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Lesões no futebol: uma revisão das incidências e prevenção

Las lesiones en el fútbol: una revisión de las incidencias y la prevención

 

*Faculdade de Educação Física e Desportos

da Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil

**Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Portugal

(Brasil)

Augusto Pedretti*

Marcelo de Oliveira Matta*

João Brito de Oliveira Fernades**

augustopedretti@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho tem como objetivo revisar a literatura a respeito da incidência das lesões e possibilidades de prevenção em futebolistas de campo de elite no British Journal of Sports Medicine. O futebol é a modalidade esportiva mais praticada no mundo (SILVA et al, 2005), tendo participantes em todas as faixas etárias e diferentes níveis, com aproximadamente 400 milhões de adeptos, sendo que desses 30 milhões se encontram no Brasil. De acordo com a Federação Internacional de Futebol (FIFA) existem aproximadamente mais de 200 milhões de atletas licenciados em todo o mundo (SILVA et al, 2005; WONG & HONG, 2005). O trabalho preventivo deve ser delineado e realizado de maneira eficaz, com base no levantamento dos fatores de risco das lesões referentes à modalidade específica (SILVA et al, 2005). Para a realização deste trabalho foi realizada uma revisão da literatura no portal British Journal of Sport Medicine. Para critério de inclusão o trabalho seguiu alguns padrões como: Ter sido publicado entre inclusive Janeiro 2000 e Agosto de 2010, acerca de futebolistas de elite do sexo masculino. Foram encontradas 76 referências quando submetido à busca injury soccer (titulo-resumo) e 148 referenciam para injury football (titulo-resumo). No caso da introdução, artigos nacionais foram selecionados após a busca por lesão / lesões futebol no site Google acadêmico. Inicialmente 224 referências foram encontradas, das quais serviram de base para seleção de alguns estudos para o desenvolvimento da Epidemiologia das Lesões no Futebol. Devido à escassez de estudos no que tange a prevenção, para desenvolvimento das Possibilidades de Prevenção de Lesão no Futebol foram incorporados cinco livros e outros artigos do American Journal of Sport Medicine, relacionados direto ou indiretamente ao assunto proposto. Desta forma, após este trabalho de revisão acerca da incidência e das possibilidades de prevenção de lesão no futebol masculino de elite, fica claro e evidente que os programas para prevenção de lesão existem e são eficazes. Trazendo não só benefícios a saúde do atleta, como benefícios aos clubes podendo contar com a participação efetiva do atleta nos jogos e culminando na questão administrativa, em que os programas viabilizam uma redução significativa de gastos para os clubes.

          Unitermos: Lesões. Futebol. Incidência. Prevenção.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O futebol é a modalidade esportiva mais praticada no mundo (SILVA et al, 2005), tendo participantes em todas as faixas etárias e diferentes níveis, com aproximadamente 400 milhões de adeptos, sendo que desses 30 milhões se encontram no Brasil. De acordo com a Federação Internacional de Futebol (FIFA) existem aproximadamente mais de 200 milhões de atletas licenciados em todo o mundo (SILVA et al, 2005; WONG & HONG, 2005). Só na Europa são cerca de 20 milhões de atletas licenciados (WALDÉN et al, 2005).

    Segundo Leite & Cavalcanti Neto (2003), nos últimos anos o treinamento para jogadores de futebol de alto nível sofreu modificações substanciais em relação ao que era aplicado há algumas décadas. O número de jogos e de horas dedicadas às sessões de treinamento aumentou significativamente. Desde então, a dinâmica das cargas de treinamento também foi alterada, em decorrência da entrada de novos conceitos para a prática do futebol (LEITE & CAVALCANTI NETO, 2003).

    A evolução das ciências da saúde teve impacto no esporte, com um importante avanço na preparação física dos atletas e consequente exigência de máximo desempenho (RAYMUNDO et al, 2005). Raymundo et al (2005) ressalta que esse quadro transformou o estilo do futebol, com a substituição da ênfase na técnica (futebol-arte) pelos componentes físicos (futebol-força) e táticos.

