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Pesquisa qualitativa e quantitativa em Educação Física

La investigación cualitativa y cuantitativa en Educación Física

 

*Graduado em Licenciatura em Educação Física (2009) e Especialista (Lato Sensu)

em Educação Física Escolar pela Escola Superior de Educação Física da

Universidade de Pernambuco - ESEF/UPE (2011). Atualmente é aluno do curso

de Mestrado em Educação Física do Programa Associado de Pós-Graduação

UPE/UFPB. É professor efetivo, em regime de dedicação exclusiva, do Instituto

Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco

Campus Vitória de Santo Antão, IFPE / Vitória

**Professor adjunto do Colégio de Aplicação da Universidade Federal

de Pernambuco (UFPE), e da graduação e pós-graduação da Escola Superior

de Educação Física (ESEF) da Universidade de Pernambuco (UPE). Doutor

em Educação pela UFPE. Pesquisador do Grupo de Pesquisa Estudos

Etnográficos em Educação Física e Esportes (ETHNÓS) e do Grupo de Estudo

e Pesquisa de Educação Física Escolar (GEPEFE)

Lucas Vieira do Amaral*

professorluca@hotmail.com

Marcelo Soares Tavares de Melo**

mtavares19@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente estudo objetivou apresentar as principais diferenças existentes entre as pesquisas em Educação Física de paradigma qualitativo e quantitativo. Para tal, realizamos um estudo de cunho qualitativo (NEVES, 1996), do tipo bibliográfico (MARCONI e LAKATOS, 2006). Após as leituras, análises e discussões, concluímos que as pesquisas qualitativas e quantitativas em Educação Física apresentam várias peculiaridades, no entanto, todas contribuem significativamente para qualificação da área, cada qual do seu modo. Apontamos também para a necessidade do diálogo entre esses dois paradigmas em prol da qualificação do fazer pesquisa em Educação Física.

          Unitermos: Tipos. Pesquisa. Educação Física.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Vários autores (GAMBOA, 1994; LÜDORF, 2002; FREIRE, 1999) afirmam que percebem a pesquisa como uma atividade de extrema importância para a construção, o enriquecimento e o crescimento de qualquer campo do conhecimento. Nesse sentido, Amaral (2012) corrobora ao dizer que

    [...] a pesquisa é o principal meio para a produção do conhecimento, é através dela que se conhece o novo, se descobri o desconhecido, se encontra respostas para as perguntas sobre determinado assunto, soluciona-se problemas de diversos campos do saber. Assim, a pesquisa é condição sine qua non para a qualificação do conhecimento que envolve a Educação Física.

    As pesquisas em Educação Física encontram-se divididas em torno de dois paradigmas: o quantitativo e o qualitativo. O objetivo desse ensaio foi apresentar as principais diferenças existentes entre as pesquisas em Educação Física de cunho qualitativo e quantitativo. Para isso realizamos uma revisão literatura, em seguida efetivamos minuciosas leituras sobre os materiais encontrados, análises e discussões para, por fim, tecermos nossas considerações.

    No decorrer do texto desmistificamos a origem epistemológica de cada paradigma (quantitativo e qualitativo) dentro da Educação Física, citamos exemplos dessas pesquisas na área, apresentamos suas respectivas concepções de homem e, ao final, propomos uma complementaridade entre esses dois paradigmas (MINAYO e SANCHES, 1993).

Procedimentos metodológicos

    Do ponto de vista metodológico, este estudo foi desenvolvido em uma abordagem qualitativa de pesquisa (NEVES, 1996). Caracteriza-se em uma pesquisa do tipo bibliográfica. Segundo Marconi e Lakatos (2006) “a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras”. (p. 71)

    Quanto aos passos metodológicos percorridos para a operacionalização do estudo nos fundamentamos em Minayo (2004). Assim, realizamos duas importantes fases: Exploratória e Análise.

    As principais fontes utilizadas para consubstanciar esse ensaio foram livros clássicos da área de metodologia da pesquisa, educação e educação física e, ainda, publicações (artigos, ensaios, resumos etc.) disponíveis gratuitamente em periódicos de origem e circulação nacional.

Pesquisa Qualitativa e Quantitativa em Educação Física

    De acordo com Silva et al (2008), quando discutimos pesquisa em Educação Física precisamos considerar dois importantes paradigmas: o quantitativo e o qualitativo. Paradigmas estes que apresentam concepções distintas do que é o ser humano.

    A Educação Física encontrou nas pesquisas quantitativas as primeiras formas de produzir conhecimento, relacionamos este fato à história da área, a qual foi altamente influenciada pelos princípios higienístas, militares e de alto rendimento esportivo.

    Segundo Silva et al. (2008) as pesquisas quantitativas em Educação Física se subsidiam dos referenciais teórico-metodológicos das ciências naturais (Biologia, Física e Química), apresentam uma concepção de ser humano objeto, repartido, fragmentado, não se propõem a investigar sua cultura, história, emoção, pensamento, sentidos, sua subjetividade, seu contexto social.

    Gamboa (1994) nos permite compreender que as pesquisas em Educação Física de natureza quantitativa estão atreladas ao princípio epistemológico positivista de Auguste Comte que, por sua vez, se encaixa na abordagem teórico-metodológica Empírico-Analítica. Para o autor, as pesquisas dessa natureza são de base biologicista, fundam-se em princípios antropométricos e fisiológicos para classificar os indivíduos. Tais pesquisas versam sobre habilidades motoras, capacidades físicas (força, resistência, flexibilidade, velocidade etc.), esporte de alto rendimento, análise biomecânica do movimento humano, performance humana, aptidão física, fisiologia do exercício etc.

