade de incorporar, reconhecer e aproveitar as vivências dos alunos com as tecnologias que estão para além do espaço escolar, no sentido de construir e desenvolver eficientes práticas pedagógicas.

    Em sua tese de mestrado na Universidade Estadual de Campinas, Mauro Betti (1997) aponta que as novas formas de comunicação abrem outras possibilidades de percepção do mundo, quer dizer, adicionam e não substituem totalmente as formas tradicionais, como a escrita, e sua contrapartida, a leitura. Temos hoje mais e não menos maneiras de perceber o mundo - o que não significa, automaticamente, compreendê-lo melhor. Na medida em que as tecnologias eletrônicas propõem um novo mundo, a educação deve falar de um modo possível de nele se orientar.

    Urge, pois, inserir as diversas tecnologias da informação e das comunicações no desenvolvimento dos cursos de formação de professores, preparando-os para a finalidade mais nobre da educação escolar: a gestão e a definição de referências éticas, científicas e estéticas para a troca e negociação de sentido, que acontece especialmente na interação e no trabalho escolar coletivo. Gerir e referir o sentido será o mais importante e o professor precisará aprender a fazê-lo em ambientes reais e virtuais. (ANDRÉ, 2004, apud BARRETO, 2004)

    Para a Educação, os meios de comunicação de massa trouxeram mudanças e possibilidades significativas. Inicialmente porque, ao se tornarem populares entre jovens e crianças, esses meios geraram novas formas de apreensão mediada da realidade. Isto significa dizer que jovens e crianças desenvolvem maneiras diferenciadas de lidar com as informações e com a elaboração de novos conhecimentos. A hiperestimulação gerada pelo excesso de imagens e sons (veiculadas pela mídia) trouxera mudanças cognitivas relevantes para as novas gerações, resultando num confronto entre a forma que se aprende na escola tradicional e a forma como se aprende mediado pelas novas tecnologias de comunicação. (MENDES e PIRES, 2006)

    O uso das tecnologias é irreversível e tornou-se fundamental no processo educacional moderno, além de ser indispensável nos modos de produção. No entanto, o campo da educação e da Educação Física Escolar, ainda apresenta resistência ao uso das tecnologias, em razão principalmente da falta de uma formação profissional adequada que capacite os professores a utilizar e desenvolver, criticamente, um estilo próprio de atuar com as TIC. (BIANCHI e HATJE, 2007)

    A tecnologia facilita o acesso à informação, mas não garante a democratização das informações. Há pessoas que vão construir um conhecimento mais elaborado, a partir das TIC, outras apenas vão reproduzir essas informações. (ibid.)

    Afirmar, pois, de forma simplista, que as novas tecnologias, por si mesmas, aumentam a cognição, desenvolvem o raciocínio ou ampliam a inteligência é ignorar a complexidade do processo cognitivo que resulta na aquisição de conhecimentos. Como acontece com qualquer outra tecnologia produzida pelo homem (roda, lápis, papel, máquina de escrever, telefone, televisão etc.), saber operar com os recursos tecnológicos, neste caso, da informação e da comunicação, tanto pode envolver apenas uma pequena dose de cognição, com sínteses muito básicas, quanto pode exigir um esforço imenso para a integração de componentes distintos de uma imensa rede de significações e para a produção de estratégias hipotético-dedutivas, nas quais o pensamento crítico é essencial. (MAMEDE-NEVES, 2004, apud BARRETO, 2003)

    Betti (1997) afirma, sobre o uso de tecnologias, que muitas vezes esquece-se, por exemplo, que um CD-ROM educativo possui também um conteúdo selecionado por alguém, compreende valores e objetivos.

    Barreto (2003) afirma que a escola precisa se deslocar das concepções de ensino/aprendizagem nas quais o livro e ela própria se configuram como únicas possibilidades de aquisição de conhecimento e de cultura (tomada apenas como erudição), em direção a outras concepções, em que conhecimento, cultura e comunicação se aproximam, na medida em que são pensados a partir de novos parâmetros teórico/conceituais.