    Devido ao imenso aumento da popularidade do futebol (BRITO et al, 2009), estando à modalidade em constante desenvolvimento, nomeadamente no que respeita à intensidade do jogo e nível de exigência imposto aos atletas, o risco de lesão no futebol é elevado. Pelo que os organismos que superintendem a modalidade têm demonstrado, cada vez mais, preocupações com a incidência, causas e severidade das lesões no futebol moderno segundo Brito et al (2009) e Ekstrand et al (2009). O alto número de lesões é influenciado pelo esporte caracteriza-se por apresentar grande contato físico, movimentos curtos, rápidos e não contínuos, tais como aceleração, desaceleração, mudanças de direção, saltos e pivoteamento (SILVA et al, 2005).

    As lesões são acontecimentos indesejáveis e desagradáveis, as quais ocorrem como conseqüência de um acidente ou por métodos inadequados de treinamento (principal causa) como: falta de condição física, alterações estruturais que sobrecarregam mais determinadas partes do corpo que outras e pela fraqueza muscular, tendinosa e ligamentar (BARBOSA & CARVALHO, 2008).

    O trabalho preventivo deve ser delineado e realizado de maneira eficaz, com base no levantamento dos fatores de risco das lesões referentes à modalidade específica (SILVA et al, 2005), pois o prejuízo por conseqüência da ausência do atleta vai desde o enfraquecimento da equipe, passando pelo prejuízo financeiro para os clubes ao custear jogadores inativos e todo seu tratamento. E culminando na parte mais importante que é o próprio atleta, em que a incidência e reincidência das lesões e suas gravidades dificultam tanto a renovação de contrato quanto o não desempenho ótimo exigido pelo clube (BARBOSA & CAVALHO, 2008; WONG & HONG, 2005).

    Em um estudo (EKSTRAND et al, 2009) com 23 equipes selecionadas pela UEFA como pertencentes entre as 50 melhores equipes do ranking europeu, durante sete temporadas consecutivas (2001-2008), encontrou-se uma incidência de 8 (oito) lesões por 1.000 horas de exposição (jogo e treino). A incidência de lesão durante os jogos foi maior que durante os treinos (27.5 v 4.1, p < 0,0001). Um jogador sustenta em média duas lesões por temporada, assim uma equipe com 25 jogadores normalmente pode, portanto, esperar cerca de 50 lesões em cada temporada. Ekstrand et al (2009) evidencia que a lesão mais comum foi a distensão da coxa, representando 17% de todas as lesões. O autor relata ainda que as reincidências representem 12% de todas as lesões e que causaram mais tempo de afastamento que as não reincidentes (24 v 18 dias, p<0,0001). Werner et al (2009) em seu estudo prospectivo de coorte a respeito das lesões no quadril / virilha, mostrou que 64% de todas as lesões ocorrem na virilha, o adutor foi a localização mais afetada. Não havendo diferença entra a perna dominante (57%) e a perna não dominante (43%) e que as taxas de incidência foram constantes durante as temporadas (2001-2007) (WERNER et al, 2009). Dessa forma torna-se imprescindível a atenção para com a prevenção de lesão em futebolistas de campo de elite.

Metodologia

    Para a realização deste trabalho foi realizada uma revisão da literatura no portal British Journal of Sport Medicine. Para critério de inclusão o trabalho seguiu alguns padrões como: Ter sido publicado entre inclusive Janeiro 2000 e Agosto de 2010, acerca de futebolistas de elite do sexo masculino. Foram encontradas 76 referências quando submetido à busca injury soccer (titulo-resumo) e 148 referenciam para injury football (titulo-resumo). No caso da introdução, artigos nacionais foram selecionados após a busca por lesão / lesões futebol no Google acadêmico. Inicialmente 224 referências foram encontradas, das quais serviram de base para seleção de alguns estudos para o desenvolvimento da Epidemiologia das Lesões no Futebol. Devido à escassez de estudos no que tange a prevenção, para desenvolvimento das Possibilidades de Prevenção de Lesão no Futebol foram incorporados cinco livros e outros artigos do American Journal of Sport Medicine, relacionados direto ou indiretamente ao assunto proposto.