    Subsidiados por Lüdorf (2002), a qual se baseou em Faria Junior (1987), podemos citar alguns exemplos de pesquisas utilizadas em Educação Física com o viés quantitativo: pesquisa experimental, survey, estudo de caso, meta-análise e estudos correlacionais. O autor afirma que essas pesquisas representam a maioria dos estudos em Educação Física.

    Para Silva et al. (2008), mesmo num período mais recente, pode-se verificar a hegemonia da pesquisa de caráter quantitativo e de enfoque biológico na Educação Física.

    Há duas décadas a forma tradicional de pesquisa em Educação Física (pesquisa quantitativa) passou a ser questionada com intensidade. Foi quando pesquisadores e profissionais da área começaram a buscar respostas para os seus temas em outros campos do conhecimento: Sociologia, Filosofia, Antropologia, História, ou seja, nas ciências humanas. Estes sujeitos estavam interessados em realizar uma revisão dos conceitos de corpo, educação física escolar, esporte, saúde, lazer etc. Esta iniciativa foi fundamental para reconhecer que o ser humano é, ao mesmo tempo, objeto e sujeito na construção do conhecimento, o que implicou em uma nova forma de se pensar pesquisa em Educação Física, a pesquisa qualitativa. (SILVA et al. 2008)

    Segundo Silva et al. (2008) as ciências humanas e sociais não só complementam, mas humanizam a área da Educação Física.

    De acordo com os autores supramencionados, as primeiras publicações de caráter qualitativo na área da Educação Física ocorreram a partir do final da década de 1970 com a obra de João Paulo S. Medina, intitulada “A Educação Física cuida do corpo e... ‘mente’”. Esta obra é considerada um marco e um clássico na e da Educação Física Brasileira. Neste livro o autor critica justamente o fazer da área, até então, focado predominantemente no corpo enquanto objeto.

    A pesquisa qualitativa apresenta uma concepção de homem diferente da pesquisa quantitativa. Entende o homem como sujeito, síntese, ser histórico, social, que não pode ser fragmentado ou repartido. De acordo com Silva et al. (2008) a pesquisa qualitativa estuda os sujeitos, grupos e sociedades de maneira contextualizada, tendo como finalidade a interpretação dos significados de ações humanas, valores, crenças, mitos construídos culturalmente.

    Para Thomas e Nelson (2002) as pesquisas qualitativas podem ser: etnográfica, naturalista, interpretativa, fenomenológica, pesquisa-participante e pesquisa-ação.

    Gamboa (1994) nos permite compreender que as pesquisas em Educação Física que mais se aproximam do caráter qualitativo são oriundas dos princípios epistemológicos da fenomenologia e do materialismo histórico que, respectivamente, se enquadram nas abordagens teórico-metodológicas: fenomenológico-hermenêutica e crítico-dialética. Para o autor, as pesquisas em Educação Física dessa natureza estudam o movimento enquanto linguagem, a corporeidade, o lúdico, o sentido e os significados do movimento humano, o sujeito enquanto transformador da sua realidade motivado por interesses emancipatórios, etc.

    As pesquisas qualitativas em Educação Física têm sido intensificadas nas últimas décadas (SILVA et al. 2008). Desde então, diversos autores tem realizado significativas pesquisas em Educação Física nessa perspectiva, como por exemplo: Jocimar Daólio, Lino Castellani Filho, Carmem Lúcia Soares, Celi Tafarel, Valter Bracht, Elizabeth Varjal, Micheli Escobar, Mauro Betti, etc.

    Minayo e Sanches (1993), em seu estudo intitulado “Quantitativo-Qualitativo: oposição ou complementaridade?”, nos ajudam a compreender a relação existente entre estas duas abordagens de pesquisa. Para os referidos autores, a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa são formas de se aproximar da realidade, porém, nenhuma é tão boa que possa ser suficiente para a compreensão completa dessa realidade. Portanto, podem e devem ser utilizadas como complementares, desta forma um estudo quantitativo pode gerar questões que podem ser aprofundadas qualitativamente e vice-versa.

    Para Minayo e Sanches (1993) não há contradição, do ponto de vista metodológico, entre pesquisa qualitativa e pesquisa quantitativa, porque elas são de naturezas distintas. Afirmam que, do ponto de vista epistemológico, nenhuma das duas é mais científica do que a outra, cada uma apresenta sua singular importância para a produção do conhecimento.

Conclusão

    Concluímos então que as pesquisas qualitativas e quantitativas em Educação Física apresentam diversas peculiaridades, mas, independente do paradigma adotado, contribuem para o crescimento, enriquecimento, reconhecimento e ampliação do repertório de saberes da área, cada uma do seu modo. Entendemos que as duas abordagens (quantitativa e qualitativa) se distanciam em decorrência da concepção de homem presente em cada uma delas, o que se traduz na forma de compreender e tratar o objeto de estudo. Pensamos que a luta existente na área da Educação Física, a qual diz respeito à disputa pela hegemonia da forma de fazer ciência (abordagem qualitativa x abordagem quantitativa) deve ser deixada de lado para dar lugar à complementaridade proposta por Minayo e Sanches (1993), na qual as pesquisas, de maneira coerente, utilizam-se dos saberes produzidos pelo homem para melhor compreender os fenômenos, fatos, situações, ou seja, se aproximar da realidade.

Referências

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