    Bianchi e Hatje (2007) observaram em sua pesquisa que a implementação das tecnologias necessita, além de bons professores e domínio técnico, de infraestrutura, isto é, suporte de energia, rede de telefonia e espaço adequado. Em se tratando de tecnologias, não é suficiente ter as ferramentas tecnológicas, mas construir um ambiente de aprendizagem adequado a essa realidade.

    As tecnologias sozinhas ou enquanto recursos didáticos não auxiliam na formação profissional crítica, daí é fundamental a orientação do professor no processo de aprendizagem. (ibid.)

    Assim, como qualquer outra ferramenta pedagógica, as TICs devem ser utilizadas na Educação Física, principalmente, na Formação de Professor para construir uma nova realidade e sugerir novos caminhos às metodologias fragmentadas. Elas devem possibilitar a união das técnicas que já existem, não as substituindo, mas constituindo novas formas de conhecimento, novos valores e significados. (ibid.)

    Se, por um lado, a presença das TIC na educação (TV, vídeo, computador, internet, etc.) aponta para o não distanciamento em relação às demais práticas sociais de muitos sujeitos e a possibilidade de acesso de outros tantos, por outro, a ideia de apropriação sugere a formulação de questões desconsideradas quando se adere ao modismo e à perspectiva do consumo: TIC para quê? TIC para quem? TIC em que termos? (BARRETO, 2002, apud BARRETO, 2003).

    O desenvolvimento e o avanço tecnológico, bem como o aparecimento de modernos meios de telecomunicações, estão reconfigurando as atuais formas de espaço e tempo, levando-nos a constantes e rápidas transformações nas formas de representação sobre nós mesmos, sobre as formas de trabalho e sobre a maneira como se concebem e constroem as qualificações. (BIANCHI e HATJE, 2007)

    Para Proulx (2010), a expansão considerável das práticas de comunicação mediadas por redes digitais traz mudanças significativas no contexto sociocultural com consequências ainda pouco conhecidas. A globalização e a extensão das práticas de comunicação mediadas pelas redes digitais intensificam tensões que suscitam medos e esperanças ao mesmo tempo. Se, por um lado, as práticas novas são portadoras de fatores positivos de mudança, por outro, também fazem surgir novas formas de abuso e de intolerância. (PROULX, 2010)

    O bom fruto e o mau fruto são igualmente produzidos pelas mesmas árvores, e estas produzem desconcertante mistura de frutos bons e maus conforme o uso e o abuso que nós, seres humanos, fizermos do poder com que a ciência e a tecnologia nos equiparam. Os frutos da ciência e da tecnologia nunca são encontrados crus e frescos; são “tratados” para o consumo por nosso uso ou mau uso deles. Chegam ao mercado como frutos da ação humana e o conhecimento que os frutos de nossas ações nos dá é o conhecimento de nossa própria natureza humana. (TOYNBEE, 2011)

    Babin e Kouloumdjian (1989, apud BETTI, 1997) entendem que não podemos desconhecer a capacidade do homem de utilizar a máquina para fins imprevisíveis, porque a "dupla homem-máquina torna-se inteligente, não por causa da máquina, mas por causa do homem". A integração do computador com a imagem e o som abrirá cada vez mais oportunidades para torná-lo um "instrumento de imaginação com poder diferente do da máquina fotográfica, do disco ou do vídeo". Eles lembram que a escrita foi primeiro concebida para fazer a lei conhecida de todos, portanto como instrumento de poder, e depois se abriu a outras possibilidades criativas.

    Em síntese, para além da racionalidade meramente técnica, é preciso reconhecer que a presença das TIC, a despeito da sua importância, não constitui condição suficiente para o encaminhamento das múltiplas questões educacionais, sejam elas novas ou velhas. (BARRETO, 2003)

    Para Bianchi e Hatje (2007), busca-se um equilíbrio entre o uso das tecnologias e as práticas pedagógicas, reduzindo dessa forma a distância entre a escola, a sociedade e o mercado de trabalho. Esclarecem, porém, que não se quer afirmar com isso que a Educação Física deva se adequar às TICs ou às exigências mercadológicas, pois, este é um processo que ocorrerá naturalmente. Pretendem sim chamar a atenção para o fato de que não se pode negar a amplitude, a repercussão e a importância das tecnologias em qualquer esfera da vida humana.