Incidência das lesões no futebol

    Variações em definições e metodologias criam diferenças nos resultados e conclusões obtidos a partir de estudos acerca das lesões no futebol, tornando a comparação entre esses estudos difíceis. Portanto, em 2006 um "Grupo de Consenso Lesão" foi estabelecido sob os auspícios da Federation Internationale de Football Association (FIFA), Avaliação Médica e Centro de Pesquisa. Um documento de trabalhos sobre definições, metodologia e implementação foi discutido pelo grupo. Os projetos de declarações foram preparados e distribuídos aos membros do grupo para comentar o assunto antes de ser produzida a declaração de consenso final. Depois de finalizado os documentos, nele foram feitas recomendações sobre como a incidência de lesão deve ser relatada e uma lista de verificação que deve ser incluída na publicação de estudos de lesão no futebol (FULLER et al, 2006). A seguir vêm descrito algumas dessas definições abordadas no trabalho: “Consenso sobre as definições de lesão e procedimentos para coleta de dados em estudos de lesão no futebol” (FULLER et al, 2006).

    Uma lesão é definida como

    “qualquer reclamação física sustentada por um jogador resultante de um treino ou jogo de futebol, independentemente da necessidade de atenção médica ou perda de tempo na prática de suas atividades. Uma lesão que resulta atenção médica é referida como “atenção médica” lesão, se o jogador for incapaz de uma plena participação no treino ou jogo referida como “tempo perdido” lesão” (FULLER et al, 2006).

    Já a lesão reincidente é “uma lesão do mesmo tipo e no mesmo local, que ocorre após o regresso de um jogador para a plena participação”. Uma lesão recorrente ocorrendo dentro de dois meses de retorno de um jogador para a plena participação é referido como uma “recidiva precoce”, uma ocorrendo 2-12 meses após o regresso de um jogador para a plena participação como um “retorno tardio” e uma ocorrência mais de 12 meses após o regresso de um jogador para a plena participação como um “retorno atrasado” (FULLER et al, 2006).

    A gravidade da lesão é mencionada como “o número de dias decorridos desde a data da lesão até a data de retorno do jogador para plena participação dos treinos e sua disponibilidade a ser selecionado para um jogo”. A gravidade média e mediana das lesões deve ser reportada em dias, juntamente com a distribuição das lesões agrupadas de acordo com sua gravidade: leve (0 dias); mínima (1-3 dias); branda (4-7 dias); moderada (8-28 dias); grave (superior a 28 dias); fim de carreira (FULLER et al, 2006).

    As “lesões devem ser classificadas por localização, tipo, lado do corpo, e mecanismo da lesão (traumática ou overuse) e se a lesão é reincidente”. Neste contexto, uma lesão traumática refere-se a um ferimento resultante de um evento específico, identificável, e uma lesão por uso excessivo (overuse) causada por microtraumas repetidos sem um único evento identificável responsável pela lesão. Deve-se também classificá-la quanto ao fato de terem ocorrido durante uma partida ou sessão de treinamento e se foi resultado do contato ou não-contato com outro jogador ou outro objeto (FULLER et al, 2006).

    “Pode-se também ser adequado para registrar uma lesão se a ocorrência deriva-se de uma violação das regras do jogo” (FULLER et al, 2006).