    Os documentos concernentes à formação de professores, como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura e de graduação plena, explicitam a aposta na reconfiguração do trabalho, tendo em vista a “sociedade da informação”: Com relação ao mundo do trabalho, sabe-se que um dos fatores de produção decisivos passa a ser o conhecimento e o controle do meio técnico-científico-informacional, reorganizando o poder advindo da posse do capital, da terra ou da mão-de-obra. (BARRETO, 2004)

    Nas palavras de Mattelart (2002, apud BARRETO, 2004), a segunda metade do século XX foi marcada pela “formação de crenças no poder miraculoso das tecnologias informacionais”. É flagrante o vertiginoso aumento da velocidade na transmissão de informações; é fato, também, a ampliação da possibilidade da comunicação entre diferentes países e povos do planeta; e é verdade que é possível, hoje, colocar diferentes pessoas em contato, ao mesmo tempo, rompendo barreiras geográficas e temporais. Entretanto, os modos de interação e de colaboração que serão constituídos entre essas pessoas, assim como o que elas vão fazer com essa possibilidade de contato, não são tão óbvios e não são pré-determinados ou mesmo controláveis; vão depender de quem está nos nós da rede que será tecida entre elas. (BARRETO, 2003)

    Para Mendes e Pires (2006), o que garantirá uma integração das novas tecnologias de comunicação na escola de maneira autônoma e crítica é o preparo dos professores e da escola para lidarem com estas tecnologias. É preciso que os professores superem os modelos tradicionais de ensino e se arrisquem em novas perspectivas. Mas é necessário tomar o devido cuidado para não se deixar levar pelo deslumbramento oferecido por estas máquinas, o que pode culminar num estado de entrega passional a estes recursos, sem o desenvolvimento de uma percepção crítica de tais ferramentas.

    De acordo com Martin-Barbero (1997, apud BARRETO, 2003), as tecnologias não são meras ferramentas transparentes; elas não se deixam usar de qualquer modo: são, em última análise, a materialização da racionalidade de uma certa (SIC) cultura e de um “modelo global de organização do poder”. É possível, contudo, uma reconfiguração, se não como estratégia, pelo menos como tática (...), quando a reconfiguração do aparato é impossível, que seja reconfigurada ao menos a função.

    Ferrés (1996, apud MENDES e PIRES, 2006) aponta a possibilidade de o professor de Educação Física, na perspectiva da educação na mídia e com a mídia, utilizar os meios de comunicação de massa em suas aulas, articulando pedagogicamente as vivências dos alunos com as informações trazidas pela mídia. Desta maneira, se permitiria aos alunos a construção e a elaboração de conhecimentos sobre a cultura de movimentos e os esportes, ao mesmo tempo em que se formariam espectadores críticos, mais atentos aos discursos midiáticos. Através da análise da mídia podemos discutir questões ligadas à estética e beleza, moda, violência, propaganda e patrocínio esportivo, estereótipos, entre outros.

    Pires (2002, apud MENDES e PIRES, 2006), sugere que a universidade e a escola assumam o compromisso de intervir no processo de esclarecimento da mídia em relação à cultura de movimento. As universidades devem produzir conhecimentos e preparar os futuros professores para interagirem criticamente com a mídia e as escolas devem difundir estes conhecimentos, sendo esta última, “talvez a única instituição capaz de conceber/implementar ações de natureza emancipatória sobre este tema”.

    Filmar e gravar com uma câmera de vídeo é para a criança e para o jovem uma experiência nova, apaixonante. Permite-lhes, além do mais, compreender melhor a mecânica interna da televisão, a sua dinâmica expressiva e seus sistemas de produção de sentido. No caso da linguagem escrita, a criança aprende a ler e a escrever ao mesmo tempo, aprende a ser consumidor e ao mesmo tempo produtor de mensagens. Compreende facilmente o conceito de autoria porque ele próprio é capaz de redigir um texto. Isto torna mais fácil a sua compreensão do meio, o que também é esperado para a televisão. (FERRÉS, 1996, apud MENDES e PIRES, 2006)

    Betti (1997) aponta que nosso entendimento de educação está condicionado pela percepção, entre outras coisas, da crise provocada pelo impacto das novas linguagens audiovisuais e tecnologias eletrônicas de comunicação, como a televisão, o computador, as redes de informática, etc., as quais questionam valores, objetivos e conteúdos "tradicionais" da educação. O professor deve estar, portanto, preparado para lidar com esta crise.

    O esporte, as ginásticas, a dança, as artes marciais, e as diversas práticas de aptidão física tornam-se, cada vez mais, produtos de consumo (mesmo que apenas como imagens), e objetos de conhecimento amplamente divulgados ao grande público. Jornais, revistas, videogames, rádio e televisão difundem informações sobre a cultura corporal de movimento, nosso fundamental objeto de estudo. Há muitas produções dirigidas ao público adolescente. Crianças tomam contato muito cedo com práticas corporais e esportivas do mundo adulto. Informações sobre a relação práticas corporais e saúde estão acessíveis em qualquer revista feminina, em jornais, noticiários e documentários de TV, nem sempre com o rigor técnico-científico que seria desejável. (ibid.)

    Na era dos computadores e vídeos, a escola deverá subsistir sobretudo como lugar de reagrupamento e comunicação, no qual a individualização e o parcelamento dos conhecimentos vão poder corrigir-se e unificar-se. Porque a multiplicação dos meios de comunicação não leva a um aumento da comunicação entre as pessoas, mas a um aumento das recepções individuais de mensagens: "cada indivíduo se torna uma esfera receptora autossuficiente (...) o mundo torna-se um vasto self-service". (BABIN e KOULOUMDJIAN, 1989)

    A televisão e o esporte são terrenos perigosos e incertos para a educação. Por que deveriam merecer a atenção da Educação Física? De Novaski a Flusser, de Morais a Eco, de Elias a Babin e Kouloumdjian, encontramos a mesma conclusão: o educador deve "ousar riscos", deve "apostar" e ter esperanças (ibid.).

    O professor deve levar os alunos a refletir se, de fato, o espetáculo esportivo preserva a ideia de lealdade e respeito às regras e ao oponente (fair-play), elementos norteadores do esporte no século XIX. Veja-se, por exemplo, a fala de um locutor esportivo ao referir-se à jogada que resultou na eliminação do Brasil da Copa do Mundo de Futebol de 1990: "(...) quando ele driblou o primeiro tinha que tomar uma varada e jogar ele do lado de fora do campo, aí ele não fazia mais nada disso. Eles dão no nosso! (...)". (Betti, 1997)1

    Este processo é facilitado porque o esporte é campo fértil para a utilização de clichês ou estereótipos. Quer-se um exemplo do self mademan, e então se entrevista o atleta bem sucedido que veio de família pobre, treinou duro, etc. Quer-se um personagem autoritário, e logo entra em cena um técnico ou um professor de Educação Física. Quer-se associar o produto com beleza, saúde, velocidade, energia, e logo aparecem imagens do esporte nos anúncios publicitários do perfume, açúcar, remédio, automóvel. Quer-se exemplificar a justiça/injustiça, a honestidade/desonestidade, e os desenhos animados e filmes apresentam situações de corrupção, infração às regras e fair play numa competição esportiva. (BETTI, 1997)

    Acreditamos ser a aula de educação física o momento propício para discutirmos estes conceitos culturalmente construídos. Consideramos grave o fato do aluno que conclui o Ensino Médio ter tido aulas de educação física por, no mínimo, oito anos, sem que o professor discuta questões como ética no esporte e a influência da mídia (seja ela a TV, revistas ou internet) na construção de conceitos e estereótipos.

    O professor de educação física, ao trazer para a sala de aula discussões observadas nos meios de comunicação (como por exemplo um caso de falta de fair play ou uma notícia atual amplamente divulgada), mune os alunos com argumentos essenciais para propiciar uma análise crítica das informações.

    Portanto, como conclui Elias (1990, apud Betti, 1997), o ritmo individual é uma adequação aos ritmos das estruturas sociais criadas pelas relações de interdependência entre os homens. O autor explicita que o computador pessoal substituiu a velha máquina de escrever (que já havia substituído a caneta), e quando pensamos que isto vai facilitar o nosso trabalho, poupar-nos tempo e diminuir nosso ritmo, porque o computador é mais eficiente e veloz, já logo queremos escrever mais, produzir mais, e ao invés de nos libertamos da pressa e da ansiedade, ficamos mais apressados e ansiosos, porque nos conformamos ao ritmo da máquina, e não o inverso.