    A “população do estudo deve normalmente ser composta por mais de uma equipe de jogadores e o estudo deve durar por um período mínimo de uma temporada (incluindo a pré-temporada), 12 meses, ou a duração de um torneio. Jogadores ao ingressar / sair do grupo, por exemplo, através de transferência para / de uma equipe deve ser incluído / excluído a partir da data de adesão / saída. Lesões e as exposições devem ser documentadas para cada jogador dentro do grupo durante todo o período do estudo. Os jogadores que têm uma lesão existente no início do estudo não devem ser excluídos do estudo” (FULLER et al, 2006).

    Estatisticamente alguns estudos vêm mostrar que a temática prevenção de lesão é muito importante a ser considerada dentro do futebol de campo, apresentamos a seguir alguns desses estudos.

    Waldén et al (2005) mostra que ocorreu algum tipo de lesão em 87% dos jogadores. Segundo Ekstrand et al (2009) evidencia-se que 57% das lesões ocorrem durante os jogos e, portanto, 43% ocorrem durante os treinos, confirmando o que diz o estudo de Wong & Hong (2005). Em média, um jogador sustenta duas lesões por temporada, sendo distensão muscular, lesão ligamentar e contusões os tipos mais comuns de lesão (EKSTRAND et al, 2009). Oitenta e sete por cento (87%) das lesões afetou a extremidade inferior dos jogadores. Sendo que coxa, joelho, tornozelo e quadril / virilha foram as localidades mais comuns. (EKSTRAND et al, 2009; WONG & HONG, 2005). Werner et al (2009) encontrou 12 a 16% de lesões no quadril / virilha entre todas as lesões em seu estudo. Mostrou ainda que 15% de todas as lesões na virilha foram reincidentes. As lesões traumáticas na virilha constituem 27% enquanto as lesões por overuse representou 73% de todas as lesões registradas na virilha.

    O subtipo de lesão mais comum foi a distensão da coxa, representando 17% de todas as lesões, com distensão do posterior da coxa (isquiotibiais, 12%) mais comum que o anterior da coxa (quadríceps, 5%) (EKSTRAND et al, 2009; WALDÉN et al, 2005;). Outros subtipos comuns de lesões foram distensão do adutor (9%), entorse do tornozelo (7%) e lesões no ligamento cruzado médio (LCM, 5%). As lesões traumáticas representaram 81% em jogos e 59% em treino. Lesões por overuse representaram 28% de todas as lesões (EKSTRAND et al, 2009).

    Ekstrand et al (2009) observou em seu estudo que as lesões graves (causando falta superior a 28 dias) representou 16% das lesões. Os subtipos mais comuns de lesões foram os isquiotibiais (distensão, 12%), lesões LCM (9%), quadríceps (distensão, 7%) e distensão / dor no adutor (6%). Em média, cada jogador faltou 37 dias devido a uma lesão em cada época. Isso significa que aproximadamente 12% da temporada é perdida devido a uma lesão, se assumimos que uma temporada tenha 300 dias (EKSTRANS et al, 2009). No mesmo trabalho o autor contabiliza dentro das faltas sujas 15% de entorse do tornozelo, 9% de entorses do joelho e 10% de contusões na coxa. A reincidência representa 15% de todas as lesões (WALDÉN et al, 2005), concordando com estudo de Ekstrand et al (2009) que achou 12% para as reincidências, e causou significativamente mais ausências que a não reincidente (24 v 18 dias, p<0,0001).

    As lesões ocorridas por um contato não é o principal mecanismo de lesão (WONG & HONG, 2005). Cinquenta e nove por cento (59%) das lesões são causadas pelo não contato, enquanto 41% são causadas pelo contato com adversário. Além disso, correr, “sprintar”, girar e saltar causou 39% de todas as lesões, que foram classificadas como uma lesão de não contato (WONG & HONG, 2005).

    Waldén et al (2005) diz que, em estudos anteriores, a metodologia é muitas vezes demasiado pouco relatada e que as definições adequadas e o conhecimento detalhado de cada uma das exposições são essenciais para ser capaz de saber o risco real de lesão e comparar com diferentes estudos. Ressaltando Fuller et al (2006) que apesar dos apelos para se adotar uma metodologia comum, diferenças fundamentais nas definições e estratégias para implementação têm persistido em estudos publicados acerca das lesões no futebol.

Possibilidades de prevenção de lesão no futebol

    Dentro de uma perspectiva de prevenção integrada no treino global do futebolista, considera-se a força, a flexibilidade e a proprioceptividade como as áreas-chave de intervenção (SOARES, 2007; BOMPA, 2002; FLECK & KRAEMER, 2006). Todavia, a atenção dada a estas três componentes não deve minimizar a importância dos outros fatores de risco, intrínsecos (idade; sexo; morfologia corporal; estado de saúde; técnica; alterações anatômicas; estabilidade articular; agilidade/coordenação; força; flexibilidade; história de lesão prévia; personalidade) e extrínsecos (tensão cognitiva; nível de competição; nº de jogos e tempo de recuperação; proteções e calçados; tipo de piso; concepção tática; arbitragem) (SOARES, 2007; BRITO et al, 2009).

Treino da força na prevenção de lesões

    A força, no âmbito esportivo, é entendida como a capacidade do músculo de produzir tensão ao ativar-se (BADILLO & AYESTERÁN, 2001). Esta capacidade é dividida em força máxima, resistência de força e potência. De uma forma geral, o músculo pode produzir força através de contrações estáticas ou isométricas e dinâmicas. As contrações dinâmicas podem ser concêntricas ou excêntricas (SOARES, 2007; BADILLO & AYESTERÁN, 2001; FLECK & KRAEMER, 2006).

    O treino neuromuscular visa o aumento das respostas motoras involuntárias através da simulação de sinais aferentes e dos mecanismos centrais responsáveis pelo controle articular dinâmico. Tem por objetivos a melhoria da habilidade do sistema nervoso para gerar padrões rápidos e ideais de resposta muscular, aumento da estabilidade articular, diminuição das forças articulares e recuperação de padrões de movimento e habilidade (RISBERG, 2001 apud BRITO, 2009). Nem sempre é possível encontrar uma relação direta entre a força muscular e o desempenho do futebolista, mas sabe-se que as ações específicas do jogo – arranques, travagens, saltos, chutes, mudanças de direção rápidas, entre outras – necessitam de elevados níveis de força para se expressar (SOARES, 2005).

    No futebol, a força dos músculos isquiotibiais, pela ação frenadora que exercem sobre o deslizamento anterior da tíbia, assume uma implicação vital na estabilização do joelho, principalmente nas ações de natureza excêntrica (COMETTI, 2001 apud BRITO, 2009). Não obstante, as ações específicas do futebol privilegiam os músculos extensores do joelho em detrimento dos flexores, o que se reflete, num défice de força significativo dos isquiotibiais, tornando-os mais vulneráveis (SOARES, 2007). Sabe-se que a relação isquiotibiais/quadríceps do mesmo membro deve situar-se entre 55-60% (SOARES, 2007) e que, no que respeita à força muscular, esta relação parece ser o único fator discriminatório relativamente aos casos mais severos de lesão do ligamento cruzado anterior (TSEPIS, 2004 apud BRITO, 2009). Para relação entre os dois membros (dominante versus não-dominante) essa relação de equilíbrio deve ser de 15% (CROISIER et al, 2008). É uma ocorrência comum de lesão através da extensão rápida do joelho (chute ao gol, por exemplo), que solicita a ação excêntrica dos isquiotibiais para desaceleração da perna na fase final do balanço (CROISIER et al, 2008).