    Muito se fala em ensinar as crianças e jovens a usar o computador, mas ninguém faz referência ao que fazer com o tempo livre que ele pode nos propiciar. Cabe a cada homem saber viver esse tempo, e há aí, como no audiovisual - lembram Babin e Kouloumdjian - matéria para educação. (BETTI, 1997)

    Betti (1997) cita que, para Babin e Kouloumdjian, a escola poderia ser primeiro o lugar da "mesa do saber"; não tanto onde se aprendem coisas, o que poderia ser feito sozinho com uma máquina, mas lugar "da comunicação entre homens que armazenaram conhecimentos a partir da multiplicidade de seus receptores individuais". Escola-mesa, rotulam Babin e Kouloumdjian, "mesa sobre a qual se coloca junto o que se aprendeu, a fim de ligar, isto é, de completar, relativizar, criticar e confrontar o aprendido com a sociedade e a ação". Ou seja, lugar de conexões, onde se aprende "a ligação que as coisas têm com a ação e a sabedoria de viver". E se um dos objetivos da escola-mesa é a comunicação, o audiovisual é para isto um instrumento privilegiado. Os educadores estão entrando na nova cultura audiovisual, segundo Babin e Kouloumdjian, "de costas", denunciando "os frutos abortados" antes de "ver os brotos da árvore que cresce".

    Podemos entender que o indivíduo satisfaça-se comprando uma esteira-rolante e, vendo-a num canto de seu quarto, alivie a consciência por estar "cuidando de seu corpo", mesmo que a utilize poucas vezes. (BETTI, 1997)

    São muitas as possibilidades apresentadas pela implementação no uso de recursos tecnológicos na educação. Não basta, porém, acreditar que os alunos aprenderão sozinhos os saberes necessários à sua formação integral.

    Cabe ao professor de educação física valer-se dos RT's como MAIS UM recurso pedagógico para auxiliá-lo na sua tarefa de educar. Entendemos, também, que o professor deve juntamente com os alunos, discutir acerca dos pontos bons e ruins que a tecnologia nos oferece, buscando correlacionar com os conteúdos da nossa área e ressaltando a importância de uma visão crítica sobre o “bombardeio” de informações a que somos submetidos diariamente.

3.     Apresentação e discussão dos resultados

    Através das leituras efetuadas para a realização do presente trabalho pôde-se concluir que os recursos tecnológicos podem e devem ser aproveitados pelo professor de educação física em suas aulas. Necessita, no entanto, mais do que relativo conhecimento técnico por parte dos educadores e de infraestrutura adequada, carece de conhecimento crítico acerca dos conteúdos e disposição para atualizar-se constantemente.

    Conforme destacado no referencial teórico, devemos promover no aluno do ensino médio o pensamento crítico, levando-o a refletir acerca do crescente “poder de manipulação da mídia”. Deve-se discutir conceitos e valores apresentados, buscando capacitá-lo a usufruir dos recursos tecnológicos em sua vida de maneira crítica e consciente.

    Neste sentido, Betti (1997) aponta que neste novo contexto histórico, a concepção de Educação Física deve ser repensada, com a correspondente transformação em sua prática pedagógica. A Educação Física deve assumir a responsabilidade de formar o cidadão capaz de posicionar-se criticamente diante das novas formas da cultura corporal, do esporte espetáculo, dos meios de comunicação, das atividades de academia, das práticas alternativas, etc.

    O professor de educação física não deve se alienar dos avanços tecnológicos que nossos alunos têm contato diariamente. Deve, todavia, utilizar tais recursos conscientemente e de maneira a atingir os objetivos almejados com suas aulas.