    No estudo de Croisier et al (2008), dos 462 jogadores que receberam um acompanhamento completo, 246 (53%) tiveram uma pré-temporada com perfil isocinético normal, e 216 (47%) foram caracterizados por significativo desequilíbrios na força isocinética. Em seu estudo quatro grupos foram criados: Grupo A (valores normais pré-temporada); Grupo B (desequilíbrios na força isocinética pré-temporada sem intervenção); Grupo C (desequilíbrios na força isocinética pré-temporada com intervenção e sem reavaliação ao longo da intervenção); Grupo D (desequilíbrio na força isocinética pré-temporada com intervenção e com reavaliação ao longo da intervenção). Jogadores sem qualquer desequilíbrio de força pré-temporada mostraram uma freqüência de lesões de 4,1% (Grupo A). A taxa de lesão foi significativamente maior e atingiu 16,5% dos jogadores com desequilíbrios pré-temporada e que não foram tratados (Grupo B), indicando que a atividade de futebol com os desequilíbrios das forças não tratada aumenta mais de quatro vezes o risco de lesão na coxa comparado com um perfil normal.

    A aplicação de um programa de condicionamento para jogadores com desequilíbrios musculares pré-temporada, porém sem reavaliação ao longo da intervenção, obteve uma redução significativa na frequência de lesões (11% no Grupo C) em comparação ao Grupo B. Em contrapartida, efetiva correção dos desequilíbrios, demonstrada através de subsequentes testes de controle isocinético utilizando critérios precisos para a normalização de parâmetros, reduziu de forma significativa a freqüência de lesões (5,7% no Grupo D) em comparação com o Grupo B.

    Zazulak et al (2007) acrescenta que a estabilidade dinâmica do joelho de um atleta depende de um sistema sensorial preciso e adequadas respostas motoras para atender às demandas de mudanças rápidas na direção do tronco durante o corte (mudança de direção), desaceleração brusca e os movimentos de aterrissagem. Inadequado controle neuromuscular do tronco do corpo pode comprometer a estabilidade dinâmica do membro inferior e resultar em aumento no torque de abdução do joelho, o que pode aumentar a tensão sobre os ligamentos do joelho e causar ferimentos (ZAZULAK et al, 2007).

    Zazulak et al (2007) teve como objetivo identificar os potenciais fatores neuromusculares relacionados com a estabilidade do núcleo (articulação) que predispõem atletas às lesões de joelho. Especificamente, examinou se houve uma relação entre os fatores relacionados com a estabilidade do núcleo e aumento do risco de lesão no joelho (ZAZULAK et al, 2007). O estudo demonstra que fatores relacionados à estabilidade do tronco preveniram lesões no joelho, ligamentos e risco de lesão do ligamento cruzado anterior (LCA) em atletas. Portanto, este estudo prospectivo fornece evidências para o tratamento destes indivíduos com programas de treinamento neuromuscular, para evitar ferimentos no joelho, incorporando exercícios de estabilidade do tronco (ZAZULAK et al, 2007).

    Concluindo em seu estudo que atletas com a diminuição do controle neuromuscular do tronco, medido durante as tarefas de uma força súbita após libertação e reposicionamento do tronco estão em risco aumentado de lesão no joelho. Zazulak et al (2007) ressalta que a implementação de intervenções que incorporem o treinamento da estabilidade do tronco, incluindo exercícios proprioceptivos, perturbação e correção de oscilação do tronco, tem o potencial para reduzir lesões do ligamento do joelho e o risco de lesão do LCA em atletas do sexo feminino e masculino. Soligard et al (2008) evidencia também em seu estudo as vantagens da implementação de um programa “warm-up” para prevenção de lesões em jovens meninas jogadoras de futebol, ressaltando que o programa deve ser implementado já nas camadas jovens do futebol para já definição de movimentos biomecânicos ideais.

    Recomendamos vivamente que os jogadores com desequilíbrios musculares pré-temporada tenham acompanhamento isocinético para identificar uma disfunção residual no desempenho muscular continuo para efetiva correção dos desequilíbrios (CROISIER et al, 2008; BRITO et al, 2009; SOARES, 2007).

Treino da flexibilidade na prevenção de lesões

    A influência da flexibilidade e da amplitude articular na prevenção de lesão tem sido um aspecto que tem mobilizado as mais diferentes opiniões, ainda que sem consenso do ponto de vista científico (FELAND et al, 2004; SOARES, 2007; FLECK & KRAEMER, 2006). A flexibilidade poderá ser ativa, passiva ou uma combinação das duas (SOARES, 2007; FLECK & KRAEMER, 2006). Na flexibilidade ativa, o atleta realiza os seus movimentos de forma independente sem a ajuda de pessoas ou equipamentos (SOARES, 2007; FLECK & KRAEMER, 2006). A flexibilidade passiva implica a utilização de equipamentos ou ajuda externa. Estes exercícios normalmente são mais eficazes porque, com ajuda, o atleta pode atingir alongamentos superiores aos que realizasse sem qualquer suporte externo (SOARES, 2007; FLECK & KRAEMER, 2006). Outra forma muito utilizada para prevenção de lesão é a facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) (FELAND & MARIN, 2004).

    O objetivo de Feland & Marin (2004) foi determinar o efeito da variação na intensidade (20-100%) na melhoria da flexibilidade do isquiotibial através “contrair-relaxar (CR) método”, que é uma técnica que usa uma contração muscular voluntária máxima isométrica (CVMI), seguida de relaxamento. Os resultados mostraram que o uso de intensidades submáximas de 20% e 60% para o rendimento dos isquiotibiais se comparou aos ganhos de flexibilidade a intensidade de 100%. Esses resultados são interessantes uma vez que utilizar intensidades mais baixas (confortáveis) no treino de flexibilidade diminui o risco de lesão induzida pela contração (FELAND & MARIN, 2004). Witvrouw et al (2003) apud Croisier et al (2008) destacam o papel da falta de flexibilidade como fator de risco de lesão para os isquiotibiais. Verrall et al (2005) apud Croisier et al (2008) acreditam que o alongamento pode desempenhar um papel na prevenção da tensão muscular dos isquiotibiais, melhorando a absorção da força de um determinado comprimento do músculo, tornando o músculo mais resistente à lesão do estiramento. Uma combinação de anomalias (força, flexibilidade, fadiga) tem sido relatada como o aumento do risco de tensão dos isquiotibiais (CROISIER et al, 2008).

Treino propioceptivo na prevençao de lesões

    Este tipo de treino designa-se por proprioceptores e são biologicamente classificados como nervos aferentes que recebem e enviam impulsos dos estímulos provenientes da pele, músculos, articulações e tendões para o sistema nervoso central (SNC) (SOARES, 2007; FLECK & KRAEMER, 2006). Os proprioceptores desempenham um papel determinante na capacidade de o atleta efetuar de forma segura, eficiente e tecnicamente ajustada os diferentes gestos desportivos (SOARES, 2007; FLECK & KRAEMER, 2006) através de processos que facilitam a produção de força – recrutamento, frequência de estímulos, sincronização e atividade reflexa do músculo –, bem como a redução dos mecanismos inibidores da tensão muscular máxima (BADILLO & AYESTERÁN, 2001; FLECK & KRAEMER, 2006). O treino da proprioceptividade é uma das formas habitualmente mais utilizadas, não só na prevenção, mas também como coadjuvante terapêutico em muitas lesões desportivas (SOARES, 2007).