Considerações finais

    No decurso da especialização tive contato com uma “estória” que julgo oportuna citar neste momento: Um extraterrestre, após ficar cerca de 200 anos sem visitar a Terra, retorna a nosso planeta. Aqui chegando, notando óbvias diferenças, vai conversar com um chefe de estado. Este explica que houve vários avanços tecnológicos nesse ínterim e que a humanidade melhorou muitas coisas. O E.T., agradecido pelas respostas e já de saída, pergunta como consegue um navio para viajar para outro continente, no que é informado pelo governante que agora as viagens intercontinentais são realizadas por via aérea e que são muito mais rápidas. O nosso amigo, admirado, pergunta então como faz para mandar uma carta a um amigo, sendo novamente informado que, com o avanço da internet, seria muito mais eficiente mandar um e-mail ou ainda ligar no celular de seu colega. E assim segue o extraterrestre fazendo perguntas e sendo esclarecido dos diversos avanços conquistados pelo homem. Passeando pela cidade, vê uma escola e decide entrar para ver que maravilhas o homem deve ter feito para revolucionar o processo educacional. Fica surpreso ao ver que a estrutura não é das melhores, havendo, entre outras coisas, várias carteiras e cadeiras danificadas. O modelo também não evoluiu: várias crianças sentadas em fila, com lápis e caderno na mão e um professor à frente, ensinando seus alunos os mais diversos conteúdos. Assim como da última visita sua à Terra, também está presente na sala de aula o quadro-negro, onde o detentor do conhecimento, o professor, escreve o que seus pupilos devem copiar se quiserem “ser alguém na vida”.

    Esta estória nos faz repensar como muitas vezes a escola não acompanha a evolução da sociedade. Não é possível mais acreditar que os alunos apenas aprendem dentro dos muros da instituição, como também não podemos desconsiderar em nossas aulas os saberes trazidos pelos educandos.

    Exemplo disso ocorreu no meu o último ano da graduação, onde realizei estágio supervisionado no Ensino Médio. Neste período pude, com o auxílio do professor regente da turma e do orientador do estágio, pôr a prova muito do que havia aprendido no banco da faculdade. Uma experiência que considero válida foi a utilização de um perfil criado em determinada rede social para fins de integração com os alunos. Nesta ferramenta foram, entre outros, postados artigos sobre os conteúdos trabalhados em sala de aula, compartilhadas fotos das aulas, além de ser antecipado qual seria o tema do próximo encontro.

    Acreditamos que compartilhar ações como esta, bem como apresentar algumas ponderações de profissionais que se dedicam a estudar o assunto, podem estimular outros profissionais da nossa área a repensarem a sua prática docente, de maneira a considerar as inovações tecnológicas como mais um recurso pedagógico para a educação física.

    Babin e Kouloumdjian (1989) entendem que, se os educadores querem ter o papel de estimuladores, líderes de opinião, referências, devem ligar-se de alguma forma à mídia e à nova cultura. O professor deve ser uma personalidade exposta aos meios de comunicação, deve possuir uma atitude de presença, e não de distância no mundo da mídia, deve transmitir a ideia de que "é bom pertencer a nossa época". Todavia, como "ser vivo que reage às mídias", deve também possuir uma exigência de qualidade que recusa o que é muito superficial ou manipulador.

    A escola deve ser um espaço privilegiado de construção do saber, e, além disso, um local onde se possa discutir e contextualizar os conhecimentos adquiridos pelos diversos meios possíveis, uma vez que é recorrente o fato de sermos cada vez mais “bombardeados” de informação todos os dias.

    Acredita-se que uma educação física de qualidade deva estar pautada em conciliar objetivos relevantes, metodologias adequadas e prática eficiente. Para tanto, compreender a utilização de recursos tecnológicos nas aulas de educação física no Ensino Médio faz-se necessário.

    Para finalizar, consideramos sábias e norteadoras as palavras do educador Paulo Freire quando este diz: “(...) sonhamos com uma escola que, sendo séria, jamais vire sisuda. A seriedade não precisa ser pesada. Quanto mais leve é a seriedade, mais eficaz e convincente é ela. Sonhamos com uma escola que, porque séria, se dedique ao ensino de forma competente, mas, dedicada, séria e competente ao ensino, seja uma escola geradora de alegria.” (FREIRE, 1997)

Nota

  1. Locução efetuada durante a transmissão da partida "Brasil x Argentina" pela Rede Globo de Televisão, dia 24 de junho de 1990.

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