    Hupperets et al (2010) incluíram em seu estudo 522 atletas: 256 atletas (120 mulheres e 136 homens) no grupo de intervenção, e 266 atletas (128 mulheres e 138 homens) no grupo controle. Ambos os grupos receberam tratamento de acordo com os cuidados habituais após entorse do tornozelo. O grupo de intervenção recebeu um programa de treinamento proprioceptivo durante oito semanas além dos cuidados habituais. O grupo controle recebeu somente os cuidados habituais após entorse do tornozelo. A pesquisa mostrou que o treinamento proprioceptivo trouxe uma redução global aproximado de 50% na taxa de recorrência de entorse do tornozelo. Apresentando então um risco significativamente menor de recidiva no grupo de intervenção do que no grupo controle. (HUPPERETS et al, 2010). Corroborando com esses dados, Verhagen et al (2005) evidenciou que a incidência de lesão de entorse no tornozelo do grupo intervenção foi significativamente menor do que no grupo controle. Evidenciando também que a reincidência foi significativamente menor no grupo intervenção do que no grupo controle em equipes de voleibol holandês. O treino proprioceptivo tem vindo a assumir um papel decisivo como fator integrante dos programas de prevenção de lesões no futebol. Os exercícios baseiam-se em situações onde a variabilidade e a instabilidade são dois fatores constantes, pelo que se sugere que decorram em superfícies móveis, com diferentes graus de dureza, com apoio unipodal e ainda com e sem referências visuais (SOARES, 2007).

Conclusão

    Os responsáveis destes atletas, portanto, têm a responsabilidade de programar estratégias de gestão que irão minimizar a incidência e as consequências da lesão e garantir que atletas lesionados sejam efetivamente reabilitados (FULLER & WALKEN, 2006). Pánics et al (2008) mostra em seu estudo que o custo do tratamento e reabilitação é elevado por lesão do ligamento cruzado anterior, sem levar em conta a perda potencial de longo prazo, a perda de bolsa de estudos e futuras incapacidades de alterações artríticas no joelho reconstruído. Verhagen et al (2005) observou em seu estudo que os benefícios em adquirir uma prancha de equilíbrio proprioceptivo compensam o custo da mesma para realização de um programa de treinamento. Diversos estudos também encontraram dados confirmando que a prevenção de lesão além de trazer benefícios à saúde dos atletas evitando lesões vem a ser um grande auxiliar na Gestão Administrativa (HUPPERETS et al, 2010; VERHAGEN et al, 2005; FULLER & WALKEN, 2006).

    Desta forma, após este trabalho de revisão acerca da incidência e das possibilidades de prevenção de lesão no futebol masculino de elite, fica claro e evidente que os programas para prevenção de lesão existem e são eficazes. Trazendo não só benefícios a saúde do atleta, como benefícios aos clubes podendo contar com a participação efetiva do atleta nos jogos e culminando na questão administrativa, em que os programas viabilizam uma redução significativa de gastos para os clubes.

Referências

  • BADILLO, J.J.G.; AYESTARÁN, E.G. Fundamentos do Treinamento de Força: aplicação ao alto rendimento desportivo. 2ª Ed. Porto Alegre, RS: ArtMed Editora, 2001. 284 p.

  • BARBOSA, B.T.C.; CARVALHO, A.M. Incidência de lesões traumatoortopédicas na equipe do Ipatinga Futebol Clube-MG. Revista Digital de Educação Física Movimentum. 2008.

  • BOMPA, T.O. Periodização: teoria e metodologia do treinamento. 4ª Ed (1ª Ed brasileira 2002). São Paulo, SP: Phorte Editora, 2002. 423 p.

  • BRITO, J.; SOARES, J.; REBELO, N.A. Prevenção de Lesões do ligamento cruzado anterior em futebolistas. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. 2009.

  • CROISIER, JL.; GANTEAUME, S.; BINET, J.; GENTY, M.; FERRET, JM. Strenght imbalances and prevention of hamstring injury in profissional soccer players. American Journal of Sport Medicine. Nov. 2008.

  • FELAND, J.B.; MARIN, H.N. Effect of submaximal contraction intensity in contract-relax proprioceptive neuromuscular facilitation stretching. British Journal of Sport Medicine. 2004.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 169 | Buenos Aires, Junio de 2012  
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